Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

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António Prista

António Prista

Há situações extremas que nos deixam com um enorme amargo na boca. A ser verdade a foto divulgada, uma enorme pompa e circunstância se criou em torno da inauguração de uma casa para um Administrador de um dado Distrito. A casa assemelha-se em tudo a uma dessas vivendas de luxo situadas nos bairros ricos de Maputo. Casas que não apenas custam enormes fortunas para construir, como depois para equipar e manter. Acredito que a ser construída pelo Estado é um modelo que irá ser replicado em todos os distritos do país. Um gasto significativo que perante tanta necessidade básica fica impossível não causar indignação.

 

A lista de necessidades básicas é extensa e mesmo infindável. Temos milhares de crianças sem carteira ou mesmo tecto para estudar, hospitais por construir, equipar e suprir dos mais elementares consumíveis, estradas por manter e construir, salários por pagar e melhorar e por aí fora. Mas assistimos a um chocante despesismo improdutivo que não pára de crescer e que consome uma não contabilizada fatia do orçamento público. Infelizmente, essa lista é tambem extensa. São as escoltas que se multiplicam, as viagens que não param, os constantes “retiros” que muitas instituições do Estado fazem em estâncias turísticas como se não tivessem salas nas suas instituições, banquetes e comemorações luxuosas repletas de champagne, vinhos e whiskeys que nada de mal teriam se não fossem pagos com o erário publico. Temos até dois governantes por província que consomem muito e não sei medir o que realmente fazem. Temos um Estado cheio de chefes e directores, cujas regalias dificilmente se traduzem na produtividade que deles se espera. Temos milhares de viaturas, muitas de luxo, muitas vezes em triplicado para o mesmo dirigente. E, por  detrás disso tudo, uma enorme  alocação de pessoal e meios necessários para manter essa máquina dispendiosa.

 

Um exemplo desse despesismo e das necessidades básicas que ficam por suprir está hoje a acontecer. Como consequência da inexistência de um sistema de drenagem adequado, a chuvada intensa que caiu sobre a cidade está a provocar o sofrimento de milhares de citadinos a níveis chocantes. Esta situação não pode ser atribuída a mudanças climáticas pois as chuvas intensas são um fenómeno natural já há muito existentes. O problema de fundo tem sido apontado pelos especialistas e vem se agravando por um crescimento desprovido de planeamento urbano cuidadoso que inclui os sistemas de drenagem. Por isso as zonas correctamente urbanizadas pouco sofrem com as chuvas e as desordenadas enfrentam calamidades por demais conhecidas. Sem qualquer dúvida o enorme desperdício em consumos não essenciais tem de ser revertido.

 

Está na hora de quem de direito reequacionar toda a gestão publica e fazer cumprir o papel do Estado em tomar conta do país e das necessidades dos seus cidadãos. Uma tarefa muito complexa e difícil, mas totalmente necessária. Um trabalho gigantesco que, contudo, tem de ser feito se queremos ter uma gestão a nosso favor. E, enquanto agora temos de gerir esta emergência em que há que acudir as vítimas das cheias, deixemos de julgar que a caridade abafa as nossas consciências, e comecemos desde já a tratar do que tem de ser feito para que não haja necessidade de caridade e possamos viver tranquilamente com ou sem chuva.  

 

António Prista

O problema da crescente inactividade das crianças tem vindo a ser foco de estudo há várias décadas. Os resultados das pesquisas por todo o mundo são assustadores. As crianças andam menos na rua, brincam menos e passam uma enorme parcela do tempo a olhar a TV, no computador ou no celular. Na escola sentam-se e escutam. Os recreios diminuíram, a brincadeira livre é mesmo reprimida. Se isto já era assim antes da pandemia, tornou-se catastrófico depois dela. Em Moçambique, por exemplo, proibiu-se a prática de jogos e de desportos colectivos, o convívio e a interação. Colocaram-se máscaras e aboliu-se a Educação Física. Chegou-se mesmo a policiar crianças que procuravam brincar ao ar livre. Fecharam-se as praias mais frequentadas.

 

Brincar é uma coisa muito séria. Não se trata de uma opinião, mas uma evidência científica, mais que comprovada. A brincadeira constitui um elemento natural essencial em muitas espécies animais e, também no ser humano. O analfabetismo motor que caracteriza as crianças superprotegidas e enclausuradas tem consequências catastróficas para o seu desenvolvimento. Não apenas naquilo que hoje parece ser mais valorizado, como a obesidade e doenças cardiovasculares, mas, e sobretudo, pela relação intrínseca entre brincar activamente, equilíbrio emocional, capacidade cognitiva e desenvolvimento motor. Brincar é um instrumento essencial em todos os animais, que permite desenvolver competências cognitivas e motoras essenciais para a sua sobrevivência.

 

Vários estudos têm demonstrado que o sucesso na vida adulta está muito associado à brincadeira durante a infância. O risco que uma vida livre e activa comporta faz parte dum processo de aquisição de autonomia, auto-confiança e segurança. É pelo erro que se aprende. Aprender a andar, por exemplo, implica muitas quedas sem as quais não se aprende. E isso é válido para muitos outros aspectos do comportamento motor. Nós não nascemos para estar sentados. Nosso corpo e relação com o mundo se desenvolvem pelo movimento e interação corporal com os outros, os objectos e o meio ambiente.

 

A sociedade industrial que criou um estilo de vida sedentária, mais tarde agravada pela tecnologia, foi criando alternativas de compensação. Jogos, arte e desporto, com a respectiva criação de espaços apropriados, fazem parte essencial dessas alternativas. Educação Física nas escolas, clubes desportivos, espaços para brincar e jogar constituem, entre outras, medidas essenciais criadas pelo reconhecimento do seu papel determinante e vital. Assim, do ponto de vista científico, social, psicológico, de saúde e bem estar, brincar é hoje consensualmente reconhecido como um assunto muito sério.

 

A proibição  da prática de desportos colectivos, a interdição das praias e inclusive da Educação Física, estabelecidos como regras de prevenção da pandemia, vieram a agravar, de forma preocupante, o panorama já de si pouco promissor. Cientes da gravidade do assunto, os profissionais de Educação Física alertaram, sem sucesso, as autoridades, tendo inclusive construtivamente elaborado um manual de actividades em que o distanciamento era garantido (o que nem necessário era). As medidas foram mantidas, isto é, a proibição da prática desportiva manteve-se, as praias continuam encerradas, as aulas de Educação Física também. Até houve quem defendesse a proibição de dançar sem ter a mínima noção do que estava a defender. Os danos de quase dois anos são enormes. E o pior é que tudo indica que as proibições não evitaram em nada a propagação do vírus e criaram um problema de dimensões não calculáveis, mas imagináveis.

 

Agora que tudo sugere termos entrado numa fase endémica da virose, urge libertar as crianças de estarem fechadas, sentadas e sem interação. Urge promover que brinquem, joguem, dancem e interajam, e muito. Urge seguir a recomendação que crianças não devem usar máscara pois lhe causam danos e pouco as protegem. O tempo em que devem brincar não se adia. As crianças não vão ter outra infância para recuperar.(António Prista)

Não são palavras que queria escrever. Nem sei porque escrevo. Provavelmente numa angustiante tentativa de lidar com este sentimento não descritível. Depois nem sei para quem escrever. Afinal eu perdi um amigo de 45 anos, parceiro, Mestre, irmão e compadre. Será que tenho o direito de partilhar publicamente uma dor minha?

 

É que quando se escreve tem de se ter um objectivo e que tenha a ver com os outros, se não é fútil e desapropriado. E hoje eu estou assim, a pensar que ainda no dia dos teus 70 anos falámos dos teus projectos da próxima década. Falámos na cachaça que eu recebi e não abri à tua espera, falámos no teu malfadado songbook que nunca mais sai, na tua biografia pronta mas tu sempre a insistir que o perfeito afinal existe.

 

E uma vez mais me deram o privilégio de fazer o que mais gosto: falar em em vida sobre a vida de quem faz obra com valores. Se há coisa que fico descansado é que te disse na cara aquilo que pensava de ti nas milhares de vezes que tocamos, conversamos, partilhamos dores profundas e alegrias imensas e digamos a verdade, virámos muita garrafa juntos. Desde antes do Xidiba Ndoda. Foram muitas milhares de horas, muita coisa partilhada, mas estava muito longe de estar esgotado. Não fazia parte do nosso acordo saíres assim.

 

Acontece que estas letras ficariam entre nós se não fosses tu o que és. E és património deste País. E não só. Sem confete, como dizem os brasileiros. Lembro-me que quando sai de casa para o Tributo que te fizemos em 2015 escrevi um mail todo nervoso a desculpar-me pelas falhas e explicar te que estávamos a fazer esse tributo, e cito, “pelo exemplo que tu és como artista, pelo exemplo que és como músico, pelo exemplo que és como ser humano, por tudo que passaste da maneira que passaste, pela amizade que sempre me deste e pela amizade que tenho por ti faz 40 anos”. 

 

Lembro-me também de termos nesse show justificado o Tributo porque “Os homens medem- se pelo que fazem mas também e sobretudo pelo que são. Moçambique tem sido testemunha do que FAZ e que é Hortêncio Langa. Fazer um Tributo a Hortêncio Langa não é apenas homenagear-te mas acima de tudo usar o teu exemplo para propagar, através da arte, atitudes e comportamentos que andam em falta. Tomara que os homens se inspirem no artista, na arte e no homem que é Hortêncio Langa”.

 

Não preciso de te dizer nada hoje. Fui fazendo ao longo da vida. Mas eu acho que no final de contas estou a escrever para lembrar aos outros. Sei lá. Hoje está difícil pegar a guitarra mas amanhã vamos fazê-lo com certeza e lembrar-me de ti a cada acorde, coisa que nunca vou conseguir fazer como tu, nosso poeta dos acordes. Vou pegar o Songbook que está muito mais que perfeito e que tu insistes que falta sempre algo, vou apontar uma arma à tua bi´

 

biógrafa e obrigá-la a publicar já. Porque o que tu nos deixaste e nos deste vai ficar aqui para muitas gerações.

 

Compadre hoje está difícil, mas foram muitas décadas de felicidade ao teu lado. Minha, de todos os que privaram contigo e dos que nem te conheceram. Atingiste como poucos com tua arte e com o teu ser, estar e fazer. Vou olhar sempre com saudade as tuas fotos da minha parede, os teus quadros que falam e os teus livros que como escreveste “falam de gente como nós”. Está a doer mas valeu e muito. (A.P.)

O conceito de Saúde

 

Saúde é o bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença. Qualquer estratégia de acção em saúde publica não se pode, em tempo de pandemia ou não, restringir a qualquer uma componente isoladamente sob pena de se estar a cometer um erro de elevado impacto. Controvérsias à parte, a actual epidemia do coronavírus coloca uma pressão sobre os órgãos de decisão que excede os limites da normalidade. Entre os perigos da contaminação generalizada e os efeitos nefastos das medidas que se tomem está o grande desafio das autoridades públicas. Um desafio que será tanto mais vitorioso quanto mais se tiver em atenção o conceito de Saúde no seu todo. Em termos objectivos, trata se de tomar medidas que mitiguem ao máximo possível a doença mas preservem  a saúde no seu todo.

 

Apanhados no desconhecido e levados por um pânico à escala global, vimo-nos na contingência de  medidas radicais de contenção do vírus que a quase todos pareceram inevitáveis. Fecho de fronteiras, encerramento de escolas, igrejas, ginásios, bares e casas de espectáculos, trabalho rotativo e proibição de ajuntamento.  Por outro lado, iniciou se uma intensa campanha de “ficar em casa”, lavar as mãos, usar máscara e manter o distanciamento social. Todas estas medidas, inicialmente previstas no nosso imaginário por serem de curta duração, foram acompanhadas de um avassalador bombardeamento de informações que variaram entre as que anunciavam o perigo, a catástrofe e até mesmo o apocalipse. Os meses correram e o anunciado, pelo menos ainda, não aconteceu em Moçambique. O País tem flutuações semanais no número de infecções detectadas, e poucos casos hospitalares. Os dados dos estudos serológicos em Nampula e Pemba sugerem a existência de um elevado número de pessoas que já tiveram contacto com o vírus mas muito poucos a requerem cuidados hospitalares. Um cenário que surpreende e cujas causas são por enquanto do domínio das hipóteses e especulações.

 

Alguns enunciados que vaticinaram uma baixa taxa de complicações clínicas apostavam em vários tipos de explicações lógico-cientificas, nomeadamente em indicadores que relativamente aos países com taxas de morbilidade e mortalidade elevada nos colocavam em vantagem. Entre outros destacam-se a baixa média etária, a menor densidade populacional, a alimentação natural, os resultados indirectos de uma medicina preventiva histórica e o facto de os nossos mais velhos  serem poucos e, na ausência de cuidados médicos avançados,  se constituírem por uma população de  sobreviventes, e por isso mais resistentes. Mais do que arriscar explicações sobre a relativa baixa taxa de doença (não de infecções porque essas já são elevadas), importa reflectir sobre o efeito das medidas num contexto de um conceito abrangente de Saúde, ou seja, no bem-estar físico, mental e social além da ausência de doença.

 

Os factores que afectam o estado de saúde são múltiplos e complexos. Importa, no contexto da pandemia actual, verificar como as medidas tomadas podem conduzir a uma protecção à contaminação por coronavírus sem provocar uma ruptura com o estado geral de Saúde. Para o efeito, seleccionámos alguns dos que são simultaneamente determinantes no estado de saúde e podem ser afectados pelas medidas relativas à contenção da pandemia, nomeadamente, a ansiedade, a actividade física, a nutrição e a utilização dos serviços de saúde. Todos eles, de diversas formas, são directamente dependentes de um quinto factor, o do rendimento familiar. Procuraremos analisar em que medida cada uma das medidas, e no seu conjunto, afectaram os “factores determinantes de saúde”.

 

Ansiedade

 

A ansiedade é reconhecida inequivocamente como tendo um elevado impacto na saúde e bem-estar. A prática do culto religioso e a cerimónia em forma de “festa” constituem elementos essenciais dos hábitos culturais. Casamentos, baptizados, festas de aniversário e outros tipos de rituais fazem parte do quotidiano e cumprem um papel de equilíbrio individual e social de elevada importância. Uma boa parte do stress dos cidadãos é também “tratado” no convívio das discotecas, bares e barracas, nos espectáculos, na música dos restaurantes, nos ginásios, clubes desportivos e pratica desportiva informal nas escolas e bairros. O encerramento de todas estas actividades não pode deixar de contribuir para a elevação dos níveis de ansiedade, fonte das mais variadas sensações mal-estar, insónia, hipertensão, dores de cabeça, irritação entre outras. A perseguição policial a crianças e jovens que jogam futebol é aceite pelo pânico criado em torno do COVID19, mas tem efeitos catastróficos na saúde, bem-estar e tem um impacto comprovadamente nefasto no seu desenvolvimento harmonioso.

 

Particular lugar de realce na elevação da ansiedade está a propagação do medo. Propositado ou não, assiste se um permanente ecoar de notícias que colocam as pessoas em pânico. A utilização de números estatísticos das mais diferentes formas quase que 24 horas por dia para “consciencializar” as pessoas e induzi-las a cumprir as regras elevam os níveis de ansiedade. A imagem da catástrofe tem sido preferencial sobre a sensibilização, justificada habitualmente pela ausência de cumprimento voluntário das medidas. Em síntese, tudo concorre para uma elevada taxa de ansiedade que, porque se torna um estado permanente, tem incidência na nossa sensação de bem-estar e consequentemente agravam a dimensão das doenças crónicas.

 

Actividade Física e Nutrição

 

É sabido que inactividade e a má nutrição constituem factores de impacto negativo na saúde em particular nos factores de risco de doença cardiovascular como sejam a obesidade, hipertensão ou diabetes. Num estudo sobre os efeitos do estado de emergência feito em Maputo e Matola ao fim de um mês de estado de emergência, a redução na prática de actividade física era já de 30% e da ingestão de vegetais e frutas de 27 e 11%,respectivamente. Embora não existam dados empíricos é de estimar que o impacto negativo na saúde metabólica ao final de 4 meses seja relevante. Para nos protegermos do coronavírus aumentamos o risco de muitas outras doenças que são potencializadas pela inactividade física e má nutrição. As coisas ficam ainda mais preocupantes quando existem dados já publicados que mostram que a sobrevivência em pessoas internadas nos cuidados intensivos por COVID-19 é várias vezes menor em pessoas obesas que em indivíduos com peso normal. O prolongar das limitações à actividade física e a uma boa nutrição trará consigo, adivinha-se, um resultado pouco favorecedor no capítulo das doenças crónicas não transmissíveis.

 

 Rendimento familiar

 

No estudo realizado em Maputo e Matola que referimos anteriormente, mais de metade das pessoas inquiridas já tinham visto seu rendimento familiar afectado. Perca de emprego, redução de salários, suspensão das actividades de que sobrevivem e diminuição de clientes estavam entre as razões principais. Outros estudos em vários pontos do país têm demonstrado o mesmo efeito. Não é preciso fazer se nenhuma investigação para se aceitar que a redução do rendimento familiar, que muitas vezes se faz ao nível da sobrevivência, terá um enorme impacto na saúde das pessoas. Em nome da protecção ao coronavírus estamos a aumentar os níveis de pobreza que só podem afectar o bem estar seja físico, mental ou social. Se a situação da nossa segurança alimentar se apresenta, mesmo sem pandemia, numa condição preocupante, não é difícil estimar se um agravamento considerável com consequências, essas sim, catastróficas.

 

Utilização dos serviços de saúde

 

Parece consensual que a existência de um Serviço Nacional de Saúde público e gratuito tem sido fundamental na prevenção e tratamento de múltiplas doenças. Ao longo de várias décadas foram realizadas várias campanhas para que as pessoas recorram aos serviços de saúde, incluindo a programas preventivos de vacinação, consultas pré-natais e tratamento de doenças endémicas. Paradoxalmente, logo no inicio da pandemia, entidades e pessoal dos serviços de saúde fizeram um apelo generalizado para que as pessoas não recorram aos serviços de saúde sem ser por motivos extremos. Criou se também a ideia generalizada que estas unidades são um foco de transmissão do coronavírus pelo que muitas pessoas desenvolveram medo de recorrer aos serviços de sáude. Não há dados objectivos sobre o impacto deste fenómeno, mas é expectável que os cuidados preventivos e curativos necessários para um grande número de doenças tenham reduzido, o que não pode com certeza ter um impacto positivo no nosso estado de saúde. Esquecer o quadro geral dos nossos cuidados de saúde porque estamos com pânico de uma doença especifica pode ser mais arriscado que a doença em si. 

 

O encerramento das escolas

 

Cabe, finalmente, uma nota particular sobre o encerramento das escolas por mais de 4 meses, até ao momento, decisão que justificada pela pandemia e assunto que muito tem sido debatido a todos os níveis. A colocação do assunto em termos de perca de ano afasta a temática do que é a essência do processo educativo. Atrasar ou não atrasar um ano pouco efeito terá no processo. Mas ficar sem socializar, brincar, jogar, trocar ideias e enfrentar as dificuldades do relacionamento social pode criar traumas físicos, mentais e socais (ou seja de saúde) irrecuperáveis quando se tratam de seres em processos de desenvolvimento. A educação de uma criança não se adia, ela é um processo constante esteja ela onde estiver. A suspensão das aulas terá um preço irreparável tanto quanto mais longo for o período. Mesmo que aceitemos que a proibição das crianças brincarem seja protector dum vírus, que nem sequer lhes é letal, tem como consequência a suspensão do processo de desenvolvimento que não se recupera mais á frente. O acto de sair à rua, jogar e socializar faz parte da essência sócio biológica infantil e juvenil. Até ao que se sabe nos dias de hoje, o trauma de proibir essa camada populacional de socializar e jogar parece ser muito maior que os riscos de se infectar por coronavírus.

 

Conclusão

 

O pânico irracional e a exacerbação do medo não podem ser as soluções para um assunto tão sério como uma pandemia. A ausência de uma visão global (a que chama holística) do ser humano e da sociedade no seu todo pode nos levar a enveredar por caminhos que causarão mais problemas. Impõe-se uma atitude balanceada que de facto proteja a Saúde e o bem-estar da população. O quadro da pandemia tem nos sido relativamente favorável até agora, mas temos incerteza sobre o que nos espera nos próximos meses. Provavelmente o alivio de algumas medidas possam aumentar o numero de casos que tem de ser monitorados não tanto em função de pessoas infectadas mas dos efeitos maléficos que possam provocar. Por isso, temos de ter cuidados que, no entanto,  não podem ser desequilibrados e provocar outras pandemias provocadas pela ansiedade, inactividade, má alimentação, falta de cuidados médicos e pobreza, essa outra pandemia que se arrasta por séculos e não parece ter muita atenção. Temos de nos proteger do Coronavírus e preservar a Saúde. Mas Saúde é o bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de COVID-19.