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Carta de Opinião

terça-feira, 18 fevereiro 2025 12:22

Com quanto poder se exerce o Poder?

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Com quanto poder se exerce o Poder? O País das Assimetrias Raciais foi recentemente a eleições presidenciais. A votação foi movida por todo um complexo misto de aspectos. Os mais notáveis foram o ódio e, claro, a raça.Com quanto poder se exerce o Poder? O País das Assimetrias

Raciais foi recentemente a eleições presidenciais. A votação foi movida por todo um complexo misto de aspectos. Os mais notáveis foram o ódio e, claro, a raça.

Nada surpreendente. É um país construído e indisfarçavelmente mantido sob preconceitos.

E também não surpreende que se tenha finalmente escancarado o mistério sobre quem, de facto, governa aquele país. O presidente, seja ele político de carreira, seja ele um paraquedista dos lobbies financeiros e corporativos, detém o poder formal. É basicamente um rosto. É o rosto de um iceberg de influências e interesses.

Os multimilionários resolveram finalmente dar as caras e deixar claro para o mundo que são eles (e foram sempre eles) quem subtilmente dita as regras do funcionamento do Estado naquele país. Tomaram a linha da frente para o mundo todo ver com quanto poder se exerce o Poder.

O mundo que se escandalize. Que se alvoroce.E, com a expressiva frontalidade que lhes é característica, seguem com a eterna reafirmação de que a sua preocupação é (e sempre foi) estritamente com o interesse da sua sociedade.

E não será essa a essência do objecto da política? O objecto da política é a sociedade. O bem-estar da sociedade. A base de qualquer sociedade são as pessoas. Pessoas têm interesses. É natural. E não pode ser tabu que tais interesses sejam essencialmente económicos. No fim de contas, tudo é economia. Todo bem-estar passa pela economia.

Nenhum país invade o outro por mera vontade de lá subjugar as pessoas e simplesmente fazê-las escravas tão somente pelo capricho de as ver socialmente enjauladas e psicologicamente acorrentadas. É sempre por algum interesse económico. Se calhar nem se trate de o tirano não gostar genuinamente do povo que pretenda escravizar. Ou que já o esteja a escravizar. Por vezes, é mesmo por uma questão de o tirano ser obsessivamente centrado em si próprio. Egocêntrico. Um narcisista doentio.

O poder político consiste resumidamente na capacidade de decidir e regular a conduta de uma sociedade por meio de uma autoridade legitimamente conferida ao decisor. O mais básico dos conceitos sugere economia como sendo a gestão de recursos escassos. A combinação destas duas noções sugere que, historicamente, a economia precede a política. Faz todo sentido. E mesmo porque os recursos precedem o próprio homem. E a política nasce quando o homem entende haver necessidade de regular a sua coexistência com tudo e todos a seu redor.

A regulação da conduta colectiva deve-se fundamentalmente à necessidade de se evitar a colisão entre os interesses individuais e o interesse comum. A essência do interesse comum é a harmonia. Harmonia social.

Até que ponto há-de ser um escândalo um país com uma superpopulação de gigantes de corporações ser subtilmente governado pelo conjunto dos titulares dessas corporações quando não se tem dúvidas de que essas entidades representam o motor e o combustível da economia desse país?

Que sentido teria o poder político sem a economia? Entremos agora para o País das Coisas Inimagináveis. Com quanto poder se exerce aqui o Poder? Quem, de facto, dita as regras aqui no País das Coisas Inimagináveis?

As manifestações de contestação daquela que poderá ter sido a mais fraudulenta eleição presidencial da história do País das Coisas Inimagináveis continuam a destroçar o país. A tendência, ainda que intermitente, é visivelmente incessante. Mas o Partido da Girafa Desamparada ignora tudo e todos e ironiza o dia de São Valentim. Inequivocamente divorciado do mesmo povo a quem acusa de tê-lo massivamente votado nessa eleição, o Partido da Girafa Desamparada resolve presentear o povo com mais conteúdo inflamável para o povo continuar a incendiar o já demasiado carbonizado país. Violou despudoradamente a Constituição da República e fez eleger para Presidente da organização aquele que, há pouco menos de um mês da realização deste evento, contra tudo e a maioria, se tornara descaradamente o quinto Presidente da República.

No fim do aparatoso evento, a Mosquito Bisbilhoteira interpela a própria recém-eleita Girafa Desamparada. E não hesita com as ironias:— Parabéns por mais esta eleição, senhor Girafa Desamparada. Como descreve a sensação de finalmente ser democraticamente eleito para um cargo?

— Não sei se terei percebido a pergunta, senhora jornalista.

A Mosquito Bisbilhoteira tinha plena consciência de quão atrevida tinha sido. E agora achou que podia ser entendido como indecoroso lembrar a Girafa Desamparada do misto de indecência e conivência, um escândalo, que foi necessário para esta ser finalmente plantada na cadeira de

Presidente da República.

Optou, no entanto, pelos ardilosos rodeios que lhe eram característicos.

— Parece seguro afirmar-se que o senhor Girafa Desamparada vai sempre na contramão de tudo e das maiorias decentes.

— Pode ser mais clara ou específica, senhora jornalista?

A Mosquito Bisbilhoteira disse:

— Dias antes deste evento, ouviam-se vozes dizerem unanimemente que o prefixo de “Presidente” parece negar terminantemente de se associar ao seu nome, senhor Girafa Desamparada.

Foi preciso esclarecer. Essas vozes diziam que primeiro tinha sido contra a vontade popular que o senhor Girafa Desamparada chegou ao título de Presidente da República. E agora, já para o cargo de Presidente do seu Partido, uma entidade ligada à sanidade e decência na gestão da coisa pública submeteu aos órgãos competentes uma providência cautelar para impedir que o senhor Girafa Desamparada se fizesse eleger para este cargo.

Em causa, estava a ilegalidade do acto. A Constituição da República, que a Girafa Desamparada jurara obedecer e garantir o cumprimento escrupuloso da mesma enquanto Presidente da República, veda expressamente ao Presidente da República desempenhar quaisquer que sejam as funções privadas.

Portanto, embora esta eleição em si tenha sido (internamente) democrática conforme reconhece a Mosquito Bisbilhoteira, a mesma peca por ter violado a lei-mãe do país. Um atropelo politicamente grosseiro e profissionalmente horrendo para um Presidente de República que é, antes do mais, jurista.

— O senhor Girafa Desamparada entende haver alguma legitimidade para essa frustrada tentativa de o impedir de ser eleito Presidente do seu Partido? Ou considera ser uma espécie de perseguição ou combate do indivíduo que o senhor é?

Não houve resposta. A Mosquito Bisbilhoteira não insistiu. Mas não deu, porém, por encerrado.

— Por acaso o senhor entende que o cargo de Presidente da República neste país precisa imperativamente de ser complementado pelo cargo de Presidente de Partido?
Silêncio. A Mosquito Bisbilhoteira persistiu:

— Por acaso o senhor concorda com o entendimento de que esse acto de o seu Partido forçar ciclicamente que o Presidente da República daqui do País das Coisas Inimagináveis seja igualmente Presidente do Partido que o suporta transmite a ideia de que o cargo de Presidente da República daqui do País das Coisas Inimagináveis há-de ser meramente formal enquanto o Presidente da República não for cumulativamente Presidente de seu próprio Partido? Haverá alguma coisa neste país, da sua competência como Presidente da República, que o senhor acredita que poderia eventualmente não ser capaz de fazer se não fosse também Presidente do seu Partido?

E mais um silêncio. Como que a encerrar, e já exausta, a Mosquito Bisbilhoteira disse:

— Fará sentido entendermos que os seus primeiros 100 dias de governação do país como Presidente da República iniciam-se verdadeiramente hoje com esta eleição a Presidente do seu Partido?

A Girafa Desamparada fingiu não ter percebido a ironia. O sarcasmo.

— Lembro-me de a senhora jornalista me entrevistar logo após a minha tomada de posse para Presidente da República.

— Pois. Eu também me lembro. Há quem entenda ter sido um dia para esquecer. Mas eu me lembro como se tivesse sido hoje mesmo.
Indisfarçavelmente irritada, a Girafa Desamparada disse:

— Se a senhora jornalista se lembra, então sabe perfeitamente que os 100 dias já vêm contando.

A verdade é que já se passavam 30 dias após a tomada de posse para Presidente da República e os primeiros 100 dias contam naturalmente a partir daí. E não com esta ilegal tomada de posse para Presidente de Partido.

E repete-se agora, por fim, a pergunta inaugural. 

Com quanto poder se exerce o Poder? Ficava claro que no País das Coisas Inimagináveis o exercício do Poder só é possível com a acumulação ilegal de poderes.

Parece haver sempre alguém acima daquele que se acredita ser o decisor supremo. Se calhar ainda vamos descobrir que há mesmo uma entidade que dá ordens a Deus.

segunda-feira, 17 fevereiro 2025 16:53

Interferência ou silenciamento?

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Na semana passada, três rádios comunitárias de Nampula —Encontro, Haq e Vida — foram suspensas pelo Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM), sob a alegação de que as suas transmissões estavam a interferir nas comunicações entre aeronaves e a torre de controlo do aeroporto. Segundo o comunicado do INCM, a emissão conjunta dessas rádios estaria a ser captada na frequência 113.8 MHz, dentro da faixa reservada para navegação aérea.Na semana passada, três rádios comunitárias de Nampula —Encontro, Haq e Vida — foram suspensas pelo Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM), sob a alegação de que as suas transmissões estavam a interferir nas comunicações entre aeronaves e a torre de controlo do aeroporto. Segundo o comunicado do INCM, a emissão conjunta dessas rádios estaria a ser captada na frequência 113.8 MHz, dentro da faixa reservada para navegação aérea.

À primeira vista, o argumento técnico parece legítimo. Afinal, qualquer interferência nas comunicações aeronáuticas representa um risco real para a segurança dos voos. Mas basta analisar os detalhes do caso para perceber que a decisão do INCM apresenta graves inconsistências e levanta suspeitas de censura disfarçada de regulação técnica.

1. Onde está a transparência técnica?

Se a interferência de facto existiu, o mínimo que se espera de um órgão regulador é que apresente relatórios técnicos detalhados e verificáveis. No entanto, até agora, o INCM apenas divulgou um comunicado genérico, sem provas concretas de que as rádios foram a causa do problema.
Nenhum documento técnico foi disponibilizado ao público, nem há informações sobre como foi feito o diagnóstico da interferência.

Quais foram os métodos utilizados para identificar a fonte da interferência? Outras emissoras na região foram analisadas? Foram feitos testes para verificar se a interferência persistia após ajustes técnicos?

Se a intenção era resolver um problema técnico, por que não houve um laudo técnico independente a confirmar a suposta interferência?


2. Por que não houve prazo para correcção?

Um aspecto alarmante da decisão do INCM foi o encerramento imediato das rádios, sem que elas tivessem qualquer chance de corrigir o problema.

A prática comum em casos de interferência é notificar as rádios e conceder um prazo para que ajustem osseus transmissores. Isso pode ser feito de várias formas:

a. Redução temporária da potência do sinal.

b. Realinhamento de frequências

c. Uso de filtros de emissão para evitar vazamentos de sinal


Mas, ao invés de oferecer um prazo técnico razoável para ajustes, o INCM simplesmente ordenou o desligamento imediato, o que gera suspeitas sobre se o objectivo era corrigir um problema técnico ou silenciar as rádios.


3. Como três rádios comunitárias causaram o mesmo problema ao mesmo tempo?

O INCM afirma que a interferência foi causada por uma “emissão conjunta” das três rádios. Mas essa explicação não faz sentido técnico. Cada rádio opera em frequências distintas, pois é assim que o espectro de radiodifusão é organizado. Para que houvesse uma interferência conjunta as três rádios teriam que estar a transmitir na mesma faixa de frequência (o que não acontece). Todas teriam que ter problemas técnicos idênticos ao mesmo tempo (o que é improvável). Ou o problema estaria noutro lugar — por exemplo, no próprio sistema de comunicação do aeroporto.

Se a interferência realmente existia, por que só essas três rádios foram afectadas? Há várias outras emissoras na cidade, algumas com transmissores mais potentes. Elas foram analisadas?

4. O que mudou para que, de repente, as rádios passassem a interferir?

As três rádios comunitárias suspensas operam há anos na cidade de Nampula, sem qualquer histórico de interferência no tráfego aéreo.

Se de facto houve um problema técnico agora, a pergunta óbvia é: o que mudou? Houve aumento na potência das emissões dessas rádios? Os equipamentos de transmissão foram alterados recentemente? Ou o problema sempre existiu e só agora foi identificado?

Sem respostas claras para essas perguntas, a decisão do INCM se torna ainda mais suspeita.

O fechamento dessas três rádios precisa ser analisado no contexto mais amplo da liberdade de imprensa em Moçambique. Nos últimos anos, rádios comunitárias têm sido alvo frequente de intimidação, restrições e encerramentos arbitrários. Elas desempenham um papel crucial em informar a população, especialmente em áreas onde a mídia estatal não chega ou onde a informação independente é escassa.

É difícil ignorar que as rádios afectadas são comunitárias e frequentemente dão espaço para vozes críticas e denúncias locais. Será coincidência que somente elas foram desligadas, enquanto rádios comerciais continuam a operar sem problemas?

Em países com tendências autoritárias, alegações técnicas como “interferência no tráfego aéreo” são frequentemente usadas para justificar a censura. Se o objectivo real fosse garantir segurança aeronáutica, por que não houve um processo transparente e técnico para corrigir o problema, ao invés de simplesmente desligar as rádios?

Se o INCM quer manter a sua credibilidade como regulador, precisa responder com urgência a essas questões:

 1. Publicar um relatório técnico detalhado a explicar a suposta interferência e como ela foi identificada.

 2. Permitir que as rádios façam ajustes técnicos antes de uma suspensão arbitrária.

 3. Garantir um processo regulatório justo e transparente, sem decisões unilaterais.

 4. Investigar se há influência política por trás do encerramento das rádios.

A liberdade de imprensa não pode ser desligada com um simples aviso de suspensão. Se houver um problema técnico, que seja tratado como tal. Mas se o objectivo for calar rádios comunitárias e limitar o acesso à informação, então estamos diante de mais um ataque à liberdade de expressão em Moçambique.O país precisa de mais transparência e menos pretextos. Enquanto isso não acontecer, continuará a pairar a dúvida: interferência no tráfego aéreo ou interferência na liberdade de imprensa?


* Jornalista e Director Executivo na empresa Mídia Lab

segunda-feira, 17 fevereiro 2025 16:45

Precisamos de um novo Cubaliwa

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Ah, Azagaia, o poeta  que ousou não se conformar! Digo, quem diria que um sujeito com a audácia de questionar o status quo, um artista que escolheu empunhar a caneta como espada, faria algo além de ser engolido pela máquina de moer a resistência? Aí está o grande truque: enquanto os pacifistas da opressão nos pregam uma paz estéril e suicida, Azagaia prefere ser a pedra no sapato do sistema! De Moçambique, ele exportou para os PALOP o hino: O povo no Poder!Ah, Azagaia, o poeta  que ousou não se conformar! Digo, quem diria que um sujeito com a audácia de questionar o status quo, um artista que escolheu empunhar a caneta como espada, faria algo além de ser engolido pela máquina de moer a resistência? Aí está o grande truque: enquanto os pacifistas da opressão nos pregam uma paz estéril e suicida, Azagaia prefere ser a pedra no sapato do sistema! De Moçambique, ele exportou para os PALOP o hino: O povo no Poder!

Vejam só! Ele, que não aceitou a destruição lenta da alma em nome da sobrevivência, foi apontado como um inimigo. Como sempre, a classe dominante, que preza pela pacificação de todos, se encarrega de transformar qualquer brisa de liberdade em tempestade de repressão. De repente, doutrinando crianças, transformando um herói em mero drogado. 

“Toda destruição é autodestruição!”, diria Azagaia, para nossa surpresa. E qual não é a destruição maior do que aceitar a mentira de que o conformismo é paz? A classe opressora sabe muito bem disso: destruir os que lutam pela liberdade é a única maneira de manter a ilusão de que estamos “renascendo” quando, na verdade, estamos todos morrendo aos poucos.

A vida, para os verdadeiros revolucionários, não é uma troca de opressores, mas uma troca de consciências. E Azagaia sabia disso. Ao contrário dos que se contentam com os pedaços de pão oferecidos pelo sistema, ele nos acordou: viver é resistir, não é engolir os venenos do sistema e esperar que nos matemos lentamente, como um suicídio social auto-imposto. O renascimento que ele pregava não é aquele que nos dizem, o da "boa convivência" com a opressão, mas o renascimento de uma nova consciência que rejeita esse suicídio diário.

Renascer, portanto, é lutar, não se render à destruição silenciosa. A luta de Azagaia não era apenas contra as injustiças gritantes, mas contra o silêncio cúmplice dos que preferem morrer sem que o mundo perceba. Toda vez que Azagaia fazia sua voz soar mais forte, ele não estava apenas falando por si mesmo, mas por todos aqueles que se negam a ser engolidos por uma sociedade que lhes diz que viver é aceitar.

Em resumo, Azagaia não foi um mero poeta. Ele foi um panfletista da revolução da alma. E como todos os grandes revolucionários, tentaram o engolir. E talvez, na maior ironia de todas, essa incompreensão seja a prova de que ele estava no caminho certo. Porque os que falam a verdade, mesmo que poucos ouçam, jamais morrem — eles renascem a cada alma que se recusa a se curvar ao suicídio coletivo.

Não quero que retirem o nome de Azagaia do livro que o difama. Quero que ele seja literatura obrigatória nas escolas, uma fonte inesgotável de reflexão sobre quando a liberdade e o senso crítico são levados até as últimas consequências. Azagaia deve ser celebrado, não por ser perfeito, mas por ser verdadeiro. Por nunca ceder às amarras do conformismo e por nos lembrar que a luta pela liberdade é, acima de tudo, uma luta pela alma do povo.

Grito desde São Tomé, das ilhas, sem entender bem a palavra que ressoa desde o meu atavismo pálido enquanto estudante no ensino secundário na altura:

Cubaliwa!

Cubaliwa!

Essa é a herança Moz que ecoa em toda a minha alma panafricanista.

 

*Ivanick Lopandza é um jovem intelectual, poeta e activista social santomense, com ADN paternal congolês, membro fundador do colectivo Ilha dos Poetas Vivos em São Tomé no ano de 2022, com seus companheiros santomenses Marty Pereira, Remy Diogo e moçambicano MiltoNeladas (Milton Machel). Autor de livros de poesia, Ivanick é também bloguista, curando seu blogue Lopandzart.

O dia 3 de Março de cada ano escolar era o da última chamada a fim de ajustar e compor a lista definitiva de cada turma. Este procedimento administrativo era, salvo erro, apelidado de ῎Estatística 3 de Março῎. Tempos idos do secundário, e não sei se ainda é feita esta prática.  

 

Nesta data, ou a propósito dela, que era, na verdade, o primeiro dia obrigatório desde o início do ano lectivo em meados do mês de Fevereiro, lembro-me que a medida da chamada a plateia estudantil respondia: ῎Mudou de escola῎, ῎Viajou e ainda não voltou῎, ῎Foi estudar fora do país῎,

 

῎Estuda de manhã῎,῎Desistiu de estudar῎ e por ai fora. 

O preâmbulo vem a respeito da composição final da nova equipa para a governação do país no mandato que ora inicia. Suponho que também haja uma data em que o Presidente da República (PR) fará a última chamada. Quem até a essa data não for chamado, o melhor é recolher as armas e aguardar o próximo mandato. 

Mas nem tudo está perdido. Há uma esperança no fundo do túnel que resulta da experiência escolar pós-῎Estatística 3 de Março῎, com a ocorrência, embora não fosse normal, do ingresso de novos colegas fora do período estipulado.   

Neste contexto, e até à data do procedimento governamental da ῎Estatística 3 de Março῎, a esperança de uma brecha, nem que seja no final do mandato, para os potenciais auto-elegíveis que não tiverem sido chamados pelo PR durante a temporada regulamentar. 

Desse tempo do secundário nunca esqueci-me de um colega pós-῎Estatística 3 de Março῎ cuja presença foi justificada como passageira e com o argumento de que ele estava a espera de um voo para uma das províncias e que nunca mais decolou. 

Por acaso, recentemente, cruzei-me com este colega, hoje um renomado médico cardio-neurologista. E sempre que me cruzo com ele a minha saudação é, carinhosamente, a mesma: ῎Então, para quando o voo?῎.  

Espero, para terminar, que os análogos pós -῎Estatística 3 de Março῎ governamental mantenham sempre a esperança e o sorriso quando forem saudados na rua por um sarcástico ῎Então, para quando o cargo?῎, que será bem melhor do que estarem a cargo do meu amigo médico cardio-neurologista numa central de cuidados intensivos.

Chakil Ab. Frelimo

 

Carta secreta no póquer político-partidário, qual ás de espadas de seu baralho, Daniel Francisco Chapo, já entronizado Presidente da Frelimo, ontem, na III Sessão extraordinária do Comité Central  da Frelimo em pleno ''Dia dos Namorados'' jogou na Hora H sua cartada e.…zás, , tirou o coelho da cartola: Chakil Aboobakar é o novo SG do partido que tenta não soçobrar ao tsunami chamado Venancismo. Check-mate! Com 47 anos de idade, Chakil Aboobakar vem com muitos rótulos de novo... Será esta a renovação de sangue, enfim, na liderança da Frelimo, o render da guarda e a viragem na gerontocracia Frelimocrática?

 

Mea culpa! Não foi Samora Machel Júnior e nem Cidália Chaúque, o escolhido de Daniel Chapo para ocupar o cobiçado cargo de Secretário-Geral da Frelimo é Chakil Aboobakar, da Zambézia.

 

O novo SG do partido no poder foi eleito na tarde desta sexta-feira, no decurso da III Sessão Extraordinária do Comité Central da Frelimo. Escritor e empresário, Chakil Aboobakar, de 46 anos de idade, concorria sozinho ao cargo, como já é da "praxe" no partido. Obteve 221 votos, dos 239 depositados na urna. Dezoito estavam em branco.

 

Com a eleição de Chakil completa-se o quadro lógico regionalista-"groupie" de divisão do poder na Frelimo, com a entronização da "vez do Centro" de mandar em toda a linha do poder da Frelimo, intra-partidário e no Governo e poder Judicial.

 

Resgatado do limbo e apparatchik de carreira

 

Dois anos mais novo que o Presidente da República e da Frelimo e resgatado após o limbo a que tinha sido votado, depois do seu afastamento do secretariado do Comité Central, no 12º Congresso, realizado em 2022, Chakil Aboobakar é um secretário-geral do partido no poder à “altura” – pese embora a sua estatura baixa - do seu “boss”, Daniel Chapo.

 

Fontes internas da Frelimo asseguram à “Carta” que não podia ser de outra maneira, para afastar o espectro de bicefalia: o novo secretário-geral tinha de ser um “homem de mão” ou um “braço direito” indicado por Chapo, para apenas ser “ratificado” pelo Comité Central, como aconteceu na última sessão extraordinária do órgão, realizada na sexta-feira, 14, dia dos namorados.

 

Chakil Aboobakar está à medida desse perfil. Volta em grande à hierarquia da Frelimo, como número dois, devendo vassalar essa ascensão ao novo presidente da organização, depois de ter sido “corrido” do secretariado no 12º Congresso.

 

Faz parte dessa nova leva dos “resgatados” Caifadine Manasse, que tinha caído em desgraça, mas “renasceu” como novo ministro da Juventude e Desporto.

 

Os laços, próximos ou distantes, entre o novo presidente do partido e o novo secretário-geral pesaram sobejamente para que a escolha recaísse sobre Chakil Aboobakar.

 

Daniel Chapo e Chakil Aboobakar, apesar de não terem coincidido, andaram em Nacala, província de Nampula, onde ambos exerceram funções na administração pública, tendo o primeiro sido conservador em Nacala-Porto e iniciado a carreira política como administrador de Nacala-a-Velha. Chakil Aboobakar trabalhou no Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD), depois de uma passagem efémera como administrador de Monapo, na província de Nampula.

 

Dirigiu a “jota da Frelimo” e integrou o secretariado do partido em Sofala, província onde nasceu, cresceu e estudou Daniel Chapo. 

 

Quadro do secretariado do Comité Central dos secretários-gerais Eliseu Macamo e depois Roque Silva, trata-se de um “aparelhista” com pergaminhos à altura da burocracia partidária.

 

Natural da província da Zambézia, segundo maior círculo eleitoral, a escolha de Chakil Aboobakar para secretário-geral reafirma a proeminência de figuras do centro e norte do país neste novo ciclo político.

 

A segunda figura do Estado, Margarida Talapa, nova presidente da Assembleia da República, e Francisco Mucanheia, um dos principais conselheiros de Daniel Chapo, são oriundos da província de Nampula, o maior círculo eleitoral do país.

 

Aboobakar obteve 221 votos dos 239 depositados na urna da eleição do secretário-geral da Frelimo, com 18 votos em branco.

 

Entusiasta das letras, com dois livros publicados e membro da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), Chakil Aboobakar é também homem de negócios em áreas como restauração e de mídia alternativa. Há uns anos, aliado ao apresentador de televisão e mestre de cerimónias do entretenimento Jorge Ribeiro, Aboobakar criou a revista e podcast ''Mais Jovem'', ideia que seria ''roubada'' e recauchutada em um programa de fomento do empreendedorismo juvenil, pelo seu conterrâneo e contemporâneo Oswaldo Petersburgo, como Secretário de Estado na Presidencia da República para a Juventude e Emprego no recém-findo segundo mandato de Filipe Jacinto Nyusi.

 

A influência da “eminência parda”

Com um Presidente da República e, simultaneamente, do partido e um secretário-geral do centro consolida-se a ideia de que agora “é a vez do centro” e de que Filipe Paúnde, ex-secretário-geral e veterano oriundo desta região está vigorosamente a mexer os cordelinhos para a rearrumação das cadeiras de poder na Frelimo há mais de 50 anos em Moçambique.

 

Inicialmente agendada para a sessão extraordinária de sexta-feira, a reformulação do secretariado do Comité Central acabou sendo adiada para a próxima sessão ordinária do órgão mais importante no intervalo entre os congressos.

 

Fontes do partido afiançaram que a remarcação desse ponto de agenda visa dar tempo a Daniel Chapo e ao novo secretário-geral para pensarem e escolher as peças mais convenientes para a ocupação de postos nesta estrutura. Ou seja, Chapo já começa a pretender arrumar as pedras de toque do seu tabuleiro de xadrez, por motto próprio, apesar do jogo de cintura entre os Filipes, Jacinto Nyusi e Chimoio Paúnde.

 

Mestrado em jornalismo e amante da literatura

Chakil Aboobakar nasceu em 24 de Março de 1977 na cidade de Quelimane e é mestrado em Jornalismo e Média Digital pela Universidade Pedagógica e licenciado em Ensino de Matemática.

 

Aboobakar é membro do Comité Central, desde 2006, tendo desempenhado as funções de secretário do Comité Central para Área de Relações Exteriores (2019-2022), secretário do Comité Central para Área de Organização (2018-2019) e secretário do Comité Central para Área Económica (2016-2018).

 

Foi presidente do Conselho Provincial de Jurisdição da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), secretário do Comité Provincial para Área de Organização e Formação de Quadros e secretário provincial da Organização da Juventude Moçambicana (OJM).

 

No plano profissional, ocupou o cargo de presidente do Conselho Fiscal das Linhas Aéreas de Moçambique, SA (LAM) – (2017 – 2024) e administrador do distrito de Monapo.

 

No campo literário, publicou, pela AEMO, os livros “Uma Vida Qualquer” e “Pétalas d’água”. Aboobakar tem tentado combinar sua veia literária e de promotor das artes com a de empresário, albergando lançamentos de livros e música ao vivo no seu restaurante, bar e lounge de alas abertas, denominado  ARTISTAS, num dos vértices do recinto da FEIMA (Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo), na Polana, bairro nobre de Maputo. (Carta da Semana)

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A economia criativa tornou-se um dos sectores mais dinâmicos e promissores do mundo, combinando cultura, inovação e tecnologia para impulsionar o crescimento económico. Segundo a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), as indústrias criativas representam 3% do Produto Interno Bruto global e geram mais de 30 milhões de empregos directos, sendo um motor de transformação económica, especialmente em países emergentes.A economia criativa tornou-se um dos sectores mais dinâmicos e promissores do mundo, combinando cultura, inovação e tecnologia para impulsionar o crescimento económico. Segundo a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), as indústrias criativas representam 3% do Produto Interno Bruto global e geram mais de 30 milhões de empregos directos, sendo um motor de transformação económica, especialmente em países emergentes.


Moçambique, com o seu rico património cultural, diversidade artística e potencial tecnológico, tem todas as condições para se tornar um polo de referência da economia criativa em África. O país não pode depender apenas da exploração de gás, minerais e agricultura – o sector cultural tem a capacidade de gerar milhões em receitas e criar centenas de milhares de empregos, se forem adoptadas as estratégias certas.


Enquanto o mundo assiste à ascensão do Afrobeats na Nigéria e do Amapiano na África do Sul, um novo gigante criativo está a emergir na África Austral. Moçambique, frequentemente associado apenas aos seus recursos naturais, esconde um sector que pode transformar completamente a sua economia: a economia criativa.

A cultura moçambicana tem uma riqueza inexplorada, desde a sua música e cinema até aos videojogos e às artes digitais. O país está à beira de uma explosão cultural e económica, e os investidores que compreenderem o momento podem beneficiar-se de uma das últimas oportunidades de mercado realmente inexploradas no mundo.


Se Afrobeats valem 440 milhões de dólares e a indústria de gaming africana crescerá para 3,72 mil milhões de dólares até 2029, por que Moçambique não pode liderar essa transformação?


• O Contexto Global da Economia Criativa


A economia criativa engloba sectores que incluem música, cinema, videojogos, artes visuais, moda e turismo cultural. A rápida digitalização e a globalização abriram novas oportunidades para os países africanos exportarem cultura e produtos criativos para o mundo.


• Crescimento e Impacto EconómicoA economia criativa tem-se afirmado como um dos sectores mais dinâmicos e promissores a nível global, contribuindo significativamente para o desenvolvimento económico e social.

 

• 1,6 biliões de dólares – Valor global do comércio de bens e serviços criativos em 2020 (UNCTAD).

 

• 1,5 trilião de dólares – Valor global do sector criativo, crescendo três vezes mais rápido que a economia tradicional (UNESCO).

 

• 86,8 biliões de dólares – Valor estimado da indústria criativa africana até 2030 (UNESCO).• 2,25 biliões de dólares: Receita anual gerada pela economia criativa mundial, empregando mais de 30 milhões de pessoas (UNESCO).

 

• 2,14 biliões de dólares: Valor do mercado africano de videojogos em 2024, com previsão de crescimento para 3,72 biliões de dólares até 2029 (UNCTAD).

 

• 4,5 milhões de dólares: Valor das exportações de bens criativos de Moçambique em 2008, antes da digitalização global (UNCTAD).

 

• 6,5 milhões de meticais: Investimento inicial do governo moçambicano na produção audiovisual para fomentar a indústria (Diário Económico).

 

Gráfico 1: Crescimento Global da Economia Criativa (2010-2030)

 

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• Casos de Sucesso em África

 

• Casos de Sucesso em África• Nigéria (Afrobeats) – Transformou a música nigeriana numa indústria de 440 milhões de dólares.

 

• África do Sul (Amapiano & Cinema) – O país tem um dos mercados cinematográficos mais desenvolvidos do continente, com parcerias globais como a Netflix.

 

• Gana e Quénia (Gaming & eSports) – Tornaram-se centros de desenvolvimento de videojogos e ligas de eSports, atraindo investimentos internacionais.
Moçambique pode ser o próximo grande caso de sucesso em África.

 

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• Oportunidades para Moçambique na Economia Criativa

 

• Oportunidades para Moçambique na Economia Criativa

 

O governo moçambicano já reconhece a importância estratégica do sector cultural e criativo para o desenvolvimento sustentável. O país possui vantagens únicas, como:

 

• Música e dança autênticas, com a Marrabenta e a Timbila como patrimónios reconhecidos. O Tufo e o Mapiko enchem o povo de orgulho das suas origens.

 

• Localizações exóticas para filmagens, podendo atrair produções internacionais.

 

• População jovem e criativa, com um mercado digital em expansão.


• Sectores Criativos Mais Lucrativos em Moçambique


• Música: O Mercado Global Está Pronto para o Som Moçambicano

 

A Marrabenta, o Afro-fusion moçambicano e a Timbila são sons autênticos, capazes de competir com o Afrobeats e o Amapiano. Mas enquanto os artistas nigerianos e sul-africanos conquistam o mundo, Moçambique ainda carece de infra-estrutura para produção e distribuição global.

 

Oportunidades de Investimento


• Plataformas de streaming locais – Criar um Spotify ou Apple Music moçambicano, que monetize artistas locais.

 

• Estúdios e gravadoras – O talento moçambicano precisa de produção profissional para competir globalmente.


• Festivais de música – O turismo musical africano está a crescer; Moçambique tem as paisagens e a cultura perfeitas para liderar essa tendência.


Cinema e Streaming: Oportunidade Bilionária à Espera de Visão Empresarial

 


Nos anos 1980, Moçambique era um dos epicentros do cinema africano. Com o declínio do sector, perdeu protagonismo, mas hoje há um renascimento em curso. Plataformas como a NetKanema estão a ressuscitá-lo. A Netflix já aumentou seu investimento em produções africanas em 40% desde 2021. A pergunta é: Moçambique será parte deste boom?


Oportunidades de Investimento:

- Produção cinematográfica – Há demanda global por histórias africanas autênticas.


- Infra-estrutura para filmagens – O país tem locais exóticos e únicos para produções internacionais.


- Plataformas de distribuição digital – Um 'Netflix moçambicano' pode capitalizar na cultura local e expandir internacionalmente.


Dados que os Investidores Precisam Saber: Moçambique eliminou taxas para produção audiovisual, facilitando investimentos estrangeiros (Folha de Maputo).


Videojogos e eSports: A Última Fronteira de Crescimento Acelerado


O mercado africano de videojogos está a crescer mais rápido do que qualquer outro no mundo. Moçambique tem uma população jovem e conectada, mas carece de infra-estrutura para gaming profissional. África já tem um mercado de gaming avaliado em 2,14 biliões de dólares (Statista).


Oportunidades de Investimento:


- Centros de gaming e eSports – Criar hubs para competições e formação de atletas digitais.


- Desenvolvimento de videojogos locais – O mundo está à procura de narrativas africanas; Moçambique tem histórias únicas para contar.


- Parcerias internacionais – Existem empresas que investem em gaming africano.Caso de Sucesso: O Quénia e o Gana já atraem milhões em patrocínios e prémios para torneios. Moçambique pode ser o próximo grande polo?

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Infra-estrutura e Desafios do Sector Criativo5. Infra-estrutura e Desafios do Sector Criativo

Os maiores desafios incluem:


- Falta de estúdios de produção e distribuição para música e cinema.


- Baixo investimento governamental e falta de incentivos fiscais estruturados.


- Carência de escolas e programas de formação para capacitar profissionais.

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Conclusão e Chamada para Acção9. Conclusão e Chamada para Acção


Moçambique tem talento, cultura e potencial. O sector criativo pode tornar-se num dos pilares da economia nacional, desde que haja investimentos estratégicos e políticas eficazes.


O primeiro a investir será líder no mercado criativo moçambicano.A hora de investir na economia criativa de Moçambique é AGORA.


*Denise Cortês-Keyser, assessora responsável por África no Global Gas Centre, em Genebra, é especialista em mineração, petróleo e gás, energia, finanças e atração de investimentos, liderando iniciativas estratégicas para fortalecer África no cenário global.

 

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