O Juiz do Tribunal Judicial do Distrito de Chókwè determinou, esta terça-feira, a liberdade provisória dos 18 “presos políticos”, mediante o pagamento de caução no valor total de 720 mil Meticais. A informação foi revelada à “Carta”, na tarde de ontem, por Quitéria Guirrengane, Mandatária Nacional do partido Nova Democracia (ND), do qual pertencem os 18 “presos políticos”.
A cada um dos delegados de candidatura da ND coube, como condição para a libertação, uma caução no valor de 40 mil Meticais. A ND, tal como determinou o Tribunal Judicial do Distrito de Chókwè, tem cinco dias para proceder ao pagamento dos valores.
As 21 figuras da “entourage” do antigo Presidente Amando Guebuza (ele também incluido) e da gestão da Ematum, que alegadamente constam de uma lista de transferência de subornos por parte da Privinvest para Moçambique, são as mesmas que constam de uma lista que a PGR elaborou em 2016, solicitando o levantamento de sigilo bancário dos visados, para efeitos de investigação.
A lista foi publicada na segunda-feira num artigo da Lusa (Agência de Notícias portuguesa), reproduzido na “Carta”. De acordo com a Lusa, a lista foi mostrada durante alguns segundos na última quinta-feira, nas alegações finais do julgamento que decorre em Nova Iorque sobre o caso, pelo procurador Hiral Mehta.
O líder da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, Mariano Nhongo, terá sido desarmado na noite de ontem por elementos das Forças de Defesa e Seguranca (FDS), soube “Carta” de uma fonte da inteligência militar. A fonte não precisou o local onde Nhongo foi encontrado, algures no centro de Mocambque. Acrescentou que a sua guarda foi neutralizada e o general rebelde deixado à sua sorte. (Carta)
Citado na semana passada pelo semanário Savana como tendo embolsado dinheiros da Privinvest, por alegada indicação de sua irmã, Isaltina Lucas (antiga Vice-Ministra da Economia e Finanças), o Director-Executivo do Porto de Maputo recebeu votos de confiança dos accionistas da MPDC (Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo).
Numa nota de esclarecimento recebida esta tarde na “Carta”, os accionistas escrevem que a MPDC “foi surpreendida, no dia 21 de Novembro, com uma referência ao seu Director-Executivo como estando relacionado com uma empresa que recebeu um montante de valor não referenciado, supostamente para o ‘estabelecimento de uma Autoridade Marítima em Moçambique’.
Esta referência, reitera a nota, “feita no âmbito do julgamento a decorrer nos Estados Unidos da América, não corresponde em todo à realidade”.
A acrescenta que “nem a MPDC nem o seu Director-Executivo foram contactados para prestar qualquer tipo de serviços, nunca receberam ou foram contactados para receber qualquer montante, como supostamente veio referido por um dos acusados no processo das dívidas ocultas”.
A nota considera “as supostas alegações como sendo infundadas”. Aliás, refere, “o sistema de gestão, governança e compliance implementado e executado escrupulosamente pelo Conselho de Administração e toda a sua equipa de gestão executiva não permitem semelhantes abordagens. Os accionistas da MPDC são constantemente informados e acompanham a execução de todos os projectos e todos os actos envolvendo a MPDC”.
Por outro lado, “a Autoridade Marítima existe em Moçambique desde 1994, tornando-se inconcebível sobre que tipo de consultoria seria necessário para ‘estabelecer’ uma entidade já existente e cuja iniciativa, aprovação e incorporação são da alçada do Conselho de Ministros”. Por último, os accionistas “reiteram a sua plena confiança e dão total apoio tanto ao Director Executivo como a toda a gestão executiva da MPDC, na prossecução dos seus objectivos”.(Carta)
Esta exposição propõe ser a mesma exposição realizada há 30 anos no então Centro de Estudos Brasileiros – CEB e visa despertar a memória não só de um evento cultural e político, que integrou o programa da inauguração do Centro de Estudos Brasileiros (CEB), mas também lembrar o processo e o contexto em que o conjunto de esculturas e imagens foi reunido. Por dois anos seguidos (1985 e 1986), realizou-se um trabalho de pesquisa, documentação, selecção e aquisição das esculturas (cerca de quarenta), foram realizadas entrevistas com os criadores e as entidades envolvidas no processo de divulgação e comercialização, no mesmo tempo que as imagens tentavam representar as pessoas e os contextos em que actuavam, principalmente nas várias aldeias distribuídas no planalto de Mueda.
(29 de Novembro, às 18Hrs no Centro Cultural Brasil-Moçambique)
Flash Enncy ou Vaccina Boss é um artista de intervenção social, com muita influência positiva para a classe Jovem (Estudantes) e activista social com foco na área de saúde. Revolucionário no movimento do hip-hop moçambicano, na linhagem de rap de intervenção social, pertence também ao grupo Micro 2 ao lado de Legacy. O grupo já lançou 4 albuns independentes no mercado. O seu primeiro álbum a solo de originais chegou em 2014 intitulado "Lavagem Cerebral". Actualmente prepara-se para o lançamento do seu segundo disco, intitulado "Antibióticos”, projecto concebido por Gshort Boss & Maximmux Gotine. O projecto foi cautelosamente elaborado na Zep Studios.
(28 de Novembro, às 18Hrs na Fundação Fernando Leite Couto)
Lançado em 1977, o filme “25” é um dos primeiros esforços do Instituto Nacional de Cinema de consolidar uma imagem nacional, por meio do cinema, da recém-independente nação moçambicana. Realizado por José Celso Martinez e Celso Luccas, ambos do grupo dramaturgo brasileiro Teatro Oficina, o filme narra o contexto do fim do Estado colonial português e o início do governo da FRELIMO. Seu título remete à sucessão de eventos importantes na história da luta político-militar contra o colonialismo ocorridas nos dias 25 de diferentes meses e anos, como o junho de 1962, da fundação da FRELIMO, o setembro de 1964, do início da luta armada, o abril de 1974.
(27 de Novembro, às 18Hrs no Centro Cultural Brasil-Moçambique)
Quatro escolas primárias da capital do país, Maputo, viram, recentemente, reabilitados os seus respectivos sanitários. A reabilitação foi levada a cabo pela Uniliver Moçambique, no âmbito da sua responsabilidade social.
Concretamente, trata-se da Escola Primária Completa 25 de Junho, Escola Primária Completa Luís Cabral, Escola Primária Completa de Mavalane B e Escola Primária Completa Costa do Sol. A entrega dos sanitários reabilitados teve lugar no passado dia 19 do corrente mês, durante as celebrações do dia Mundial da Casa de Banho.
A Unilever dispõe de duas grandes marcas que tem como função principal a eliminação de germes que ameaçam a saúde das pessoas e causam doenças, nomeadamente, a domestos & lifebuoy. Com a campanha domestos porta-à-porta, a Uniliver procedeu à limpeza de mais de 3500 casas-de-banho, uma acção que visava ensinar às donas de casa a lavar correctamente as suas casas de banho para eliminar todos os germes que ameaçam a saúde das suas famílias.
Falando por ocasião do evento, o director-geral da Unilever, Jerry Kaptidze, destacou que a campanha de reabilitação de sanitários enquadra-se nos esforços que a instituição vem desenvolvendo com vista à redução dos efeitos nefastos que a ausência dos mesmos representa à saúde pública. (Carta)
Tal como tem sido hábito em todas as épocas chuvosas, o Ministério da Saúde (MISAU) voltou a alertar a possibilidade de ocorrência de algumas doenças, tais como diarreias/cólera, malária, hipertensão arterial, intoxicação alimentar, entre outras, por consequência do clima quente e húmido.
O alerta foi lançado, esta terça-feira, 26 de Novembro, pela Chefe do Departamento de Epidemiologia, Lorna Gujmal, que disse haver também necessidade de todas as forças vivas da sociedade reforçarem a prevenção destas doenças, particularmente, a malária, diarreia e cólera, que resultam das deficientes condições de saneamento do meio verificadas em vários pontos do país.
Diante desta situação, explicou Gujmal, também se deve prestar uma atenção particular às crianças e aos idosos, bem como às pessoas que sofrem de doenças crónicas, como a hipertensão arterial, HIV, malnutrição e os portadores de albinismo.
A fonte disse ainda que, perante este cenário, o tempo de espera para o atendimento pode aumentar, devido ao fluxo dos pacientes nas unidades sanitárias.
Dados do MISAU apontam que, de 01 de Janeiro a 15 de Novembro do ano corrente, foram notificados um total de 526.488 casos de diarreias, com 79 óbitos. Entretanto, nos últimos dias, não foram registados casos de cólera no país. Os últimos registos foram notificados no passado mês de Julho, em Cabo Delgado, associado ao ciclone Kenneth.
No entanto, para mitigar o impacto destes problemas de saúde pública no país, as autoridades da saúde elaboraram um Plano de Preparação e Resposta à Emergência de Saúde Pública e reforçaram a vigilância e monitoria dos casos para detenção precoce dum eventual surto destas doenças. (Marta Afonso)
A guerra continua sendo um dos “fenómenos artificiais” cujas consequências são nefastas para a vida das nações, no geral, e das populações, em particular. Destruição e perda de vidas humanas são alguns dos resultados mais visíveis das confrontações armadas entre diferentes grupos, sejam eles do mesmo país ou de países diferentes.
Entretanto, para além da destruição do património público e/ou privado, temos também a “destruição” de pessoas, com a existência de mutilados, resultantes das guerras, assim como de pessoas traumatizadas pelos efeitos da guerra, cuja recuperação, em alguns casos, é nula. Segundo a revista brasileira “Super Interessante”, por exemplo, 80 mil soldados americanos, que participaram da Guerra do Golfo, em 1991, sentem, até hoje, os efeitos das batalhas: náuseas, dificuldade respiratória e perda de memória.
O intróito deve-se às estórias colhidas pela “Carta”, entre os dias 28 de Outubro e 03 de Novembro último, junto da população dos distritos de Mutarara, na província de Tete, e Morrumbala, na Zambézia, que sofreram as consequências da guerra civil que opôs o Governo autoritário da Frelimo e o movimento rebelde da Renamo, durante 16 anos. Até hoje, os efeitos se fazem sentir.
De acordo com as fontes que aceitaram dar a cara à nossa reportagem, a guerra dos 16 anos deixou marcas “inapagáveis” nas suas vidas, devido ao terror por que passaram. “Nada nos sai da memória. Tivemos de abandonar tudo para não perder a vida”, afirmaram.
De acordo com o pesquisador David Brites (2017), até 1990, a guerra civil moçambicana tinha produzido 900 mil mortos, resultantes dos confrontos militares, das atrocidades, das minas terrestres e também da fome, uma das grandes características dos períodos de guerra. Houve também cinco milhões deslocados e 1,7 milhão de refugiados.
Para poder inteirar-se do dia-a-dia de quem viveu, na pele, a guerra dos 16 anos e os recentes conflitos militares, opondo novamente o Governo e a Renamo, “Carta” procurou as testemunhas oculares para contarem a sua versão sobre a guerra. Durante os sete dias, a nossa reportagem conversou com mulheres, consideradas maiores vítimas dos conflitos armados.
Para tal, escalamos o bairro de Baué 6, na vila de Nyamayabué, no distrito de Mutarara, na província de Tete, onde conversamos com Teresa Tomocene, de 66 anos, natural daquele distrito. A fonte conta que, devido à guerra dos 16 anos, teve de abandonar, por 10 anos, o seu local de nascimento, juntamente com o seu marido (Ernesto Andessene), filho (na altura com dois anos de idade) e vizinhos e instalar-se na região de Towé, na vizinha República do Malawi.
“Tivemos de deixar tudo, porque os homens armados, que chegavam à nossa região, saqueavam os nossos produtos, queimavam nossas casas e matavam nossos entes-queridos, sobretudo mulheres”, afirma a fonte com lágrimas nos olhos, acrescentando que viria a perder seu filho, no centro de refugiados, devido à falta de cuidados médicos.
Segundo Teresa Tomocene, no regresso, após a assinatura do Acordo Geral de Paz, celebrado a 04 de Outubro de 1992, não tinham casa, porém, preferiram regressar às origens a fixar-se no Centro de Reassentamento de “Embondeiro”, onde as restantes famílias recomeçaram a vida.
Prosseguindo, a fonte afirmou que grande parte da população daquele bairro regressou nos princípios de 2003. A fonte sublinha não querer ver mais o país em guerra, pois, esta tirou-lhe o seu “menino”.
Por seu turno, Joana Januário, de 56 anos de idade, também residente em Baué, afirma que alguns residentes daquele ponto do país preferiram permanecer no vizinho Malawi e outras instalaram-se noutros distritos da província, com o receio do recrudescimento do conflito, para além das “más memórias” que o local ainda guarda.
Hoje o bairro debate-se com problemas de transporte, água potável, o que retira a paz àqueles compatriotas.
O medo da guerra também toma conta de Morrumbala
Registadas as estórias de Baué, a nossa equipa de reportagem partiu para o distrito de Morrumbala, na província da Zambézia, tendo-se instalado concretamente na Localidade de Sabe, onde os sinais dos diferentes conflitos ainda são visíveis.
Neste ponto da província da Zambézia, que também sofreu com a guerra civil e experimentou alguns momentos de tensão durante o recente conflito militar, receia-se o regresso da guerra com a publicação dos resultados eleitorais, que dão vitória à Frelimo e ao seu candidato Filipe Nyusi, incluindo naquele local, historicamente, favorável à Renamo e seu candidato.
O medo, afirmam as fontes, deve-se ao facto de existir, naquele distrito, uma base militar da Renamo, localizada a 18 Km da vila-sede daquele distrito, o que pode precipitar um novo conflito, tendo em conta os gritos de fraude que têm sido repetidos pelos partidos da oposição.
Maria António tem 20 anos de idade e é mãe de dois filhos, tendo nascido e crescido em Sabe. A fonte afirmou que a região está em “alerta máximo”, devido à onda de ataques que ocorrem nas províncias de Manica e Sofala. Conta ainda que, em 2015, ela e a família tiveram de abandonar a região, devido aos ataques militares, que tinham eclodido, e que só regressaram no ano seguinte, 2016. Por isso, afirma que o medo de uma possível guerra ainda é maior naquele ponto do país.
Enquanto isso, Gilda Miguel, também residente de Sabe e mãe de três filhos, acredita que nenhum conflito militar irá eclodir naquela região, embora tenha na memória as imagens de 2015. A fonte chora apenas a falta de água potável, que lhe faz percorrer mais de 3 Km para obtê-la.
Psicólogo defende que a guerra cria “stress pós-traumático”
Contactado pela “Carta” para comentar em torno das estórias partilhadas pelas vítimas dos conflitos militares, o psicólogo Elio Mudender defendeu que grande parte das pessoas que vivem aquele tipo de situações sofre “stress pós-traumático” porque “os episódios de guerra, violência ou qualquer situação de conflitos, sempre se revivem em sonhos e pensamentos”.
Mudender afirma que toda a guerra deixa sequelas psicológicas, para além das físicas e da destruição do tecido social e de infra-estruturas. “A guerra deixa mazelas na parte psicológica, que são, portanto, aqueles traumas, dor, sentimento de insegurança, de angústia, de tristeza, por causa das perdas e do sofrimento que se vive”, explicou.
“A guerra nunca acaba. Até pode se verificar o calar das armas, mas continua a ecoar na mente das pessoas, no coração das pessoas. É por isso que as pessoas que passaram por uma situação de guerra não esquecem porque, na verdade, a nossa memória guarda aqueles episódios muito marcantes e fortes”, acrescentou.
Face à situação, Elio Mudender propõe que as vítimas tenham um acompanhamento psicológico, que é um tratamento que consiste em ajudá-las a esquecer os efeitos e as mazelas causadas pela guerra. Um dos tratamentos propostos é a auto-regulação, em que o indivíduo regula a sua mente, seus pensamentos e suas acções, de modo a não ser vítima das mazelas causadas pela guerra.
Por seu turno, a socióloga Isabel Casimiro disse à “Carta” que a nossa sociedade vive, desde os tempos passados, conflitos permanentes e que nunca foram resolvidos. A docente lembrou que, mesmo antes da guerra colonial, existiam conflitos entre as comunidades, que motivou várias deslocações, em que as pessoas tiveram de deixar tudo, como aspectos culturais, sociais e económicos.
Explica que, após a Luta de Libertação Nacional e a guerra dos 16 anos, houve esforços para aproximar as famílias, através de conversas e pedidos de perdão entre estas e a sociedade, de modo que se pudessem reconhecer e viver juntas, actividade desenvolvida pelo governo e pela comunidade internacional.
Porém, “a situação não ficou resolvida. Aquele Acordo de Paz não resolveu tudo, o que significa que o que nos parecia que tinha sido uma integração, não foi porque nem sempre houve uma integração”, destaca. (Omardine Omar)