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Redacção

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O nosso 2024 não pode ser de disputa entre pessoas ou famílias poderosas - reis e rainhas, cavaleiros e renegados, homens honestos e mentirosos, tribos ou regiões, famílias nobres ou dinásticas, alianças mafiosas ou conspiradoras - lutando pelo controlo político-económico do país como no “Game of Thrones. Moçambique não é e não pode ser transformado numa série de televisão imaginada para distrair as pessoas nos tempos de ócio.

 

Porquanto possamos negar, até a pés juntos, os sinais da nossa crise são muitos, graves e dramáticos. Não é só a constante e continuada crise da nossa política, democracia e economia, mas é, sobretudo, a nossa incapacidade de assumir a nossa soberania.

 

Na primeira visita ao Moçambique independente, Julius Nyerere (1975) deixou uma profunda advertência sobre as diferentes espécies de tramoias que nos assolam: Moçambique está no mar alto, está livre e independente, mas ainda não alcançou os objectivos pelos quais o seu povo lutou – paz, progresso e felicidade do povo (Cabral) – devido às dificuldades próprias do processo e à oposição “daqueles que não querem que a África se desenvolva em liberdade”.

 

Por isso, lutar por Moçambique é um desafio contínuo. A asserção de Frantz Fanon nunca foi tão verdadeira e pertinente: cada geração tem uma missão a cumprir, realizá-la ou traí-la. Algumas vezes até parece que a “geração da insurreição” teve uma missão muito árdua: lutar contra o colonialismo debaixo de perseguições, prisões, torturas e até assassinatos. Outras vezes, parece que, na sua dificuldade, teve sorte e tarefa facilitada: identificou e definiu com exactidão o inimigo – o colonialismo - e o objectivo fundamental da sua luta, a autodeterminação política.

 

A geração da insurreição e da independência, apesar das críticas que lhe possamos fazer por causa de alguns dos seus feitos – nos procedimentos, nas ideologias, nos processos económicos –, em retrospectiva e com a distância histórica que temos, somos obrigados a reconhecer que se engajou para realizar aquilo que pensava ser a sua missão.

 

Precisamos de continuar a “Lutar por Moçambique”, mas o tempo e as circunstâncias mudaram. Já não se trata de lutar contra o colonialismo do minúsculo e periférico Portugal, mas de resistir aos mastodontes e colossos que, ainda por cima, se fundem em grandes unidades com vocação imperialista. A necessidade de resistir para continuar o nosso caminho de liberdade é tão importante hoje, como foi no passado (ou talvez mais) e o percurso certamente mais árduo.

 

Hoje, na época da complexidade (Edgar Morin), do ultraliberalismo caracterizado pela Necropolítica (Achile Mbembe), da sociobiologia, é quase aporético identificar o inimigo contra o qual lutar, como também -e sobretudo-, é aporético identificar com quem contar para essa luta, dentro dos partidos em concorrência e mesmo entre os líderes que nos governam.

 

Contudo, somos chamados a ser amigos do nosso tempo, a apreendê-lo através de conceitos (Hegel) e a partir das nossas circunstâncias (Ortega e Gasset); a falar a sua linguagem (Jacques Derrida) e a partir do nosso lugar, mesmo se periférico (Enrique Dussel).

 

É nestas circunstâncias aporéticas que temos o desafio de realizar a nossa missão, de continuar a lutar por Moçambique contra novos inimigos e novas adversidades. Esses inimigos e adversidades são, antes de mais, internos, não só no sentido de que estão dentro das nossas instituições, mas também no sentido de que estão dentro de cada um de nós e se chamam individualismo (solipsismo, com os seus corolários de corrupção), promiscuidade, etc. Mas as adversidades são também a globalização neoliberal e o poder corruptor do seu dinheiro, são a corrida desenfreada e selvagem aos recursos naturais, são a constituição de grandes blocos hegemónicos, é a possível re-transformação de Moçambique em campo de batalha de antigas e novas potências imperialistas e predadoras.

 

No mundo da adoração narcisista do “Eu” temos que ousar (aude, Horácio) continuar a pronunciar a palavra ‘Nós’, a ser comunidade (cum munia), a ser nação; deslocar os moçambicanos, do “eu” e das tribos de interesses colaterais (partidos, grupos, oligarquias...) para um “Nós” assertivo, um Nós-Moçambique.

 

Não se trata simplesmente de pronunciar a palavra, mas de convocar o seu sentido (bíblico) criador e vivificador. Isto é, assumir as consequências que o pronunciamento da palavra implica.

 

Tautologicamente, o nós-Moçambique deve ser o pressuposto e, ao mesmo tempo, o único baluarte da possibilidade de continuação da nossa luta.

 

Não de um Moçambique que nos adormece com doadores, petróleo e ONG, mas do Moçambique da maioria dos moçambicanos cuja condição nos deveria impedir de dormir… O nós-Moçambique é o conteúdo simbólico de um projecto histórico para o qual se impõe reforjar o sentido, a fim de o possuir plenamente. Trata-se de nos apropriamos desse projecto, fazê-lo nosso e actualizá-lo nas condições actuais do país e do mundo. Para isso, é necessária muita criatividade para renovar e actualizar as formas de luta. A batalha visa também travar e barrar um modelo que faça recuar o nosso sentido de fraternidade e de comunhão.

 

Não obstante as suspeitas que suscita a utopia hoje, ela deve ser encarada como uma narrativa que fala de esperança, que porta uma visão de futuro. Ela faz entrever algo que ainda não existe, prefigura o que ainda não é. Fala de um espaço livre, aberto, terrestre, imaterial que pode traduzir concretamente a verdade de amanhã.

 

Tivemos utopias emancipadoras, distopias, utopias de baixo forjadas no baixo fundo das narrativas e perspectivas actuais. Essas distopias tinham o lomuku (emancipação) e a igualdade no coração dos seus projectos. A falência das utopias passadas – descolonização, independência, desenvolvimento – pode levar à resignação, a passarmos do comunitário ao individualismo. 

 

O espírito das afrotopias (utopias africanas), assim como das “moçambitopias” (utopias moçambicanas) tem que ser retomado com mais força e com espírito renovado, pois o conceito continua válido, mesmo se a forma tiver que ser repensada.

 

Temos que ousar (aude) determinar-nos em função das nossas necessidades e concepções. A nossa via não pode ser dirigida por outros e pelos seus interesses, assim como não pode ser prisioneira dos feitos das gerações passadas. Cabe-nos inventar um discurso – e uma prática – em conformidade com a nossa linguagem – e circunstâncias –, habitar um espaço infrequentado do imaginário a partir do qual dar vida a uma realidade fecunda.

 

Na mediocridade ambiente - em termos de valores, pensamentos, convicções -, o desafio de Horácio é mais do que nunca actual: sapere aude. Ter coragem de pensar por nós mesmos, reivindicar o direito à iniciativa e tomar a palavra no espaço-mundo.

 

Precisamos de um pensamento moçambicano – não de uma maneira moçambicana de pensar –, de um pensamento de moçambicanos para Moçambique, pragmático e emancipado de posturas e diferendos ideológicos; de um pensamento (e propostas políticas) que parta(m) de uma análise lúcida e realista dos problemas do país, susceptível de propor soluções para os nossos impasses. Precisamos de elaborar estratégias de infusão e difusão desse pensamento e mobilizar os diferentes actores políticos, sociais, culturais e intelectuais.

 

Temos que continuar a correr, mas sobretudo temos que aprender a correr a nossa própria corrida e não a corrida de outros. Para isso, é necessário que tomemos decisões com ciência e em consciência, mas sempre 'em-comum’ - o que requer diálogo e consenso - muito para além das clivagens; tribais, regionais, raciais ou partidárias. O (em) comum requer políticas devotas à causa e instituições à altura das suas responsabilidades.

 

Estamos a atravessar um momento crucial, um tempo de desafios que devemos catapultar em novas oportunidades de mudança. A crise actual, embora grave, oferece-nos uma chance para uma transformação significativa. Precisamos discernir com sabedoria entre o que necessita ser mudado e o que deve ser preservado. É hora de fortalecer as nossas instituições, moralizar a vida política e garantir uma democracia robusta e justa. Devemos focar-nos não só em purificar o país da corrupção, mas também em manter firmes as conquistas históricas como a nossa independência e a unidade nacional.

 

Para além da corrupção, da promiscuidade e do vazio axiológico, o problema de Moçambique hoje é a necessidade de introduzir novas solidariedades num país cada vez mais individualista, incrementar uma demanda de liberdade numa sociedade cada vez mais neocolonizada, manter uma exigência de paz num país cada vez mais marcado pela violência e até pela guerra, realizar o espírito democrático num sistema cada vez mais autoritário.

 

Se Game of Thrones pode ensinar-nos alguma coisa, é que, para fazer face ao longo e severo inverno que se aproximava, os beligerantes tiveram de se unir.

Moçambique está a menos de um ano (10 meses) da realização das sétimas eleições gerais (eleição do Presidente da República e dos deputados) e quartas eleições provinciais (eleição dos membros das assembleias provinciais), de onde vão sair os governadores provinciais.

 

Se as eleições autárquicas são as mais importantes para a partilha do poder, ampliação do espaço democrático e aproximação do cidadão ao poder local, as eleições gerais são de todo mais estruturantes, pois, elegem o PR e os deputados, que têm a responsabilidade de definir o rumo político, económico e social do país, para além de representar o cidadão.

 

É preocupante e até assustador que, para eleições tão importantes a terem lugar em Outubro de 2024, a FRELIMO, RENAMO e MDM ainda não tenham aberto debate sobre os candidatos para as eleições presidenciais e nem para os cabeças-de-lista para as eleições provinciais. Até ao momento, não se tem mínima ideia sobre os prováveis candidatos a candidatos. Tudo o que se sabe se limita a meras conversas de corredores (fofocas).

 

Não há movimentações e nem calendários referentes às datas dos encontros em que os candidatos serão eleitos ou indicados internamente. Reina um silêncio que mais parece de medo do que de um possível respeito à disciplina interna de cada partido. O pior de tudo é que ainda não há quem se pretenda voluntariar a ser candidato e nem quem proponha publicamente um candidato.

 

Isto faz transparecer que ainda existem problemas sérios de democracia interna nos partidos políticos. Tudo se limita a meros protocolos formais e jogos políticos que visam assegurar a manutenção do “status quo”.

 

A eleição do Presidente da República não pode depender apenas da vontade dos partidos políticos. Não é assunto interno que deve ser jogado como uma carta de baralho. São pessoas que devem ser submetidas ao escrutínio público antes das escolhas internas dos próprios partidos.

 

Os partidos já deviam abrir espaço para os candidatos se manifestarem e apresentarem as suas pretensões, estrutura e visão do país que pretendem dirigir, para no final, após estes, os partidos vão decidir e escolher os seus candidatos, mas quando estes já se apresentaram publicamente e para os membros do respectivo partido.

 

As lideranças dos partidos mais representativos do país deveriam libertar os seus membros e deixá-los se exporem. Isso deveria ter sucedido logo após a marcação da data das eleições. Aliás, deve ser também por isso que o legislador prevê que as eleições gerais sejam marcadas com antecedência de 15 meses (antes era de 18 meses).

 

O cargo de Presidente da República é o mais importante de uma nação, por isso o eleito deve emergir de um processo aberto e transparente. Deve ser alguém devidamente escrutinado e testado em todas as temperaturas.

 

Se um concurso público na função pública chega a levar seis meses a um ano desde o anúncio até ao início das actividades dos candidatos apurados, quanto mais para eleição de um Presidente da República? Não parece fazer sentido que este seja anunciado e eleito em menos de um ano.

 

Em algumas democracias mais consolidadas e rigorosas, o processo de eleição de um Presidente da República chega a levar um ou dois anos. Por exemplo, nos Estados Unidos da América onde também se vai eleger um novo presidente em Novembro de 2024, desde o início deste ano os candidatos internos (dos partidos políticos) já estão a se apresentar ao público. Já são conhecidos há mais de um ano e o perfil de cada um está a ser publicamente escrutinado. Os eleitores vão ficando mais atentos às suas movimentações e posicionamentos públicos. A lista final de candidatos não será nenhuma surpresa de última hora.

 

Porque é que em Moçambique os partidos políticos querem que os candidatos se apresentem há seis meses da eleição e a um ou dois meses da eleição interna? Que Presidente será esse? Terá surgido de onde? De algum grupo restrito ou de pessoas influentes dos Partidos? Que garantias vai oferecer de uma actuação independente e focada no interesse exclusivo da nação?

 

Candidatos “menos habilitados" depois de eleitos elevam o risco de retardar o país e "tramam" a todos independentemente de quem o tenha escolhido ou protegido. Eleição do candidato a Presidente da República não deve ser apenas assunto dos partidos políticos. A FRELIMO, RENAMO e MDM têm a obrigação de abrir o debate e deixar os candidatos desfilarem a sua classe. Alguns vão depois cair ao acordarem de tamanha ilusão, outros por falta de apoio, outros ainda pela sua conduta pública, outros simplesmente por não perceberem que ainda não é altura certa, enfim. Mas neste momento os partidos políticos deviam deixar os interessados se apresentarem e se expressarem.

 

É estranho este silêncio dos partidos quando falta tão pouco tempo.

 

Leitor Devidamente Identificado

Na sexta-feira passada, um juiz de instrução do Tribunal Judicial do Distrito de Nacala-Porto decretou uma providência cautelar de arresto preventivo de bens de empresas ligadas ao do grupo multinacional ETG, numa acção movida pela empresa moçambicana Royal Group, baseada em Nacala. 

 

A medida gerou alguma “inquietação” em círculos que tomaram conhecimento da mesma - sobretudo porque entre os bens encontram-se produtos agrícolas de exportação, como feijão-boer, arroz e milho, entre outros - mas o quadro geral, o “big Picture”, pode ajudar os leitores a fazerem melhor juízo sobre os motivos e justeza desta contenda legal.

 

De acordo com uma apuração de “Carta de Mocambique”, a decisão do arresto segue-se a uma acção cível instaurada pelo Grupo Royal na Secção Comercial do Tribunal Judicial da Província de Nampula, através da qual a empresa moçambicana exige ao Grupo ETG (Export Marketing Company, Lda; Export Marketing Company, Lda Beira; ETG Pulses Mozambique, Lda; Agro Processors & Exporters, Lda; Agro Industries, Lda) o pagamento de uma indemnização por danos resultantes de uma denúncia caluniosa que prejudicou uma exportação da Royal.

 

Esta exigência tem antecedentes numa denúncia caluniosa junto das autoridades indianas de que o Grupo Royal foi vítima. Nas suas alegações em sede da acção cível, o Grupo Royal argumentou que funcionários bem posicionados do grupo ETG fizeram o uso de um certificado fitossanitário falso que declarava que uma exportação de milhares de toneladas de soja, do Grupo Royal para a Índia, como sendo produto com origem em sementes geneticamente modificada (GMO). Refira-se que o Grupo ETG é uma multinacional com forte implantação na Índia, de onde seu dono, Manesh Patel, é originário.

 

Com base nesse documento fitossanitário falso, as autoridades indianas prenderam, durante 14 meses (desde Setembro de 2022), o navio fretado pelo Grupo Royal, o “Ruby”, com toda a mercadoria que transportava, causando um impacto negativo na reputação e credibilidade comercial do grupo empresarial de Nacala, que alega agora ter sofrido avultados prejuízos económicos.  

 

A saga de Mumbai só terminou quando um juiz do Tribunal Superior daquela cidade declarou que a soja da Royal não era geneticamente modificada, levantando a medida de apreensão antes imposta, de acordo com documentos a que “Carta” teve acesso. 

 

Os juízes de Mumbai decidiram inocentar o Grupo Royal depois de obterem a garantia de resultados de análises laboratoriais levadas a cabo por uma entidade credível terem provado que a soja não era geneticamente modificada.

 

Agora, o Grupo moçambicano quer ver-se ressarcido desses danos de que até hoje se ressente, usando os instrumentos legais ao seu dispor. Por isso, instaurou um processo crime contra funcionários do grupo ETG, nomeadamenteVenkateshwaran Narayanan e Maulique Patel, e requereu a responsabilização das empresas do grupo ETG, por alegadamente terem mandatado os seus funcionários para prejudicar o Grupo Royal no mercado indiano de comercialização de cereais e leguminosas, por intermédio da denúncia caluniosa.

 

Mas, enquanto o processo civil por indemnização corre seus tramites, o Grupo Royal registou suspeitas de fuga à responsabilidade do grupo ETG, nomeadamente com a saída do país de um dos arguidos, Venkatesh Narayanan, tido como o cabeça da denúncia caluniosa que prejudicou a Royal. 

 

Foi no âmbito deste processo crime que foi requerido o arresto dos bens das empresas da ETG, como medida de coação para assegurar o pagamento de uma indemnização que cobre os prejuízos sofridos pela Royal.

 

O Grupo Royal alega também que o arresto foi requerido por conta de um clima de insegurança patrimonial por parte da ETG, concretamente pelo facto de o património do grupo estar longe de cobrir o prejuízo da Royal e que a única garantia patrimonial existente eram produtos agrícolas que, mais ou menos dias, poderão ser exportados, tendo em conta que nem uma mínima percentagem do valor da venda fica no território nacional.

 

Aliás, de acordo com dados a que “Carta” teve acesso, uma multinacional da dimensão da ETG não coloca o seu dinheiro no sistema financeiro nacional. Com efeito, os Bancos comunicaram aos tribunais saldos num total de USD 4.515.677,11 e a avaliação preliminar da propriedade foi de quase USD 4.000.000, o que não cobre sequer a metade dos danos reclamados pelo Grupo Royal. (Marcelo Mosse)

24128044 770x433 acf croppedRENAMO
O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique rejeitou hoje o recurso submetido pela Renamo para anulação da votação no distrito de Marromeu, no centro de Moçambique, apelando, no entanto, para uma reflexão sobre o modelo de votação no país
 

No recurso, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição, considerou que houve “diversas irregularidades” desde a votação até ao apuramento parcial dos resultados, entre as quais a falsificação de atas e editais para favorecer a Frelimo, partido no poder e, por isso, pediu que se invalidasse as eleições em 18 mesas de voto de Marromeu, na província de Sofala, onde as eleições foram repetidas.

 

Entre outras reclamações, o CC referiu que a Renamo não apresentou provas sobre a alegada falsidade dos documentos junto do Tribunal da primeira instância, para onde o partido submeteu, primeiro, o recurso e que foi rejeitado.

“Em conclusão, o Conselho Constitucional entende não haver provas bastantes para dar provimento ao pedido de anulação da votação e os respetivos apuramentos parcial e intermédio referentes a 18 mesas de votação na autarquia de Marromeu”, lê-se no documento.

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No acórdão, o Conselho Constitucional reconheceu irregularidades na repetição da votação em Marromeu, referindo que são consequência da “deficiente organização, administração e gestão” dos processos eleitorais em Moçambique, sugerindo, por isso, que se reflita sobre o atual modelo de votação usado no país.

 

“Remeto para reflexão a necessidade da alteração do atual modelo de votação em boletins para o sistema eletrónico ou outro, que evite os conflitos pós-eleitorais que o nosso país enfrenta a cada eleição”, declarou o CC, num acórdão assinado por todo coletivo de juízes conselheiros.

 

Em 10 de dezembro, Moçambique realizou uma nova votação em 75 mesas, das quais 18 de Nacala-Porto (província de Nampula), três de Milange, 13 de Gurúè (Zambézia) e a totalidade das 41 mesas de Marromeu (Sofala).

 

A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) foi declarada vencedora nos quatro municípios que repetiram a votação, numa eleição também marcada por irregularidades e ilícitos denunciados por partidos da oposição, observadores eleitorais e organizações da sociedade civil.

 

O CC, a última instância de recurso em processos eleitorais em Moçambique proclamou em 24 de novembro a Frelimo, partido no poder, vencedora das eleições autárquicas em 56 municípios, incluindo Maputo, contra os anteriores 64 anunciadas pela CNE, com a Renamo a passar de nenhuma para quatro, e mandou repetir eleições em outros quatro.

 

O CC proclamou a Frelimo vencedora das eleições autárquicas em Maputo, mas cortou quase 30.000 votos que tinham sido atribuídos anteriormente ao partido no poder na capital pela CNE.(Lusa)

Pelo menos 22 autocarros articulados chegaram no sábado a Moçambique para reduzir a crise de transporte na região metropolitana de Maputo, a capital do país, região que enfrenta problemas de mobilidade, anunciou hoje fonte oficial.

 

“Os autocarros têm capacidade de transporte de 150 passageiros sentados, o que permite retirar de uma única vez a quantidade que seria transportada por cerca de 10 viaturas de 15 lugares”, disse Ambrósio Sitoe, secretário permanente do Ministério dos Transportes e Comunicações de Moçambique, citado hoje pela comunicação social local.

 

Segundo o responsável, a alocação dos autocarros articulados, que começam a circular em janeiro de 2024, visa reduzir também as enchentes nas paragens que se verificam, maioritariamente, nas horas de ponta em Maputo.

 

A aquisição dos autocarros resulta de uma parceria entre o Governo moçambicano e uma empresa sul-africana, país vizinho, e deverão servir a seis rotas da capital.

 

“Isto resolve alguns desafios e prioridades estratégicas do setor dos transportes (...) Este é o princípio de um processo que o ministério está a fazer no sentido de resolver aquilo que é o desafio da mobilidade urbana na área metropolitana do grande Maputo”, referiu Ambrósio Sitoe.

 

A área metropolitana de Maputo, com cerca de três milhões de habitantes, cobre o distrito de Marracuene e os municípios de Maputo, Matola e Boane, concentrando “mais de 70% do parque automóvel de todo o país”, segundo dados do Ministério dos Transportes.

 

O setor de transportes em Moçambique constitui um dos mais deficitários ao nível dos serviços públicos no país, principalmente o transporte rodoviário, onde a crise de meios desencadeou o recurso a veículos de caixa aberta, jocosamente conhecidos por ‘my love’, dada a proximidade física com que os passageiros viajam na caixa de carga de mercadorias e a necessidade de, por vezes, se abraçarem para não caírem à estrada.(Lusa)

O Banco Europeu de Investimento (BEI), em coordenação com o Moza Banco, vai disponibilizar 10 milhões de euros para apoiar pequenas e médias empresas lideradas por mulheres em Moçambique.

 

“O instrumento oferecerá empréstimos com condições favoráveis, direcionados para empresas que pertencem a mulheres ou são por estas lideradas, que empregam um número significativo de mulheres ou que oferecem serviços específicos para mulheres”, disse o Moza Banco, num comunicado distribuído à comunicação social.

 

Entre os setores, indicou o Moza Banco, o crédito, que resulta da iniciativa EIB Global, vai apoiar empresas ligadas à indústria transformadora, à agricultura e à saúde.

 

“A emancipação económica das mulheres é essencial para o desenvolvimento de um país”, afirmou o vice‑presidente do BEI, Thomas Östros, citado na mesma nota.

 

Cerca de 52% da população moçambicana, maioritariamente rural, é composta por mulheres, num contexto marcado altos índices de pobreza, analfabetismo e barreiras para acesso ao financiamento.  (Lusa)

A Polícia da República de Moçambique, em Cabo Delgado, proibiu o lançamento de objectos pirotécnicos durante a quadra festiva, em nove distritos, por sinal severamente afectados pelos ataques terroristas. Estão abrangidos pela medida os distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Ibo, Palma, Meluco, Nangade, Muidumbe, Mueda e Palma.

 

O Comando Provincial da PRM aponta que a decisão foi tomada depois de consultado o Comando Conjunto das Forças de Defesa e Segurança. Fora da lista de proibição, estão os distritos de Pemba, Montepuez, Mecufi, Ancuabe, Balama e Namuno, autorizados a lançar objectos pirotécnicos sob supervisão das autoridades competentes.

 

Refira-se que, nos últimos anos, as autoridades têm estado a proibir o uso de objectos pirotécnicos por conta do terrorismo. (Carta)

O crédito concedido pela banca comercial às empresas caiu 13 mil milhões de Meticais em Outubro passado. Dados do Banco Central indicam que, no mês de Junho de 2023, o crédito às empresas situou-se em 126.5 mil milhões de Meticais, contra 140.2 mil milhões registados em Outubro de 2022, uma queda de 9.8%.

 

Em sentido contrário, o crédito às famílias e à habitação tem vindo a crescer consideravelmente nos últimos meses. Durante o mês em alusão, o sector bancário nacional concedeu 130 mil milhões em crédito às famílias, contra 115.5 mil milhões de Meticais, um crescimento em 12.6%. Dentro do crédito às famílias, o financiamento à habitação também cresceu 26.9%, ao sair de 6.7 mil milhões de Meticais em Junho de 2022 para 8.5 mil milhões em Outubro de 2023.

 

Contudo, no cômputo geral, o crédito à economia cresceu 0.1% ao sair de 286.7 mil milhões de Meticais em Junho de 2022, para 287.1 mil milhões registados em Outubro de 2023 corrente.

 

De forma desagregada, os dados do Banco Central descrevem que a indústria transformadora é que recebeu parte considerável do crédito à economia, no montante de 27 mil milhões de Meticais (10.1%), seguido dos transportes e comunicações, com 28.7 mil milhões de Meticais (10.2%) e 29.4 mil milhões de Meticais (10.5%) para o comércio.

 

Os dados do Banco Central não apresentam as razões do fraco financiamento às empresas em detrimento do crédito às famílias e habitação. Entretanto, a instituição refere que as taxas de juro a retalho, praticadas em Outubro último pela banca, situaram-se em 26.05% em média, para empréstimos com prazo de um ano e uma média de 10.01% para depósitos bancários a prazo de um ano. (Carta)

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) aprovou, na madrugada de ontem, os resultados das eleições de 10 de Dezembro nas quatro autarquias onde houve repetição, nomeadamente Marromeu, Milange, Gurué e Nacala-Porto. A Renamo voltou a votar contra, com a alegação de que o processo foi manchado por irregularidades.

 

Desta vez, todos os representantes da Frelimo presentes na sessão votaram a favor, incluindo Dom Carlos Matsinhe e Salomão Moyana, que tinham optado por abstenção na votação da madrugada de 26 de Outubro, referente aos resultados dos 65 municípios.

 

Em declaração de voto vencido, os representantes da Renamo na CNE dizem que votaram contra a aprovação dos resultados por não concordarem “com os procedimentos de todo o processo de votação e as fases do apuramento”, sobretudo nas autarquias de Marromeu e de Gurué.

 

Segundo os representantes da oposição na CNE, na repetição das eleições em Marromeu e Gurué houve “várias irregularidades e ilícitos que superaram em larga medida o processo eleitoral de 11 de Outubro passado”.

 

Para os elementos da oposição na CNE, os órgãos eleitorais, ao nível do distrito e da província, redesenharam uma estratégia que resultou na alteração dos resultados dos editais originais, “produzindo-se outros editais falsos com números rasurados”. Outras das irregularidades denunciadas estão relacionados com a proibição, pela polícia, dos vogais da CNE de supervisionar as eleições.

 

Na mesma declaração de voto vencido, os representantes da oposição na CNE acusam o órgão de que fazem parte de ser o principal culpado pelas irregularidades e ilícitos que ocorreram também nesta repetição de eleições.

 

Segundo eles, os vogais dos órgãos eleitorais ao nível central, que se encontravam na supervisão dos processos naquelas autarquias, deveriam ter feito pronta intervenção para corrigir os problemas e acalmar a opinião pública. Mas a inércia e a apatia que caracteriza a CNE “reduziu, em grande medida, a confiança, transparência e justiça” de um processo eleitoral que “foi até à votação bem organizado”, tendo ficado alterado “no período do apuramento parcial”. (CIP Eleições)

Mais da metade dos ex-guerrilheiros da Renamo ainda não recebeu a sua pensão, passados seis meses desde a conclusão do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos homens residuais do maior partido da oposição moçambicana.

 

Dados tornados públicos esta quarta-feira pelo Presidente da República durante a apresentação, na Assembleia da República, do Informe sobre o Estado Geral da Nação, indicam que, dos 5.237 ex-guerrilheiros da Renamo desmobilizados, apenas 1.290 é que já recebem as suas pensões, o que representa 24.6% do universo abrangido pelo DDR. Os restantes (3.947) ainda não viram a cor do dinheiro e nem sabem quando o mesmo “cairá” nas suas contas bancárias.

 

Os dados divulgados por Filipe Nyusi revelam ainda que perto da metade dos ex-guerrilheiros da Renamo ainda não submeteram os seus documentos (Bilhete de Identidade, Número Único de Identificação Tributária e Número de Identificação Bancária) à equipa responsável pela gestão do processo, que é composta por membros da Renamo e do Governo. Dos 5.237 abrangidos, apenas 2.849 é que apresentaram os seus documentos.

 

“O programa continuará de forma acelerada nas províncias do sul do país, até à sua conclusão no presente ciclo de governação. O apelo e o pedido é não procurar nos desviar do foco, em prejuízo destes nossos compatriotas que precisam de se integrar convenientemente na sociedade, como todos nós convivemos na diferença”, defendeu Filipe Jacinto Nyusi.

 

Lembre-se que a Renamo, através do seu ex-Secretário-Geral, André Magibire, veio a público, em Setembro último, acusar os bancos comerciais de estarem a dificultar o processo de emissão do NIB (Número de Identificação Bancária) dos combatentes da Renamo, exigido pelo Governo para o pagamento das pensões.

 

“Os combatentes estão a ter dificuldades de tratar o NIB a nível dos bancos e nós, como Renamo, queremos pedir ao Governo para intervir perante essas instituições bancárias para flexibilizar esse processo de NIB desses combatentes”, denunciou Magibire, dois dias depois de o Governo ter dito que o atraso no pagamento das pensões aos guerrilheiros da Renamo se devia à falta de registo dos beneficiários.

 

No seu nono e penúltimo Informe sobre a Situação Geral do País, Filipe Nyusi defendeu que a atribuição de pensões aos homens da Renamo foi uma decisão unilateral do Governo “no espírito da paz, reconciliação e inclusão, considerando que os mesmos não descontaram para nenhum dos sistemas de previdência social”. Saudou seu irmão Ossufo Momade, Presidente da Renamo, “por manter, com serenidade, o seu compromisso com a Paz e Reconciliação nacional”.

 

Segundo Filipe Jacinto Nyusi, a paz não se mede apenas pela ausência de conflito militar. “A paz é um modo de estar com os outros. É um caminho feito pelo diálogo, pela aceitação da diferença e, sobretudo, pela negação do discurso da intolerância e do ódio. É o que tenho tentado fazer”.

 

“As ideias que nos podem separar como forças partidárias não nos podem nunca dividir como moçambicanos. Vivemos, em Moçambique e no mundo inteiro, tempos difíceis. Essa conjuntura vai continuar a fazer-se sentir no ano próximo. Este desafio exige que, mais do que nunca, estejamos unidos em volta daquilo que é fundamental. E o que é fundamental é a estabilidade e a tranquilidade da nação moçambicana”, defendeu.

 

Lembre-se que o DDR foi concluído no passado dia 15 de Junho, com a desactivação do último reduto da Renamo, a base militar de Vunduzi, localizada no distrito da Gorongosa, província de Sofala. O processo durou quatro anos. (A. Maolela)

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