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Política

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A maior parte da população das comunidades de Mandela, Mapate, Miangaleua, do centro de produção de Mankangonha e do Novo Cabo Delgado, em Macomia, abandonou, nos últimos dias, as suas aldeias devido à frequente circulação de terroristas. Essas comunidades estão localizadas nas proximidades do rio Messalo e, aproveitando as potencialidades da região, dedicavam-se às actividades agrícolas.

 

Residentes das aldeias do planalto de Muidumbe disseram à "Carta" que receberam várias famílias refugiadas dessas áreas devido à insegurança. “Havia muitas famílias em Muidumbe, especialmente em Mandela e Litapata, que residiam lá, mas acabaram saindo devido à circulação desses malfeitores. Aqui, em Matambalale, recebemos algumas dessas famílias", confirmou Zito Nchumali, avançando que outras famílias também estão abrigadas em Nampanha e Miteda.

 

Júlio Gomes, da sede do posto administrativo de Miteda, também acolheu famílias provenientes da zona baixa de Muidumbe. Gomes disse à "Carta" que a situação de segurança ao longo do rio Messalo é precária devido à presença dos terroristas.

 

“Na semana passada, foi em Miangalewa, incluindo Mapate e Mandela. O nosso grande problema é a ausência das forças de segurança. Estamos sozinhos aqui, não temos patrulhas como antes, porque não há uma presença constante de militares", lamentou.

 

Fontes secundaram que a escassez de patrulhas e a fraca presença das Forças de Defesa e Segurança no distrito de Muidumbe têm contribuído para as frequentes aparições de terroristas, muitas vezes à procura de alimentos.

 

“É muito difícil ver soldados do exército moçambicano, especialmente após a saída das tropas do Botswana no ano passado. Isso reduziu as patrulhas na área, o que acaba abrindo espaço para a maior circulação de terroristas em Muidumbe."

 

Refira-se que as tropas de Botswana estavam posicionadas em Muidumbe no âmbito da Missão Militar da SADC de apoio à Moçambique na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado. (Carta)

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Por Dick Gulela*

O engenheiro, o outro engenheiro, anunciou-se como empregado do povo. O senhor age como se fosse dono do povo. Fala dos moçambicanos como o “seu” povo. Fala do país como sendo “seu”. É assim que fazem os pastores nas suas igrejas perante o rebanho dos crentes. Mas um país não é uma igreja. Moçambique não é a “sua” igreja. E os moçambicanos não são um rebanho. 

 

A multidão que hoje enche as ruas em protestos responde a um apelo que resulta, sem dúvida, da sua indiscutível popularidade.  Mas o mérito não é apenas seu. O senhor engenheiro devia agradecer em primeiro lugar à FRELIMO. Foi a má governação de uma elite predadora que encheu de frustração e descontentamento os milhares de jovens que agora desfilam a gritar pelo seu nome. A FRELIMO criou e alimentou a sua própria oposição. O senhor ganhou de bandeja esse presente.

 

Contudo, não basta um discurso inflamado e cheio de iluminadas promessas e obscuras ameaças. Dar o exemplo é a primeira exigência de um verdadeiro líder. O senhor engenheiro VM7 devia marchar com esses jovens. Aliás, devia marchar à frente deles. Outros assim fizeram: Martin Luther King, Mao Tsé Tung, Malcom X, Gandhi, só para lembrar alguns. Também esses estavam sob a ameaça de prisão. Mas tiveram coragem e, assim, revelaram a sua grandeza humana. 

 

O senhor prometeu ao país inteiro que estaria à frente daquilo que chamou de “Grande Marcha”. Seriam, nas suas contas, quatro milhões caminhando de todas as províncias para “ocupar” Maputo. O senhor sabia que era impossível. Qualquer pessoa de bom senso percebia que esse apelo não passava de propaganda. De qualquer modo, o senhor prometeu que marcharia à frente desses imaginários quatro milhões. Caminharia de peito aberto, sem usar coletes à prova de balas. São palavras suas, caro engenheiro. São promessas feitas perante as televisões. O senhor não cumpriu. Não esteve à frente das manifestações. Esteve atrás. E mantém-se num lugar invisível, salvo dos perigos a que sujeita o “seu povo”. Está numa casa oculta propagandeando inflamadas “lives”. A sua mensagem é virtual. Mas o incêndio e o sangue nas ruas da cidade são bem reais. 

 

Os que precisam de trabalhar, os doentes que ficam por atender, as crianças que ficam por estudar, um país inteiro paralisado: todo esse sofrimento é para si o preço que devemos pagar pela “salvação” que virá da sua pessoa.  Mas o seu “programa de salvação” (que vai chegando como receitas avulso e em capítulos) não passa de uma lista de ameaças, de anúncio de mais “sofrimentos” (é esta a expressão que o senhor usa), sem que se entenda exactamente o que se deve fazer senão marchar. O povo marcha, concentra-se à frente da Presidência. E depois? Depois, meus amigos, depois é o caos. Depois, é a guerra. Depois, é uma nação partida pelo ódio, pelo medo e pelo desejo de vingança. O senhor engenheiro que não compareceu agora, continuará algures, em parte incerta, enquanto os moçambicanos inocentes serão condenados a um novo ciclo de miséria. 

 

Por isso, senhor engenheiro VM7, pare de nos enviar mensagens de ódio e de violência. É um crime esperar que as concentrações de pessoas não sejam aproveitadas por gente que apenas quer tirar proveito pessoal e criminoso. Os actos de vandalismo e a reacção desproporcionada da polícia são, assim, um peso que deve recair também na sua consciência. Não se fazem revoluções online, com um único líder sentado comodamente fazendo incendiárias “lives” à distância. 

 

O senhor já se chama a si mesmo de “Presidente”. Já organizou em sua casa a cerimónia de tomada de posse. Mas o desafio é simples: ganhou realmente o pleito eleitoral? Então, mostre as provas. Mostre as actas e editais. Não quer mostrar à CNE? Mostre à comunidade internacional. Não quer mostrar ao Conselho Constitucional? Mostre à Ordem dos Advogados. Deve haver alguém, neste mundo, que queira receber as “irrefutáveis” provas que você diz estarem em seu poder. Se não o fizer, ficaremos com a suspeita de que, você também, tenha medo da verdade, o mesmo medo que atribui aos seus adversários políticos. 

 

Lembra-se das anteriores eleições a Presidente do Município? O senhor prometeu, frente às câmaras de televisão, que publicaria nos órgãos de comunicação e nas redes sociais as actas “verdadeiras” que estavam em seu poder. O que aconteceu? Estamos ainda à espera dessa prova. 

 

Nessa outra campanha, o senhor anunciou que haveria uma marcha dos diplomatas para apoiarem a “verdade” da sua eleição. Sabia que era mentira. Sabia que nenhum diplomata estrangeiro se meteria a marchar nas ruas de Maputo. Mesmo assim, mais forte o impeliu a escolher a mentira. Peça a Deus que o ajude a entender essa pressa em chegar ao Poder, mesmo atropelando a verdade 

 

Todos os partidos da oposição, igualmente lesados pelas fraudes, adoptaram uma mesma atitude. Aguardam serenamente pelo fim do processo. Todos esses partidos têm as mesmas suspeitas sobre a seriedade desse desfecho. Mas nenhum deles deixou de agir em conformidade com a lei. A sua pressa, caro VM7, em provocar caos nestes dias pode ser vista como uma prova do seu medo. Do seu medo em seguir os passos que você também, enquanto candidato, deve trilhar: não basta ter uma sala secreta em que fez a sua contagem paralela. O senhor tem o mesmo dever de todos os outros candidatos: apresente essas provas perante uma entidade credível que comprove a validade dos resultados. Quem não tem medo da verdade não vai pegar fogo à casa e, assim, apagar as provas do crime que alegadamente foi cometido pelos outros. 

 

Na sua mais recente alocução, o senhor misturou medidas imediatas (a habitual lista de ameaças) com a promessa de construir 3 milhões de casas. Talvez o senhor não tenha reparado: a campanha eleitoral já terminou! E depois, senhor engenheiro, o senhor não está perante um povo de analfabetos. Peça a uma criança da nossa escola para fazer as contas. Para cumprir essa meta teriam de ser erguidas 1643 casas por dia durante o seu mandato. Nem a China consegue tal feito. O senhor pode ser profeta. Mas não é Deus. Se quer que os outros respeitem a verdade, comece o senhor mesmo a mostrar-se como um homem de palavra. 

 

E, sobretudo, seja corajoso. Demonstre a mesma coragem dos jovens a quem o senhor manda para a frente de batalha. Quer ser um líder? Dê o exemplo. E faça com que as suas manifestações sejam ordeiras, condene publicamente os excessos, deixe de incendiar ainda mais o que já está a arder. Colegas seus, que se opõem a este mesmo governo, organizaram manifestações que sucederam e sucedem sem desacatos. O caso de Quelimane é bem elucidativo. Ou se não quiser escutar ninguém, escute os conselhos divinos de um Deus que não confunde justiça com vingança. O vandalismo que leva ao assalto e destruição de bens públicos não são simples danos colaterais. Tudo isso, senhor engenheiro, é também da sua responsabilidade pessoal. 

 

Um candidato a presidente da República deve mostrar um comportamento de um homem de Estado. Pode e deve desobedecer ao governo. Mas não pode agir contra a constituição perante a qual, se tudo lhe correr bem, um dia terá de prestar juramento. E a constituição, caro engenheiro, tem leis que o senhor, queira ou não, deve respeitar. As manifestações e as greves são feitas com regras e procedimentos. Tudo isso está escrito na Constituição da República. Mas o senhor diz: este país é nosso. Fazemos o que “nós” queremos. E quando diz “nós”, você quer dizer “eu”. Não conhecemos ninguém da sua equipe, não se vê que estrutura organizativa você construiu à sua volta. Talvez o senhor ache que não precisa de uma equipa. Mas o povo não está a assistir a uma pregação propalada de um púlpito. E gostaria de conhecer a sua equipa e as soluções concretas que o senhor traz para sairmos desta profunda crise. Porque esse povo está cansado de milagres. Cansado de milagreiros que se esquecem de falsas e fáceis promessas. Um dia, esse mesmo “seu” povo marchará exigindo que o senhor cumpra aquilo que prometeu. O senhor que, tão bem conhece o texto bíblico, sabe do provérbio: quem semeia ventos, colhe tempestades. 

 

O hino nacional que todos cantamos diz: nenhum tirano nos irá escravizar. Muitos dos que ganharam eleições noutros países traziam uma sacola cheia de promessas. Alguns deles tornaram-se tiranos. Ou melhor, já eram antes de chegarem ao poder. Aconteceu, por exemplo, com Adolfo Hitler. Não queremos que aconteça no nosso país. Queremos mudança. E mudança radical. Mas não queremos saltar da frigideira para cair no fogo. 

 

Seja um homem à altura da sua palavra. Seja humano. Deixe de mandar os nossos filhos e irmãos para a frente de uma batalha em que o comandante está ausente. O seu paradeiro é incerto, mas o sofrimento dos que lutam em seu nome é mais do que certo. 

 

Um moçambicano cansado de guerra.

*Pseudónimo.

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Só na terça-feira, foram baleados mortalmente nove cidadãos, sendo três em Mocuba, na Zambézia, cinco nas cidades de Maputo e Matola e um em Tete. Mas, os números podem ser bem maiores porque há mortos por baleamento que não são declarados pelos Serviços de Saúde e outros que estão em estado grave e que poderão perder, ou já ter perdido, a vida dias depois dos baleamentos.

 

Contas feitas mostram que em cinco dias foram assassinados pela Polícia da República de Moçambique mais de 20 cidadãos. Mas, vamos às contas dos assassinados confirmados pelos nossos correspondentes em todos os distritos. No primeiro dos oito dias de manifestações, foram registados quatro manifestantes assassinados, dois em Maputo e dois em Pebane, na Zambézia. Em Pebane, os assassinados foram dois adolescentes de 14 e 17 anos de idade.

 

Entre o segundo e o terceiro dia, foram mortos por balas da Polícia seis manifestantes: dois na cidade de Nampula, dois em Namialo, no distrito de Meconta, um na vila de Mecubúri e outro em Nametil, sede distrital de Mogovolas.

 

Entre o quarto e o quinto dia, foram assassinados 10 cidadãos pela Polícia: três em Mocuba, na Zambézia, três na cidade de Maputo, três na Matola e um na cidade de Tete. E há desaparecidos. Um dos assassinatos na Matola ocorreu, ontem, no bairro da Matola-Gare, quando a polícia baleou um jovem na sua residência. O jovem foi levado para o hospital pelo cunhado, porque a esposa tinha desmaiado quando soube do seu baleamento. A sua morte foi confirmado no Centro de Saúde de Matola Gare. (CIP Eleições)

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O candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro em Moçambique, anunciou ontem que as manifestações de protesto são para manter até que seja reposta a verdade eleitoral.

 

“Se não houver reposição da verdade eleitoral, estas manifestações não vão parar. Vamos ocupar a cidade de Maputo até se devolver a vontade do povo. Caso contrário, a cidade de Maputo vai ficar ocupada de uma forma indefinida. Sem prazo. Até à devolução dos resultados eleitorais. É isso que queremos”, afirmou.

 

Mondlane, que fez o anúncio numa ‘live’ na rede social Facebook, acusou a Polícia de estar a saquear estabelecimentos comerciais e, no bairro de Maxaquene, de ter matado duas pessoas. “O povo está disponível para tomar o poder e vai tomar o poder. A hora já chegou e o povo já tomou o poder”, frisou, referindo-se aos populares que estão nas ruas da capital moçambicana.

 

Dirigindo-se às forças de segurança e aos militares, Mondlane instou-os a colocarem-se ao lado do povo. “Temos muitos militares que estão neste momento a ter uma ação exemplar, de patriotas. Não temos nenhum registo de um militar que tenha disparado contra o povo. Alguns polícias, nalgumas ruas, estão a colaborar com o povo. Continuem assim e passem a mensagem para outros polícias”, sublinhou.

 

O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.

 

Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.

 

Após protestos nas ruas que paralisaram o país, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo convocada para esta quinta-feira.

 

Ontem cumpriu-se o oitavo dia de paralisação e manifestações em todo o país, com a generalidade a levar à intervenção da polícia, que dispersa com tiros e gás lacrimogéneo, enquanto os manifestantes cortam avenidas, atiram pedras e incendeiam equipamentos públicos e privados.

 

Sem dizer onde se encontra, Venâncio Mondlane disse que não está a participar nas marchas porque o povo lhe pediu. “Não estou aí nas marchas porque o povo pediu. O povo ordenou: ‘Venâncio não sai de onde você está’. Estou a cumprir o que o povo me está a obrigar a fazer”, justificou. (Lusa)

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Vários bairros da Autarquia da Matola amanheceram ontem relativamente calmos, enquanto na cidade de Maputo reinava um ambiente de violência sem precedentes, caracterizado por uma guerra sem quartel entre a Polícia e os manifestantes, que protestavam contra a mega-fraude eleitoral e a má-governação.

 

Tumultos, fumaça, tiroteios, vandalismo, saques e atropelamentos foi o cenário vivido ontem em Maputo. Vídeos amadores mostram a Polícia da República de Moçambique também envolvida no saque e pilhagem de estabelecimentos comerciais em plena luz do dia.

 

Durante as primeiras horas desta quinta-feira, o movimento de viaturas era quase inexistente em diversos pontos da cidade e havia também pouca movimentação de pessoas caminhando a pé, vindas de diferentes partes da Matola, devido à falta de transporte público.

 

No bairro da Matola Gare, no município da Matola, para além de incêndios, vários contentores foram saqueados em diversos pontos. Os transportadores e os motoristas que circulavam pela Estrada Circular de Maputo, concretamente entre a rotunda da Nova Coca-Cola e a rotunda de Matlemele, também no município da Matola, para além da portagem da REVIMO, também eram obrigados a pagar nas duas portagens improvisadas pelos manifestantes.

 

Na “portagem” instalada na ponte da Matola-Gare, os manifestantes cobravam entre 50 e 200 Meticais, um valor que era exigido também na “portagem” instalada poucos metros depois da Portagem da REVIMO em direcção ao Zimpeto. Quem se recusasse a pagar o valor, via os vidros do seu carro quebrados por pedras que eram arremessadas pelos supostos manifestantes.

 

Nos bairros de Tsalala e Machava, por exemplo, todos os estabelecimentos estavam fechados, incluindo instituições de ensino e bombas de combustível. Nessas áreas, era possível ver um grupo de jovens tentando organizar algumas marchas de forma pacífica, mas em todos os cantos era visível o movimento da Polícia e diversos carros blindados.

 

Já no início da tarde, um grupo de jovens vindos de diferentes bairros da Matola começou a criar alguma agitação, alegando querer chegar à cidade de Maputo para se juntar à “grande marcha”. Entretanto, enquanto tentavam entrar na cidade, eram atingidos com gás lacrimogéneo lançado pelos agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), posicionados juntos à Portagem de Maputo.

 

Entretanto, mesmo com um forte contingente militar circulando ao longo da Estrada Nacional Número 4, no fim da tarde, o cenário mudou quando um grupo de manifestantes decidiu invadir várias lojas localizadas no supermercado Malhampswene. Naquele ponto, várias lojas ficaram sem vidros e os manifestantes roubaram quase tudo, sob olhar impávido de alguns proprietários, com destaque para caixas de bebidas alcoólicas, electrodomésticos, vestuários, entre outros produtos. (Carta)

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O partido Frelimo, que controla a máquina do Estado desde a independência do país, em 1975, chamou, na noite desta quarta-feira, de “distraídos” e “gananciosos”, os cidadãos que se encontram nas ruas a contestar os resultados eleitorais e a precariedade das condições de segurança, que tornaram Moçambique em uma das maiores praças de raptos do mundo.

 

Falando na noite desta quarta-feira, no final da 36ª Sessão Ordinária da Comissão Política do partido no poder, Alcinda De Abreu voltou a recorrer à velha narrativa oficial de que os manifestantes estão sendo usados por forças estrangeiras, que têm intenção de explorar os recursos naturais, ignorando, desta forma, as evidências da fraude eleitoral, assim como a miséria e penúria a que a maioria dos moçambicanos estão sujeitos.

 

“Moçambique é um país rico no seu subsolo, tem recursos que alguns países cobiçam e, como tal, recrutam moçambicanos distraídos, gananciosos para provocarem instabilidade para, no final, eles tirarem proveito daquilo que a natureza nos destinou a nós, como moçambicanos”, afirmou Alcinda De Abreu, membro da Comissão Política da Frelimo.

 

Para a antiga Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, os moçambicanos devem pensar nas razões que levam Moçambique, desde a independência, a mergulhar em guerras sempre que tenta se levantar. É que, na análise da Comissão Política da Frelimo, o partido no poder faz parte dos movimentos de libertação nacional africanos que hoje estão a ser retirados do poder “porque há países que nunca aceitaram a nossa independência nacional, queriam que continuássemos sobre a dominação estrangeira”.

 

Sem nunca fazer a radiografia da governação da Frelimo e nem analisar os impactos da corrupção, da partidarização do Aparelho do Estado, das cíclicas fraudes eleitorais e das gritantes desigualdades sociais entre os ricos (na sua maioria membros do partido no poder, incluindo seus filhos e descendentes) e os pobres, Alcinda De Abreu defendeu que os apelos à manifestação popular visam unicamente tirar Filipe Jacinto Nyusi e a Frelimo do poder.

 

“Assistimos a apelos de violência, de insubordinação, insurreição geral e, por último, de tentativa de golpe de Estado. Quando se incita as pessoas a ocupar o Palácio da Ponta Vermelha [inferência à marcha sobre a Cidade de Maputo], isto é tentativa de assalto ao poder, um poder que foi instituído democraticamente, legalmente legitimado”, considera.

 

Num discurso de pouco mais de 20 minutos, marcado por suspiros e apelos ao patriotismo, Alcinda De Abreu começou por deixar bem clara a convicção da Comissão Política da Frelimo sobre as eleições. “A Frelimo ganhou as eleições do dia 09 de Outubro. O candidato da Frelimo, Daniel Francisco Chapo, ganhou as eleições presidenciais do dia 09 de Outubro deste ano. Os eleitores foram às urnas, expressaram a sua vontade ao escolher a Frelimo e o seu candidato para dirigirem o país nos próximos cinco anos”, afirmou De Abreu logo na sua introdução.

 

“Há vozes que se opõem à nossa vitória e eu pergunto: porquê? Quem não acompanhou o trabalho árduo dos membros e dirigentes da Frelimo em todo país, dentro e fora de Moçambique, durante os 43 dias da campanha eleitoral? (…) Quem não viu o nosso candidato a trabalhar em todas províncias, em vários distritos e no exterior, falando, dialogando, registando as ideias, propostas e contribuições de várias camadas de jovens, mulheres e homens dos vários sectores e vectores da nossa sociedade, num movimento que o próprio povo denominou ‘Chapo Chapo’?”, questionou.

 

“A vitória da Frelimo e do camarada Daniel Chapo é resultado do voto de mais de quatro milhões de membros da Frelimo. Para além de membros, nós também temos simpatizantes, que simpatizam com os ideais da Frelimo que são de independência total e completa da Moçambique”, disse De Abreu, sugerindo que nenhum membro da Frelimo ficou doente ou faltou às urnas no dia da votação.

 

Lembre-se que Daniel Chapo venceu as eleições presidenciais com 4.9 milhões de votos, de acordo com os dados da Comissão Nacional de Eleições, o equivalente a 70,67% do total de votantes. (Carta)

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