Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

ME Mabunda

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Como para muitas crianças das zonas rurais de então - não sei se digo e de agora também… muita coisa já mudou! - o futebol foi o meu maior divertimento. Jogávamos o nosso xingufu fosse qual fosse o número de jogadores, quatro, seis, oito e por aí… raramente chegávamos a onze onze cada equipa. Campo, não era problema. A Escola Primária de Munhangane tinha pátio bastante. Mas não eram todos os jogos que ocorriam na escola. Muitas vezes, qualquer espaço disponível transformávamos em campo. Um pequeno espaço aberto algures, um caminho mais ou menos largo serviam de campo; e se não tivéssemos isso, inventávamos - tirávamos os arbustos, depois o capim e ficava um espaço baldio; de seguida era só colocar dois caniços ou paus em posições opostas… eram as balizas. Muitas vezes, nem delimitávamos o tamanho do campo, mas não chegava a ser tão grande assim.

 

Depois, era só o esférico a rolar, cada um mostrar as suas abilidades. Ao contrário de outros “esportes”, que precisam de equipamentos especiais, ou condições especiais; o “nosso” futebol era bem mais fácil e prático. Não precisávamos - nem tínhamos - sapatilhas ou botas, os nossos pézinhos serviam de botas;  guarda-redes, depende, se alguém não gostasse de jogar com os pés… e se não houvesse dois, um da equipa contrária tinha que fazer o papel de jogador-guarda-resdes. Árbitro… nada… não havia árbitro ali! Todos nós éramos árbitros, com toda a confusão que isso dava. E o nosso jogo não tinha apenas 90 minutos. Tinha, sim, o nosso tempo disponível. Podia ser uma hora, ou uma manhã inteira, ou mesmo o dia inteiro. Muitas vezes, até sermos chamados em casa para realizarmos alguma tarefa…

 

É assim como em muitos de nós o futebol se tornou “ópio”! Dali, continuamos a jogar em muitas das escolas por onde passamos: Malehice, Xai-Xai, Chókwè e Maputo (Manyanga e Munhuana). Ainda cheguei a federado, mas tive que optar; em Chókwè, pelo CAIL - Complexo Agro Industrial do Limpopo. O CAIL fez furor em Gaza nos princípios dos anos oitenta (1981, 82 e 83), não tendo ganho campeonato provincial porque o Clube de Gaza e o Ferroviário local eram os dominadores. Mas acabou conseguindo o segundo lugar! Chegado a Maputo, ainda tentei ensaiar uma carreira de futebolista… mas não deu. No internato onde ficávamos, Munhuana, a hora de recolha era 18:30, mais tardar 19. Depois disso, fechavam-se as portas. Pus-me ao fresco: desisti do futebol profissional, não tive coragem de ir dizer ao pai que deixara a escola e abraçara o futebol… algo que ele não queria - e eu já sabia que o velho não queria nada com futebóis…!

 

A paixão pelo futebol empurrou a que tivesse uma equipa favorita. Não há nenhum adepto que não tenha uma equipa favorita. Pode omitir, mas no seu íntimo tem uma equipa pela qual torce. E eu acabei torcedor do Sporting Clube de Portugal. Como? Nos principios dos anos setenta, a partir de Munhangane mesmo, algures no distrito de Chibuto. Meu pai não era de futebol. Certo sábado, no seu aparelho de rádio de marca National, no princípio da noite, dão relato de um jogo do Sporting. Aquele devia ser o primeiro relato que eu ouvia já em alguma consciência. Gostei de ouvir o relato do jogo e do Sporting, fiquei maravilhado com o guarda-redes Vítor Damas. E assim ficou a paixão pelo Sporting.

 

Como apreciadores de futebol, ou de qualquer outra modalidade, gostamos de futebol de nível. De muito bom futebol. É assim em todas as modalidades. Gostamos de ver um bom jogo. Polêmica à parte, o futebol europeu é dos mais desenvolvidos que há neste planeta. E assim temos estado a nos deliciar com o futebol europeu ao longo de todos estes tempos, quatro a cinco décadas.

 

Não somos dos tempos em que Eusébio, Coluna, Matateu e outros poucos brilharam nos palcos europeus de futebol. As nossas referências são os nossos hinos Calton Banze, Artur Semedo, Chiquinho Conde, Sergito e Aly. Grandes jogadores que são, não chegaram, no entanto, a grandes emblemas do velho continente. Não tiveram o brilho que Eusėbio, Coluna e Matateu tiveram. Não se lhes proporcionaram oportunidades para exibir todos os seus talentos! Foi pena.

 

E eis que agora nos aparece Reinildo Mandava! Uma bênção. Os jogos da “Champion” eram/são muito apetitosos, víamo-los (vemo-los) com todo o gosto e prazer. Mas os deste ano tiveram um sabor muito especial. Um sabor moçambicano!

 

Obrigado Reinildo Mandava por nos ter feito sentir parte da “Champion Europeu”!

 

Continue a elevar o nome do seu Moçambique!

terça-feira, 05 abril 2022 07:50

Um terror chamado viagem a Inhambane

quarta-feira, 23 março 2022 08:21

É preciso ser cara de pau mesmo!

Se todos nós percebemos bem, um “porta-voz” da oitava secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM), ao impedir a cobertura noticiosa em directo do julgamento do caso “Helena Taipo”, a decorrer na Katembe, em Maputo, evocou alto e bom tom que, cito de memória, os réus gozam da presunção de inocência; e por isso as sessões de discussão, produção de provas e julgamento não podiam ser transmitidas pela comunicação social.

 

Tão somente isso: se as sessões estivessem a ser transmitidas em directo, estar-se-ia a violar o sacrossanto direito de “presunção de inocência dos réus”!, na óptica do diligente oficial.

 

Quid juris? - como eles próprios, os juristas, costumam redarguir! De quê é que estamos a falar de facto e de júri? Não passa um único segundo depois que vimos ao vivo tudo o que se passava na “tenda das revelações”, diariamente, hora a hora, minuto a minuto e segundo a segundo! Durante seis longos meses - de 23 de Agosto de 2021 a 10 de Março de 2022. Em Dezembro, praticamente só se trabalhou dez dias! Aliás, o tal julgamento ainda não terminou… falta a leitura do veredicto final.

 

Vimos ali na “tenda das revelações” tudo o que havia para ver na vida. Tristezas, não tristezas, choros, agonias, desesperos, aflições… tudo! Vimos todos os modelos de cabelo de Ângela Leão, os vestes e calçados de outro mundo do Ndambi, os chapéus do ACR, os fatos de Moda de Sidónio, as sonecas do Nhangumele, Mutola e quase todos os outros. Vimos todos isto.

 

E vimos porquê? Justamente porque o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo permitiu que víssemos! Permitiu que o julgamento fosse transmitido em directo pela comunicação social. O mesmo Tribunal Judicial da Cidade de Maputo que, na voz daquele cidadão, nos veio, segunda-feira, dizer que a transmissão viola o princípio de “presunção de inocência”! Quid júris?

 

Significa isto, então, que o TJCM, ele próprio, estava a violar este princípio quando permitiu que se transmitisse em directo o julgamento? Estava a violar o princípio da presunção de inocência quando permitiu a transmissão do julgamento do caso Carlos Cardoso e do BCM? Onde está a consistência? Então todos os réus envolvidos em todos os casos cujos julgamentos foram transmitidos em directo podem… pedir justiça e ressarcimento ao… TRIBUNAL JUDICIAL DA CIDADE DE MAPUTO… pela violação do seu direito de presunção de inocência? Podem?

 

Sabemos e compreendemos que os juízes são soberanos. Mas sabemos e compreendemos também que os juízes agem em estreita obediência à lei. Agora, digam-nos: qual é esta lei que muda de cor tipo camaleão… numa situação, permite transmissão em directo e noutras situações não permite? Qual é essa lei? Havendo-a, que todos os juízes a observem!… Ou cada juiz tem a sua lei e a vai exibindo e usando à medida das suas conveniências?…

 

Mas, deixando a matéria de direito de lado e indo à matéria dos autos: olhando para o objecto dos dois julgamentos, o da “tenda das revelações” e o da “Helena Taipo”, bem, bem, bem… qual é o que não merecia transmissão em directo? Não é aquele em que informações sensíveis do Estado foram expostas mundialmente? O armamento que se pretendia adquirir, como, a finalidade, etc., etc…. Não era este julgamento que devia ter sido “escondido”? Não o foi.

 

Agora, um caso em que os réus são acusados de se terem apoderado de dinheiro dos mineiros… o que é que há de segredo de Estado que é preciso preservar, esconder? A figura de uma ex ministra? Convenhamos!

 

Por último. Há um equívoco muito grande para com a essência da comunicação social. O trabalho da comunicação social é levar ao conhecimento dos membros da sociedade os actos que ocorrem nessa mesma sociedade. A comunicação social não realiza altos, não acusa ninguém, procura tão somente reportar o que acontece na sociedade. Quem realiza actos são os actores sociais, quem acusa são os ofendidos e o Ministério Público. Reportar isto é violar o princípio de presunção de inocência de alguém? Reportar a sessão de julgamento é violar o princípio de presunção de inocência de alguém?

 

Ademais. Quando alguém é nomeado ministro e a comunicação social reporta e transmite a sua tomada de posse, aí está tudo bem! Não há violação de nada… Só quando reporta a sessão de discussão, produção de provas e de julgamento é que já está a violar a presunção de inocência? Todo o acto praticado por uma figura pública é de interesse público!

 

Ou então, não seja figura pública!

 

ME Mabunda

terça-feira, 08 março 2022 13:10

Um regresso a Maqueze!

Quando não se passa nada! Não se passou literalmente nada um ano depois!

 

Em Maio do ano passado,  juntamente com a minha família e a de um amigo, Sitoe, desloquei-me a Maqueze para participar numa missa de passagem de seis meses da morte de um amigo, Jossias Gabriel Mathe, Deus o guarde devidamente. Uma viagem que tinha tudo para ser muito prazerosa, doce, romântica; mas, como relatei em crônica na altura, acabou estragada somente porque… estávamos desavisados de que não se atravessava no Alto Changane, a via estava (ainda está) interrompida pelas águas. Idos de Maputo, precisamente às 7:45, estávamos na margem sul do rio Changane, do lado da “vila”, prestes a seguir para Maqueze! Estávamos há 20 minutos do destino. Quase focinhávamos as águas… Tivemos que voltar até Chibuto, uma hora e tal de condução… dar a volta, seguir até Mohambe, cerca de 25 quilómetros, depois desviar, mais umas duas horas de estrada de terra batida, escorregadia, esburacada, traiçoeira e algo perigosa.  No lugar de chegar ao destino à hora e em condições desejadas, bem dispostos, acabámos por chegar atrasados, cansados e sem o ânimo necessário para estar presente em cerimônias públicas.

 

Tudo por conta de uma ponteca que tarda uma eternidade em aparecer entre a “vila” de Alto Changane e Maqueze, apesar de, num passado não muito distante, ter havido fundos para tal e algum material de construção ter chegado mesmo a ser descarregado no local. Alguma pedra foi concentrada ali perto da margem, ainda que, hoje por hoje, não tenha uma única pedrinha de amostra.

 

Este ano, há uns dias, com os mesmos acompanhantes, lá me fiz de novo a Maqueze.

 

Encontrei um outro Maqueze. Está a desenvolver-se, a tornar-se vila. Mau grado a desurbanização que graça. Definitivamente, não estamos a conseguir erguer bairros, aldeamentos e mesmo vilas bem urbanizadas, ruas bem organizadas, bem estruturadas. Nada, não conseguimos. Falta alinhamento, ruas e ruelas bem desenhadas, atalhoamento padronizado, conforme e profissional. Nada. Maqueze, como muitos agregados pelo país fora, está a crescer desordenadamente! Mas está a crescer. Muitas construções à vista; palácios até. Água, já há um sistema de abastecimento. Energia, está em curso a construção de uma mini-central fotovoltaica. O futuro parece muito promissor!

 

Desta vez, ia a uma festa de aniversário de um amigo. Não era um aniversário qualquer, aniversário de uma figura emblemática, quase com a idade de pai: Amós Stefane Mahanjane! O embaixador Amós Mahanjane. Esse mesmo. Figura com espaço nobre na História de Moçambique, antigo combatente, representante do país no estrangeiro! Oficialmente, fazia 76 anos de idade; mas, de facto e de verdade, fez 82 primaveras! Uma boa idade, maior para aquilo que a sua compostura física aparenta - ainda com ar jovial. Uma figura muito afável, bondosa, de grande coração, ajudadora do outro, sempre preocupada com os outros.

 

Foram muitas palmas para o mano Amós, tantos eram os convidados presentes, entre familiares, amigos e conhecidos. Palmas, ovações e aplausos muito merecidos. Uma festa muito bonita. Simples, mas bonita! Muitas mensagens apresentadas. Muitas homenagens. Muitas vénias. Muitas ofertas. Muita alegria. Sem muito protocolo ou complicações, todo aquele que entendesse, dava o seu depoimento sobre o aniversariante. Depois, muita confraternização regada de abundante canhû e tanta comida. Só terminou noite adentro, com muita música, de uma banda local e de DJ, concurso de dança e canto improvisados. Foi muito bonito.

 

Depois, o fim. Chegou a vez de pegar a estrada. De novo, o calvário e a volta a dar. De Maqueze a Chibuto, são perto de 80 quilômetros, via Alto Changane. No entanto, via Mohambe, são cerca de 120 quilômetros!... setenta e tal dos quais em terra batida. Uma via escorregadia, esburacada, de terra falsa. Mas houve mundos e fundos para se reabilitar esta via e pô-la em condições melhores. Mas nada se passou. Dinheiro foi para o bolso do empreiteiro, a S. Construções; e nada de sério aconteceu que beneficiasse os utentes da via, os maquezenses, nhlanganinenses, etc., etc.

 

Foram 11.260.951,31 (onze milhões, duzentos e sessenta mil novecentos e cinquenta e um meticais e trinta e um centavos)! Isso mesmo! Onze milhões e duzentos e sessenta mil para um troço de 54 quilômetros! Apenas 54. Houve areiazinha aqui, uma pedrada ali… mais nada!

 

Termino como terminei a outra crônica a que fiz referência, de Maio de 2021. ATÉ QUANDO O SOFRIMENTO DOS COMPATRIOTAS MAQUEZENSES/NHLANGANINENSES? NÃO SÃO ELES MOÇAMBICANOS? NÃO MERECEM UMA PONTECA ALI [NO ALTO CHANGANE, PARA FACILITAR A VIDA DELES?] NÃO MERECEM?

 

Estou curioso em ouvir a música que se vai tocar para conquistar os votos daqueles concidadãos para os próximos pleitos!

 

ME Mabunda

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segunda-feira, 14 fevereiro 2022 13:45

A comunicação que o Governo não faz!

Sempre dizia o saudoso mestre Álvaro Belo-Marques, o Bodoni, para a nossa turma de 1988 na Escola de Jornalismo, que “aquilo que você pode escrever, só você e somente você é que pode escrever, não espere que outro alguém o possa fazer por si”. Expando, aqui e agora, este preceito: aquilo que temos que ser nós a dizer, só nós  e unicamente nós é que podemos dizer, ninguém mais. Não há que ditar a outrem o que nos vai na alma. Guiemo-nos sempre por esta lição.

 

Estamos, a nação inteira, nos últimos meses, a digladiarmo-nos impiedosamente à volta das portagens na “circular” de Maputo e recorrendo a todo o tipo de armas, até tribunais. Irmãos completamente desavindos. O argumento central do Governo é que ele não tem dinheiro para fazer a manutenção das estradas do país e onde vê um pé de meia para ir buscar tal fundo é no bolso dos cidadãos utentes das vias, automobilistas ou passageiros. Para muitos cidadãos, esta medida é uma violência extrema à sua já dificílima condição de vida; trata-se de mais um violento assalto ao bolso dos moçambicanos.

 

Minha leitura é simples. Estamos tão somente num autêntico virar de costas entre cidadāos e o Governo. Num ‘não diálogo’; ninguém está disposto a ouvir ninguém. Os cidadãos já não querem ouvir a razão do Governo e este, também, por seu turno, não se tem comunicado como deve ser, dando clara ideia de que não quer ouvir os cidadãos. Não há nenhum diálogo aqui. Por conseguinte, estamos diante de uma ‘ausência de comunicação’ entre partes da mesma família.

 

Claramente, o Governo tem-se, amiúde, comunicado muito mal com os cidadãos. Às vezes, nem chega a comunicar-se mesmo. Estando nós nesta guerra de manutenção de estradas, vou-me cingir apenas nesta questão para demonstrar esta asserção que faço.

 

É sólido que no Orçamento do Estado há, anualmente, uma verba para a manutenção de estradas em todo o país. As então direcções provinciais de obras públicas (como insistentemente estamos a mudar de nomes, não sei como se chamam agora) e as delegações provinciais da Administração Nacional de Estradas (ANE) recebem anualmente uma dotação orçamental para a manutenção de estradas. Isto é bem líquido. Pouco ou insuficiente, sempre tem lá!

 

Primeira ausência de comunicação por parte do Governo. Nunca foi dito quanto é esse valor. Nunca nos foi dito quanto é que Niassa, Zambézia, Manica, Tete, etc. recebem, ou recebiam para a manutenção das suas estradas. Nunca foi dito quanto é que cada uma das nossas províncias recebe para a manutenção das estradas no seu território de jurisdição. Mas que recebem, recebem!

 

Segunda ausência de comunicação por parte do Governo. Nunca nos foi dado a saber se o valor que se aloca às províncias para a manutenção das estradas é exíguo, insuficiente ou satisfatório; ou se já deixou de existir. Nem uma única palavra. Podia dizer que tudo foi sempre segredo, mas prefiro dizer “esta informação foi sempre omitida; não disponibilizada ao país”.

 

Terceira falha de comunicação do Governo. Nunca em um único dia uma direcção provincial qualquer apareceu a dizer ou a queixar-se sobre suficiência ou insuficiência, ou ainda ausência total, de fundos para a manutenção das estradas na sua área de jurisdição. Nada. Never!

 

Quarta e última falta de comunicação do Governo. Em nenhum ano jamais nos foi dado o balanço de quantos quilômetros e em quais estradas e em que província foi feita manutenção; nunca nos foi dito quanto se alocou às províncias, quanto se fez com o que se alocou, o défice, o que ficou por fazer; nunca nos foi dito que os valores alocados às províncias para a manutenção das estradas são suficientes ou insuficientes; ou existem ou inexistem. Never. Nunca.

 

Agora, como é que nos vêm agora dizer que não há dinheiro para a manutenção das estradas. Pelo que vemos a olho nu - a não manutenção de estradas - calculamos que não haja dinheiro. Mas o Governo nunca nos apareceu a dizer preto no branco. E nós não podemos, nem devemos, adivinhar. Péssima comunicação. O cidadão não tem que calcular nada. Tem que ser informado.

 

Como, então, exigir que os moçambicanos compreendam que as ideias do Governo são genuínas, lícitas, dignas de serem ouvidas e consideradas? Se os nossos governantes, em qualquer que seja a área - melhor dizendo, em todas as áreas -, querem cooperação, colaboração, compreensão, apoio e solidariedade dos cidadãos, colaboradores e parceiros, têm que se comunicar como deve ser. A comunicação é uma arma chave para tudo na vida: para o sucesso, para a compreensão, para a solidariedade, para a colaboração e ou cooperação; mas também para o descalabro, insucesso, desgraça, guerras e destruições. Em suma, para a consecução dos objectivos pretendidos. Ou o objectivo pretendido é esta desunião, disputa, conflito… barulho… é isso? É só escolhermos.

 

Assim como estamos a fazer vai ser difícil criarmos harmonia, solidariedade e a tão almejada unidade entre nós moçambicanos. Lamentável.

 

Mas o Governo ainda vai a tempo de nos trazer estas informações todas que não nos dá.

 

ME Mabunda

quarta-feira, 02 fevereiro 2022 08:33

A lição de Ângela Merkel, Nyerere, Mandela, Mbeki…

Em Dezembro passado, Ângela Merkel deixou de ser a Chanceler de uma das maiores economias do mundo e a maior da Europa, a Alemanha, depois de 16 anos de exercício. O anúncio da sua retirada, havia-o feito ela própria quatro, três anos antes; num processo claro, directo, transparente e muito sério. Seguidamente, retirou-se efectivamente da vida política e pública e passou a dedicar-se a “projectos pessoais”. Os seus confrades do partido, em homenagem e reconhecimento à sua imaculada e estrondosa contribuição na liderança do país, ainda lhe propuseram a posição de presidente honorário. Ela negou terminantemente! E foi muito mais longe ainda, declinando também um nobilíssimo convite do secretário-geral das Nações Unidas para presidir a um comité de alto nível sobre bens públicos globais. E ela tem 67 anos, vai fazer 68 este ano! Um grandioso exemplo de dignidade, honestidade, grande atitude ética e demonstração de boa conduta moral.

 

Olhando para a nossa história, sobretudo na nossa região, ainda encontramos algumas figuras com esta conduta ético-moral, com esta dignidade. Vamos só ver alguns exemplos. Julius Nyerere foi uma dessas poucas pessoas que, retiradas do poder, resguardaram-se nos seus domicílios e passaram a dedicar-se a “projectos pessoais”. Voltou à aldeia natal e retomou o jogo de ntxuva com os seus próximos. Nesta senda, encontramos igualmente Nelson Mandela e Thabo Mbeki… retiraram-se da vida pública e… dedicaram-se a projectos pessoais. Na região, ainda tivemos os tanzanianos Ali Hassan Mwinyi, Benjamim Mkapa, um Sam Nujoma na Namíbia, Nketumile Masire e Festus Mogahe no Botswana…São uns tantos, convenhamos, não são muitos assim.

 

O grosso que temos é de antigos chefes de estado, antigos ministros e outros dirigentes continuarem a disputar o espaço público, a quererem dar nas vistas e, nalgumas vezes, a pretenderem-se ainda chefes de estado ou dirigentes; a envolverem-se em disputas com os incumbentes do momento. A quererem mostrar que eles ainda são eles! O caso de Kaunda foi o mais paradigmático de todos: depois de permanência quase perpétua no poder, ainda quis voltar e, não o conseguindo, pôs-se em confrontações políticas com o então incumbente Frederick Chiluba. Foi triste, vergonha total no mundo, ver um grande filho de África, que tanto se bateu pelo seu continente, em disputas injustificadas e inglórias para regressar e perpetuar-se no poder!

 

Cá entre nós, a coisa não está tão bonita não! Não, não! Nós, uma das economias menos desenvolvidas do mundo, até temos dois presidentes honorários! Coisa ridícula! Que procuram comportar-se como se ainda fossem chefes de Estado. É, entre nós, um acto de coragem, de muita ousadia chamar de ex-presidente, ou antigo presidente aos nossos antigos Presidentes da República. Você é mal visto. É tido como alguém desrespeitoso. Não aceitam o que é a realidade, que já não são presidentes; mas são, sim, ex-presidentes, antigos presidentes, ou antigos chefes de Estado!

 

Aqui entre nós, vemos e ouvimos constantemente, quase numa base mensal, senão bi-mensal, entrevistas e entrevistas dos nossos antigos dirigentes. Vemo-los ocupadíssimos em quererem mostrar que eles ainda são eles. Vezes sem conta, vemo-los em pronunciamentos públicos sobre tudo, incluindo sobre matérias em que eles próprios não fizeram o suficiente ou eficazmente. Falam sobre tudo. Continuam zelosamente na política, na vida pública e a fazerem concorrência ao actual presidente! E todos à volta dos 80 anos de idade… É penoso e embaraçoso vê-los à espera de lhes ser dada palavra ou ser-lhes retirada por alguém a quem já deram ou tiravam palavra durante muito tempo…

 

Os nossos antigos presidentes recusam-se a ir descansar, não querem, apesar das idades que ostentam, 82 e 79... Ninguém nega, nem questiona o papel que desempenharam na história do nosso país, o respeito que lhes é devido; aliás, têm páginas de ouro, indeléveis, inapagáveis na história do nosso Moçambique! Mas, já deviam ir descansar. Soaria muito bem ouvir que o ex-presidente Chissano está a jogar muravarava em Malehice; ou que Armando Guebuza está algures na Catembe a desfrutar das ofertas da natureza, das lindíssimas paisagens naturais de Matutuine! Seria bonito. E quando precisássemos deles, como sempre precisaremos, íamos lá beber da sua sabedoria!

 

Mas não são só os antigos presidentes que não têm mãos a medir! Foi penoso ver o nosso querido Marcelino dos Santos em eventos públicos, mesmo demasiado debilitado, de cadeira de rodas. Não faltava a nenhuma reunião do partido, mesmo com a sua avançada idade e o seu precário estado de saúde! Hoje por hoje, temos figuras como Chipande, Matsinhe, Pachinuapa, Panguene, Ntumuque, e muitas outras mais à volta de 80 anos, todas elas que deram colossais e incomensuráveis contribuições na construção do nosso país, mas que… se recusam a ir descansar. Negam. Não querem. Continuam na vida política, na vida pública. Desdobram-se em disputas de cargos e posições!… estão a desfrutar dos seus direitos constitucionais, sim, mas eixiii…!

 

Estão e assumem-se contrários aos preceitos da física. Que um ser natural nasce, cresce, envelhece e transforma-se. Não aceitam que já estejam crescidos e a envelhecer e que precisam de descansar, correr menos, ou não correr mais mesmo.

 

Sigam o exemplo da ex-chanceler alemã, de Nyerere, Mandela, Obama, Mbeki…! Idem descansar, um repouso mais do que merecido. A história sempre vos respeitará. Vezes sem conta, somos surpreendidos com fotografias de Obama ou a beber uns copos de cerveja em locais públicos, ou com a esposa em lugares dos mais inimagináveis, mercados, lojas, matinês, caminhadas, etc. Why not you?

 

ME Mabunda

quinta-feira, 06 janeiro 2022 14:46

Recordando e homenageando Severino Sumbe

Para quem não acredita no provérbio segundo o qual a vida dá tantas voltas, eis aqui mais um exemplo, de tantos inacabáveis, das muitas voltas que, de facto, a vida dá. O que é de uma forma hoje, amanhã é outra totalmente diferente, senão, por ventura, o contrário. Verdade de hoje, não verdade ou mentira amanhã!

 

Vamos então. Em 1987, pelas mãos do então director administrativo da Escola de Jornalismo, o poeta Fernando Couto (pai de Mia Couto), e de Leite de Vasconcelos e Orlanda Mendes, na altura director-geral e directora de Informação da Rádio Moçambique, respectivamente, fui parar ao Sector dos Noticiários da nossa estação emissora mãe. A redacção central da Rádio Moçambique - o então coração de informação da estação emissora… hoje, já está desconcentrado, a partir de qualquer província, qualquer programa informativo é produzido e difundido. Na altura, tudo tinha que ir ao crivo da direcção central!

 

Entre as figuras de proa de informação da Rádio Moçambique que encontro na Secção dos Noticiários, dirigida por Tiago Viegas, estão noticiaristas colossos como Armindo Chunguane, Antonio Bernardo Cuna (ABC), Narciso Zandamela, Ramos Miguel, o Dava, a Amélia Muchanga, o Moisés Aide (já falecido, Deus o tenha) e… o Severino Sumbe! O Sumbe era o esteio do noticiário internacional da Rádio, era redactor e editor ao mesmo tempo daquele material informativo.

 

Nessas alturas, ao contrário de como é hoje em dia, as fontes das notícias internacionais eram… complicadas. Recebiam-se telexes a partir de certas agências noticiosas, Lusa, Reuter, Novost e Angop… e outras poucas mais que não me vêm à memória. Depois, havia uma secçãozinha de escutas de certas emissoras mundiais. Aqueles materiais todos, um grande maço de telexes e umas cassetes áudio iam parar às mãos e ouvidos do Severino Sumbe e ele procedia à selecção das notícias que achasse apropriadas e oportunas, depois editava e submetia ao chefe Tiago Viegas para ver e só depois disso é que iam para o ar.

 

Eu, jovem foca, recebia trabalho de todos ali na secção. Mas também do Tiago Viegas, Marcelino Alves e até da própria directora Orlanda Mendes; recebida directamente trabalho e nem tinha como reclamar; mas como um principiante reclamar? Havia ali turnos: o primeiro, das 6 horas até às 13; o segundo, das 13 às 19; e o último, das 19 horas até meia noite. Fazia-se escala rotativa, assim como dos respectivos chefes!

 

Depois de três meses, fui posto também já a fazer turnos. E um dos chefes de turno era Severino Sumbe!... para além do seu trabalho sobre o noticiário internacional, ela coordenava aquele turno em que estivesse, corrigia e editava os textos do turno. E assim tive no Sumbe meu chefe de turno com todas as prerrogativas.

 

Trabalhamos sem stress durante aqueles seis meses! Sumbe era um grande redactor! Homem muito disciplinado, muito rigoroso em tudo, mas não arrogante, nem ditador. Zeloso na pontuação, na linha, no parágrafo, no ponto. Texto conciso, curto, directo, exigências próprias do jornalismo radiofónico. Ele próprio, como pessoa, era uma pessoa rigorosa consigo próprio. Sempre a tempo e horas, aprumado e homem de poucas falas e quase não ria. Muito dedicado ao trabalho.

 

Por razões pessoais, não fiz carreira na Rádio Moçambique. Após fazer o curso médio de jornalismo, em 1988, não voltei à RM, rumei para a Sociedade Notícias, SARL. Entrei pelo jornal Notícias, mas logo fui chegar ao semanário Domingo, onde estive até Fevereiro de 2001.

 

E eis que o Severino Sumbe, passado algum tempo após o meu estabelecimento, se muda da Rádio Moçambique para o semanário Domingo! Pouco depois de ele chegar, há alterações e eu… fico subchefe da Redacção! Chefe de Severino Sumbe, portanto!... o mesmo que tinha sido meu chefe na RM!

 

Confesso que o Sumbe não se importou nada com isso. Trabalhou normalmente, com a sua seriedade, disciplina, rigor e entrega total. Era o primeiro a chegar à Redacção e muitas vezes a entregar o seu texto. E depois, quando passo a chefe de redacção, ele fica adjunto! Nunca em nenhum momento tive problemas com o Chefe Sumbe, como passámos a chamá-lo na saudosa Redacção do jornal Domingo! O rigor e disciplina dele facilitaram bastante o nosso trabalho. Muito colaborativo, nunca deixou nada, mas absolutamente nada por fazer. Muitas vezes até deixava o que estava a fazer para fazer o mais urgente, ou fazia as duas coisas! Mas sempre disponível.

 

Homem de poucas falas, como se disse, nunca se metia em fofocas. Pouco falava nem sobre a sua vida, nem sobre a vida de outros.

 

Foi um grande prazer trabalhar com o Severino Sumbe, aliás, com o Chefe Sumbe! Até sempre, mais velho.

terça-feira, 14 dezembro 2021 18:05

Quando ser chefe já não anima

Nascemos e crescemos - eu e meu irmão mais velho, entretanto, infelizmente já não entre nós - num ambiente relativamente privilegiado, comparativamente, diferente do de uma criança normal na nossa zona, a Circunscrição de Mutxuquete. Se estou correcto (não sou familiar à terminologia colonial), a Circunscrição de Mutxuquete partia de Mutxuquete, berma direita da estrada Chongoene Xai-Xai- Chibuto, paragem a seguir a Jantigwe (Jantigue, na grafia portuguesa), até quase a Aldeia das Laranjeiras, já em Manjacaze. Éramos os filhos do professor Eugénio. Olhados e tratados com muita consideração e respeito. Só perdemos esses mimos todos quando saímos de casa do papá para continuar estudos noutras escolas; aí sim, é onde soubemos o que era a dura infância de uma criança nas zonas rurais.

 

Esse tratamento privilegiado decorria do estatuto do professor, no caso, o professor Eugénio. O professor, em geral, tinha um papel e estatuto sociais de muito prestígio e consideração. Estou a falar do período anterior à proclamação da independência nacional. O professor disputava de alguma forma autoridade com o régulo; ele era, naquela zona, uma espécie de representante do Padre/Missão, neste caso, da Missão de Malehice. Celebrava missas nos domingos em que o Padre não se fazia à escola, casamentos religiosos na zona, era convidado de honra em eventos, festas e outras cerimônias, incluindo nas de recepção dos madjonidjonis (aqueles nossos irmãos que trabalham nas minas sul-africanas)! Aliás, estes sempre traziam qualquer coisa para o senhor professor: cobertor, sobretudo/casacão, calçado, toalha, sabonetes… sempre tinham qualquer coisa para presentear ao professor, até aparelho de rádio. O professor tinha tratamento privilegiado nas cantinas, podia fazer vales, aliás, os cantineiros quase sempre obrigavam meu pai a fazer vales.

 

Como se tratou de um período de transição, do período antes para o período pós-independência, neste último, o professor foi perdendo o seu estatuto e papel social até onde estamos hoje. Respeito e consideração social foram-se esfumando sorrateiramente. Hoje, o professor é aquele que conhecemos… com uma imagem bastante degradada, fragilizada e menosprezada. É, hoje, na nossa sociedade, um zé qualquer! Tristemente.

 

Depois da proclamação da nossa independência, houve também valorização de outras classes. Houve degradação social de certas profissões, sim, como a de professor; mas houve outras que ficaram célebres! Ser ‘dirigente político', por exemplo, era algo diametralmente diferente do que é ser dirigente hoje. Um dirigente tinha muito prestígio, muita consideração… aquela mesmo de um professor no período anterior à independência; a sociedade respeitava-o. De um dirigente político tinha-se uma imagem e consideração bastante grande. Sempre apetecia ver um dirigente, seja administrador, director provincial, governador, director nacional, ministro, etc.

 

Talvez mais por causa da idade menor ou a diminuta formação e maturidade na altura, víamos no dirigente sempre e sempre uma pessoa especial, com qualidades fora do comum. Não era qualquer um que ascendia à posição de dirigente. Foi o momento em que a moral e ética pública eram valores supremos para se ser dirigente. Não bastava a militância, tinha que ter conduta exemplar. Dirigentes houve que foram descartados por aquilo que se chamava corrupção sexual, ou material, ou ainda por alcoolismo. Os valores morais desempenhavam um papel importante para a nomeação de alguém. Muito por causa disto, ser dirigente era algo apetecível, o dirigente granjeava respeito, consideração e prestígio. Ser dirigente animava…

 

Mas depois, a coisa deu tanta volta. Hoje… já não anima nada! Ser dirigente hoje… é um grande pesadelo. Pouquíssimos são aqueles que são dirigentes porque exemplos sociais verdadeiros, sérios e competentes, como no passado. São-no devido às suas costas que são… “quentes”! São sempre afilhados de alguém. Sua conduta social é bastante duvidosa, desconhecida e seu comportamento ético e moral muito problemático.

 

No passado, para um dirigente ser exonerado, havia razões concretas e eram publicamente apontadas. Hoje, tal como raramente se sabe porquê alguém é nomeado, é quase impossível saber-se porquê alguém é exonerado. Só se acorda não dirigente e prontos!

 

Ser chefe hoje já não anima!

quarta-feira, 08 dezembro 2021 07:51

A propósito do aeroporto de Gaza

Sábado passado, 4 de Dezembro, foi um dia muito especial para a nossa família. No Instituto Superior Politécnico de Gaza (ISPG), dois membros, no caso, sobrinhos, foram graduados após conquistarem o grau académico de licenciatura. Um, em engenharia hidráulica, agrícola e água rural; e a outra, menina, em contabilidade e auditoria. Alegria total, não é comum dois membros da mesma família serem graduados no mesmo dia! Aleluia!

 

A cerimónia teve lugar na localidade de Lionde, a cerca de 10 quilómetros da Vila Autárquica de Chókwè, e foi orientada pelo Secretário de Estado (SE) da Província de Gaza. Eu que sempre pensei que o ISPG ficasse dentro ou arredores de Chókwè… onde estudei e me formei como homem e comecei a minha carreira jornalística!

 

Decorreu das 9 horas até cerca das 12:30 horas. Foi bonita, muito bem organizada; discursos bem escritos, assertivos, comoventes. Distanciamento social… nem tanto! A intervenção do SE foi uma autêntica aula de sapiência não para os graduados ali presentes, mas para todos nós convidados. Fundamentalmente, desafiou os quadros que terminaram a formação para serem criativos, não ficarem à espera de emprego. Com as formações que tendes, engenharia agrícola, hidráulica, florestal, zootécnica, aquacultura, processamento de alimentos, economia agrária, agroecologia, contabilidade e auditoria e recursos humanos, vocês são uma potencial empresa. Associando-se, vocês constituem uma empresa e põem em prática todos os saberes que adquiriram aqui - apontou o Secretário de Estado. Recordou que Gaza é uma província com muito forte potencial agropecuário e que oportunidades de aplicação dos conhecimentos obtidos são muitas. Mas este não é o objecto desta crónica.

 

Para acompanhar os miúdos, sexta-feira, 3, cerca das 13 horas, lá nos fizemos (eu, minha esposa e filhos) a Xai-Xai, capital gazense onde habitam. O plano era pernoitar na capital provincial e, logo pela manhã de sábado, rumarmos ao antigo “celeiro da nação” para estarmos na cerimônia até uma hora antes. Assim pensado, assim executado. Às 5:20, lá nos pusemos na estrada. O local de onde partimos situa-se entre a cidade de Xai-Xai e a localidade de Chongoene, no meio entre os dois pontos.

 

Quando já na estrada e vendo que eu, que ia a conduzir, estava a tomar o sentido Xai-Xai-Macia, a menina interpela: “Tio, é melhor irmos via Chibuto!” Fiquei confuso, mas ela logo cuidou de clarificar. O troço Macia-Chókwè está péssimo… vamos levar muito tempo; ou vamos vias Xai-Xai-3 de Fevereiro-Chilembene-Lionde… ou Chibuto-Guijá-Chókwè… - explicou ela, enquanto eu paralisara o carro e afastara-o para a berma, à espera da direcção a tomar.

 

E a decisão foi ali rapidamente tomada: seguiríamos via Chibuto. Fariamos Xai-Xai/Chongoene-Chibuto-Guijá, depois para Chókwè. Em termos de distâncias concretas em quilômetros, iríamos fazer cerca de 140 quilômetros, contra os cerca de 112 que faríamos se saíssemos directamente de Xai-Xai para Lionde… Afinal nem é Chókwè, como o disse, o Instituto Superior Politecnico de Gaza não se localiza na vila de Chókwè, mas em Lionde, a cerca de dez quilômetros. Ou seja, mais uns 30 quilômetros a ida e outros tantos ao regresso… tudo para contornar um troço de cerca de 60 quilómetros, que custam justamente 60 milhões de dólares para reabilitar!...

 

Então, lá nos fizemos nós à estrada. De facto, o percurso está em boas condições. Xai-Xai até Chibuto, boa estrada, anda-se muito bem; de Chibuto a Guijá e depois Chókwè, também boa estrada! Agora, de Chókwè a Lionde, cerca de 10 quilômetros, como ficou dito, a estrada não está em condições e vai piorando até Macia… justamente o troço que pretendíamos evitar.

 

Lá fomos nós à nossa cerimónia de graduação, que, como referido, correu muito bem apesar do muito calor de 37 graus centígrados que se fazia sentir! Às 12:20, já estava a terminar e, depois de algumas fotografias, pegamos a estrada de regresso a Xai-Xai. Ainda deu para passar ver o novíssimo aeroporto!

 

Chegado ali, não houve o mais pequeno obstáculo; foi-nos permitido ver e fotografar! É uma obra. Perguntámos à funcionária aeroportuária que saiu da cancela para nos atender sobre o plano de voos… só sorriu!

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