Director: Marcelo Mosse

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Actualizado de Segunda a Sexta

ME Mabunda

ME Mabunda

MoisesMabundaNova3333

Moçambique está de luto. Estamos de luto. Perdemos um grande Homem. Homem com ‘h’ maiúsculo. Um nacionalista exímio, destro, um grande humanista, homem de paz, pragmático, homem de bem. Que escolheu, logo cedo e de livre e espontânea vontade, a medicina como cavalo de batalha para proporcionar o bem e o melhor ao seu semelhante, sobretudo aos seus compatriotas. E porque a essas alturas a sua pátria ainda não estava em liberdade, teve que juntar a sua paixão, a medicina, à luta de libertação nacional para poder libertar e servir melhor o seu povo. Fez as duas coisas: a luta e a medicina. E fê-las com muita destreza! Conquistada a independência, dedicou-se, de jure e de facto, à profissão que escolheu. Foi simples médico em hospital modesto e desconhecido algures; depois, foi director de hospital, também modesto e algures; e só mais tarde é que foi “jogar na melhor posição em que devia jogar”: onde podia libertar abertamente todas as suas qualidades, competências e saberes, humanas, profissionais, acadêmicas, sociais, etc.: Liderança. Foi director. Depois foi ministro da Saúde por dez anos, período durante o qual catapultou o nome de Moçambique para as melhores páginas da Organização Mundial da Saúde. Os indicadores de desempenho do país na área consolidaram-se ainda mais e continuaram a subir no ranking mundial nas várias campanhas de vacinação e de combate a diversas doenças, sobretudo a varíola. De tal sorte que Moçambique tem sido referenciado em várias iniciativas da OMS; foi elogiado recentemente por ter conseguido gerir bem a campanha de vacinação contra o coronavírus, em parte devido ao legado, à experiência e ao histórico que teve a mão de Pascoal Mocumbi.

 

Espero que, um dia, os historiadores - ou aquele/s que for/em a fazer o registo biográfico deste grande homem - tenham a devida e satisfatória elaboração sobre o contributo que este nobre filho da terra teve no nosso Sistema Nacional da Saúde e na Organização Mundial da Saúde (OMS) - sobretudo, mas não só, o seu contributo na erradicação da varíola do nosso solo pátrio.

 

No que me toca. Começo o jornalismo em 1987, quando ele passa de ministro da Saúde para o de Negócios Estrangeiros. Digamos que do ministro da Saúde quase nada tenho registado. Do seu novo pelouro, foca (principiante) que eu não era na altura, naturalmente que não era destacado a fazer coberturas que requeressem grandes responsabilidades, saber e experiência. Gradualmente, fui assumindo responsabilidades profissionais. E eis que, em 1993, já depois do AGP, envolvido num projecto pessoal do Presidente Chissano, tive que viajar… lado a lado, com o então ministro dos Negócios Estrangeiros para Inhambane! Estava a recolher uma e outra informação para a autobiografia que o antigo estadista estava então a escrever - já estava escrita praticamente a obra Tempos, Lugares e Espaços, mas uma ou outra coisa tinha que ser complementada e eu tinha que estar por perto, pois eram as melhores oportunidades para encontrar esta ou aquela figura - o trabalho continua, falta a segunda e a terceira parte da biografia... É assim que, estando em visita presidencial a Inhambane, mais em pré-campanha, pois as eleições de 1994 estavam à vista, havia que estar por perto. E a boleia encontrada foi a do ministro dos Negócios Estrangeiros que tinha que se juntar à comitiva presidencial em Inhambane. Lá peguei a minha pastinha com algumas roupinhas e lá me fiz… ao carro protocolar do Dr. Pascoal Mocumbi. Lado a lado nos bancos de traz da “land cruiser”. Não tenho palavras para descrever a angústia que se apossou de mim. Não sabia como aguentar 500 quilómetros ao lado de uma grande figura, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique. Até hoje, não me lembro direito de como aguentei, mas certo, certo é que saímos de Maputo às 13 e tal e por volta das 22 horas chegamos ao destino. Como, não sei… mas não colapsei. Nem serviram de nada os jornais portugueses que levara para ler pelo caminho… Mas foi boa conversa, alimentada mais por ele do que por mim, inexperiente e tímido, além de muito novo! Daí para frente, houve mais simpatia e empatia também.

 

Feitas as eleições de 1994, Pascoal Mocumbi fica primeiro-ministro, o segundo primeiro-ministro de Moçambique a seguir ao Dr. Mário Machungo (que também repouse em paz). Uma das “coisas” que o Dr. Mocumbi introduz no relacionamento com a imprensa são os briefings semanais com jornalistas. Todas as manhãs das quintas-feiras, lá estava ele, sumptuoso como era, a falar à imprensa sobre todas as áreas do Governo.

 

Esta prática duraria o tempo em que ele esteve no cargo e… ficaria, assim, a marca do primeiro-ministro Pascoal Mocumbi! Não delegava, não era irregular, houvesse ou não assunto quente, ia pessoalmente e falava de boca cheia sobre todos os assuntos do Governo. Uma e outra vez levava um ministro ou vice, mas na maioria das vezes era ele que punha a sua voz audível. Respostas práticas, concretas e directas.

 

Tendo saido nos últimos meses do mandato do Presidente Chissano, seguiu-se-lhe a Dra. Luís Diogo. Ainda continuou um pouco com a prática, mas depois… acabou! Não mais houve briefings dos primeiros-ministros… até hoje. Uma prática salutar, que aproximava bastante o Governo à media, ajudava a dissipar quaisquer que fossem as partes menos claras; e ajudava a sociedade a compreender as políticas e práticas. Hoje, nós, os comunicadores, queixamo-nos de que o nosso executivo não se comunica, ou se comunica mal… uma das razões é a ausência desta prática que já foi rotina. No tempo do Dr. Pascoal Mocumbi, não era preciso haver assunto para ele sair ao briefing. Era importante comunicar-se com a sociedade!

 

Um legado saudável que… botamos abaixo!

 

Vá e descanse em paz, ilustre Dr. Pascoal Manuel Mocumbi. Cumpriu e muito bem a sua missão na terra!

 

ME Mabunda

terça-feira, 28 março 2023 08:33

Um país, dois sistemas!

MoisesMabundaNova3333

Em Julho de 1997, Hong Kong passou da administração britânica para a chinesa. Com esta transição, a ciência política abalroava um novo conceito na história política, a de “um país, dois sistemas”. Até aí, quase nunca se vira, muito menos se falara de um país com dois sistemas políticos. Como regra, vigorava um e único sistema político num país. Ou sim, capitalista; ou sopas, socialista ou comunista; ou ainda, secularmente… monarquias e impérios! E eis que a China nos veio dizer que podia haver “um país e dois sistemas”!

 

É a seguinte a definição que a China deu a este novo conceito, definição extraída da página web da Embaixada da República Popular da China no Brasil: “No caso de Hong Kong, "um país, dois sistemas" significa que a República Popular da China pratica o sistema socialista, enquanto Hong Kong, reunida à pátria como Região Administrativa Especial subordinada ao governo central, mantém o sistema capitalista e goza de um alto grau de autonomia conferido pelas autoridades centrais. Desde seu retorno, Hong Kong vem seguindo o caminho de prosperidade e estabilidade: venceu as crises financeiras na Ásia e no âmbito mundial, assim como a crise sanitária da SARS; por vários anos, figurou entre as economias mais livres e mais competitivas do mundo; e seu PIB mais que dobrou entre 1997 e 2019, com um valor per capita maior do que o do Reino Unido, Alemanha ou Japão. Por outro lado, os indicadores de Estado de Direito de Hong Kong estão entre os melhores do mundo, e os residentes desfrutam de direitos democráticos e de liberdade muito mais amplos do que antes de 1997. Os fatos comprovam que a política de "um país, dois sistemas" oferece o melhor respaldo institucional para manter a segurança e a ordem da região e garantir sua prosperidade e estabilidade… "um país, dois sistemas" é um conceito abrangente, em que "um país" é a premissa para os "dois sistemas" e os "dois sistemas" precisam funcionar dentro de "um país". São dois aspectos inseparáveis, muito menos contraditórios. "Um país" significa defender os poderes do governo central atribuídos por lei e salvaguardar a soberania, a integridade e a segurança do país. "Dois sistemas", por sua vez, garante o alto grau de autonomia que a legislação confere à Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK).”

 

Pois bem, parece que nós vivemos qualquer coisa semelhante entre nós, senão vejamos. Dentro do nosso único território e dentro das mesmas leis, regras e regulamentos, temos instituições que não apenas sobressaem, mas afirmam-se cada vez mais. E temos outras que… só servem para esquecer.  Não se trata aqui de dizer fenómenos sociais nunca têm um mesmo output em idênticas condições e circunstâncias: estamos a falar de instituições públicas, com a obrigatoriedade de seguirem o mesmo sistema de governaçāo!

 

O Município de Chimoio fez e continua a fazer furor na opinião pública não só nacional, como também mundial, com a sua forma de ser, estar e fazer coisas. Primeiro, uma governação bastante comprometida e identificada com os seus munícipes, uma governação bastante humilde, menos burocratizada e aberta! Segundo, as realizações que tem averbado, uma atrás de outra: uma cidade limpa, que luta tenazmente pela organização, estruturação e bem estar do munícipe. Terceiro, conquistas atrás de conquistas: há um tempo aí, o mundo ouviu da aquisição de máquinas caterpillar, vulgo bulldozer, para ajudarem na reparação e construção de vias de acesso da urbe - nota vinte! Depois, fez furor nas redes sociais a aquisição de 20 camiões para a recolha de lixo na urbe… - nota mil! Tu cá, tu lá, anunciou a abertura de uma pedreira para ajudar com pedra na construção e ou manutenção da vias de acesso… - mais nota mil! E as realizações não pararam por aqui… está em curso uma campanha de abertura de 500 furos de água para os munícipes… Visivelmente, temos um município que está a galopar! Está a dar! Enquanto outros, devem salários de meses!

 

Como não há um sem dois… temos o distrito de Marracuene. Recorrentemente, estamos a ouvir falar de Marracuene, ora isto, ora aquilo. Lançamento disto, mais daquilo; festival disto e mais aquilo, até com cinquenta mil convidados! Nalgum momento, pode ser confundido com propaganda, que até pode ser em certa medida! Mas, verdade seja dita, temos estado a testemunhar nesta unidade territorial um dinamismo incomum em todos os 154 distritos do nosso país. Agora, estão a falar de uma cidadela moderna… - sonhar não é proibido, pelo contrário, é muito aconselhável! Outros distritos estão num sono profundo… mesmo limpar capim nas suas sedes precisam de uma dotação orçamental!

 

Como não haveria dois… sem três, temos a província de Inhambane! Apenas um pequeno exemplo para ilustrar o quão a província é diferente de todas as outras: a estrada nacional número um… esta EN1 de que nos queixamos tremendamente da sua degradação, onde tem o seu melhor troço, é na província de Inhambane. De Xai-Xai até Inhassoro, temos o melhor troço da estrada que liga o país, um autêntico tapete, e parte dela foi reabilitada há ano e meio ou dois. Mas esta mesma estrada passa por… tudo e por todos e em muitos casos e sítios estamos diante de autênticas lástimas e tragédias!

 

E a questão é esta: estamos diante de “um país, dois sistemas”? Onde num ponto as coisas andam e noutro… regridem!?

 

ME Mabunda

terça-feira, 21 março 2023 09:57

Estratégia sobre a EN1 é insustentável

MoisesMabundaNova3333

Estamos todos jubilosos porque o Banco Mundial nos vai emprestar 850 milhões de dólares para a reabilitação da nossa Estrada Nacional Número Um, vulgo EN1. Reza a notícia que o empréstimo do BM é para reabilitar a metade da via em dois anos, numa extensão de mil quilómetros.

 

Mas o entusiasmo já vem de há uns dois meses, quando conseguimos outro empréstimo dos árabes, de 600 milhões de dólares para o mesmo efeito, a reabilitação da EN1. Como bom patriota, também estou jubiloso, apesar de muitas reticências… E a primeira é que ambos os empréstimos não são suficientes para cobrir toda a extensão da nossa Estrada Nacional. A nossa EN1 tem um comprimento de 2600 quilômetros. Os empréstimos conseguidos cobrem cerca de 1600 quilómetros, segundo os entendidos. E os restantes mil quilómetros?!… A resposta é simples e óbvia: temos que ir à busca de outro empréstimo… de mil milhões de dólares!

 

Vamos supor que conseguíssemos de uma só vez os dois biliões e seiscentos milhões de dólares norte-americanos que são necessários para refazermos de uma só vez a nossa EN1! Seria uma maravilha. Mas este, para mim,  NÃO É UM MODELO SUSTENTÁVEL DE OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DA NOSSA EN1!

 

Explico-me. Conseguido esse dinheiro e assumindo que os nossos corruptos não lhe iam deitar a mão, os empreiteiros e os fiscais seriam bem solícitos e os prazos se iriam cumprir satisfatoriamente - ia escrever literalmente, mas para nós isso é impossível, todos sabemos porquê - com os prazos, teríamos então uma EN1 um autêntico tapete.

 

A questão é: quanto tempo esse tapete iria aguentar a quantidade de camiões que diariamente a atravessam com toneladas e toneladas de mercadoria? E ninguém tem o controlo da quantidade de toneladas que esses camiões levam… algo me diz que aqueles basculantes que vemos aqui e acolá podem ser para inglês ver… eu pelo menos nunca ouvi que um único camião foi multado, mandado voltar, seu proprietário ou empresa banido/a… por excesso de tonelagem. NUNCA!

 

Com tanto camião com imensas toneladas de mercadoria atravessando diariamente a EN1 de norte para sul e vice-versa, NENHUMA estrada, por mais bem feita que esteja, pode resistir tanto tempo. Compatriotas, é TANTO O CAMIÃO QUE ESTÁ NA NOSSA EN1 DIARIAMENTE ! Nenhuma estrada resistiria. Com a agravante de que TODOS OS AUTOCARROS DE PASSAGEIROS USAM A MESMA VIA e TODOS OS CARROS PARTICULARES TAMBÉM! Difícil uma via resistir a tanta demanda!

 

E vai acontecer que três, quatro anos depois, a estrada começará (ou voltará) a degradar-se de novo. Mais ou menos nesta ou naquela província. E aí, de novo, voltaremos a ir à busca de novos empréstimos para o mesmo fim… antes de pagarmos os que contraímos agora… Estaremos em mais outros empréstimos sobre empréstimos. E NÃO TEREMOS O PROBLEMA RESOLVIDO!

 

A SOLUÇÃO DA ESTRADA NACIONAL N. 1 PASSA POR UMA LINHA FÉRREA E PELA CABOTAGEM. Pôr a EN1 top, só e só, não vai ser a solução, não será durável, não será sustentável. Temos que ter “alívios”: uma linha férrea e uns três a quatro navios de carga. Uma carga a ir via linha férrea e outra via marítima. Assim, aliviaremos a nossa EN1 e as reabilitações vão ser duráveis.

 

Em termos de linha férrea, já temos algum caminho andado: temos ligação Maputo a Chicualacuala… é uma questão de ligar Chicualacuala a Machipanda… só e só isso. E pôr as outras linhas a funcionarem… Machipanda-Beira; Beira-Tete; Tete-Nacala; Nacala-Pemba; e Pemba-Niassa. A mercadoria podia levar uma, duas semanas a chegar ao destino… mas chegaria e… aliviar-se-ia a EN1.

 

Em termos de cabotagem, é uma questão de adquirirmos três navios de transporte de mercadoria e pormo-los a levarem carga de Maputo a Rovuma e de Rovuma a Maputo com toda a paragem possível e necessária! Donde temos o dinheiro? Da mesma forma que conseguimos estes 850 milhões do BM, ou 600 milhões dos árabes, podemos ter uns tantos para comprarmos navios de transporte de mercadoria…

 

ASSIM ALIVIARÍAMOS A NOSSA QUERIDA ESTRADA NACIONAL! Doutro modo, estamos e estaremos a brincar no circo!

 

ME Mabunda

quinta-feira, 09 março 2023 07:39

Raul Domingos

MoisesMabundaNova3333

O antigo negociador-chefe da Renamo nas conversações sobre a paz no país, em Roma, apresentou finalmente as suas cartas credenciais ao governo do Vaticano, assumindo, assim, efectivamente, a sua posição de embaixador extraordinário e plenipotenciário de Moçambique junto da Santa Sé, posição para a qual foi nomeado em Julho do ano passado.

 

Foi, de alguma forma, surpreendente a nomeação do antigo "número dois” do partido de Afonso Dhlakama. Tirando Benjamim Pequenino, que foi destacado a dirigir os Correios de Moçambique até Fevereiro de 2006, muito pouquíssimas figuras da oposição foram convidados pelo nosso governo do dia desde a independência nacional, para gerirem instituições públicas moçambicanas.

 

Somente em Fevereiro de 2019 é que voltaríamos a ter figuras da Renamo a serem nomeados para posições nas instituições do Estado; como é sabido, tal decorreu de entendimentos militares, concretamente, da implementação do memorando de entendimento sobre assuntos militares, no âmbito das negociações de paz então em curso. Nos princípios desse mês, o então ministro da Defesa, Atanásio Ntumuke, nomearia três oficiais da Renamo para sensíveis funções de Director do Departamento de Operações, Director do Departamento de Informações Militares e Director do Departamento de Comunicações no Estado-maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique. Nos finais do mesmo mês de Fevereiro, teríamos também o então chefe do Estado Maior, Lázaro Menete, a nomear outros onze oficiais da Renamo para ocuparem cargos de chefia no Exército. Foi assim que tivemos batalhões de infantarias a serem comandados por oficiais vindos da Renamo; repartições de Pessoal do Ramo de Exército; de Artilharia Antiaérea; Educação Cívica Patriótica; a serem geridos pelos “outros”; e até chefes de Estados-Maiores de brigadas a serem liderados por pessoal da Renamo. 

 

Com efeito, a indicação de Raul Domingos é bem-vinda! Muitas palmas para o Chefe de Estado. Quando se fala de reconciliação nacional, inclusão, falamos também de gestos como estes: a indicação de figuras que reúnem os atributos, competências e saberes que necessitamos para certas posições de Estado e/ou na gestão de instituições públicas, independentemente das suas cores ou crenças partidárias. Moçambique precisa de todos nós. O desenvolvimento, o crescimento e a solidificação do nosso Estado requerem uma atroz conjugação de esforços, de saberes, conhecimentos, sacrifícios, entrega e de engajamentos permanentes. É uma ventura que requer a priorização dos interesses nacionais acima de todos os demais, daí que não deva ser problema, muito menos algo que seja encarado com reservas, o ir buscar-se uma figura do rank da oposição para o preenchimento de uma posição. O princípio deve ser a competência, saber, conhecimento, capacidade e obra. Não sei se continua a fazer sentido ter no governo e à frente de instituições públicas pessoas que não falem inglês pelo menos, estando nós na região onde estamos e com interesses que prosseguimos. Só perdemos muito com isso.

 

Desejável é que identifiquemos mais Rauis Domingos que possam representar bem o país, terem um bom desempenho, serem úteis para a sua “pátria amada”, como esperamos que o ex-número dois da Renamo e agora presidente do PDD o seja, independentemente de pertencer a “outras” instituições. 

 

Há dias, acredito que mais pela sua indicação para embaixador no Vaticano, Domingos concedeu uma grande entrevista a uma estação televisiva privada nacional. Como sempre, com revelações atrás de revelações. Não restam quaisquer dúvidas, Raul Domingos detém um saber importante e considerável sobre a história pós-independência do nosso país! Pudesse um historiador sério sentar com ele e extrair parte substancial do conhecimento que este cidadão possui e registar para a eternidade. Ou simplesmente ajudar-lhe a rabiscar as suas memórias, se é que o está a fazer!

 

Uma das revelações na última entrevista foi aquela de que um dos proeminentes colaboradores da Renamo na cidade de Maputo nos momentos mais intensos da guerra dos 16 anos foi o grande locutor da Rádio Moçambique (Emissor Inter-Provincial de Maputo e Gaza), Vieira Manala, já falecido, que Deus o tenha. Segundo Domingos, o famoso Manala, que tinha o cognome de Búfalo, é que era o responsável pela distribuição de panfletos da Renamo na cidade de Maputo!...

 

Grande revelação esta! O Vieira Manala está no coração de milhões de moçambicanos ao sul do Save e não só! Grande locutor! Grande relator desportivo em Changana/tonga! Grande jornalista. Muitos desses milhões estariam longe de imaginar que o seu ídolo fosse colaborador da… Renamo! Pena é que esta revelação Raul Domingo a faz na ausência do visado, que poderia comentar, condimentar e dar mais subsídios. Daí eu não ter a certeza se esta revelação é de boa fé ou não.

 

Fora isto, Raul Domingos é um nome a ter em conta na História de Moçambique!

 

ME Mabunda   

quarta-feira, 01 março 2023 07:16

O canhu interrompido!

MoisesMabundaNova3333

Estávamos em fim de uma manhã em pleno Janeiro, onze e tal. Sol e calor eram intensos. Era dia 20!... Em casa do amigo Nhambire, algures na Matola Rio, para saborearmos um canhu. Era o primeiro do ano a ser tomado em grupo. A malta toda convidada, quase todos eles amigos, já estava ali, no primeiro copo… os mais gulosos já no segundo! A tecnologia… ultimamente, sempre a tecnologia, lembra que estou a perder um evento. Tinha-o posto na agenda, mas, ávido da bebida sagrada na zona sul do país, dele me esquecera. Abro o link, acedo ao canal e dou de caras com o evento: Simpósio Armando Emílio Guebuza, 80 anos!

 

Uma obra de arte, parecia uma sala de grande exposição. Excelente cenário, sala maravilhosamente bem concebida e decorada, wall banner artisticamente maravilha, um regalo à vista; o alinhamento do programa, anunciado pelo nosso confrade Chavana, magistral e oradores de primeira água. Continuei fisicamente no canhu, mas… concentradamente no peqenino ecrã do celular a acompanhar o simpósio. Na prática, abandonei a sessão do canhu do Nhambire! Era impossível ficar indiferente! Como o mundo mudou! Antigamente, só a presença física é que valia e, para tal, era preciso andar bem atrás dos convites… vimos de longe!

 

O evento levou toda a tarde, painel atrás de painel, orador/a atrás de orador/a. Houve de tudo: desde grandes interpretações artísticas como a de Xico Antônio, a excelentes comunicações e ou apresentações de acadêmicos de topo. Lá se ouviu de tudo: desde abordagens mais ou menos equilibradas a adorações, adulações, sacralizações ou endeusamentos. Houve quem chamou de simpósio de guebuzistas para adulação a Armando Guebuza, uma verdadeira procissão de endeusamento ao antigo chefe de estado! Opiniões e opiniões!

 

Um dos momentos mais altos, senão o mais alto, foi a intervenção algo enigmática do próprio homenageado. Naquela sua contundência verbal peculiar, não se fez de rogado nem piedoso: “...se o colonialismo português não conseguiu calar-nos, vencer as nossas convicções, não são os nossos camaradas que vão conseguir fazer…” - disparou um… B21!, para os estudiosos decifrarem. Eixxxi!... - como diria alguém indignado.

 

Podemos comparar o colonialismo aos camaradas do partido? Talvez. O ex-presidente terá muito provavelmente elementos suficientes para uma inusitada comparação. Não será algo exagerada? Talvez, mas, uma vez mais, o ex-chefe de estado terá as suas razões!

 

Agora, olhando para o conteúdo da proposição, será que é possível calar alguém? Será possível arrancar de alguém as suas convicções íntimas? Em devido tempo, Ernest Hemingway já contribuiu para uma possível resposta a esta pergunta: “Um homem pode ser destruído, mas nunca derrotado”! - disse o grande escritor americano. Acredito profundamente que, de facto, um homem com convicções pode ser destruído, sim, mas nunca vencido.

 

Mas, mais ainda: será que é possível calar a um antigo chefe de estado? É possível calar alguém com milhões e milhões de seguidores, alguns dos quais vimo-los no simpósio despindo-se até de suas personalidades e academicidades e endeusa-lo freneticamente? Não acredito. Não creio que seja possível calar a um homem modelo para meio mundo. Não creio que seja possível calar um homem de convicções muito fortes quanto Armando Guebuza, que, como disse, nem o colonialismo o conseguiu, menos os seus camaradas (incluindo Samora Machel) ao longo destes anos todos de militância.

 

Outrossim, também acredito que nenhum dos seus camaradas tenha a mais pequena intenção de calar Guebuza, ou arrancar-lhe as convicções. Pode haver divergências de todo o tamanho, mas… calar-lhe! I don’t think so! Visão míope?... talvez!

 

Compreendo e muito bem que o antigo chefe de estado, humano afinal de contas, peregrino, com sentimentos e emoções, esteja profundamente abalado com muitos desenvolvimentos de vária índole ocorridos após a sua saída do poder. Quem não estaria? Alguns de nós muito provavelmente colapsariam. Mas ele (e a família) aguentaram e continuam aguentando. São fortes, como bem o disse. Por isso, compreende-se perfeitamente o desabafo, não tanto mais do que isso... Não acredito que, com a idade que tem, ainda queira continuar a falar alto, ou muito alto.

 

Já falou alto bastante. Mais ou menos 80 anos, dado que começou muito cedo a… falar! Merece descanso. Mas merece também não ser calado!

 

segunda-feira, 20 fevereiro 2023 14:50

O nosso jornalismo (país) não está bem

MoisesMabundaNova3333

O nosso jornalismo não está bem. E quem diz jornalismo, diz o país, há uma relação muito intrínseca entre as duas variáveis. Não há, nem pode haver, país saudável sem um jornalismo saudável, fluorescente! O estado de saúde e de estar do jornalismo reflecte o nível da sociedade em que está inserido.

 

Na sociologia e ciência política, está plasmado que a media consubstancia o quarto poder… a par dos poderes executivo, legislativo e judicial. Mais proficiente a media, mais alto o nível de uma sociedade, sendo válido o inverso.

 

O meu amigo e colega Shafee Sidat realizou com pompa e circunstância a festa do Gwaza Muthini referente ao presente ano, com mais de cinquenta mil convidados de todos os cantos do mundo. Segundo a imprensa e os relatos nas redes sociais, conviveu-se, comeu-se, divertiu-se, dançou-se, bebeu-se e mais alguma coisa, à grande e à francesa. Até tivemos companhia de canto e dança de Itália, lá nas Europas - algo inédito na história das festas dos Gwaza Muthinis!

 

Consta que só não comeu quem não quis. E os meus colegas da imprensa testemunharam tudo e inclusivamente estiveram na tenda principal desfrutando de tudo de bom que lá esteve disponível.

 

Pois então, no lugar de se enaltecer tudo isto, pedras das mais grossas é o que se arremessou/a ao bom do Shafee! A cerimônia do Gwaza Muthini não tem nada de extraordinário, sempre aconteceu nestes nossos anos de independência - ainda que não se esteja a celebrar uma vitória na batalha, mas a resistência dos nossos antepassados. Ademais, sempre que fazemos missas nas nossas casas, há comeretes e beberetes sem fim!

 

Cúmulo dos cúmulos das pedradas… há os que viram “guerreiros criminosos" que foram “assassinar hipopótamos” para uma festança popular, “violando todas as regras ambientais e de preservação das espécies protegidas”. Ou seja, na ementa dos comeretes do Gwaza, o prato mais abundante foi a carne de hipopótamo! Criou-se e alimentou-se a ideia de que a carne deste anfíbio foi o prato mais forte na cerimônia, tendo havido mesmo publicações que quase o afirmaram directamente, ipsis verbis.

 

Espantosamente, violando-se o mais sagrado princípio da ética e deontologia da vida (não só do jornalismo), o contraditório, ninguém procurou o pacato SS, como ele gosta de assinar os seus escritos, para confirmar fosse o que fosse, ou obter mais detalhes sobre a alegada festança de carne de crocodilo... Procurou-se cimentar a ideia de um boom da carne de hipopótamo no Gwaza Muthini de 2023. Muito provavelmente com base em imagens circuladas no WhatsApp nas vésperas, mostrando dois hipos sendo transportados em uma grua é um tractor de algures para algures, mas nunca em Marracuene!…

 

Tirando um e outro… quase ninguém se deu ao luxo de procurar obter mais informações sobre o suposto abate de hipopótamos… onde teriam sido abatidos, quando, por quem, como… as mais básicas perguntas do e no jornalismo. Nada. Até hoje. E o que se vai registar erroneamente na nossa história é que na versão 2023 de Gwaza Muthini foram abatidos e consumidos dois hipopótamos sob a batuta e patrocínio do então administrador Shafee Sidat!

 

E assim vai o nosso jornalismo. Aliás, o nosso país!

 

Estava a ter algum engonhanço de fazer esta nota. Mas perdi preguiça quando, ao longo destas semanas, chegou-me aos ouvidos que um jornalista se recusou a ir fazer cobertura de uma cerimónia envolvendo um administrador de distrito, algures neste nosso imenso Moçambique, alegadamente porque este não lhe providenciara pequeno almoço… Chegou-me também um  um outro episódio não menos condenável segundo o qual uns jornalistas num outro ponto do país se tinham furtado de ir fazer cobertura de um evento porque a instituição organizadora do tal evento não lhes pagara ajudas de custo…

 

Perco palavras…

 

O nosso jornalismo não está bem! O nosso país também não está!

 

ME Mabunda

segunda-feira, 13 fevereiro 2023 17:30

Um país de comissões de inquérito

MoisesMabundaNova3333

A este ritmo, vamos ser apelidados de país de comissões de inquérito, não falta muito. Para tudo e para nada, comissão de inquérito! Mesmo para aquilo que já sabemos!

 

Aquando da descoberta, ano passado, dos escandalosos erros nos livros escolares, criámos uma comissão de inquérito cujos resultados não disseram muita coisa à sociedade. Continuamos com erros e mais erros nos livros escolares! Ante a descoberta da venda do sexo das reclusas em Ndlavela, respondemos com uma comissão de inquérito! Recuando um pouco mais, anos idos, aquando da descoberta das dívidas ilegais e ocultas, respondemos com uma comissão de inquérito!

 

A procissão é enorme. Muito recentemente, quando alguém disse, em plenária na Assembleia da República, que havia um deputado envolvido no tráfico de drogas, lá se criou uma comissão de inquérito, que, ao que se vaticinou já, não vai trazer informação esclarecedora nenhuma. Mas ela ali está, a torrar tudo do erário público: fundos, o tempo dos moçambicanos, o tempo dos próprios membros da comissão e, sobretudo, das autoridades competentes; custava o que citar a PGR para se ocupar da matéria de sua jurisdição por excelência?

 

Quando tivemos um aparatoso acidente por aí na Manhiça, criámos, em Julho de 2021, uma comissão de inquérito para, em trinta dias, nos dizer quais são as causas dos acidentes rodoviários no país, algo que a Área Metropolitana da Província também já tinha feito. E não é que não sabíamos mesmo quais são as causas dos acidentes de viação entre nós. Não sabíamos de verdade. E como não sabíamos, até hoje, Fevereiro de 2023, continuamos sem saber, apesar das comissões de inquérito que criámos.

 

Quando circulou a notícia de cobranças ilícitas em matrículas da oitava e nona classes na Escola Secundária Geral de Namacata, na Zambézia, criamos uma comissão de inquérito…

 

Comissão de inquérito para isto, para aquilo e para mais alguma coisa.

 

Agora que a Federação Moçambicana de Futebol não quis/quer premiar os “Mambas” que participaram no CHAN da Argélia, este Janeiro, vemos, qual sessão de teatro no Cine Gilberto Mendes, duas instituições em correria frenética, a acotovelarem-se a torto e a direito, na criação de comissões de inquérito, cada uma mais bem recheada que a outra, mas ambas atropelando toda a ética, racionalidade e lógica. A SED e a FMF precisam, do ponto de vista lógico, de criar comissões de inquérito? O que é que essas duas comissões vão dizer que as duas instituições não sabem? Se, elas próprias, tinham lá representantes? Que estavam lá a fazer tais representantes?

 

Vão dizer-nos que a FMF não se sentou nunca com a Selecção Nacional e estabelecerem os prêmios; vai dizer-nos que, ante esta inação e omissão da FMF, os jogadores começaram a exigir a definição do valor do prêmio; vai dizer-nos que os responsáveis da FMF, cada um a seu tempo, foi prometendo aos jogadores valores ridículos e insultuosos e sumindo de seguida; vão dizer-nos que perante a inconsequência, inconsistência e sumiço dos responsáveis da FMF, os jogadores amotinaram-se a exigir um determinado valor, motim que teve o ponto mais alto a recusa dos jogadores de deixar o hotel para o avião de regresso; vão dizer-nos que foi preciso assinar-se um acordo com os representantes da Federação, com a mediação do embaixador, para os jogadores dirigirem-se ao aeroporto…

 

É mais ou menos isto que as duas comissões de inquérito criadas pela SED e FMF nos vão dizer, se pautarem por honestidade. Simplesmente porque é o que aconteceu. É isto que não sabemos? É isto que a SED e a FMF não sabem? O Castro Jorge fez um grande favor ao mundo ao dar conta de tudo isto. A propósito, onde estiveram/estão os outros jornalistas que acompanharam a Selecção? Não vi(e)mos uma única crônica sonante sobre os acontecimentos de Argélia… estavam a beber com os dirigentes, conforme escrito num documento supostamente dos jogadores não capitães; estão tipo avestruz...

 

O que é que a Federação Moçambicana de Futebol não sabe que tenha acontecido na Argélia, se tinha lá o vice-presidente das Selecções e o de Administração e Finanças? Estes membros da direcção da FMF estavam a fazer o quê lá? Onde é que está o seu relatório. Nunca ouvimos falar desse importantíssimo documento em instituições que se prezem.

 

O que é que Gilberto Mendes e a sua Secretária de Estado não sabem do que aconteceu na Argélia se estava lá o Inspector Geral (que melhor figura poderia estar lá mais do que esta?) e a directora-geral do Fundo de Promoção Desportiva a ele (Mendes) subordinados? Onde é que está o relatório que produziram? Nunca ouvimos falar desse documento capital para uma instituição desta jaez. Estiveram lá a fazer o quê?

 

Triste, triste é que sejam quais forem as recomendações da comissão da SED muito seguramente serão inúteis, uma vez que o Governo, à luz dos regulamentos da FIFA, não pode interferir na Federação!… então, uma vez mais, estamos no teatro!

 

Facto é este, que todos sabemos: a FMF não quer dar prêmios aos jogadores. Tudo o resto, é coisa de Gungu!

terça-feira, 20 dezembro 2022 07:51

O turismo que (não) queremos!

O governo autorizou, semana passada, que o distrito de Vilankulo, na província de Inhambane, tivesse  serviços distritais de turismo, sob o argumento de que é para impulsionar o turismo naquele ponto do país. Um nkulungwani bem forte para a "sábia" decisão do nosso governo. De facto, Vilankulo precisa de uma abordagem diferente, aprimorada, estruturada e estruturante na nossa política… de turismo! As reticências traduzem as minha dúvidas sobre se temos efectivamente política de turismo, actualizada, com abordagens coerentes e eficazes dos variados tipos de turismo, bem como dos desafios actuais do país, sobretudo decorrentes das TIC’s, mas também dos nossos crônicos problemas de vias de acesso, acesso e tratamento de informação, boa qualidade de oferta de serviços e tratamento a turistas (estrangeiros ou não), os ganhos para o país e especificamente para as comunidades locais.

 

No domínio do antigo presidente Armando Guebuza, havia, na Presidência da República, seminários trimestrais de reflexão sobre vários temas da vida do país, sob organização da Dra. Arlete Matola. Que grande fórum de opiniões, discussões, debate de ideias não tinha o presidente Guebuza. Muita, mas muita ideia, sabedoria, conhecimento pululavam por alí. Só não aprendia ou se deixava enganar quem quisesse. Nisso, a actual ministra da Administração Estatal, na altura investida de Directora Nacional de Turismo, perfilou por lá para apresentar as ideias de turismo de Moçambique - não tenho em mente qual foi exactamente o tópico da sua apresentação -, mas o propósito foi dar-nos conta da situação do turismo no país. E fê-lo com classe.

 

Fui um dos interpelantes após a sua apresentação. A minha inquietação era/é que o país não tinha/tem uma posição/decisão clara e firme sobre o papel do turismo no nosso desenvolvimento. Sobretudo o turismo ambiental, vulgo de praia. Alguns países como as Maurícias, Seychelles e outros têm no turismo a base do seu desenvolvimento; ou uma fonte bastante robusta de receitas. E investem forte nas infra-estruturas turísticas, nas vias de acesso, nas políticas e estratégias de desenvolvimento deste sector. Nós periclitamos entre ter ou não um ministério de turismo e, quando temos, não se vê nem se sabe o que faz.

 

Depois da decisão do Conselho de Ministros da semana passada, mantenho a minha forte inquietação. Não temos uma abordagem clara! O que significa decretar apenas o distrito de Vilankulo como aquele que deve ter uma direcção distrital de turismo? Sabemos, aplaudimos e regozijamo-nos que Vilankulo seja um dos destinos turísticos mundiais. Mas, se Vilankulo é o expoente maior do nosso turismo em Moçambique, aceitemos então a máxima segundo a qual não há um sem dois, ou dois sem três… Se Vilankulo é o expoente máximo, há obviamente outras estâncias com outros expoentes.

 

Nestes verdadeiros termos lógicos, onde situamos Ponta de Ouro (no distrito de Matutuine), Bilene (no distrito da Macia), Inharrime (no distrito de Inharrime), Tofo, Tofinho e Céu (no distrito de Inhambane), as praias de Massinga (no distrito de Massinga), Inhassoro (no distrito de Inhassoro), Zalala (no distrito de… Quelimane), outros distritos costeiros da Zambézia, Nampula, Pemba e por aí fora… PEÇO AJUDA AOS QUE TÊM OS NOMES DE OUTRAS PRAIAS DO NOSSO MOÇAMBIQUE EM DIA!

 

Qual é efectivamente a nossa abordagem a esta multitude de situações? É declarar Vilankulo como o distrito que merece ter uma direcção distrital de turismo? Ou será a seguir declarar também Matutuine como distrito que deve ter uma direcção distrital? Depois, Bilene, mais tarde Inharrime, depois Inhambane, Massinga, Inhassoro… e por aí em diante? É essa a nossa política de turismo?

 

Por outro lado, e em termos muito práticos, o que significa proclamar que um distrito passa a ter uma direcção distrital de turismo? Quais são efectivamente as atribuições dessa direcção? O que queremos significar quando dizemos “dinamizar o turismo”? Temos nós em mente que há diferentes tipos de turismo e de qual estamos exactamente a considerar? Haverá orçamento apropriado, à altura, para essa dinamização do turismo? As pessoas que vamos colocar nessa direcção, serão as pessoas certas? Entendem de turismo? Ou será job for the boys?

 

Acho que devíamos ter uma política de turismo séria, coerente, consequente e sustentável. E declararmos o turismo como uma das bases do nosso desenvolvimento. Temos condições de sobra para tanto!

 

  1. Esta semana, vai o país e o mundo para defeso, por ocasião da quadra festiva. Assim sendo, a crónica vai igualmente para… o defeso! Voltará no início do ano político… para procurar contribuir nas políticas públicas, seu apanágio - esperamos ter contribuído para uma melhor e maior compreensão das políticas públicas sobre o desenvolvimento do nosso belo Moçambique ao longo de 2022 prestes a findar. Moçambique pertence-nos a todos nós 30 milhões. Ninguém nos vai tirar nunca.

 

Apenas duas seguintes mensagens:

 

(i) Feliz Natal! Feliz Ano Novo! Que 2023 traga melhor do que 2022. Não sei se foi este ano ou ano passado… ou mais para lá que vi as piores fotos da minha vida. Gostaria de não as voltar a ver nunca mais, a começar já em 2023. Nunca antes, em toda a minha vida, tinha imaginado que um humano pudesse fazer a outro humano o que vi/vejo nas fotos!

 

(ii) Vamos para a quadra festiva. Quadras festivas temo-las desde que nos conhecemos como pessoas. E continuarão depois da nossa passagem. Vamos celebrar com racionalidade e muita prudência. Próximo ano teremos mais quadra festiva. Nossa vida não termina no dia 25 ou 31 de Dezembro de 2022. Paremos (ou moderemos) de nos encharcar de álcool a pretexto de celebrar… álcool que, também, não acaba no dia 25 ou 31 de Dezembro.

 

Festas Felizes! Até Fevereiro.

terça-feira, 13 dezembro 2022 14:21

O exemplo de Sumia Suluhu Hassan

Conforme reza a história, a República Unida da Tanzania tornou-se independente a 9 de Dezembro de 1961. Portanto, sexta-feira passada, completou 61 anos após ter cessado de ser colônia da Alemanha desde a Conferência de Berlim e, depois, tutela do Reino Unido.

 

Como bons africanos que somos, estavam marcadas celebrações à escala nacional, festas de arromba e um banquete de estado à nossa boa maneira. Tudo orçado em nada mais nada menos que cerca de 450 mil dólares norte-americanos. Bom… para nós, moçambicanos, que, nos últimos sete anos, passamos a vida a ouvir 2.2 mil milhões de dólares… contas bancárias pessoais com oito milhões e meio de dólares, 33 milhões e por aí fora, meio milhão de dólares pode não parecer nada… até não é, comparativamente! Na nossa moeda, são uns 28 milhões de meticais! E dão para… equipar um pouco melhor um dos hospitais gerais!

 

No lugar de festas de arromba, banquetes ou festanças, decorreram o que designaram de diálogos públicos sobre o desenvolvimento! A chefe de Estado tanzaniano decidiu cancelar todas as festanças e mandar os 450 mil dólares para a construção de oito dormitórios para crianças com necessidades especiais! E não estamos a falar de aniversário qualquer… estamos a falar de sessenta e um anos de uma nação. Não entendamos mal a Sra Sumia Suluhu: ela não mandou não se celebrar o sexagésimo primeiro aniversário do seu país. Não, não! Mandou, sim, redirecionar os dinheiros que estavam para serem gastos nas festanças e banquetes. É possível festejar, celebrar uma efeméride sem gastar rios de dinheiro. Ou gastando-se o mínimo dos mínimos! Realizando sessões de profunda e séria reflexão sobre a vida e o rumo do país. E os diálogos públicos sobre o desenvolvimento são, também e por excelência, momentos importantes para e no progresso de um país! E exemplo de celebração inteligente.

 

Mas não é a primeira vez que um governo tanzaniano cancela celebrações de pompa e circunstância do dia da independência do seu Estado. Em 2015 e 2020, o então presidente, John Magufuli, procedeu da mesma forma e direcionou os fundos orçamentados para a construção de uma estrada e para a aquisição de equipamentos médicos, respectivamente.

 

Está aqui um exemplo de onde ir buscar dinheiro se queremos fazer contenção de despesas públicas, de se ser comedido e racional. Todos os dias queixamo-nos de que não temos dinheiro para isto e mais aquilo, mas passamos a vida em acções e actividades perfeitamente supérfluas e dispensáveis, ou em viagens completamente desnecessárias.

 

Assim que estamos em fim de ano, havemos de ouvir de sumptuosos banquetes de estado, festanças com convidados na casa dos milhares e com réplicas nas províncias até ao distrito.

 

Há uns bons anos, fui convidado a um daqueles banquetes de fim de ano. Ali devia haver mais de dois mil convidados, entre os chamados quadros e figuras nacionais e respectivas esposas. E alguns quadros levavam consigo filho ou filhos!... E ali comeu-se e bebeu-se pela medida grande; do bem e do melhor! Não que o chefe de Estado não possa oferecer um banquete aos quadros nacionais. Pode e deve. Mas, se o espírito é de fazer a contenção de custos, melhor utilização dos considerados parcos recursos, também pode fazer uma coisa mais modesta, simples e econômica: um cocktail com menos convidados! Diálogos públicos sobre o desenvolvimento!

 

E esses dinheiros todos poderiam ir para outros fins sociais que temos tantas necessidades, ou para melhorar a nossa famosa EN1. Não resolveria todos os problemas do país, é certo, mas resolveria um ou outro, o que não é menos importante.

 

ME Mabunda

terça-feira, 29 novembro 2022 12:39

E o tabefe veio do distrito do Lago!

Dispõem alguns dicionários da língua portuguesa que ‘tabefe’ é uma “pancada (leve) desferida com a palma da mão com o objectivo de desmoralizar a pessoa que é atingida. Sempre funciona, mas pode sofrer retaliações agressivas.”

 

E o ‘tabefe’ veio justamente do distrito do Lago, naquilo que a história registou nalgum momento como a esquecida província de Niassa. Os líderes locais, outorgando estarem a falar em nome da população local, interpelaram a governadora provincial que lhes ia apresentar o quarto administrador num espaço de um ano! Alto e em bom tom, tête-à-tête, a população, representada pelos seus líderes, foi clara, concisa e directa: não a mudanças constantes e abruptas de administrador do distrito! Essa prática, segundo argumentaram, compromete a governação e influencia negativamente a agenda de desenvolvimento, porquanto criam descontinuidade rítmica do desempenho na implementação dos programas do governo. E pediu mais: que doravante se lhes explique as razões porque tiram determinado administrador e se lhes consulte no processo de nomeação de outro. Como quem diz: pedimos respeito, consideração e humanidade!

 

Justíssimo.

 

Há uns bons meses, chamava eu atenção, neste espaço, sobre o (des)tratamento que dispensamos à figura e posição de administrador de distrito. Primeiro, fazia notar que, aparentemente, a indicação de administradores de distrito não seguia regras claras, coerentes e conhecidas, dependia muito da disposição e boa vontade dos portentores das canetas - o dia em que acordassem mal dispostos, riscavam num papel e… pimba, e assim decidiam pela exoneração e indicação de um administrador de distrito. Outro dos aspectos que levantava é que, no actual esquema, um administrador tanto pode durar… quatro meses (como o do Lago), como pode ficar anos a fio!… Mais importante ainda, observava eu que, muitas vezes, são nomeadas pessoas sem as qualidades fundamentais desejadas para o nosso contexto histórico e temporal: serem campeãs/promotoras/instigadoras de desenvolvimento!; sem liderança, sem capacidade de gestão, sem conhecimentos essenciais e sem experiência ou obra conhecida.

 

O que a população do distrito de Lago pediu não é algo de outra galáxia. Como disse acima, é justíssimo. Em sociedade onde se cultiva a ética, boa governação, moralidade e respeito pelo humano, é assim mesmo. Não se nomeia uma pessoa para determinada posição, qualquer que seja, incluindo, ou sobretudo, a de administrador de distrito, só por se nomear, porque detemos a prerrogativa de nomear! Não se nomeia alguém somente por ser família, amigo ou amiga. Não se nomeia alguém hoje e, passados quatro meses, ou três ou seis, tira-se-lhe! Também, muito importante: não se desnomeia alguém sem se indicar as razões de tal exoneração ou demissão; em respeito não somente ao nomeado, como também e sobretudo à sociedade!

 

Nomeia-se alguém por se lhe reconhecer competência e dedicação suficientes e necessárias para essa posição. Pessoa com capacidades de gestão e de liderança, com conhecimentos necessários e suficientes para a posição em causa. Pessoa dedicada ao trabalho, com experiência suficiente em determinada área. E pessoa com valores humanos apreciáveis, ética, boa conduta moral e social.

 

Pode ser ou não família, amigo ou amiga! Se nós que detemos a faculdade de nomear observássemos seriamente aqueles critérios científicos, certamente que nos pouparíamos à vergonha de termos de desnomear aquela pessoa que nomeamos quatro meses depois. E de termos de apresentar quatro administradores em um ano!

 

Se calhar deve ser doloroso para quem detém a caneta, mas não devia ser. É uma questão de respeito ao semelhante, de boa educação, de ética e de boa governação que, quando se exonera alguém, apontarem-se as razões porque é tirado de onde estava. Isso, ao contrário dos que pensam que é humilhação à pessoa em causa, libertava o desnomeado de especulações, de boatos, ou de mero desprezo social. Se se disser claramente porque o tiramos, tanto a pessoa visada, como a sociedade, ficam sabendo da verdade e… ficamos todos aliviados! Limpamos as nossas mentes e vamos para outros desafios.

 

Mas voltemos à figura do administrador de distrito. Há que valorizar o distrito, na letra e no espírito, na lei e do ponto de vista econômico e financeiro. Esta prática de três a quatro administradores em um ano, de mudarmos abruptamente sempre que acordarmos mal dispostos, ou de nomearmos familiares, amigos e amigas sem as competências exigidas, mostra exactamente o contrário. Não estamos a valorizar. Tivemos, há uns anitos, um bom slogan que hoje definhou - Distrito, Polo de Desenvolvimento! Abandonamo-lo. E hoje não dizemos quase nada: os slogans têm a função galvanizadora, muito importante no desenvolvimento dos processos. Nalgum momento, demos sete milhões de meticais aos distritos, o que era excelente (podíamos aprimorar a operacionalização). Descontinuamos. E os distritos voltaram a viver dos… três milhões e seiscentos mil meticais ano!

 

Que pode um administrador fazer com três milhões de meticais ano? Que pode um distrito fazer com três milhões de meticais ano? Que condições temos, damos ao administrador e ao distrito? É por isso que as direcções distritais (hoje serviços distritais) vezes sem conta são de uma palidez de bradar os céus…

 

Vamos ser sérios e valorizar a posição de administrador de distrito. Mas vamos, acima de tudo, respeitarmo-nos como humanos!…

 

ME Mabunda

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