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ME Mabunda

ME Mabunda

terça-feira, 13 setembro 2022 09:52

Homenagem a uma amizade que Cuba interrompeu

Esta pretende-se uma homenagem a uma  amizade que prometia ser grande, muito grande, mas que uma ida a Cuba a interrompeu para todo o sempre... Uma amizade que começou como tudo normalmente começa, em casa, com os progenitores e vai crescendo de forma natural e infunde-se pelos “continuadores”.... Amizade não a de irmãos de sangue, mas a de não irmãos, de pessoas que não têm laços de familiaridade, mas que o destino as une e as direcciona.

 

No longínquo ano de 1977, estava eu no Centro Educacional de Malehice, em Gaza, que juntava o Centro Internato de Malehice e a Escola Secundária de Malehice, a frequentar a quinta classe. Isto é, havia alunos que viviam no internato e estudavam na escola situada no mesmo espaço territorial. Éramos por aí uns duzentos alunos provenientes de várias partes da província de Gaza e alguns poucos de Maputo. Não me lembro se haveria ali estudantes provenientes de outras províncias…

 

Sorte a minha, ou a do Firmino, ou ainda, de ambos! Logo à chegada, no início de Fevereiro, quem encontro ali é o filho de um amicíssimo de meu pai, o Firmino - que já conhecia! Foi uma boa surpresa para ambos! O meu dia-a-dia passou a ser com o Firmino Salvador Mabasso. Calhou dormirmos no mesmo quarto e estarmos na mesma turma. Quase tudo acontecia para nós e conosco ao mesmo tempo: futebol, neca (brincava-se muito à neca), banho no rio, na zona baixa de Malehice, refeições e outras coisas mais. Foi em Malehice que aprendi a nadar. Íamos à baixa do rio nadarmos, competirmos, uma tarde inteira.

 

A amizade entre nós estava a nascer e a consolidar-se e devia já ter por aí uns três meses… e não durou muito mais do que isso, infelizmente! Certo dia, o director da escola e uns dois professores entraram na nossa sala de aulas para selecionar alunos para seguirem para Cuba… na altura ninguém sabia claramente para quê; só mais tarde é que viemos a saber que era para a continuação dos estudos…

 

Sentados em filas, como acontece até agora nas salas de aulas, lado a lado estávamos nós. O professor começou a apontar os alunos com o seu dedo indicador da mão direita. E o seu dedo indicador foi para… o Firmino! O Firmino Salvador Mabasso. Assim escapei de ir para Cuba! Por um triz. Nunca percebi como escapei… o dedo foi um metro para o lado! Não porque desejasse ir para Cuba, mas, como jovem que ainda não sabia bem o que queria na vida, era-me indiferente! Como não houvesse muito tempo, dias depois, seguiram para Xai-Xai, onde se juntariam a outros seleccionados noutras escolas e depois partiriam para Cuba. A amizade que começava, ou que já fluía, foi interrompida… por uma ida a Cuba! A pátria chamara pelo amigo. E, assim, eu e o Firmino desaparecemo-nos até hoje… ‘até hoje’ não, até à eternidade…

 

A amizade com o Firmino começou a traçar-se muito cedo, nas nossas casas. Os nossos pais eram professores primários no mesmo posto administrativo de Godide, como chamamos hoje - na altura chamava-se circunscrição de Mutxuquete. O professor Mabasso lecionava em Munhangane e o professor Eugénio em Mugunwane; depois, o primeiro passou para Ntxanwane e o “velho” foi substituí-lo em Munhangane. Vezes sem conta, trocavam copos nas cantinas de Phussa, ou em Chipadja; visitas e almoços em casa um do outro e cada um deles levava a sua família, a esposa e os filhos. Estamos nos finais dos anos 60 e princípios da década de 70.

 

Assim, conhecemo-nos eu e o Firmino, ambos teenages, como diriam os ingleses! E, como também se diz, tal pai, tal filho… quando nos encontramos em Malehice, foi… zás… colamo-nos! Colamo-nos até aquele dia em que a directoria da Escola de Malehice veio “apontar o dedo” a ele. Desde então, nunca mais nos vimos nem ouvimos! A vida não era como agora em que basta ter megas… seria necessário escrever cartas, postar, etc., etc. O coração aguentou, aguentou, desejou e desejou, mas nunca encontrou a mais pequena que fosse a informação. Até que um dia… há sempre um dia… resolveu fazer buscas e o local escolhido foi o “feice”! Segundo se diz, e é muito verdade, quem procura encontra! Encontrei… Encontrei a informação que desejava ardentemente. Ainda que triste! Mas antes assim. O coração está mais tranquilo!

 

Os compatriotas que com ele seguiram para Cuba indicam que o Firmino Salvador Mabasso estudou agricultura e, no regresso, foi colocado a trabalhar nas terras de Chókwè, na província de Gaza, o ex-futuro celeiro da nação. Foi lá onde, fortuitamente, perdeu precocemente a vida, pouco tempo depois de voltar da terra de Fidel Castro. Fortuita e precocemente… vinham de uma partida de futebol - e nós já gostávamos de jogar futebol em Malehice… - em Chilembene e a canoa em que seguiam virou e ele foi o único preso e apertado e, sufocado, perdeu a vida! Em 1988…

 

As palavras acabaram! Fica aqui a homenagem a uma amizade que prometia ser grande e duradoira… não chegou a ser, uma ida a Cuba a interrompeu!

 

Firmino Salvador Mabasso. Que a tua alma esteja a repousar em paz!

 

ME Mabunda

terça-feira, 06 setembro 2022 09:20

Como? COVID-19 acabou? Acabou?...

MoisesMabundaNova3333

Justamente um dia depois de comprar mais uma embalagem de máscaras, para variar, desta vez não eram nem azuis, nem brancas, nem pretas daquele carregado, mas daquele menos carregado, aparentemente lavado, digamos preto esbranquiçado, ou acinzentado, o Chefe do Estado veio à Nação, alto e bom tom, indicar que… “já não é obrigatório o uso da máscara” na via pública, seja nos locais de muita aglomeração, ou de pouca concentração; ou ainda, abertos ou fechados… e que já não há limitações no números de convidados para qualquer que seja a cerimônia, excepto um funeral em que o finado perdeu a vida por causa da ainda pandemia!

 

Ainda que não a exteriorizemos,  nem a formulemos de forma directa, a questão que perpassa a alma de todo o mundano nestes dias correntes, esteja ele onde estiver, é a seguinte: a COVID-19 acabou? Passou mesmo? Mesmo…? Nao estará escondida algures numa esquina, invisível, ou na escuridão?

 

Não se trata de nenhuma cobardia a não enunciação da pergunta. É que se trata de uma pergunta bem difícil, que diz respeito muito ao futuro, ao amanhã; mas que carrega consigo toneladas e toneladas de pesadelos vivenciados, mas ainda bem vivos no nosso quotidiano, nas mentes e nos olhos. Como bem diz o adágio popular, ninguém conhece o amanhã. O futuro, esse, só a Deus pertence, como bem dizem os crentes. De facto, em nenhum momento o Presidente disse que a pandemia acabou. Disse, isso sim, que vamos viver, mas vamo-nos precaver, porque o amanhã pode voltar a ser o… ontem tenebroso!

 

Quem não se lembra desse ontem… tenebroso? Funesto! Cáustico. Carrasco. Macabro! Impiedoso. Desumano!…

 

Não pode não haver quem não se lembre. A humanidade que passamos ontem foi de tal sorte desumana que não deixou nada nem ninguém incólume, na mesma, sem sequelas. Todos os mundanos sofreram, de forma directa, na pele, na família, nos amigos; ou de forma indirecta, nos conhecidos e pessoas de diversa utilidade. Todos sofremos. Em texto de homenagem ao amigo e colega João Matola, que Deus o tenha na sua paz e graça, escrevia que a  COVID-19 é/era aquele diabo que nos matava ainda que vivos; uma parte de nós morreu ao longo desses tenebrosos três anos.

 

Muitos de nós vimos nossa vida escapar por um triz… por milagre de Deus! Muitas foram as pessoas que foram a unidades sanitárias com os seus próprios pés para não mais de lá saírem com os seus próprios pés… milhões foram os que perderam directamente as suas vidas, outros milhões foram as famílias que foram dilaceradas, destroçadas para todo o sempre! Milhões foram os amigos, conhecidos e pessoas de inspiração que se foram para a eternidade, levando consigo grande parte de nós! Milhões foram as almas humanas desconhecidas de nós que, silenciosamente, nos deixaram!

 

Impossível apagar tudo isto. Impossível acreditar que perdemos os familiares, os amigos, os colegas e os conhecidos que perdemos. Impossível acreditar e ou esquecer!

 

Como é igualmente difícil esquecer que milhões foram as “coisas” que devíamos parar de fazer na nossa vida, muitas das quais sempre fizemos desde que nos conhecemos como pessoas. A vida tinha perdido completamente o seu sentido: o ser humano não é de permanecer no mesmo sítio durante um infindável período de tempo, mas tínhamos a impiedosa e desumana recomendação, com carácter de lei, o “fica em casa”! Ir ao mercado, à loja, era um acto de… muita coragem! Ir aos copos com os amigos, um dos maiores prazeres da vida, festas, convívios, passeatas, praias… tudo, tudo ficou literalmente proibido: fica em casa! Tudo tinha que se feito e só se podia fazer… na clandestinidade, com o perigo de se ir parar na esquadra dentro de um mahindra!…

 

Momentos tenebrosos poderão voltar, por isso, continuemos a precavermo-nos! Mas os que passamos não o foram menos! Continuemos a usar a máscara, a desinfectar as mãos, a evitar as aglomerações e os apertos de mão!

 

ME Mabunda

terça-feira, 30 agosto 2022 09:16

E os angolanos "deram" razão a JLo!

E os irmãos angolanos deram razão e um voto de confiança a João Lourenço para continuar o trabalho que começou! Uns viam nele um caçador de bruxas, outros, um tirano, ditador, vingador… outros ainda, um perdido na Presidência da República!… mas os angolanos, de forma clara, falaram e disseram: continua a trabalhar! É isto que os dados da CNE angolana nos diz!

 

Diga-se tudo o que se disser, a questão que fica por aclarar é: como é que o MPLA sobreviveu? Muitos recorrem ao disco conhecido de fraude. Pode ser. Mas na ausência de evidências, ficamos por aí na cogitação. Porém, uma coisa é certa: é difícil acreditar que os 14 milhões… - okay, metade deles, já que 54% se abstiveram - de votantes, todos eles tenham tido daquela grossa maluca que baralha completamente a cabeça durante dias, tipo boss ou double punch!… ou tenham "phuzado mhondzo" (beber poção mágica) para… ou ainda, tenham fumado daquela da pesada para terem chegado à cabine de voto e… cambaleantemente… porem um "X" na última linha… muito menos que um carrasco, tipo Xico feio, estivesse escondido em todas as cabines do país e… tenha obrigado a 4 ou 5 milhões de pessoas a votarem no M/JLo!

 

Pessoalmente, não consigo compreender como é que o MPLA ganhou… e bem! 124 contra 90 não é um resultado à tangente. 34 deputados não é "à tangente…" Não é retumbante, nem asfixiante, mas também não é à tangente, convenhamos! Diga-se igualmente tudo… que perdeu não sei quantos deputados, que a UNITA se fortificou, que… não sei o que, mais o que, mais o que… sim… mas, lembre-se que não é todos os dias que o Bayern, ou o Real Madrid ganham por… 3, 4 ou 5 zero!

 

E porquê não consigo compreender como é que o MPLA sobreviveu? Por uma meia dúzia de razões.

 

Primeira e acima de tudo, porque hoje temos a verdadeira dimensão de como José Eduardo dos Santos com a cumplicidade do MPLA pilharam os recursos angolanos. Todos vimos, atônitos, os triliões ou quatriliões de dólares que Eduardo dos Santos andou a distribuir pelos seus acólitos… a começar pela sua família, depois os amigos, os próximos, os protectores, etc., etc., com tantos quatriliões pilhados durante 38 anos, As listas iam até 500 nomes..: de riquezas/valores ilicitamente conseguidas ou roubados do tesouro nacional angolano. A terra dos Kambas seria hoje um Dubai africano não tivesse sido esta desumana pilhagem! Angola seria um paraíso em África! Um orgulho… ou terra de meter inveja!…

 

A segunda razão foi a forma como JLo "combateu" a corrupção. Falou mais do que fez. Com tantas evidências de enriquecimentos ilícitos, camiões e camiões de malas de dólares e dólares encontrados nas ruas, armazéns e ou em moradias, muita gente teria ido parar no xilindró… prendeu e julgou menos do que o que deveria ter feito!

 

A terceira, foi como geriu a sua relação tumultuosa com Zé Du. Ficou menos disfarçada a vingança, a ira que nutria pelo antigo estadista - justificada ou não; ficou muito à descoberta a aparente perseguição, ódio, retaliação a José Eduardo dos Santos e à sua família.

 

A par disto, as mensagens acutilantemente emocionalizantes das filhas aquando da morte do pai e a subsequente disputa do óbito com a… viúva - de juri ou de facto, não releva. Particularmente as da Tchizé foram bastante incisivas e impiedosas para com o JLo e com o MPLA. E podiam ter mobilizado muitos eleitores.

 

Depois, os manifestos eleitorais dos dois partidos. Ainda que tenha perdido, mantenho a opinião de que o manifesto da UNITA está melhor estruturado, elaborado e completo; mais atractivo do que o do "nosso partido"! Mais desafiante, inovador, revolucionário, apelativo, ousado e… galvanizador!

 

Por fim, e não menos importante, a comunicabilidade dos dois candidatos. Adalberto Jr. tem uma eloquência comunicativa melhor que a do nosso líder! A eloquência conta para conquistar mentes…

 

Pensei que, por todas estas razões e mais algumas, o povo angolano iria dar um "basta" - como bem promoveu o nosso ídolo Bonga - a JLo e ao MPLA! Não o fez! Deu-lhe, pelo contrário, um voto de confiança. Disse: "Continua a trabalhar JLo!" Eu próprio dificilmente teria votado no M.

 

Pronto, assumo o meu erro de cálculo… erro que me vai custar um "12 anos". Apostei com o meu irmão de pais diferentes, o Sitoe, em como o povo angolano ia dar um "pontapé" ao partido libertador e ele, duro como não é, sempre disse, irredutível, que "o MPLA vai ganhar!" E que as imagens que pululavam/pululam as redes sociais são de Luanda e de outras poucas cidades!…

 

Agora, a batuta está nas mãos de JLo… os angolanos disseram alto e bom tom: "confiamos em ti! Damos-te mais uma chance para continuares a linha que começaste! Queremos ver combate à corrupção. Queremos ver Angola a transformar-se num "Dubai africano"! Queremos uma Angola melhor!"

 

Eu também quero uma Angola melhor! Como quero um Moçambique diferente!

 

ME Mabunda

terça-feira, 23 agosto 2022 12:52

O atribulado percurso das TIC’s entre nós!

MoisesMabundaNova3333

Numa daquelas situações em que sem esperar ligam-te e dizem que teus cheques estão prontos, podes vir levantar e tu ficas muito empolgado e começas a fazer as contas de algum material que dá para ajeitar/comprar, do fim-de-semana e de mais alguma coisa… foi como fiquei quinta-feira da outra semana, quando cerca das 11 e tal me ligaram a partir de uma instituição onde colaboro. Já não dava para ir levantar os tais cheques naquele mesmo dia, estava apertado com o trabalho. Agradeci e passei o resto do dia e dormi a assobiar!

 

Dia seguinte, até cheguei mais cedo no job, o que espantou alguns colegas, despachei o que tinha a fazer e… zás… pelas 11 e tal disparei para o sítio e lá peguei os tais cheques. Ambos os cheques não totalizavam um valor tão alto assim, mas dava para alguma coisa. Não fiz mais nada, fui a correr para o banco, por acaso, o meu banco, os cheques eram de lá. Eu, que contava que em menos de uma hora estaria de volta ao serviço com a massa bem no bolso!...

 

Chegou a minha vez, estendi-lhe os dois chequinhos juntamente com o meu BI e fiquei a olhar para ela, a senhorita da caixa. Teclou, teclou… parou de teclar, voltou a teclar e… pousou um pouco. E voltou a teclar. Depois olhou para mim e perguntou:

 

  • Sr. Mabunda, não quer depositar na sua conta estes valores?

 

Respondi que no caso preferia ter cash, tinha algumas despesas para dar azo. É que, redarguiu ela, “assim tem que esperar pela autorização. O sistema não está a reconhecer automaticamente as assinaturas e assim pedi autorização ao domicílio da conta e… não estão a responder, parece que ninguém está on-line…”

 

Primeira contrariedade. Eu que desde ontem estava a esfregar as mãos e dormi a assobiar… engoli em seco. Optei por voltar ao serviço e, mais tarde, voltaria para recolher o cash. Simpática a senhorita, ainda solicitou o meu número para que, logo que houvesse autorização, me chamar. Fiquei animado. Estávamos nas 12 horas e picos. Fui para o serviço, trabalhei com os olhos e ouvidos no celular.

 

14:30!… nada! Fiz-me de novo ao balcão. A senhorita não estava, mas estava a colega, também simpática. Perguntou ao que vinha, contei e ela logo respondeu: “Ainda não temos autorização… aconselho o Sr. a depositar na sua conta!” Insisti que queria em dinheiro e a resposta foi a mesma… “tem que esperar, então!” Segunda contrariedade.

 

Estávamos em sexta-feira e eu pretendia aproveitar o sábado para resolver alguns problemas… nada. Não me chamaram mais naquele dia e nem na segunda-feira, até que às 11 e tal voltei àquele balcão e, já encontrei a primeira moça! Reconhecendo-me, disparou logo: “Ainda não deram autorização da sede dessa conta… aconselho-o a ir até eles lá; nós não podemos pagar sem essa autorização…” Terceira contrariedade.

 

Tive que ir ao domicílio da conta dessa instituição e, chegada a vez de ser atendido, expliquei o assunto. Houve teclados, mais teclados e mais teclados e até veio uma das chefes e ficaram as duas a teclar e, cerca de cinco minutos depois, vi na cara das duas um “ufff”… “já autorizaram…” E pagaram. Tudo o que queria fazer ao longo do fim-de-semana, nada!

 

É isto o que é o dia-a-dia dos moçambicanos! As tecnologias de informação e de comunicação não vieram para facilitar nada! Com as novas tecnologias, era suposto que o reconhecimento de assinaturas não fosse mais “bico de obras”! Continuamos como se estivéssemos nos meados do século passado. Vezes sem conta, depois de aturarmos uma grande fila, quando chega a nossa vez, é-nos dito que “não há sistema”! Tenho ouvido que mesmo nos locais onde contribuintes querem pagar impostos há muitos problemas do… sistema! "Não há sistema, volta depois ou amanhã…" E nesse ‘depois’ ou 'amanhã' há também problemas do sistema!

 

Mas não ficamos somente aqui, com o problema do sistema. Mandamos um e-mail para alguém - seja nosso amigo, colega, chefe, ou não sei mais quem -, aquele e-mail não é visto até telefonarmos para a pessoa e perguntar se viu o e-mail ou não! E, muitas vezes, responde que “não vi”, ou “ainda não vi”… Hoje por hoje, mandamos uma mensagem em WhatsApp ou SMS para alguém… ainda temos que telefonar para perguntar se (ainda) não viu a mensagem que mandamos… cumulo dos cumulos, envia um convite por estas vias a alguém e não obténs reacção nenhuma, muito menos resposta!...

 

Dá a ideia de que as TIC’s não são para nós. Conosco não funcionam.

 

Compatriotas, tal como a máquina a vapor, a mecânica e a eléctrica, as tecnologias de informação e de comunicação vieram para ficar. Compete-nos a nós embarcarmos ou não e ficarmos para trás para todo o sempre. Não consigo compreender como é que nestas alturas há compatriotas estudados e a assumir estatutos sociais que não querem saber das TIC’s! Dos e-mails, dos whatsapps, dos internets banking e de mil e uma plataformas que só facilitam a nossa vida!

 

A opção é nossa. Ou abraçamos verdadeiramente as novas tecnologias e delas tiramos proveito, ou ficamos como alguns meus colegas que se recusaram a abandonar a máquina de dactilografar para passarem a usar o computador… e ficaram no tempo para sempre!

 

ME Mabunda

terça-feira, 16 agosto 2022 10:16

Como? Um novo MATAMA?

MoisesMabundaNova3333

terça-feira, 09 agosto 2022 08:28

Xinavane

MoisesMabundaNova3333

Xinavane é uma pequena vila incrustada no rio Incomáti, na província de Maputo, a nove quilômetros da estrada nacional número um e a cerca de 80 quilômetros da capital moçambicana, Maputo. Esta pequena localidade é mundialmente famosa por albergar uma fábrica de açúcar a partir de uma grande extensão de plantação de cana sacarina. A firma foi fundada por investidores ingleses no século passado, 1914, depois passou para mãos portuguesas, até agora que está com os sul-africanos da Tongaat Hulett. O açúcar de Xinavane tem o seu lugar e história no nosso país. As más línguas dizem que Xinavane e as suas gentes estão entregues nas mãos de um “Deus” que se chama Açucareira de Xinavane!...

 

A partir de Mugunwani, Munhangane, Xipadja e depois Malehice, algures no interior de Chibuto, a fama de Xinavane, do seu açúcar, das suas plantações, do trabalho na fábrica ou nas plantações estava bem espalhada. Atingia a todos, adultos, jovens e menores.  As informações mais proeminentes eram de que havia muitos empregos nas plantações e, por via disso, a procissão até às terras de Xinavane era interminável. Nos seus  tempos mais áureos, chegou a empregar dez mil trabalhadores. A demanda até lá não superava e nem concorria propriamente com a demanda para as minas sul-africanas, mas era tamanha também. Muitos faziam-se a Xinavane tentar a sua sorte e muitas vezes caminhando a pé. Como em tudo, havia quem sucedesse e outros que não. É a lei da vida.

 

E foi assim que Xinavane passou a fazer parte do meu imaginário. Xinavane fábrica de açúcar, nós que na criancice “funhávamos” (kikikikikikiki… - os adultos percebem) - tirar o açúcar do recipiente para a boca, sem estar a temperar nada; somente comer açúcar. Bons tempos aqueles da meninice. Ai de nós se fossemos apanhados… boa porrada! Mas também Xinavane local de trabalho nas plantações; e Xinavane onde ia muita gente à busca de emprego. Ficou a ideia de um local aprazível, dinâmico, organizado, em desenvolvimento. 

 

A minha curiosidade foi-se acumulando e aumentou mais quando comecei a frequentar as “Oliveiras” nas idas e vindas a Maputo, nos princípios da década de 80. Na passagem pelo cruzamento de Xinavane, todo o olhar era para o lado direito ou esquerdo, consoante se estivesse a ir ou a vir de Maputo, na tentativa de desvendar com os meus próprios olhos o famoso “Xinavane”. Quase que não olhava para o lado oposto. A obsessão era conhecer fisicamente, ver e apreender o que lá se faz. Foram vários anos neste ir e vir a Maputo, mas sem desbravar/desmistificar Xinavane.

 

O primeiro “conhecer” Xinavane acabou acontecendo eu já jornalista… no semanário domingo, nos princípios da década de 90… tardiamente, mais de vinte anos depois de ouvir falar! Antes tarde que nunca!

 

Digamos que a experiência foi a de uma montanha que pariu um rato! Aquela imagem colossal de um Xinavane gigante, dinâmico, de uma fábrica de açúcar… proporcionadora de muitos empregos… nada! Pior que nem vi muitos aglomerados de trabalhadores, porque obviamente na labuta! Não encontrei um Xinavane extraordinário, uma vila atractiva, viva, em desenvolvimento. Apesar da fama que tem, é uma vila… sem grandes coisas, pacata! Pobre. Por arejar, por ornamentar: por desenvolver. Uma fábrica, umas casas e… muitas plantações de cana de açúcar à volta e num horizonte infindável. É nada mais que isto!

 

Esta imagem pálida, de pobreza consolidar-se-ia e perduraria por mais tempo depois de algumas passeatas até Magude com amigos ou família. A localidade que alberga o maior empregador da região, com influência nas comunidades de Magude, Palmeira, 3 de Fevereiro, Magule, Incoluane, Ilha Josina Machel, Taninga, e na economia de Moçambique vivia numa pobreza extrema… Aliás, tristemente, a própria vila de Magude… está numa letargia total! Não se passa nada ali, a despeito de ser a vila-sede de um dos distritos maiores criadores de gado bovino no país! Que contraste!

 

Há dias, voltei a vislumbrar Xinavane, em passagem para Magude. Voltei a matar saudades daquele Xinavane mítico, da infância! Não o real. E foi a mesma decepção! Um Xinavane pálido, poeirento, sem arejo, sem beleza, sem brilho, sem alegria: o mesmo horizonte de pobreza de há 60, 70 anos… Custa bastante acreditar que alberga uma das maiores fábricas de açúcar do país e da região austral de África. Definitivamente, não é uma pequena vila em desenvolvimento. Não é! Xinavane e a vila de Magude são uma completa decepção!

 

O investidor só está a olhar exclusivamente para o seu negócio… quase nada faz em prol do desenvolvimento da vila e do distrito. Até o ramal de estrada que sai da EN1, um troçozeco de apenas nove quilômetros; e vai até à sede do distrito de Magude, a Tongaat Hulett não consegue pôr em condições, está muito má. Acções para o desenvolvimento da vila, ou do distrito e mesmo de responsabilidade social “zero”, ou quase zero… Triste! Dirão que apoia o Incomáti no Moçambola! Apoia coisa nenhuma. Finge que apoia. Se apoiasse, o Incomáti tinha um recinto desportivo de referência no país, não aquele campinho ali onde mal cabem cinco mil pessoas - e o que são cinco mil no futebol? Se apoiasse, Incomáti de Xinavane não estaria entre a descida e manutenção todos os anos. Não digo que estaria como a HCB, mas pelo menos não teria problemas de pagar salários aos jogadores!

 

É assim em muitos sítios do nosso Moçambique: em Chibuto, os chineses fazem absolutamente nenhum… idem a Sasol em Inhassoro/Vilankulo, as multinacionais de carvão em Tete, as areias pesadas de Moma, a MRM em Namanhumbir, a Mozal em Beluluane, etc., etc. e etc. Quase nada de nada. Coitadas das nossas comunidades!

 

Tudo debaixo do nosso olhar impávido e sereno.

 

ME Mabunda

terça-feira, 02 agosto 2022 09:45

E prontos, o general falou!

MoisesMabundaNova3333

E prontos, o general falou e disse. Alto e bom tom. Não falou nos corredores, não murmurou, não intrigou, não boatou, não cochichou, não enviou mensagens abstractas ou mensageiros...recados! Não. Disse-o publicamente, em fórum de palestra, repleta de audiência diversa entre juventude partidária da Frelimo, militantes da mesma formação, intelectuais orgânicos e não orgânicos e curiosos. E com cobertura jornalística integral diversa. Portanto, disse-o para  o mundo inteiro e de boca cheia para ser ouvido. Para todos os quadrantes. Primeiro, para Moçambique, para os moçambicanos em geral e para os seus correligionários, os militantes da Frelimo; depois e, segundamente, como diria Odorico Paraguaçu, para o Mundo.

 

Pronto, está dito e bem dito: em Moçambique, temos tribalismo! Não é etnicismo nenhum, mas tribalismo!

 

Quando todos pensávamos que estávamos a caminhar para a construção de uma nação una e indivisível, onde reinasse a unidade nacional e o interesse nacional; quando pensávamos que o nobre projecto que a Frente de Libertação de Moçambique propôs, nos primórdios da década de 60 do século XX, a todos os moçambicanos e estes o abraçaram, acolheram, incubaram, acarinharam e fizeram-no crescer. Acreditavam que era o melhor para Moçambique: o processo de “matar a tribo para o surgimento da nação”; quando pensávamos que estávamos a caminhar determinantemente para uma nação unida na sua diversidade…

 

Eis-nos o General a dizer, preto no branco, que estamos profundamente equivocados! Errados! Que há tribalismo em Moçambique! E ponto final.

 

Digam o que disserem os interpretantes, os hermeneutas, os tradutores, os linguistas, os semiólogos, os cientistas políticos, os intelectuais, os estudiosos… os comentaristas, analistas ou jornalistas… mais palavra, menos palavra, o general disse o que lhe ia na alma. E prontos. E pediu desculpas quando começou a dizer o que queria dizer e quando terminou de dizer o que queria dizer. Chamou os bois pelos próprios nomes!

 

Portanto, não foi lapso; não se enganou, não fez confusão… di-lo em plena consciência e no uso das suas plenas faculdades.

 

Mentiu? Não, não mentiu!

 

Não temos tribalismo em Moçambique? Temos. Alguém pode negar?… Armando Guebuza levantou já a voz em sessão do Comité Central… mas, olhemos à nossa volta. As nossas amizades, o nosso parentesco, as nossas parcerias de negócios, as nossas alianças, as pessoas que empregamos, os nossos amigos no serviço, os homens dos nossos chefes, os homens de confiança dos nossos ministros… etc., etc…. Olhemos friamente para tudo isso à nossa volta. E olhemos também o ambiente que temos tido quando viajamos para qualquer das províncias, sobretudo os do sul quando vão para o norte; é tudo menos amistoso! Alguém nega? Seria cegueira congênita se alguém o negasse.

 

O tribalismo existe e está de boa saúde entre nós! E o general disse-o muito bem. Acto de coragem? Sim, dizem uns; talvez, dizem outros. Não tanto, outras vozes têm-se levantado.

 

Falou e disse e entregou o microfone ao mestre de cerimônias. Agora, a palavra está conosco: nós, juventude da Frelimo para quem directamente falava, em primeiríssimo lugar; os militantes da Frelimo, em segundo lugar, mas não menos importante; nós, moçambicanos, em terceiro lugar; nós, o mundo em geral! O microfone está do lado de cá!

 

Compete à juventude reagir; compete aos militantes posicionarem-se - e é imperioso que o façam muito urgentemente - e ainda bem que vão em breve a congresso, será uma ocasião soberba para com profundidade abordarem a questão; não menos importante, compete igualmente aos moçambicanos abordarem frontalmente a questão posta na mesa pelo general Chipande; e compete à sociedade mundial olhar para o problema de frente! Quem começa?

 

Parece que, como sempre, vai reinar a… cobardia! Três semanas depois do pronunciamento de Chipande, o próprio partido mantém-se mudo e silencioso nos cochichos!

 

O general já falou e disse, pronto!

 

ME Mabunda

terça-feira, 12 julho 2022 13:04

NKULUNGWANE

MoisesMabundaNova3333

Sem alento…

 

Sem alento nem ânimo, frustrado, cabisbaixo e desesperançado é como fiquei desde há duas semanas, depois de acompanhar sucessivamente três momentos, todos eles estritamente relacionados com o sector de estradas do nosso país e particularmente com a Estrada Nacional no. 1 (vulgo EN1). Eu que tenho defendido, com “unhas e dentes”, uma Estrada Nacional no. 1 em boas condições, à altura das necessidades dos moçambicanos e da nossa economia; outrossim, que, se queremos um célere desenvolvimento, ponhamos as muitas estradas alternativas à EN1 em melhores condições. Isto é o grande anseio dos 31 milhões de moçambicanos. A soberania, prosperidade e desenvolvimento de que tanto falamos passa por termos estas infraestruturas estruturantes em dia.

 

Há duas semanas, a STV brindou-nos com uma grande reportagem sobre a nossa  Estrada Nacional no. 1. Muitos parabéns para a nossa televisão privada e particularmente para a equipa que realizou a reportagem. Se fosse nos idos bons tempos e fosse eu membro do júri, esta reportagem ganhava um dos então Prêmios Anuais de Jornalismo. Tentou trazer a nossa estrada nacional a papel químico para os nossos pequenos écrans nas nossas salas.

 

Na mesma semana, esta mesma estação televisiva, numa das suas “Noites Informativas”, trouxe-nos um grande debate sobre a problemática das estradas no país com um painel de pessoas/instituições bastante abalizadas no assunto: ANE, Fundo de Estradas, Ministério e especialistas de grande quilate.

 

Já na quinta-feira da mesma semana, o chefe de Estado, então em visita de trabalho a Sofala, reuniu-se com membros da Associação Comercial da Beira. Uma das muitas reclamações dos empresários sofalenses foi justamente as péssimas condições da Estrada Nacional no. 1. Chegaram a pedir a remoção do que resta de asfalto…

 

A minha desolação decorre de ter visto, a olho nu, um pouco da nossa principal via, partes do troço Maputo até Pemba… conheço alguns, mas não toda a sua extensão. Com a reportagem, deu para vê-la como se estivesse in loco! Está muito mal a nossa via principal. Aquilo que devia ser o nosso grande orgulho é, lastimavelmente, um embaraço total!…

 

Do debate televisivo, todas as instituições deixaram bem claro que não temos dinheiro nem para manutenção e ou reabilitação, muito menos para a construção de novas estradas. Mas, o que mais me partiu a alma foi que nem sequer há perspectivas de tê-lo a médio prazo! Ninguém falou ali dos fundos que a REVIMO arrebata diariamente nas excessivas portagens espalhadas pelo país! E nós, moçambicanos, precisamos de saber como é que esta empresa, tida como uma das soluções, faz dos 100 milhões de meticais/mês e qual é a sua perspectiva no que nos preocupa, a manutenção das estradas.

 

O encontro da Beira serviu para eliminar a réstia de esperança que talvez ainda tivesse. Da intervenção do Governo, ficou cristalino que a nossa Estrada Nacional no. 1 não estará nas condições que todos desejamos, ansiamos e sonhamos nos próximos dois a cinco anos! Somente num futuro bem distante! Desolador.

 

 Na semana passada, solicitou-se dinheiro à China e ao FMI para a reabilitação da EN1! Acho que a solução tem que ser sustentável. Já escrevi e repito: enquanto não tivermos uma ferrovia nacional, ou ligando as regiões, e cabotagem operacionais, vamos reabilitar mil vezes a nossa EN1 de cinco em cinco anos com um volumoso endividamento do país, mas não teremos uma estrada duradoura! A ferrovia e a cabotagem iam aliviar de certa forma a grande demanda que temos neste momento na estrada. Hoje, toda a mercadoria e todo o passageiro são transportados pela EN1 - não há estrada que possa aguentar a tanta, tanta e tanta tonelagem!

 

E então estou aqui, hoje e agora: bveve!, como se diz no Xi-Xangana! Estar bveve é estar profundamente frustrado, desmotivado, sem esperança, desolado, colapsado, sem solução para o assunto que nos aflige!

 

Mas há uma luz que, bem pensada, pode ser a nossa salvação: os fundos provenientes da exploração dos nossos recursos naturais. O Fundo Soberano! O famoso fundo soberano devia ser para a construção de infraestruturas, como fazem os sul-africanos aqui bem perto! Vamos lá ver o que eles fazem e como fazem e concebemos o nosso. Não simpatizo nada com a ideia de se ir guardar a prazo o dinheiro das receitas dos recursos naturais num banco qualquer algures na Europa ou América, ou Ásia! O melhor investimento para o nosso futuro colectivo e dos nossos herdeiros é a construção de infraestruturas que propiciem simultaneamente o crescimento e o desenvolvimento económicos do nosso país! Uma economia mais robusta, pujante, saudável vai proporcionar um futuro mais risonho para as gerações vindouras!

 

A propósito, gostaria de ver o draft do tal Fundo Foberano que se tem discutido em surdina. Os moçambicanos têm que ver e contribuir. A discussão de um projecto tão estruturante quanto este não pode ser confinada no Banco de Moçambique, ou numa meia dúzia de indivíduos. Somos 31 milhões de moçambicanos e esta matéria diz-nos respeito.  

 

ME Mabunda

terça-feira, 05 julho 2022 08:24

Uma sociedade profundamente dividida

A sociedade moçambicana encontra-se estes dias profundamente partida. Agitada e muito dividida, desencontrada. Em causa os benefícios que o Estado dá aos combatentes da Luta de Libertação Nacional (LLN), assunto despoletado pela carta da ministra Ana Comoane que instrui a Secretária de Estado de Inhambane a priorizar os dependentes dos combatentes da LLN nas contratações a haver proximamente na sequência das vagas de emprego abertas em várias áreas naquela província. Fica-se por saber se este procedimento da ministra é permanente, sempre aconteceu, ou é um acto isolado e só veio a público porque as cartas vazaram para as redes sociais e depois para os media!

 

De um lado, está obviamente o próprio Estado, através do governo, a entender que o procedimento é legal e que faz todo o sentido estabelecer e manter privilégios especiais aos combatentes e aos seus dependentes, mas depois concentrar-se apenas nos combatentes da Luta de Libertação Nacional e seus dependentes.

 

Do outro lado, estão os que entendem que os cidadãos devem ser iguais perante a lei, tal como prescreve a Constituição da Reública de Moçambique (CRM) e que não pode ser o próprio Estado/Governo a promover actos que dividam a sociedade, que promovam a discriminação, a desunião, o descontentamento generalizado e a desarmonia social.

 

Nada tão pernicioso que uma sociedade dividida, desarmoniosa. Uma sociedade que pretenda progresso, bem estar, desenvolvimento, tem que primar pela harmonia, paz espiritual, consenso nacional e unidade. E tudo isto passa pela promoção de atitudes, comportamentos e procedimentos harmoniosos e apaziguadores.

 

Na verdade, se lermos com atenção o tal artigo 15 da CRM, vamos perceber que a interpretação que a ministra faz é algo errônea, com algum cheiro a ilegalidade. Promove a discriminação social. O parágrafo número um do referido artigo fala, de facto, de valorização de todos os combatentes - da Luta de Libertação Nacional, da Defesa da Soberania e da Democracia, “reconhece e valoriza os [seus] sacrifícios”. Todos eles são abrangidos. No entanto, já o parágrafo dois fala somente dos combatentes da LLN e diz que “o Estado assegura protecção especial aos que ficaram deficientes  na luta de libertação nacional, assim como aos órfãos e outros dependentes daqueles que morreram nesta causa.” Uma interpretação rigorosa diz-nos que se trata de “dependentes” dos combatentes falecidos ou deficientes. E não de todos os combatentes da luta de libertação nacional, como subjacente na instrução da ministra. Portanto, devíamo-nos ater só e só nesta faixa.

 

Mas há mais que inquieta a sociedade: até onde é quando vão estes “dependentes”? É que na definição actual dos próprios, “combatentes” são todos aqueles que de uma ou de outra forma estiveram envolvidos na Luta de Libertação Nacional, os filhos destes e os netos destes, nalguns casos também os trinetos… daí o termos hoje “combatentes” com idades inferiores à idade da nossa independência nacional. Isto é o que se está a verificar no concreto no dia-a-dia da nossa sociedade. Repare-se que a extrapolação não é para com todos os “combatentes”; mas somente para com os “combatentes da Luta de Libertação Nacional”.

 

Faz sentido considerar combatente o filho e ou neto de um combatente? Faz sentido considerar professor/engenheiro/médico… o filho e ou neto de um professor/engenheiro/médico? Assim, o filho e ou neto do Eusébio são futebolistas? O filho e ou o neto do Belmiro Simango são basquetistas… do Joaquim João futebolistas…

 

Ninguém rejeita que os combatentes tenham privilégios especiais, afinal são pessoas muito especiais, que hipotecaram as suas vidas pela libertação da nação moçambicana. Mas que, primeiro, sejam todos os combatentes das várias lutas que o país enfrentou nas várias fases da sua história. Segundo, que não haja extensão forçada da categoria de combatente para filho, neto e trineto. Só o facto de o combatente gozar de privilégios especiais já é o bastante para os seus dependentes terem um futuro de segurança e prosperidade.

 

É esta extensão forçada e irracional que deixa a sociedade bastante dividida. E nós não podemos patrocinar actos que dividem a nossa pátria amada, sob o risco de termos guerras que nunca acabam!

 

ME Mabunda

terça-feira, 28 junho 2022 15:19

Em delírio total!…

No distante ano de 1990, os nossos “Bons Rapazes” lançaram uma fabulosa música com o título Akuhanha, a seguir à greve dos professores que se registou nessas alturas na capital do país. Inspiraram-se no levantamento dos docentes e escreveram a belíssima música que é aquela faixa até aos dias de hoje.

 

Fabulosa, porque na verdade a música é maravilhosa, autêntica delícia, própria dos nossos Ghorwane!  Mas também porque, em termos de letra, eles tentaram cantar o que a seus olhos era a sociedade moçambicana na altura. E, diga-se, uma leitura muito crítica, avassaladora: muito ousada até para a democracia que ainda não tínhamos em Moçambique nesse período histórico. Lembre-se que só foi em Novembro de 1990 que adoptamos a constituição que preconiza a democracia multipartidária que vivemos hoje.

 

Na letra cáustica da Akuhanha, a nossa era uma sociedade às avessas, de pernas para o ar, sem racionalidade, com muitos paradoxos, em delírio total! Diziam os “Bons Rapazes” nos seus versos que, na nossa sociedade moçambicana de então, "designavamos mafurreira de escola” (o estudo ao relento, debaixo de árvores - que infelizmente ainda continua) / “os estudantes fugiam dos livros” / “os professores abandonavam as salas de aulas e se passeavam nas ruas” / “os nossos hospitais estavam sem medicamentos” / “os médicos fugiam dos doentes” / “dependentes de muletas abandonando-as” / “roupas sem ninguém para vestir” / “comida sem ninguém para comprar e comer” / “peixe sem pescador para o pescar!” … e por aí fora. Ao longo da música, repetiam“swa tika, swa tika” (é pesado/violento)!

 

1990 foi daqueles anos verdadeiramente difíceis para a nossa “pátria amada”. A guerra dilacerante tinha atingido o auge da destruição; o país estava completamente parado ou em regressão, a economia quase toda ela paralisada. Não andava nada, ou não se passava absolutamente nada!

 

Hoje, passados mais de 30 anos, não podemos obviamente dizer que a sociedade é ainda aquela desses tempos, às avessas, em regressão, completamente destruída. Não. Há muitíssimas coisas que mudaram e para o melhor. Hoje, dizemos que Moçambique já não é mais o país de que se fala, mas o país com que se fala!

 

No entanto, a despeito de imensas coisas boas que por cá acontecem, há outras tantas aí que continuam um autêntico delírio!

 

Uma definição rápida do Google diz que delírio é um estado de alteração mental que faz com que um indivíduo apresente uma visão distorcida da realidade, sendo que isso pode ser demonstrado de diferentes formas, por meio de uma confusão mental, de uma redução da consciência e até mesmo de alucinações.

 

Que podemos dizer daquele agente de polícia que tentou perseguir para prender uma canoa na água a andar e depois a nadar, algures na costa da cidade da Beira?

 

Conta a reportagem que, numa das zonas costeiras da cidade da Beira, onde os pescadores concentram as suas canoas e de lá partem para a pesca, ou quando voltam ali as estacionam, dois polícias andavam por ali. Um do sexo masculino e o outro feminino. A passagem deles por ali coincidiu com o regresso de uma jornada de um dos pescadores na sua canoa. Consta que os pescadores usam uma técnica que a lei proíbe. Os polícias estavam seguros que aquele pescador estava a usar tal técnica. E o pescador sabia que teria problemas com eles caso lhe deitassem a mão! Vendo-se em apuros, o pescador vira a canoa de volta para o alto mar. E o polícia, tinha a arma a tiracolo, tira-a e a entrega à colega e corre de encontro à canoa!... Começou por correr, mas depois, pôs-se a nadar… ou a tentar nadar… Contaram testemunhas ao Balanço Geral que, às tantas, foi para baixo das águas, depois sobressaiu e… foi de vez! Dias depois, seu corpo seria encontrado sem vida!

 

Não é delírio isso? Que andaria na cabeça desse agente para perseguir uma canoa a nado?

 

ME Mabunda

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