Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

Adelino Buque

Adelino Buque

Apesar das mudanças profundas na área económica, com efeito a partir do ano 1987, com o PRE – Programa de Reabilitação Económica e com a entrada em vigor da nova Constituição da República em 1990, que advogava o multipartidarismo e a economia do mercado, Carlos Cardoso manteve a sua veia socialista, ou seja, não se aproveitou da posição privilegiada que tinha, para o locupletamento indevido, antes pelo contrário, denunciava esse enriquecimento fácil de muitos “camaradas” e expunha as formas como isso acontecia e muitos não gostavam da nova forma de estar de Carlos Cardoso.

Conheci-o e com ele privei, graças ao meu colega Belmiro Baptista, a quem Cardoso recorria para se consultar sobre assuntos de natureza económica. Hoje, 23 anos depois do seu bárbaro assassinato, quero, através deste pequeno trecho de reflexão, homenagear aquele que considero um dos grandes ícones do Jornalismo Moçambicano. Aliás, Carlos Cardoso merecia que o Sindicato Nacional de Jornalistas de Moçambique organizasse um Simpósio para homenageá-lo. Espero que um dia se lembrem. Bem haja Cardoso.
 
AB

“Os anos 90 trouxeram a paz para Moçambique, mas também uma profunda reestruturação económica e um programa de privatizações. Carlos Cardoso acompanhou, com incredulidade, o emergir de uma classe que enriquecia devido ao seu acesso privilegiado aos antigos recursos estatais. E, ao que parece, a sua determinação em expor as ilegalidades desse processo acabou por lhe custar a vida”.

In BBC para África, o mais mediático Julgamento de Moçambique


“Iniciou a actividade jornalística em 1975, no semanário Tempo. Continuou na Rádio Moçambique e na Agência de Informação de Moçambique (AIM), onde foi director por dez anos. Durante vinte anos exerceu o jornalismo como uma forma de contribuir com o seu país.

O jornalista também se dedicou às artes plásticas e realizou sua primeira exposição de pintura no ano de 1990, na cidade de Maputo, denominada de "Os habitantes do forno".

Depois de vários anos trabalhando em órgãos de imprensa do Estado (os únicos que existiam em Moçambique até à abertura política), Cardoso foi membro fundador da primeira cooperativa de jornalistas, a Mediacoop, proprietária do semanário "Savana" e do diário Mediafax, em 1992. Em 1997, fundou o seu próprio diário, também distribuído por fax, o "Metical" que, tal como o nome indica (Metical é a moeda de Moçambique), era virado essencialmente para questões económicas”.
In Wilkipedia.

Conheci o jornalista Carlos Cardoso e com ele privei por algum tempo, durante a minha iniciação na publicação de artigos que abordavam assuntos de natureza social e económica para os Jornais. Cheguei a publicar nos meios em que esteve envolvido, como é o caso do Mediafax, Savana e Metical. Não me lembro de ter publicado nenhum artigo nos órgãos de comunicação estatal. Carlos Cardoso era exigente do ponto de vista de fontes do que se escrevia e, sempre que possível, procurava informar-se da veracidade, no caso de implicar alguém.

O meu convívio com Carlos Cardoso também se deveu ao facto de ser colega do Belmiro Baptista, na altura, Director Geral da Empresa Nacional de Comercialização EE. Na verdade, Carlos Cardoso encontrava-se muitas vezes com o meu colega, para se consultar sobre matérias relacionadas à economia e factos que Carlos Cardoso precisava de aprofundar mais. Encontrava no meu colega uma fonte segura para se informar. Nessa altura, também se falava de política, sobretudo, devido à falta de confiança que Cardoso começava a ter pelos membros da Frelimo, o partido a que se dizia ser “membro sem cartão”.

Pessoalmente, admirava Carlos Cardoso pela forma directa e destemida como abordava os assuntos políticos e económicos. Lembro-me que, nas eleições de 1999, depois da votação, na companhia do meu colega, encontrei-o próximo do Restaurante Madjedje e, quando questionado sobre o que achava das eleições, disse sem papas na língua: “O Presidente pode ganhar estas eleições, mas a Frelimo não”. Justificava a sua afirmação com o facto de no seio dos membros da Frelimo ter-se perdido o princípio de humildade, que os membros da Frelimo se tinham tornado numa elite de burgueses e não respeitavam o povo.

A área predilecta de Carlos Cardoso no jornalismo foi o jornalismo de investigação. O Banco Comercial de Moçambique e o Banco Austral terão sido, provavelmente, a razão do seu assassinato. Vale lembrar aos mais novos que o julgamento das “dívidas ocultas” não é o primeiro a realizar-se na cadeia de máxima segurança, vulgo B.O. Trata-se do segundo caso. O primeiro foi o caso Carlos Cardoso, por isso Carlos Cardoso marcou, de forma indelével, a vida dos moçambicanos e de Moçambique, sobretudo, daqueles que se batem pelo uso correcto do bem comum.

Os jornalistas moçambicanos, sobretudo o Sindicato Nacional de Jornalistas, parece-me estarem em dívida com Carlos Cardoso. Não faz sentido que um dia como hoje, 22 de Novembro, dia em que foi assassinado Carlos Cardoso, passe sem nenhuma actividade relevante da classe, ainda que fosse somente para uma conversa sobre a vida e obra deste ícone de jornalismo Moçambicano. Algo não está certo na classe. Devemos reflectir.

Adelino Buque

“Não há dúvidas de que a agricultura, indústria transformadora e o turismo são os sectores que deveriam merecer a melhor atenção para o relançamento da nossa economia, contudo, para que esses sectores tenham sucesso, é importante que se relance o princípio de “produza e consuma Moçambique” e dar primazia a instituições que assim se comportam nos concursos públicos de fornecimento de bens e serviços, através da atribuição do distintivo “Made in Mozambique”, um selo que premeia as empresas que se distinguem no consumo de produtos nacionais. São o exemplo a seguir no trabalho digno e são pagadores das suas obrigações fiscais e outros”.

 

AB

 

“Num País, com o nível de dificuldades que nós temos, do financiamento à economia, era possível haver uma estratégia relacionada ao Banco Central e … numa definição, dois ou três sectores prioritários, para o relançamento da economia e pedir aos Bancos que canalizem até um determinado montante aquilo que eles depositam nas reservas obrigatórias. Canalizassem a esses dois ou três sectores a taxas bonificadas porque ganharíamos todos, ganharia a economia a ser financiada, ganhavam os Bancos que não estavam a taxa zero no Banco Central e ganha a economia como um todo”.

 

In João Figueiredo, no Economic Briefing CTA

 

Tem sido objecto de debate o financiamento da nossa economia e, pelos dados que amiúde vêm sendo divulgados, os recursos financeiros são canalizados para os sectores menos produtivos e com baixo contributo para o PIB nacional, como é o caso do comércio. No entanto, a agricultura contribui com 25% do PIB, mas recebe qualquer coisa como 3 a 4% do financiamento, ou seja, o financiamento à agricultura, que é o suporte da economia, é feito com base em recursos familiares, o que parece uma distorção e que deve ser corrigido com urgência. Entretanto, a questão é: quais são os sectores que podem servir de alavanca para a nossa economia? Na minha opinião, são três, a saber:

 

  • Agricultura;
  • Indústria transformadora e;
  • Turismo.

 

Se considerarmos que mais de 80% da nossa população trabalha na agricultura, e que a agricultura, que contribui para o PIB com 25%, é do tipo familiar, isto significa que o potencial de crescimento deste sector é enorme e resolve-nos o essencial de um País, que é o combate à fome e, ao mesmo tempo, pode equilibrar a balança de pagamento, evitando a importação de produtos, cuja produção é possível e sem recurso a grandes tecnologias.

 

A produção Agrícola, à escala comercial, também pode permitir a retenção de jovens nas zonas rurais, limitando, dessa forma, a migração campo/cidade e com as consequências que isso tem trazido para a superlotação das cidades e vilas pelo País. Não só a taxa de desemprego iria baixar, como também a criminalidade, resultante de ociosidade, baixaria e teríamos as cidades e vilas lugares livres de crimes e com boas condições para se viver.

 

Relativamente à indústria transformadora, a ideia seria financiar a transformação dos principais produtos agrícolas e evitar a exportação em bruto da maior parte da nossa produção. Essa indústria poderia, igualmente, conservar produtos cuja produção é sazonal como, por exemplo, tomate, citrinos, algumas hortícolas, carnes, peixe entre outros. Esta indústria, devidamente acarinhada, poderia também empregar muita gente e contribuiria, sobremaneira, para o desenvolvimento da nossa economia, como diz o Dr. João Figueiredo, ficaríamos todos a ganhar, por isso, na minha opinião, seria o segundo sector elegível para o relançamento da nossa economia, mas, não há dúvidas que o processamento dos produtos agrícolas acrescenta valor.

 

Por outro lado, para que os dois sectores tenham sucesso, é imperioso a revisitação do princípio “produza e consuma Moçambique”. Na verdade, não basta que o produtor produza e a indústria transforme os produtos agrícolas, se não tivermos consumidores preferenciais, a economia continuará estagnada e/ou pior do que está hoje. Um dos melhores consumidores destes produtos é o Estado Moçambicano, através da saúde, sector militar, as cadeias e outros sectores afins, mas, se estes sectores de grande consumo continuarem a preferir compras de produtos importados, esqueçamos a ideia do relançamento da economia. Se estamos recordados, o slogan “produza e consuma Moçambique” tirou da falência muitas empresas nacionais, foi quando se introduziu o selo de “Made in Mozambique” que parece ter caído em desuso.

 

O terceiro sector de economia a relançar, na minha opinião, seria o Turismo. Não há dúvidas de que o Turismo é o sector transversal, pode e alavanca muitos sectores da nossa economia, ou das economias que levam a sério esta indústria. O Turismo consome quase tudo, desde os bens alimentares de agricultura, os bens do artesanato, oferece emprego a milhares de pessoas, que transportam pessoas e bens, cuida, através dos serviços de saúde, exige formação dos tendentes do sector, enfim, o Turismo pode relançar a economia em muitos sectores da nossa vida.

 

Dito isto, quis contribuir e reforçar a ideia do Dr. João Figueiredo e suportada por muito mais colegas do sector privado sobre a necessidade de olhar para Moçambique e sua economia, não somente na perspectiva de “enxugar” os recursos financeiros disponíveis para evitar a inflação, mas e sobretudo, fazer com que os recursos financeiros disponíveis e meio estéreis na Banca Central sejam usados para alavancar a nossa economia.

 

PS: Dedico esta reflexão ao meu amigo e jovem empresário Eder Pale. Abraço.

 

Adelino Buque

quinta-feira, 16 novembro 2023 09:45

Diálogo Público-Privado deve ser horizontal!

 

“Senhor Ministro da Indústria e Comércio! As Associações, o conjunto das Associações, não falam, quem fala são os seus representantes individualmente e chamar atenção sobre o efeito negativo da criação de uma espécie de taxa paralela, sobre as exportações e importações, quer para os operadores do Comércio Externo, como para o consumidor, precisa de apoio do Governo! É preciso recordar o Governo sobre o ciclo das culturas agrícolas que, negligenciando a saída dos produtos em armazéns, pode criar problemas logísticos. Necessita de apoio de algum Ministro em específico ou do Governo? Chamar atenção para aprovação de uma regra e ou Lei que irá impactar negativamente nos negócios internos e externos é protagonismo individual? Não devemos criar “algemas” ao Diálogo Público-Privado. Devemos mantê-lo e de forma horizontal”.

AB 

Depois da independência nacional, Moçambique escolheu, para a economia, o modelo de planificação centralizada. Entretanto, não está em causa nesta reflexão as razões disso. Trata-se apenas duma constatação. Na Constituição de 1990, assume, formal e constitucionalmente, o Modelo de Economia de Mercado, em que as pessoas, individual ou colectivamente, são a força da economia. Nesse sentido, assume a defesa de propriedade individual e colectiva, premissas bastantes para que haja segurança jurídica no sector económico e empresarial.

Passam, hoje, 33 anos desde que Moçambique abraçou a economia do mercado e, para tanto, muito esforço tem sido despendido, de forma voluntária, pelo sector privado, para que as normas que regem este modelo estejam em conformidade com o que se passa no mundo fora. É preciso lembrar que Moçambique não é nenhuma ilha. Aquilo que se passa em Moçambique repercute-se noutras latitudes, para o bem ou para o mal e aqui está o comprometimento do sector privado, junto do Governo de Moçambique, para encontrar formas que tornem o ambiente de negócios mais apetecível em Moçambique.

A participação do sector privado na melhoria do ambiente de negócios não deve confundir o sector público, no sentido de subordinação, pois, as organizações do sector privado, quer do ponto de vista de Associações, Câmaras Bilaterais ou outras são entidades com autonomia Administrativa, Patrimonial e Financeira. Não dependem do Orçamento Geral do Estado, dependem, sim, da contribuição dos seus membros, dos donativos e/ou doações de parceiros e membros, pelo que nenhum governante se deve imiscuir na vida dessas organizações e tão-pouco ordenar seja lá o que for.

A recente intervenção do Ministro da Indústria e Comércio, no Fórum de Investimentos no Niassa, mostra, de forma clara, que existem membros do Governo de Moçambique que não estão claros sobre o seu papel e a natureza de relações a estabelecer com a sociedade civil ou sector privado, mas também pode ser que, passados 33 anos depois da introdução da economia do mercado, esses membros do Governo de Moçambique tenham saudades do centralismo económico ou economia planificada, o que se torna bastante estranho porque não se pode viver em função de conveniências, ou somos uma economia do mercado ou somos uma economia centralizada.

Na minha opinião, não se pode usar regras de economia de mercado, quando nos convêm e de economia centralizada ou planificada quando é conveniente. Quando o Ministro diz: “como Governo, não apoiamos intervenções movidas por conta de protagonismo individual, como Governo, não apoiamos intervenções das Associações ou conjunto de associações movidas por protagonismo individual”. Espero ter feito a citação correctamente. Ora, não sei se alguém ou alguma Associação terá pedido apoio ao Ministério da Indústria e Comércio para qualquer que seja o assunto, mas o que se sabe é:

1)      Foi chamada a atenção ao Governo de Moçambique sobre a provável queda em 20% de exportações de produtos agrícolas, devido ao problema de quotas e certificados;

2)      Que os operadores de exportação de Feijão Bóer, Gergelim, castanha de Caju e outros são os mesmos, pelo que, no caso de iniciar uma campanha com produtos de outra campanha em Armazém, criaria problemas de logística;

3)      Que o PAC, na forma como foi introduzido, sem um debate aprofundado com o sector privado, pode constituir um obstáculo ao bom Ambiente de Negócios;

4)      Que a INTERTEK, na sua actuação, parece ter criado uma pauta Aduaneira paralela, o que pode minar o Comércio Internacional e onerar o consumidor interno.

Vamos raciocinar com base em alguma lógica. Se esta chamada de atenção é dirigida ao Governo de Moçambique, devido ao impacto que pode ter na imagem do País e nas exportações, faz algum sentido esperar pelo apoio do Governo ou do Ministério da Indústria e Comércio? Se uma instituição do Governo parece ignorar os ciclos produtivos agrícolas e dificulta o escoamento de produção, o que poderá criar problemas logísticos. Chamar atenção sobre isto precisa de anuência de algum Ministro ou do Governo no seu todo! Por favor, a relação entre o Governo de Moçambique e o Sector Privado é horizontal, não existem chefes e subordinados. Haja clareza!

Adelino Buque

“Moçambique realizou as VI eleições Autárquicas a 11 de Outubro de 2023. São eleições contestadas, em particular, pelo partido Renamo, que diz ter provas materiais de as ter ganho, em alguns Municípios. Ora, a recontagem desses votos não me parece que seja tão problemática, seria de todo justo, fazer-se a recontagem, com a participação dos interessados, os concorrentes da Renamo, da Frelimo ou de outro partido qualquer. São todos elegíveis a dirigirem as autarquias, somos todos moçambicanos, por isso julgo pertinente que a posição do Conselho Constitucional, para além de observar os aspectos estritamente jurídicos, deve ter em consciência que a sua decisão pode salvar ou precipitar o País ao abismo. Tudo está nas vossas mãos, senhores Juízes do Conselho Constitucional. A alínea d) do nr. 1 do artigo 244 da Constituição da República outorga-vos esse poder.”

AB

“O Conselho Constitucional Moçambicano é materialmente um órgão jurisdicional, desempenhando as funções de um TC. É titular da jurisdição constitucional, embora não tenha sido formalmente qualificado como um TC ou como um órgão jurisdicional, pois: - É um órgão constitucional de soberania que exerce uma função jurisdicional que consiste em aplicar a lei geral para julgar casos concretos da esfera da sua competência e no quadro da jurisdição constitucional; - É o órgão de administração da justiça titular da jurisdição constitucional, isto é, que aprecia e declara a inconstitucionalidade das leis e ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado; - É o órgão de recurso das decisões dos tribunais _630________RJLB, Ano 7 (2021), nº 3 em sede do controlo concreto da constitucionalidade; - É um órgão deliberativo, as suas decisões não são passíveis de recurso, são de cumprimento obrigatório e prevalecem sobre as dos tribunais e demais autoridades; - Os titulares do CC são juízes; - Os Juízes-conselheiros do CC gozam de garantia de independência, inamovibilidade, imparcialidade e irresponsabilidade; - Exerce a fiscalização concreta, sucessiva, abstracta e preventiva da constitucionalidade; - Fixa jurisprudência com força obrigatória geral; - Julga os processos contenciosos relativos aos conflitos de competências entre os órgãos de soberania e relativos aos processos eleitorais, ao mandato dos deputados, deliberações dos órgãos dos partidos políticos e as incompatibilidades previstas na Constituição e na lei; - Fiscaliza a legalidade dos processos eleitorais; -Verifica previamente a constitucionalidade dos referendos; - Tem iniciativa processual passiva; - O critério que serve de base para as suas decisões é o da legalidade”.

In: NATUREZA JURÍDICA DO CONSELHO CONSTITUCIONAL MOÇAMBICANO. Edson da Graça Francisco Macuácua*

Competências do Conselho Constitucional

“d) Apreciar, em última instância, os recursos e as reclamações eleitorais, validar e proclamar os resultados eleitorais nos termos da lei;

g) Julgar as acções de impugnação de eleições e de deliberação dos órgãos dos partidos políticos;”

In Artigo nº 244 da Constituição da República de Moçambique

Depois de fazer o exercício de consulta legislativa face aos acontecimentos resultantes da comunicação da CNE – Comissão Nacional de Eleições, sobre os resultados das eleições Autárquicas de 11 de Outubro de 2023, notei com satisfação que ainda temos uma janela de esperança para que Moçambique não resvale num Estado desgovernado. A nossa última esperança, neste momento, está depositada no Conselho Constitucional que exerce, simultaneamente, as funções de um Tribunal Eleitoral.

Compete ao Conselho Constitucional – segundo a alínea d) do nº 1 do artigo 244, da CR, apreciar, em última instância, os recursos e as reclamações eleitorais, validar e proclamar os resultados eleitorais nos termos da Lei, competindo, também, a este órgão de soberania “julgar as acções de impugnação de eleições e de deliberação dos órgãos políticos”, sendo que: É um órgão deliberativo, as suas decisões não são passíveis de recurso, são de cumprimento obrigatório e prevalecem sobre as dos tribunais e demais autoridade.

A esperança neste órgão deve-se ao facto de os partidos políticos terem interposto recursos junto dos Tribunais de Distrito, local onde ocorreram os “ilícitos” eleitorais e estes Tribunais, em alguns casos, terem indeferido esses recursos e, noutros, apesar de haver recursos em curso, a CNE ter já apresentado aquilo que designou de resultados das eleições de 2023 e atribuído mandatos aos concorrentes, quando, na verdade, existem recursos correndo os trâmites legais, pois, há casos em que os Tribunais decidiram pela recontagem de votos e outros ainda pela anulação de todos os actos, por divergências graves entre os editais de uns e outros.

A instabilidade que se criou com o anúncio dos resultados eleitorais, fazendo fé à liderança do maior partido da oposição e sua liderança, vai continuar, por via de manifestações e o meu receio é que estas manifestações degenerem em caos, devido à “fúria” popular, como se viu na manifestação de 26 de Outubro de 2023. Alguns cidadãos recorreram a arrombamento de estabelecimentos comerciais, vandalização de bens públicos e privados, de cujos danos, certamente, não serão ressarcidos.

Há o princípio, segundo o qual, os juízes decidem com base na Lei e sua consciência, independentemente daquilo que a Lei determina, sem violar as normas. Nesta senda, os juízes do Conselho Constitucional devem chamar a sua consciência para a tomada de decisão destes casos, tendo em conta que as suas decisões não são recorríveis. O Conselho Constitucional deve, na minha opinião, trabalhar para evitar que o pior aconteça em solo pátrio. Aqui, não é somente a legalidade que está em causa, é também a justiça, o que parece contraditório, mas não é. A Lei pode determinar uma coisa, mas aquilo que é justo de se fazer ser outra.

Adelino Buque

terça-feira, 24 outubro 2023 08:43

Eleições: Uma reflexão obrigatória!

“As eleições Autárquicas de 11 de Outubro de 2023 já aconteceram e tiveram os resultados que todos sabemos. Em 2024, teremos as eleições Gerais para a eleição do Presidente da República e os Deputados da Assembleia da República e urge, por isso, olhar para o que interessa na actualidade aos moçambicanos porque a Luta de Libertação Nacional, tendo sido importante para que Moçambique se tornasse uma Nação e os moçambicanos terem uma nacionalidade, bandeira e pátria, hoje, esse debate não é mobilizador!

 

Não é igualmente mobilizador o discurso da Luta pela Democracia, travada entre o Governo de Moçambique e a Renamo, mais conhecida por Guerra dos 16 anos. Passam 31 anos após o Acordo Geral de Paz e, próximo ano, teremos as VII eleições presidenciais, por isso, falar da luta dos 16 anos e seus heróis é uma questão de cultura geral, mas não mobilizador para um eleitorado que não viveu esses eventos. Veja abaixo, como caracterizamos os dois eventos”.

 

AB

 

“A luta de libertação Nacional foi dirigida pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique).

 

Esta organização foi fundada em 1962, através da fusão de três movimentos constituídos no exilo, nomeadamente, a UDENAMO (União Nacional Democrática de Moçambique), MANU (Mozambique African National Union) e a UNAMI (União Nacional de Moçambique Independente). A partir do início dos anos 80, o País viveu um conflito armado dirigido pela RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique).

 

O conflito que ceifou muitas vidas e destruiu muitas infra-estruturas económicas só terminaria em 1992 com a assinatura dos Acordos Gerais de Paz entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO.

 

Em 1994, o País realizou as suas primeiras eleições multipartidárias ganhas pela FRELIMO que voltou a ganhar as segundas e terceiras, realizadas em 2000 e 2004”.

 

In Portal do Governo, 16/06/2015

 

Ora, se a luta de libertação nacional não é mobilizadora para o eleitorado de hoje, porque passam 48 anos após a proclamação da independência, a luta pela democracia, mais conhecida por guerra dos 16 anos, também não, porque passam 31 anos. É caso para nos debruçar sobre o que é, na actualidade, mobilizador, quais são os desafios da sociedade Moçambicana neste momento, aqui e agora. Pretendo deixar o meu contributo para o efeito.

 

  • Temos uma Juventude com vários problemas que devem merecer uma abordagem aberta e directa, a saber:
  1. Emprego: de acordo com estatísticas fiáveis, Moçambique coloca no mercado 500 mil jovens e somente 30 mil conseguem emprego, ou seja, mais de 470 mil jovens, anualmente, ficam no desemprego. Como resolver este problema? As instituições de formação profissional são suficientes para a solução deste problema? Creio que não. Qual é a visão do futuro sobre este assunto?
  2. Habitação para Jovem: este é um problema bastante grave para a Juventude, as principais capitais Provinciais nunca desenvolveram um sistema de habitação que tivesse em vista a solução do problema da Juventude, ainda que fosse com carácter aleatório, como “jovem casal, um terreno ou uma habitação”. Existem, em quase todas as capitais provinciais, incluindo as Cidades de Maputo e Matola, zonas de expansão, no entanto, no lugar de os Municípios ou Governos Provinciais se adiantarem, implantando infra-estruturas sociais, sempre vêm atrás e com as consequências que isso tem.
  3. Educação e Saúde: trata-se de um problema bastante importante, desde já é preciso reconhecer que os filhos das elites políticas não estudam nas escolas nacionais e tão-pouco são tratados nos Hospitais e Clínicas nacionais. Isto, por si só, é revelador de que a assistência sanitária nacional e o sistema de educação não vão bem. Mas, pior que isso, o acesso à educação continua a ser um problema grave, as Universidades Públicas continuam com a publicidade de 2 mil a 3 mil vagas para um universo de 30 a 40 mil jovens que demandam essas vagas.
  4. No passado, o Reitor Couto ensaiou as quotas por Província, um modelo que foi bastante criticado, mas teve o mérito de Jovens das partes mais longínquas da Capital terem acesso ao ensino superior. Contudo, devido ao número de candidatos, viu-se que não é suficiente para a solução do problema. Sendo assim, que solução terá o Governo ou o futuro candidato para resolver este problema. Relativamente à saúde, são recorrentes os desentendimentos entre o Governo e os profissionais de saúde, o que adensou cada vez mais a falta de confiança pelas nossas unidades sanitárias. Aliás, o programa do actual Governo “um Distrito um Hospital” poderia ser solução, mas Hospital não são as paredes, hospital é muito mais do que o edifício, por mais emblemático que seja.
  5. Finalmente, que programa o Governo teria para a retenção da Juventude no campo? Eu recordo-me com bastante tristeza a extinção do programa do GODCA – Gabinete de Organização e Desenvolvimento das Cooperativas Agrícolas ensaiado nos anos 80 e que foi extinto sem antes ter entrado em vigor. Esse programa não era exclusivamente agrário, era um programa que continha um pouco de todas as áreas que interessam a camada mais jovem, incluindo o próprio emprego. Devo recordar que a área agrária precisa de Economistas, Contabilistas, Juristas, Comerciantes, Indústrias de todo o tipo.

 

Ora, a Juventude é parte de tantos desafios que o País tem, vamos olhar para as chamadas áreas transversais e, desse já, as infra-estruturas públicas, a saber:

 

  • Estradas - a produção nas zonas rurais precisa de ser escoada para as principais zonas de consumo. A ligação entre o campo e a cidade precisa de uma rede viária bastante consistente, por isso, é um assunto transversal e urgente. Não basta apelar à produção de bens de consumo, quando, para escoar é quase impossível. Não é segredo que muitas regiões do centro produzem e abastecem os vizinhos Malawi, Zâmbia, Zimbabwe entre outros. Qual é o real programa para que possamos sair desta encruzilhada!
  • Electricidade: Moçambique é conhecido na região como produtor e exportador de energia eléctrica, no entanto, a electrificação nacional tem índices muito baixos e sabe-se que a Electricidade é um factor impulsionador das actividades económicas no geral e da melhoria da vida das populações em particular. Aqui, devo dizer que o programa electrificar Moçambique é muito deficiente, olha para as zonas longínquas, mas as zonas periféricas das grandes urbes não estão electrificadas. Qual é o critério que se usa para se eleger uma determinada zona para beneficiar-se desse programa ou projecto!
  • Produção Agrícola: nas zonas rurais, grandes extensões de terra estão em poisio obrigatório porque os proprietários da Terra, ou seja, os detentores do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra não têm, sequer, previsão de exploração dessas terras e nada acontece. Para piorar, as entidades estatais, responsáveis pela fiscalização do uso da terra, mostram-se incapazes de fazerem o seu trabalho porque esses DUATs são detidos pelas elites políticas ancoradas ao poder. Essas elites não têm noção de quanto prejudicam o próprio poder.
  • Idem na produção animal, não são poucas as extensas áreas de pastagem vedadas ao público porque são propriedade de alguém, contudo, esse proprietário não produz absolutamente nada e os animais do pacato cidadão habitante da zona não têm onde pastar os seus animais. Mais uma vez, não haja dúvidas de que os detentores dessas porções de terra são elites da Frelimo. Essas elites, simplesmente, não têm noção do quanto a sua atitude é maléfica ao seu próprio partido. Há que mudar isto, a população quer soluções para ontem.

 

Chegados aqui, sem pretender esgotar o que constitui desafios da actualidade, tanto para os jovens quanto para todos nós, espero ter dado o meu modesto contributo e que não caiamos na “ratoeira” de exaltar coisas que, para muitos eleitores, não fazem sentido. Mais do que isso, os membros do partido Frelimo precisam e devem assumir uma postura de maior responsabilidade. Devem usar cada lugar que ocupam de forma a multiplicar os ganhos, para si e para a sociedade circunvizinha, não deve prevalecer o espírito de egoísmo e de açambarcamento.

 

A Frelimo deve informar-se sobre quantos postos de trabalho criaram os empresários nacionais e ou estrangeiros, que de alguma forma apoiam a Frelimo e ainda se os seus colaboradores se sentem valorizados. Muitas vezes, drena-se valores para encobrir aquilo que de mal se pratica na unidade produtiva. Convenhamos, os negócios em Moçambique não são tão lucrativos a ponto de drenar milhões sem contrapartidas. Deve-se olhar para o povo primeiro.

 

Adelino Buque

“As manifestações pacíficas, convocadas pela Comissão Política da Renamo, anunciadas pelo seu Presidente Ossufo Momade, lembram-me as manifestações que derrubaram o Regime do Partido Socialista Unitário da Alemanha, na antiga RDA – República Democrática Alemã. Duas coincidências curiosas: o facto de se terem realizado em Outubro e serem pacíficas, segundo anunciou o próprio General Ossufo Momade”.

 

NB: Na altura destes factos, eu estava na RDA, vivi essa realidade e vi o muro de Berlim a cair.

 

AB

 

“Em 9 de Outubro de 1989, cerca de 70 mil pessoas tomaram pacificamente as ruas de Leipzig a favor da democracia. Sem intervenção das forças do regime comunista, um episódio crucial para a queda do muro, um mês depois”. Na altura destes factos, eu estava na RDA, vivi essa realidade e vi o muro de Berlim a cair.

 

In História por Mara Bierbach 09/10/2019 como protestos pacíficos ajudaram a derrubar o regime da RDA

 

Tiveram início hoje, 17 de Outubro de 2023, as manifestações pacíficas convocadas pela Renamo, através da sua Comissão Política Nacional e anunciadas em conferência de Imprensa, pelo respectivo Presidente, Ossufo Momade, tendo reiterado que a Renamo não retornará às matas, o que, à partida, tranquiliza muitos moçambicanos e amigos de Moçambique. Na verdade, como ele mesmo disse, “o povo está cansado de guerra”. Neste particular, devo manifestar o meu agrado porque não haverá derramamento de sangue, contudo, é preciso reconhecer que as manifestações, muitas vezes, são mais fortes que as armas. As manifestações têm a particularidade de serem assistidas por todos, os seus organizadores falam das suas causas e, por via disso, ganham mais apoiantes.

 

As manifestações pacíficas têm o cunho mobilizador e dão oportunidade aos seus organizadores de falarem sobre as suas motivações que, ainda que tenham um pouco de “populismo”, são ouvidas, compreendidas e debatidas por várias pessoas. Podem iniciar com 100 pessoas e, ao fim de 72 horas, aderir muito mais gente e aquilo que poderia parecer um pequeno “grupinho” tornar-se em multidões. Por isso, as autoridades do Estado não devem olhar para essas manifestações com indiferença, mas, mais do que isso, não devem procurar resolver o problema com recurso à força, pois, pode ser perigoso e, de pacífica, passar a ser uma manifestação violenta!

 

Com esta reflexão, não pretendo dizer que as manifestações são justas ou não, isso não cabe a mim como cidadão, pese embora, a Renamo pode e vai certamente socorrer-se da Constituição da República, que no Artigo 80 diz: “os cidadãos têm o direito de não acatar ordens ilegais ou que ofendam os seus direitos, liberdades e garantias”, isto porque a Renamo manifesta-se, alegadamente, porque a contagem de votos não foi justa e o anúncio dos resultados não corresponde ao que o povo depositou nas urnas. Ora, este direito de resistirem é constitucional e ninguém lhes pode negar, aliás, a Constituição da República, no seu artigo 35, fala da universalidade e igualdade!

 

Então, vamos olhar para esse importante artigo da nossa Constituição da República que diz no Artigo nº 35 (Princípio da Universalidade e igualdade) “todos os cidadãos são iguais perante a Lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política”, fim da citação. Por outro lado, o artigo nº 51 da mesma Constituição preconiza que “todas as pessoas têm direito à liberdade de reunião e manifestação, nos termos da Lei”. Estes articulados levam-nos a olhar para as manifestações da Renamo, como mero exercício de direitos e nada mais, espero que mantenha o sentido pacífico das mesmas.

 

Nas minhas reflexões anteriores, num caso, apelava ao partido Frelimo para que fizesse uma introspecção sobre as razões destes acontecimentos, sobretudo revelados pelos resultados eleitorais que hoje, pouco a pouco, estão a criar uma instabilidade nas zonas urbanas de quase todo o país. Segundo o anúncio do Presidente da Renamo, estas manifestações não estão convocadas para um lugar específico, são para todo o território nacional. Contudo, é inegável que será na capital moçambicana, Maputo, onde se farão sentir mais. Num outro momento, apelei ao Conselho de Estado para que, usando das suas competências, fizesse a persuasão para que as coisas não degenerem em confusão.

 

Muitos cidadãos olham para o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, como quem deve tomar a iniciativa, mas os órgãos, para além de reunirem por iniciativa do Chefe do Estado, também podem reunir por convocação de seus membros e, neste caso, do Conselho do Estado. O próprio Ossufo Momade é membro do Conselho do Estado e deve fazer uso dessa condição para influenciar a convocação da reunião deste importante órgão, de modo a mediar este conflito pós-eleitoral. As confissões religiosas e a sociedade civil também devem exigir o fim deste mal que parece se instalar em Moçambique. Todos somos chamados a evitar que isto degenere em conflito descontrolado! É preciso que se diga que manifestações pacíficas também derrubam Governos. Estejamos atentos.

 

Adelino Buque

quinta-feira, 12 outubro 2023 18:00

Frelimo deve fazer uma introspecção!

Adelino Buqueeeee min

“Meu irmão Gustavo Mavie! O Povo não é ingrato com a Frelimo, o Povo sabe e agradece pela acção de libertação, por isso todos os dias celebra Samora Moisés Machel. Os jovens, que não viveram a euforia da independência nacional, celebram Samora Moisés Machel. Então, o que estará errado na vida política nacional? Certamente, não são os jovens desempregados que pululam nas ruas das capitais provinciais, não são eles que estão errados. Provavelmente, o errado é estarem nessa condição de desempregados e, muitas vezes, sem perspectivas do futuro. A questão é: que solução a governação da Frelimo traz para estes jovens? Diz o Slogan da TV Miramar que “o Futuro é agora” e eles querem saber hoje que futuro lhes espera, na perspectiva de que não deve ser a médio e longo prazo. A Frelimo obriga-se a uma introspecção urgente!”

AB

“Só com base nesta história é que já dá para compreender os que agora detestam a FRELIMO, não obstante tenha liderado a libertação do nosso país e proclamado a nossa independência assim como criado o Estado que temos desde 1975, e morram de amores por aquelas formações políticas que nunca fizeram nada de bom e prestadio para este país, senão o ter destruído durante 16 anos, contados entre 1977 a 1992 e entre 2013 a 2016. Mais do que o terem destruído, tais partidos por quem agora morrem de amores, matavam-nos cruelmente e impediam-nos de circular pelo nosso país.”

In Gustavo Mavie, SE OS PARTIDOS FOSSEM COMO PESSOAS, ENTÃO A MAIORIA DOS POVOS OCIDENTAIS ERAM POLÍGAMOS E NÓS MOÇAMBICANOS PODEREMOS VIR A SER TAMBÉM UM DIA POLITICAMENTE POLÍGAMOS, 10 de Outubro de 2023.

As eleições Autárquicas de 11 de Outubro de 2023 foram realizadas e, ao que tudo indica, foram livres, ordeiras e transparentes, pese embora, se reportem casos de violação da Lei em algumas Autarquias. No cômputo geral, estas eleições devem orgulhar-nos como sociedade e como País que entra para a consolidação da sua democracia multipartidária. Dizer que as eleições foram livres, ordeiras e transparentes não significa que não tenha havido, aqui e acolá, problemas por resolver, nada disso.

Faco esta reflexão, reiterando que, hoje, existem valores de grande utilidade, mas que não devem contar para uma campanha eleitoral. Escrevi e publiquei noutra reflexão, mas, devido à persistência do meu irmão Gustavo Mavie, volto ao assunto e, na minha opinião, o que não deve ser assunto para a campanha eleitoral de hora em diante é:

 

1)    O atraso no desenvolvimento nacional atribuído ao Colonialismo Português;

2)    O atraso atribuído à Guerra dos 16 anos entre a Renamo e o Governo de Moçambique;

3)    Baixo nível de escolaridade e de saúde atribuído à falta de recursos.

Quando o meu irmão Gustavo Mavie evoca a libertação de Moçambique, certamente, não deve perder de vista que muitos concidadãos, que participaram na Luta de Libertação Nacional, ainda não têm pensões fixadas hoje, passados 48 anos de independência. Sabe o que isso poderá significar a esses combatentes? Creio que sequer imagina, mas esses mesmos combatentes cruzam ou vêem, através dos órgãos de comunicação social, seus antigos colegas a esbanjarem felicidade e bem-estar publicamente, em nome desse passado colectivo. Mas o mais grave é não saber ou não entender que o votante de hoje não é aquele cidadão grato pela independência nacional. O votante de hoje é outro.

 

O votante de hoje é o jovem que, devido à independência, conseguiu estudar e formou-se, quer seja ao nível da Universidade ou no ensino médio, mas vive na rua vendendo crédito das telefonias móveis como a TMcel, Vodacom e outras, vende energia ou roupa de segunda mão ou outras quinquilharias que encontra no mercado e anda quilómetros a pé vendendo isso. Esse é o votante de hoje e é esse que determina quem irá governar hoje e amanhã, por isso, na minha opinião, não vale a pena agarrar-se ao passado libertário para exigir o reconhecimento por alguém que sequer viu o colono em Moçambique.

 

Falar da guerra dos 16 anos é bom para o conhecimento da História, no entanto, não é bastante para convencer um eleitorado que anda pelos 18 a 30 anos, porque, pura e simplesmente, não conheceu essa Guerra. Para muitos, essa guerra é fruto da “Frelimo querer governar sozinha e do Monopartidarismo em Moçambique”, pese embora haja muito que se diga sobre a mesma. No entanto, teria de juntar muita juventude e durante muito tempo para explicar e colher alguma compreensão sobre o assunto, o que não me parece tarefa fácil num sistema como o nosso, pois os outros também têm a sua versão sobre o mesmo assunto.

 

Definitivamente, na minha opinião, a Frelimo deve fazer uma introspecção, deve reflectir profundamente sobre o que não fez para que a sociedade esteja de costas viradas com ela. É importante que pessoas isentas e sem complexos, capazes de ouvir coisas que até podem não gostar, intervenham, de modo a pensar na estratégia para a mudança, uma mudança efectiva da sociedade rumo à prosperidade. Como diz o Slogan da TV Miramar: “o Futuro é agora”. Então, não vale pensar que poderá prometer a uma pessoa com fome a refeição de amanhã. Ela quer hoje, agora, para já! A Frelimo precisa de mudar a qualidade de promessas que faz, as suas promessas devem materializar-se e apresentar provas disso, de contrário, continuará a falar-se mal de uma juventude com carência de tudo e que vê na oposição a solução para os seus problemas.

 

As eleições Autárquicas de 11 de Outubro passaram para a história, mas vêm aí outras eleições para breve e devo recordar que é para o ano. Ora, estamos a dois meses de chegar para esse ano eleitoral e, mais do que chorar sob o leite derramado, a Frelimo deve reflectir, colocar os seus “MADODAS” a pensarem Moçambique e suas gentes e, sobretudo, como sair desta impopularidade em que se encontra. Definitivamente, deixemos de chamar o povo de ingrato!

Adelino Buque

“Hoje, 02 de Outubro de 2023, valerá a pena evocar o colonialismo português para justificar o nosso atraso? Valerá a pena evocar a guerra dos dezasseis anos para justificar o nosso atraso? É que passam 48 anos da independência nacional, em que foram protagonistas a FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique e o Governo Português. Passam igualmente 31 anos do Acordo Geral de Roma entre o Governo de Moçambique e a Renamo. Os votantes que assistiram à independência nacional com 18 a 20 anos, hoje, andam pelos 70 anos. Já os que assistiram à assinatura do Acordo Geral de Paz têm, aproximadamente, 46 a 48 anos de idade, por isso, no debate político rumo às eleições de 11 de Outubro de 2023 e outras que se seguirão, evocar o colonialismo Português ou a guerra dos dezasseis anos é falar para um público inexistente. Diria, em termos mais simples, é um não debate”.


AB

“Infelizmente, grosso dos jovens moçambicanos morrem de amores pela RENAMO, muito embora tenha praticado espancamentos de civis, violações de mulheres, saques de bens privados e públicos, incêndios de aldeias, raptos, mutilações e morto a tiro, com manchetes, baionetas e paus muitos moçambicanos indefesos. Todo este tipo de matanças e maus tratos são relatados no tal Relatório Gersony de 1988 e há ainda hoje milhões de moçambicanos que sofreram na carne tais maus tratos”.

In Gustavo Mavie, artigo com o título: MILHÕES DE MOÇAMBICANOS DE AMBOS OS SEXOS ESTÃO A SER FACILMENTE DOMINADOS PORQUE NÃO CONHECEM A NOSSA HISTÓRIA DAÍ QUE MORREM DE AMORES POR PARTIDOS RUINS.


Hoje, 02 de Outubro de 2023, estamos a nove dias para exercermos o direito de votar e alguns de serem votados nas eleições Autárquicas de 2023, ou seja, ainda temos à nossa disposição sete dias para o debate político, ao que se seguirão dois dias de reflexão e depois a votação. São regras estabelecidas pela Lei eleitoral em vigor que não permite a votação logo a seguir a campanha eleitoral, abrindo espaço para que o cidadão vote em consciência e não na emoção da campanha, nada mau.

O que não deve ser debate político nesta fase!

Li e compreendo o artigo publicado pelo meu amigo e Makague, Gustavo Mavie. Chegou a minha caixa no dia 30 de Setembro de 2023 e li, igualmente, a reacção do Senhor Damião Cumbane a esse texto de Gustavo, em torno do qual aproveito, também, para fazer a reflexão, trazendo aquilo que, na minha opinião, não deveria servir de base para um debate político hoje, no ano de 2023, a saber:

1) O atraso no desenvolvimento nacional atribuído ao Colonialismo Português;

2) O atraso atribuído à Guerra dos 16 anos entre a Renamo e o Governo de Moçambique;

3)    Baixo nível de escolaridade e de saúde atribuído à falta de recursos.

Ora, em 1975, Moçambique ascendia à independência nacional, fruto da Luta de Libertação desencadeada pela Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, que durou 10 anos. Hoje, 2023, passam 48 anos após esta data histórica da nossa libertação dos mármores coloniais. Depois do 25 de Junho de 1975, tudo que se passou de lá a esta parte resultou de opções do Governo de Moçambique, cabendo a esse Governo assumir os sucessos e fracassos desta nova era.

A Renamo, Resistência Nacional Moçambicana, surge logo no período pós-independência nacional e foi criada, segundo reza a história, por um grupo de portugueses que não estavam de acordo com a independência de Moçambique e tiveram como base de suporte moral e logística a África do Sul do Apartheid, donde receberam treinos militares e suporte em armas para destruírem o Governo de Samora Machel. Para os sul-africanos bóeres, estavam a defender-se do perigo “Comunista” que a FRELIMO trazia com a independência nacional. Até aqui, tudo bem.

No entanto, com o tempo e reconhecendo que a Guerra não traria solução para o diferendo entre a Renamo e o Governo de Moçambique, aqui excluo as motivações da Guerra por não representar absolutamente nada de interesse, o Governo de Moçambique procurou a aproximação com a Renamo, mas, antes de tudo, tratou de rever a Constituição da República com dois objectivos essenciais a saber:

a)      Abertura da economia centralizada para a economia do mercado, cujas regras seriam ditadas pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional e;

b)      Abertura para a existência de mais do que um partido, ou seja, abertura para o Multipartidarismo.

Deste modo, para efeitos de implementação da abertura para o mercado livre, o Governo adoptou o PRE – Programa de Reabilitação Económica. Desenhado e implementado por nós moçambicanos, este programa retirou das mãos do Estado toda a base económica e privatizou. Hoje, a maioria da indústria deixada pelos colonos desapareceu, quer por incapacidade de concorrer num mercado cada vez mais exigente, quer porque as políticas do Governo não favoreciam para o crescimento destas indústrias nacionais e na mão de novos donos, diga-se. Grosso modo sem o conhecimento adequado e nem capital que requeriam para se manterem no mercado.

Ora, pode-se trazer vários argumentos, de acordo com a pessoa que argumenta, mas a nossa falência na área da indústria deveu-se às políticas que o Governo concebeu no âmbito do PRE – Programa de Reabilitação Económica e subsequentes. Hoje, o sector privado tem vindo a queixar-se de algumas políticas fiscais que não favorecem o desenvolvimento, políticas de Terra, políticas de investimento bastante penalizadoras, políticas monetárias, com juros a roçarem a agiotagem de entre outras e o nosso Governo não tem feito absolutamente nada para reverter a situação. Amanhã, iremos atribuir a quem a culpa! Vamos aprender a assumir as nossas responsabilidades como nação.

Por outro lado, com a Constituição de 1990, Moçambique abre-se para a emergência de mais partidos políticos, lembrando que a Constituição de 1975 dizia que em Moçambique só poderia existir um e único partido, a Frelimo. Repare que aqui não estou a fazer qualquer que seja a crítica, estou a constatar apenas. Se a decisão era correcta ou não, esse é outro debate em outro Fórum e não cabe nesta reflexão. A abertura para a emergência de mais do que um partido permitiu ao Governo de Moçambique aproximar-se da Renamo e estabelecem um Acordo de Paz, que veio a ser designado Acordo Geral de Paz, assinado em Roma, Itália, entre a Renamo e o Governo de Moçambique, tendo sido protagonistas o Senhor Afonso Macacho Marceta Dhlakama, Presidente da Renamo, e o então Presidente da República, Joaquim Alberto Chissano a 04 de Outubro de 1992.

Em 1994, fruto desse acordo de Paz, realizaram-se as eleições Gerais Multipartidárias, para a eleição do Presidente da República e os Deputados da Assembleia da República, iniciando uma nova fase do Moçambique independente. Com esta nova fase, estavam abertos os caminhos para a reconciliação nacional e o enterrar do “machado de guerra”. Ora, se isso aconteceu ou não, devemos nos questionar a nós próprios e não a terceiros, o processo é dos moçambicanos e devo recordar que o dia 04 de Outubro está consagrado no nosso calendário como o dia da PAZ, exactamente porque marca o fim da guerra dos 16 anos em Moçambique.

Dito isto, evocar a guerra dos 16 anos para justificar seja lá o que for pode constituir uma atitude de má-fé por parte de quem o faz. Não estou ignorando os efeitos que causou na vida económica e social dos moçambicanos, mas porque assumimos que a guerra acabou e tudo quanto tem com ela relação é que, se não fazemos isso, significa que a guerra continua a ser a causa da nova desunião e a reconciliação estará longe do nosso alcance, o que não pode ser verdade. Nós moçambicanos estamos nos reconciliando e o exemplo é o sucesso do DDR – Desmobilização e Desarmamento e Reconciliação.

Posto isto, estamos independentes há 48 anos, assinamos o Acordo Geral de Paz há 31 anos e isso significa que os cidadãos nacionais de hoje, com 50 anos, não conheceram o colonialismo Português, que os cidadãos nacionais com 35 anos não conheceram a Guerra dos 16 anos entre o Governo de Moçambique e a Renamo. Para estes cidadãos, a Renamo, Frelimo, MDM, Pahumo, Partido Trabalhista e outros são partidos que concorrem para a Governação de Moçambique em pé de igualdade, se tem AMORES pela Frelimo, pela Renamo, pelo MDM é apenas uma questão de opção e nada mais…

Adelino Buque

terça-feira, 26 setembro 2023 17:06

Beira: 20 anos depois e sem Daviz! Como será?

“Fico com a percepção de que a Frelimo, através da cabeça-de-lista, Stela Pinto, poderá recuperar a cidade da Beira, 20 anos depois. Recorde que Albano Carige não foi o eleito dos munícipes da Beira em 2018 e o meu amigo Carvalho, cabeça-de-lista da Renamo nestas eleições, há menos de dois anos, era do MDM. Isto, na minha opinião, poderá criar muitos indecisos que preferirão endossar o seu voto à Frelimo, para além de que este partido, pelo seu estado de homogeneidade, manterá o seu tradicional eleitorado. Relativamente a Nampula, tenho sérias dúvidas do sucesso do MDM, pois a Frelimo, os amigos de Amurane e Vahanle me parecem em “pedra e cal”.

 

Em Quelimane, tanto a Frelimo quanto o MDM me parece fazerem pouco para ganharem aquela Autarquia e Manuel de Araújo poderá, na minha opinião, manter-se, tal como se manteve Daviz na Beira. São apenas reflexões e, caso levem a peito e trabalharem sobre os pontos fracos e evidenciar os fortes, naturalmente, a tendência poderá mudar”.

 

AB

 

A campanha eleitoral, rumo às VI eleições autárquicas de 11 de Outubro de 2023, teve início às 0:00 horas de hoje, 26 de Setembro de 2023, um dia depois da comemoração do dia das Forças de Defesa de Moçambique, simbolizando o início da Luta Armada de Libertação de Moçambique. Diria mesmo que, para os partidos políticos, a data veio a calhar, pois, tiveram à disposição os seus quadros para os trabalhos preparatórios.

 

Segundo escreve o Jornal electrónico “Carta de Moçambique”, tudo indica que o epicentro da campanha será a cidade da Beira, Província de Sofala, com os principais líderes políticos a usar aquele palco para a abertura de campanha eleitoral, o que torna a cidade da Beira um espaço privilegiado para a análise política. Se estamos recordados, a cidade da Beira está nas mãos da oposição há, sensivelmente, 20 anos, primeiro com a Renamo através do Edil Daviz Simango que, na altura, derrotou Lourenço Bulha, da Frelimo.

 

No pleito seguinte, voltou a ganhar o candidato Daviz Simango, afastando, pela Frelimo, Jaime Neto, desta vez, pelo Partido MDM, resultante da cisão com o partido Renamo. Recorde-se que nesse ano Daviz Simango derrotou, de forma copiosa, a Renamo, cujo candidato foi o homem das cancelas no Save. Lembram-se dele? Em 2018, Daviz Simango voltou a carimbar mais uma vitória e, pela Frelimo, concorreu Domingas Maita, uma senhora que, em pouco tempo, se popularizou naquela Urbe. Infelizmente, não é concorrente de 2023, pois a Frelimo optou por outra mulher, Stela Pinto Novo, diga-se, bem conhecida na cidade da Beira.

 

Albano Carige, actual Edil da Beira, o é fruto da nova modalidade de eleições, através do cabeça-de-lista, porque o titular, Daviz Simango, perdeu a vida em Fevereiro de 2021, pelo que subiu a pessoa imediatamente a seguir. Contudo, parece-me um candidato a levar a sério, mas não haja dúvida que os motivos que levaram à eleição de Daviz na Beira não cobrem Albano Carige, a saber, Daviz é filho de um líder de primeira fila na Frelimo, Uria Simango, foi negado por Afonso Dhlakama, numa altura em que a sua popularidade era muito alta e, por conseguinte, a Renamo perdeu a cidade da Beira.

 

No caso da Beira, com a devida ressalva, comparo com a saída de Pio Matos de Quelimane que, depois disso, a Frelimo nunca mais ganhou a Cidade e, curiosamente, o actual Edil de Quelimane tanto esteve no MDM como na Renamo, permanecendo, neste momento, na Renamo. É por este partido que governa aquela cidade, mas Beira tem a particularidade de ser considerada a segunda cidade de Moçambique, com um corredor importante para os países do interior que não possuem costa, dois dados interessantes que tornam a Beira epicentro político nas eleições de 11 de Outubro.

 

A Frelimo pode recuperar a cidade da Beira nas VI eleições Autárquicas!

 

O partido Frelimo pode recuperar a cidade da Beira, nas VI eleições Autárquicas e digo os porquês deste raciocínio: Primeiro, é preciso notar que estas eleições se realizam sem o filho querido daquela Urbe, o saudoso Daviz Simango. Albano Carige não é Simango e tão pouco se pode considerar carismático, tanto quanto foi o seu antecessor, por isso é uma oportunidade política para a Frelimo “Assaltar” a Cidade da Beira. Segundo, o candidato do partido Renamo, como cabeça-de-lista, é co-fundador do MDM e eu diria mesmo que é fundador do MDM em termos morais e, por razões não muito claras, abandonou o MDM retornando para a Renamo. Este partido recebe-o e coloca-o como cabeça-de-lista para estas eleições. Ora, isto pode dividir opiniões, do ponto de vista dos munícipes.

 

Esta divisão de opiniões tenderá a colocar a Renamo e o MDM numa posição de partilha de eleitores, em que a Frelimo tenderá a manter o seu eleitorado tradicional, irá captar novos eleitores e beneficiar-se-á dos indecisos entre a Renamo e MDM. Bom, isto não é trigo limpo, pois, a Frelimo vai ter de suar muito para conseguir a vitória, mas é possível e trata-se de uma oportunidade rara que a Frelimo tem para reconquistar aquela cidade.

 

Relativamente à cidade de Nampula, parece-me que os correligionários de Amurane estão a sentir-se cada vez mais órfãos do seu patrono e, nas condições em que a Frelimo realizou as suas internas, com a renúncia do actual Governador de Nampula, Manuel Rodrigues, parece-me difícil para a Frelimo ganhar a cidade. Acredito que o fenómeno Lil Wayne poderá ajudar, mas não o suficiente para lograr vitória, por isso fica-se na dúvida.

 

Já na cidade de Quelimane, desde que a Frelimo optou por outro candidato em detrimento do popular Pio Matos, parece-me impossível a recuperação daquela urbe. Manuel de Araújo é um fenómeno por estudar em termos políticos. Muitos reclamam sua ausência na Cidade, mas, quando aparece publicamente, abafa tudo quanto se disse dele, ou seja, nem o MDM, nem a Frelimo, me parecem com “argumentos” bastantes para convencer o eleitorado Quelimanense de que o actual Edil deve ir descansar. Bem, estas são minhas reflexões, espero, sinceramente, estar equivocado e irei recuperar esta reflexão depois das eleições e proclamação dos resultados eleitorais de 11 de Outubro. Abraço!

 

Adelino Buque

“A ausência do cabeça-de-lista da Frelimo nos debates com outros candidatos pode ser a estratégia que a Frelimo encontrou para não promover candidatos por outros partidos. Só o facto de Razaque Manhique ser o Primeiro Secretário da Frelimo na Cidade de Maputo confere-lhe um capital político que os outros candidatos não possuem e não terão, se calhar, pelo resto da sua militância política, ou seja, estar ao lado de uma pessoa como Manhique consubstancia a promoção de quem o acompanha. Não será este motivo bastante para se recusar a promover candidatos sem qualquer capital político!? Fica a interrogação”.

 

AB

 

Razaque Manhique é, actualmente, Primeiro Secretário do Partido Frelimo, o Partido que governa Moçambique desde 1975, ano da independência nacional, a esta parte e governa, igualmente, a Cidade de Maputo. Segundo escreve o Jornal electrónico “Carta de Moçambique”, Razaque Manhique faltou a dois debates sobre eleições autárquicas de 11 de Outubro de 2023. O primeiro foi a convite da Plataforma Jovens Líderes de Moçambique e o segundo convite foi do Grupo SOICO, um grupo de mídia líder de audiência em Televisão em Moçambique (minha percepção)!

 

Em parágrafo segundo, “Carta de Moçambique” escreve: “segundo seus adversários, a ausência de Razaque Manhique, neste tipo de debate, revela a fraqueza do candidato, pelo que entendem não haver condições para que os eleitores votem em concorrentes que se furtam deste tipo de eventos”. Ora, parece-me demasiada presunção desses candidatos acharem que, pelo facto de não ter participado de dois debates, é motivo bastante para que os eleitores não votem nele.

 

Aliás, esta reflexão é mesmo produto deste parágrafo, parágrafo terceiro. Primeiro, deve-se dizer claramente que o convite não obriga, o convite é diferente da convocatória, em que o convocado deve apresentar-se no local previamente definido, sem o que poderá incorrer em penalizações diversas, dependendo da instituição que o convoca, ou seja, se alguém me convida, deve esperar que eu aceite ou negue o convite, dependendo da minha prévia disposição. Mas não consta, das obrigações dos cabeças-de-lista, qualquer debate televisivo, logo, não podem ser peremptórios em concluir que Razaque Manhique não pode ser votado.

 

Mais ainda, dos cabeças-de-lista que concorrem à Cidade de Maputo, salvo melhor opinião, nenhum deles tem um cargo político próximo ao de Razaque Manhique. Como escrevo acima, ele é Primeiro Secretário do Partido Frelimo para a Cidade de Maputo e cabeça-de-lista para as eleições Autárquicas de 11 de Outubro. Logo, a sua exposição deve merecer abundantes análises e, por via disso, merecer aprovação ou não. Não creio que a ausência de Razaque Manhique seja fruto da sua livre e espontânea vontade, acredito que terá sido aconselhado a não se expor antes do momento consagrado para o efeito e quem assim decide terá, certamente, motivos ponderados.

 

Por outro lado, Razaque Manhique é um cidadão público, sobejamente conhecido pelos Munícipes de Maputo, não somente pelas suas funções de hoje. Devo recordar que, antes de ser o Primeiro Secretário da Frelimo para a Cidade de Maputo, foi membro da Assembleia Municipal e vice-Presidente deste órgão, por isso Razaque Manhique não precisa dessa exposição para se fazer conhecer. Dito de outra forma, Manhique não precisa desses debates para se fazer conhecer, tão pouco divulgar as linhas do seu pensamento, que é, no fundo, o pensamento do Partido Frelimo, Partido pelo qual assume a candidatura.

 

Eu comentei sobre o debate desta semana e, nos meus comentários, não falei da ausência de Razaque Manhique, pura e simplesmente, porque no debate as suas ideias não foram colocadas, exactamente, porque esteve ausente. Ora, não se pode debater ideias que não foram expostas, mas, mais do que isso, existem, não haja dúvidas, candidatos que, por estarem ao lado de Razaque Manhique, podem se sentir honrados e a sua visibilidade aumentar, porque não lhes dar esse prazer!

 

Adelino Buque

Pág. 3 de 9