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terça-feira, 11 junho 2024 11:35

ANC: a queda do libertador!

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“O partido ANC, ao sair de 249 deputados em 2014, para 230 em 2019, não se deu ao trabalho de casa, para fazer uma introspecção sobre o que estava mal e o que estava bem, sobretudo, o que deveria capitalizar para uma mudança do paradigma. Continuou a afundar, cada vez mais o partido para, nas eleições de 2024, cair, de forma estrondosa, para os 40,2% com direito a 159 lugares no Parlamento. O erro do ANC pode ser o erro de muitos partidos libertadores em África. Perderam o princípio de auscultar o povo para tomarem decisões, as lições são várias, é hora de se prevenir”.

 

AB

 

“Em 1960, depois do Massacre de Shaperville (quando forças policiais atacaram pessoas que protestavam contra o apartheid, deixando cerca de 250 vítimas, entre mortos e feridos), o líder sul-africano deixou de lado a premissa de não-violência e começou a defender actos de sabotagem contra o governo.

 

Mandela recebeu treinamento de guerrilha na Argélia, norte da África, e foi um dos fundadores do Umkhonto we Sizwe, braço armado do CNA, segundo a Britannica.

 

No ano de 1963, Mandela foi levado a julgamento sob acusações de sabotagem, traição e conspiração. Acabou sentenciado à prisão perpétua, tendo escapado por pouco da pena de morte.

 

Nelson Mandela ficou 27 anos preso e, nesse período, tornou-se o grande símbolo da luta contra o apartheid, inclusive para a comunidade internacional. Ele foi solto em 1990, quando o sistema de segregação racial estava a deteriorar-se.”

 

In National Geographic, Rubrica: Quem é Mandela

 

O partido ANC da África do Sul é, sem dúvidas, um partido histórico da nossa região, fundado em 1912 em Bloemfontein. Seria ilegalizado no apogeu do regime do Apartheid em Abril de 1960, para, passadas três décadas, mais concretamente a 02 de Fevereiro de 1990, o regime do Apartheid, sob liderança de Frederik de Klerk, suspender as restrições políticas ao ANC e de mais partidos políticos na África do Sul, naquilo que foi considerado um acto heroico e ímpar na história. Lembre que o Apartheid era considerado um crime contra a humanidade.

 

Com o fim das restrições políticas na África do Sul, ensaia-se o fim do regime segregacionista na África do Sul. Na sequência, Nelson Mandela, preso em 1963, seria liberto em 1990, para, três anos depois, em 1994, realizarem-se as eleições multirraciais na África do Sul. Reza a história que a África do Sul sempre realizou eleições, contudo, os pretos não eram eleitores, de tal sorte que, num país de mais de 28 milhões de habitantes, quem votava eram perto de 3 milhões de brancos. Os pretos, mestiços e indianos não votavam.

 

Nas primeiras eleições multirraciais, o partido de Nelson Mandela coligou-se ao partido Comunista e aos Sindicatos, tendo ganho as eleições com a expressiva percentagem de 62,4%, com direito a 252 assentos no parlamento. Mas o ponto mais alto da popularidade do ANC, foi em 2004, quando conseguiu 69,7% com direito a 279 assentos, nas penúltimas eleições, isto é, em 2019, o partido de Nelson Mandela, teve o seu pior desempenho de sempre, com 57,5%, com direito a 230 assentos. Provavelmente, a direcção do partido não levou a sério este mau desempenho e, nas recentes eleições, conseguiu 40,2% com direito a 159 assentos no parlamento, o que torna o partido vulnerável e com pior desempenho de todos os tempos.

 

O dilema do ANC é como governar com este desempenho!

 

Depois do anúncio dos resultados eleitorais, dando vitória ao ANC, contudo, sem maioria que lhe permitisse eleger o Presidente da República e a formação do Governo, o ANC terá iniciado as conversações com alguns partidos, destaque para o ND, cujas conclusões são desconhecidas. Outros partidos também foram contactados, mas parece ter havido diferenças que poderiam comprometer um Governo de coligação. Para tal, o ANC viria com a fórmula do GUN, usada por Nelson Mandela em 1994 e, por aquilo que é público e segundo escreve o Jornal Noticias de 10 de Junho de 2024, edição nº32.260, “oposição sul-africana recebe proposta do ANC com frieza”, o ANC ensaia uma ampla inclusão.

 

A ampla inclusão refere-se a negociar com todos os partidos pequenos, que participaram das eleições na África do Sul, mas o que isso poderá significar? Eis a questão que se coloca, considerando que, caso os três partidos mais votados, ND, MK e EFF, que representam 45,9%, não colaborem, o ANC poderá ter dificuldades acrescidas para governar e, sobretudo, para eleger o Presidente da República. Não será difícil aos três partidos convencerem dois ou mais partidos pequenos a não se aliar ao ANC.

 

Com as coisas como estão, eventualmente, a África do Sul necessite de mais uma ronda eleitoral ou a oposição se organiza para indicar um Presidente, o que é pouco provável. Esperemos para ver. Entretanto, o calendário não joga a favor do adiamento de decisões e, sendo assim, o que nos espera no país dos nossos irmãos? Será o fim do partido histórico que esteve sob liderança de um homem especial, reconhecido e respeitado no mundo! O partido de Nelson Mandela a afundar-se, quem o salva?

 

Adelino Buque

Sir Motors

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