Ainda continua lenta a migração tecnológica dos partidos políticos. Passados 17 dias, após o arranque da campanha eleitoral com vista às VI Eleições Gerais e III das Assembleias Provinciais, pouco tem-se visto o trabalho destes, a nível das redes sociais, para a conquista do eleitorado.
Um breve “passeio” pelas redes sociais efectuado pela “Carta”, com destaque para o Facebook, a maior rede social do mundo, constatamos que os principais partidos políticos do país, nomeadamente Frelimo, Renamo e Movimento Democrático de Moçambique (MDM), assim como os principais candidatos à Presidência da República, Filipe Nyusi, Ossufo Momade e Daviz Simango pouco têm recorrido às redes sociais para “caçar” votos.
A primeira página do Facebook percorrida pela “Carta” é a do Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, e candidato à sua própria sucessão, que tem servido de extensão dos comícios que realiza pelos pontos por onde passa. A página não contém o manifesto do partido e muito menos o resumo das suas ideias para os próximos cinco anos, apenas vídeos dos comícios por si orientados e a sua actualização quase que tem sido diária e, em alguns casos, duas vezes por dia.
Aliás, a referida página tem sido usada também para anunciar actividades políticas de Filipe Nyusi como Presidente da República, suscitando assim dúvidas se a mesma é pessoal, do Presidente do Partido ou da República.
Quem também tem a sua página a ser actualizada de acordo com os comícios que orienta é o Presidente da Renamo e também candidato à Presidência da República, Ossufo Momade. À semelhança de Filipe Nyusi, a página oficial de Ossufo Momade naquela rede social não apresenta as ideias deste para os próximos cinco anos, caso seja eleito, apenas fotografias e vídeos.
Mesmo método de campanha é utilizado pelo candidato do MDM, Daviz Mbepo Simango, que igualmente tem usado a sua página do Facebook para actualizar o seu périplo pelo país que vender as suas ideias para os internautas. Tal como os outros candidatos, Daviz Simango usa a sua página pessoal para partilhar fotografias e vídeos e nada do projecto do seu partido para o quinquénio 2020-2024, caso seja eleito.
Partidos “mais actualizados”, mas sem conteúdo
Entretanto, enquanto os candidatos à Presidência da República pouco dão nas vistas nas redes sociais, os seus partidos actualizam as suas páginas com alguma regularidade, mas também para partilhar fotografias e vídeos dos diferentes comícios que realizam pelo país.
Nas páginas dos três principais partidos políticos do país, destacamos as da Renamo e da Frelimo que, para além de fotografias e vídeos, contêm os links dos seus manifestos eleitorais. A primeira formação política a disponibilizar as linhas-mestres da sua governação, caso seja eleita, foi a Renamo, que partilhou o link no dia 01 de Setembro. A Frelimo viria a partilhar o seu manifesto com os internautas no dia seguinte, 02 de Setembro.
Entretanto, as páginas do MDM não apresentam nenhum manifesto ou resumo deste aos usuários daquela rede social. Os únicos conteúdos partilhados são os vídeos e as fotografias do seu candidato presidencial. Aliás, só a página denominada “MDM-Gabinete de Informação” é que actualiza as incidências da campanha eleitoral do seu candidato, enquanto a oficial (MDM-Movimento Democrático de Moçambique) encontra-se desactualizada desde o dia 06 de Agosto.
Um denominador também quase comum nas três páginas é o facto de quase não publicarem nenhum conteúdo sobre os candidatos a Governadores provinciais. A Renamo e a Frelimo têm publicado, com alguma timidez, enquanto no caso do MDM não há registo de uma fotografia ou vídeo publicado dos seus candidatos, incluindo Luís Boa Vida, candidato a Governador da província da Zambézia.
Assessores a fazer campanha no WhatsApp
Enquanto as páginas oficiais do Facebook encontram-se “mudas”, o WhatsApp, plataforma concebida para o envio de mensagens instantâneas e chamadas de voz para smartphones, mostra-se mais dinâmico, com os Assessores de Imprensa de alguns ministros, directores-gerais e nacionais das empresas e instituições públicas a partilharem diversos vídeos nos seus Estados da campanha de Filipe Nyusi.
Refira-se que a campanha eleitoral decorre até ao próximo dia 12 de Outubro de 2019. Até ao momento, Filipe Nyusi percorreu as províncias de Sofala, Zambézia, Nampula e Cabo Delgado. Por seu turno, Ossufo Momade conquistou o eleitorado das províncias de Maputo e Zambézia, enquanto Daviz Simango já “vendeu” as suas ideias junto dos eleitores das províncias da Zambézia, Nampula, Cabo Delgado e Niassa. (Abílio Maolela)
Rosário Fernandes, o Presidente Cessante do Instituto Nacional de Estatística (INE), escreveu uma carta de despedida aos parceiros de cooperação (que financiam boa parte das actividades do INE) dando conta das peripécias da sua abrupta saída da instituição, na sequência de uma disputa com a Comissão Nacional de Eleições (CNE) sobre o tamanho da população em idade eleitoral na província de Gaza. A carta, datada de 12 de Setembro, é curta e incisiva.
Depois de recordar que pediu a demissão por causa dos “pronunciamentos, na Zambézia, e seguidamente na inauguração das novas instalações Ministério da Economia e Finanças, de Sexa o Presidente República, no rescaldo do Censo Eleitoral de Gaza”, ele faz um alerta:
“Do ponto de vista estritamente jurídico-legal, deverá caber ATÉ DIA 15 SETEMBRO PRÓXIMO, ao Conselho Constitucional, ouvida a PGR, emitir um veredicto, sobre a mediatizada impugnação [do recenseamento eleitoral em Gaza], que significaria manter os Termos STAE/CNE, ou rectificá-los até aos limites do Intervalo de Confiança, gerindo-se, assim, a dispersão do desvio-padrão, e tranquilizando-se, desta forma, as animosidades dos actores políticos contestatários”.
Rosário Fernandes diz que deixa o INE em “boas mãos”, mas enfatiza que “a Missão das Agências de Estatística é norteada por padrões do Sistema Harmonizado do Sistema Estatístico Internacional (Sistema Estatístico das NU e Carta Africana de Estatística), subscrito pelo Governo de Moçambique, e Boa Governação, distanciando-se de pressões alheias aos interesses superiores do Estado”.
Sobre a sua saída do INE, ele nota que foi o mais óbvio: “o afastamento de quem voluntariamente se convenceu não dever vergar diante de tais pressões”. (Carta)
A peça é inspirada no poema de Noémia de Sousa “Moças das docas”. Este poema faz parte da terceira secção intitulada “Munhuana 1951”, do livro Sangue Negro. A perspectiva da criadora desta peça é de levar cada um de nós a uma reflexão sobre as nossas escolhas sexuais e como cada um lida com o estigma de que é objecto e se confrontam com os seus próprios valores morais? Ou serão completamente amorais?
SINOPSE: Moças das Docas é um grito de desespero e de revolta, fatalismos e repulsas, por fim a busca ou um encontro com a esperança. Interpretação: Yuck Miranda e Osvaldo Passirivo
(18 de Setembro, às 18Hrs no Centro Cultural Franco-Moçambicano)
A palestra proferida por António Cabrita. Tal como as concebeu Hans Gumbrecht. De que modo este quadro epistemológico que o ensaísta alemão traçou pode reforçar a dignidade para as culturas que não enveredaram pela hipertrofia intelectual? De Susan Sontag a Gumbrecht: o que defende este novo paradigma.
(18 de Setembro, às 18Hrs no Centro Cultural Brasil-Moçambique)
Apresentado por Mahamba CPA. A peça teatral fala da vida do Joaquim da Silva que nasceu com um talento artístico, desperdiçado por pensar que com as artes não chegaria longe. Ele conseguiu, a custa do nome que ganhara nas artes, ser contabilista em muitas empresas estatais, até parar no Ministério da Saúde, como chefe dos armazéns dos medicamentos. O poder o corrompeu e, não resistindo a tentação das curvas de uma catorzinha, vendeu a flat que ganhou da APIE sem nada dizer a família, que de repente, se viu ao relento. Hoje, despromovido até parar na morgue, por causa de roubo de medicamentos para alimentar o negócio ilícito nos mercadinhos da esquina, Joaquim da Silva é casado com uma mocinha mais nova, com intervalos de perturbações mentais causadas por um passado de violência e abusos sexuais, praticados pelo pai. Da Silva se considera um profissional da morgue. Aos temores da morte que muita gente deve ter, ele responde com uma incessante procura de gozo e prazer pelo trabalho que faz, superando as mais radicais barreiras morais e sociais em volta da morgue.
(17 de Setembro, às 18Hrs na Fundação Fernando Leite Couto)
O Governo, através do Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME), apurou o consórcio Synergy Consulting, Baker Mckenzie, Worley Parsons e HRA Advogados, para prestar assistência técnica na elaboração da estratégia da estruturação legal e financeira do Projecto da Barragem de Mphanda Nkuwa, soube o nosso jornal.
A selecção resultou de um concurso público, lançado em Março do presente ano, pelo MIREME, que obedeceu a procedimentos de “procurement” internacional, tendo transcorrido duas etapas, nomeadamente, a de manifestação de interesse na qual participaram dezoito (18) entidades e a segunda limitada a nove (9) firmas pré-qualificadas.
O nosso jornal soube, por outro lado, que o consórcio ora seleccionado é constituído por firmas com créditos internacionais, especializadas em estruturação financeira, técnica, comercial e legal, com vasta experiência na implementação de projectos de infra-estruturas na área de energia em empreendimentos desenvolvidos na base de “project finance”.
De acordo com os termos de referência do concurso público, a entidade seleccionada irá trabalhar com o Gabinete de Implementação do Projecto Mphanda Nkwua, prestando assessoria de toda a natureza requerida para viabilizar a actualização dos estudos técnicos identificados como críticos e para a selecção do parceiro estratégico, que se deverá juntar às empresas públicas EDM e a HCB no desenvolvimento das infra-estruturas projecto.
A contratação do consultor irá imprimir celeridade no processo de selecção do Parceiro Estratégico para o desenvolvimento do empreendimento.
Mphanda Nkuwa apresenta-se como um projecto estruturante para o país, devendo contribuir para responder ao desafio do aumento da disponibilidade de energia para o desenvolvimento económico e social e para fazer de Moçambique um país de referência no fornecimento ao mercado regional da África Austral.
A implementação deste projecto irá gerar milhares de empregos qualificados e não qualificados, quer directos, quer indirectos e constituirá um forte estímulo para o empresariado nacional industrial, comercial, agrícola e de prestação de serviços.
De recordar que no passado mês de Agosto, o Governo concluiu os acordos de financiamento para o projecto da linha de transporte a 400 kV ligando Temane-Maputo, numa extensão de 560 km, que constitui a primeira fase da construção da espinha dorsal da linha de transporte a ser usada para evacuação da energia a ser gerada em Mphanda Nkuwa.
A materialização de diversos projectos em curso em Moçambique, tanto de geração como de transporte, que incluem centrais hidroeléctricas e termoeléctricas a carvão e linhas de transporte de energia, todos eles de dimensão regional, representa um contributo na consolidação da cooperação regional, bem como no aumento das transacções de energia no contexto do mercado da SAPP. (Carta)
Acções da Guarda Presidencial podem estar por trás da tragédia de Nampula, que matou 10 pessoas e feriu 98, segundo uma investigação do Boletim do CIP, que ouviu pessoas presentes no evento, incluindo jornalistas e agentes policiais. Na quarta-feira, 11 de Setembro, o Presidente Filipe Nyusi, candidato da Frelimo, fez um "showmício" (show de música grátis+comício) no Estádio de Futebol 25 de Junho, de Nampula.
O recinto pode acomodar 5.000 pessoas sentadas, mas muitas outras estavam lá, em pé no campo. Filipe Nyusi havia acabado de sair do estádio quando milhares de pessoas tentaram sair ao mesmo tempo usando o único portão aberto. Algumas caíram e foram pisoteadas até à morte. Curiosamente, nenhuma televisão mostrou o momento do incidente, nem imagens de “smartphones” circulam nas redes sociais, como seria de esperar.
Nampula é uma cidade da oposição, onde a Frelimo venceu pela última vez em 2008. As eleições municipais de 2013 foram vencidas pelo MDM, e uma eleição suplementar em 2017 e as eleições municipais de 2018 foram vencidas pela Renamo. Muitos na plateia eram apoiantes da Frelimo que foram trazidos de longas distâncias para encher o estádio. Milhares de pessoas, incluindo muitas que foram ver o concerto de borla, ficaram presas por longas horas e não puderam sair. Nyusi estava programado para chegar às 15:00 e depois disso ninguém poderia sair. Ele chegou meia hora atrasado. Seu discurso terminou às 17 horas.
Depois que o comboio de carros de luxo de Nyusi saiu pelo portão principal, milhares de pessoas tentaram sair a pé atrás dos carros, mas o portão foi fechado novamente. As pessoas se aglomeravam perto do único portão que estava aberto durante o dia, mas ninguém podia sair.
Assim que Filipe Nyusi e sua comitiva foram embora, a maioria dos presentes mostrava-se impaciente; queriam sair ao mesmo tempo, mas o portão foi fechado novamente. Muitos jornalistas já se tinham retirado em carros da comitiva. Outros, que estavam a pé, não foram autorizados a sair. "Consegui esgueirar-me pelo pequeno portão perto da bilheteria, porque tinha de cumprir prazos", disse um jornalista.
Outros candidatos à Presidência da República são protegidos pela Polícia. Mas Filipe Nyusi, como Presidente em exercício, é protegido pela Guarda Presidencial (Casa Militar da Presidência da República). O site da Presidência explica que "é função da Casa Militar proteger os lugares ocupados, permanente ou provisoriamente, pelo Chefe de Estado, incluindo a regulamentação e controle do acesso às áreas ocupadas pelo Presidente da República" https://www.presidencia.gov.mz/por/Presidencia/A-Casa-Militar
Em Nampula, foram os agentes da Casa Militar, dirigidos pelo Brig. Eugênio Roque, quem estava no comando - não a Polícia - e foi a Casa Militar quem bloqueou os três portões do estádio. A falta inicial de informações sobre a tragédia ocorreu porque a maioria dos jornalistas já havia saído com o Presidente. Quando a notícia se espalhou, eles correram para o Hospital Central, onde foram bloqueados pela Casa Militar. À mão armada, Eufrasio Gilberto, um operador de câmera da HAQ Televisao, foi forçado a entregar sua câmera. Outros foram forçados pela Casa Militar a apagar as fotos que haviam tirado.
Comandante da Polícia de Nampula, Joaquim Sive, não estava no comando
Após o incidente, o ministro do Interior, Basílio Monteiro, nomeou uma comissão de investigação de quatro policiais seniores e suspendeu o Comandante Provincial da Polícia, Joaquim Sive. Mas a segurança no evento não foi controlada pela Polícia, porque havia sido assumida pela Casa Militar, que é especificamente responsável pela segurança presidencial. Como o site da Presidência enfatiza: "O pessoal da Casa Militar provém principalmente das forças armadas e das forças policiais, destacadas. Durante o período de destacamento, o pessoal está totalmente subordinado à Direção da Casa Militar".
A Polícia não foi a responsável pela segurança do “showmício”. Basílio Monteiro actuou, como Ministro do Interior, para suspender o Comandante da Provincial, mas ele também era uma parte interessada no caso. Monteiro estava em Nampula no local do incidente que acompanha Filipe Nyusi na campanha. Ele faz parte da campanha de Nyusi como membro da Brigada Central da Frelimo na província da Zambézia. (JH, CIP)
A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) lançou, semana finda, a XVII Conferência Anual do Sector Privado, denominada CASP, a decorrer em finais Maio do próximo ano.
No acto do lançamento, que contou com a presença do Ministro da Indústria e Comércio (MIC), representantes de missões diplomáticas e diversos empresários, o Presidente da CTA, Agostinho Vuma, disse que a XVII CASP 2020, a decorrer sob lema “Criando um ambiente de negócios para a diversificação da economia”, compreenderá três principais componentes, nomeadamente, o Diálogo Público-Privado, o Mozambique Business and Investment Summit e a Expo CASP.
Vuma explicou que a componente do Diálogo Público-Privado (DPP), que tem o seu ponto fulcral nas reformas, como já é tradicional, irá centrar-se na identificação das prioridades e necessidades de reformas do ambiente de negócios, para a facilitação e atracção de investimentos em todos os sectores, com especial atenção para o Petróleo, Gás, Energia, agricultura, turismo, transporte, infra-estruturas e serviços afins.
“A segunda componente, o Mozambique Business and Investment Summit, um esforço conjunto de grandes instituições financeiras de desenvolvimento, patrocinadores de projectos concretos e outros investidores interessados em acelerar a prosperidade de Moçambique, será (…) uma oportunidade em que cada um dos actores usará ferramentas à sua disposição para reduzir o risco de investimentos em escala e acompanhar a entrega das transacções”, afirmou Vuma.
Em termos de projectos de investimentos, a CTA espera ainda, no Mozambique Business and Investment Summit, a participação de mais de 20 Instituições Financeiras de Desenvolvimento, com as quais serão discutidos projectos que ascenderão a um bilião de USD em valor dos negócios.
A terceira componente da XVII CASP será a EXPO CASP, uma feira onde empresas de diversos sectores e instituições provedoras de serviços públicos terão a oportunidade de expor as suas potencialidades, marcas e produtos, bem como instituições provedoras de serviços públicos.
Na EXPO CASP “esperamos que as secções comerciais das Embaixadas façam bom uso deste espaço, apresentando um show case dos mercados nos seus respectivos países, quer para exportar, bem como o interesse existente da parte das suas empresas em exportar para Moçambique e as respectivas facilidades”, acrescentou Vuma.
A acontecer numa era de grandes investimentos que irão catapultar o crescimento económico do país, com destaque para o sector de Petróleo e Gás Natural, o Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa, instou as empresas a apostar na certificação para que efectivamente possam tirar proveito das oportunidades de negócios geradas pelas multinacionais.
“A certificação não pode ser vista como uma mania das multinacionais, mas sim como requisito imprescindível para a prestação de serviços a esta indústria muito exigente”, afirmou De Sousa, tendo, a par disso, depois lembrado o lançamento pela CTA, ainda na semana finda, do Programa Nacional de Certificação de Empresas (Pronacer).
Da XVII CASP 2020, em que a CTA prevê acolher cerca de 2000 participantes que de diferentes pontos do país e do mundo, o Ministro espera aprofundar a análise do DPP para a materialização de reformas legais e administrativas com vista à melhoria do ambiente de negócios no país. (Evaristo Chilingue)
Luísa Patrício, 23 anos, moçambicana a viver há quatro na África do Sul, quase morreu atacada por alguém que pensava ser de um "povo irmão".
"Eles atearam fogo em casa da minha vizinha e aí eu percebi. Algumas pessoas aconselharam-nos a fugir" e assim foi. No dia 01 de setembro, Luísa e a irmã refugiaram-se na esquadra mais próxima, em Mbombela (cidade também conhecida por Nelspruit), a 200 quilómetros de Maputo.
"A minha irmã e eu fugimos e levei comigo apenas o telefone. Perdi tudo. Eles queimaram tudo", conta a jovem. Ela e a irmã fazem parte do primeiro grupo de moçambicanos que voluntariamente regressaram ao país natal, com o apoio do Estado.
A Lusa encontrou-as num ponto de acolhimento em Moamba, junto à estrada que liga Maputo à fronteira de Ressano Garcia onde desde quinta-feira estão a ser recebidos os emigrantes que fogem à violência na África do Sul, antes de serem encaminhados para as suas localidades de destino.
O medo transparece em toda a descrição dos últimos dias. "Eles não estão a queimar apenas as nossas coisas e as nossas casas, estão a queimar as pessoas também. Se eles te encontram a voltar do serviço, eles queimam-te. Eles dizem que nós estamos a tirar-lhes o trabalho", acrescentou.
Luísa e a irmã emigraram ilegalmente para a África do Sul como muitos moçambicanos que tentam fugir da pobreza.
Já trabalhou como cabeleira e como vendedora informal de comida nas ruas de Mbombela e diz que agora passou por um pesadelo.
Pedro Júnior, 33 anos, moçambicano proveniente de Maputo, estava há oito meses a trabalhar como serralheiro na África do Sul e também está entre os que decidiram voltar ao país de origem.
"Acordei no dia 03 para ir trabalhar e nem cheguei ao serviço porque eles perseguiram-me. Então, tive de correr", narra o jovem moçambicano, emigrante ilegal na região de Guateng. Quando percebeu que a sua vida estava em perigo, também correu até à esquadra mais próxima.
"Desde dia 02 estivemos todos na esquadra", observou Pedro Júnior, apontando para outros em redor.
E queixa-se de que a polícia sul-africana está a lidar com o problema de ânimo leve.
"O que mais me irritou foi o facto de a polícia não conseguir reagir. Eles deixam as pessoas fazer estragos. Não somos irmãos?" - questionou o jovem moçambicano, cuja casa foi incendiada.
"Voltar para a África do Sul, nunca mais. A ideia agora é tentar lutar aqui", garante Luísa Patrício. O primeiro grupo de moçambicanos repatriados chegou a Moamba na noite de quinta-feira. São cerca de 138 pessoas que estão a ser assistidas num centro de trânsito e que nas próximas 72 horas deverão ser levados às suas terras de origem.
Desde 01 de setembro, pelo menos 12 pessoas morreram, vítimas de ataques xenófobos na África do Sul, entre as quais um estrangeiro cuja nacionalidade não foi revelada. De acordo com dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros moçambicano, mais de 400 moçambicanos manifestaram interesse em regressar ao país natal desde os primeiros episódios de violência. (Lusa)
Seis meses depois da passagem do ciclone Idai e cinco meses após o ciclone Kenneth, perto de 1 milhão de pessoas, entre adultos e crianças menores de cinco anos afectadas por estas calamidades naturais, enfrentam uma crise nutricional, devido à escassez de alimentos.
De acordo com as projecções do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), a situação poderá piorar nos próximos meses, podendo afectar 200.000 crianças com idades abaixo de cinco anos, em zonas afectadas pelas calamidades naturais até Fevereiro de 2020, sendo que 30.000 crianças podem ficar extremamente desnutridas e em risco de morte durante este período.
Segundo a organização, a situação deve-se à devastação, em Março e Abril último, de quase 780.000 hectares (7.800 quilómetros quadrados) de culturas agrícolas. A Representante da UNICEF, em Moçambique, Marcoluigi Corsi, citada no comunicado de imprensa, divulgado no site da organização, aponta que a devastação agrícola causada pelos ciclones só veio piorar os níveis de desnutrição infantil.
“É urgente e necessários mais recursos para apoiar os esforços humanitários que estão a ser levados a cabo pelas organizações”, salientou.
Segundo a organização, o nosso país notificou, pela primeira vez, casos de pelagra, uma doença ligada à deficiência da vitamina B3, que resulta da diversidade alimentar limitada e, neste momento, foram reportados mais de 600 casos, sendo que também é esperado o aumento de casos de malária e doenças diarreicas, durante a próxima época chuvosa.
Por sua vez, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), referenciada no comunicado, indica que o preço do milho aumentou e permanece mais alto em comparação com os preços do mesmo período do ano passado, nas províncias de Manica e Nampula e, face a esta situação, há evidências que indicam que várias famílias estão empurrando seus filhos para trabalho infantil e casamentos prematuros.
A título de exemplo, as missões de monitoria levadas a cabo recentemente pela UNICEF apontam que os casos de meninas casadas caiu abaixo da média pré-emergência de 13 a 14 anos.
Para implementar seus programas para mulheres e crianças, a UNICEF Moçambique necessita de 102.6 milhões de USD até Maio de 2020 e até agora apenas conseguiu angariar 34.1 milhões, o que deixa um défice de financiamento de 68.5 milhões, correspondente a 67 por cento. (Marta Afonso)