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Política

quinta-feira, 09 abril 2020 04:43

Covid-19: Já contamos com 17 casos confirmados

Quando a sociedade “comemorava” a estagnação do número de infectados, desde a última quarta-feira, o Ministério da Saúde (MISAU) veio, ontem, estragar a “festa”, com o anúncio de mais sete casos positivos de infecção com o novo coronavírus, subindo, desta forma, para 17 o número total de casos confirmados, no território nacional.

 

“Diagnosticamos, nas últimas 24 horas, sete casos novos de coronavírus no país, sendo um caso importado, registado aqui na cidade de Maputo, de alguém do sexo masculino que regressou recentemente de Portugal e seis casos relacionados com a investigação de Afungi [distrito de Palma], na província de Cabo Delgado, dos quais cinco se encontram nas instalações da Total, em Afungi, e um foi detectado na cidade de Maputo, sendo que já são nove de transmissão local e oito importados”, anunciou Rosa Marlene, Directora Nacional de Saúde Pública, durante a conferência de imprensa desta quarta-feira.

 

“Os 63 contactos do caso de Afungi estão todos em quarentena e 32, que se encontravam em Cabo Delgado, já foram submetidos ao teste de coronavírus e 27 revelaram-se negativos e cinco positivos [o sexto caso foi registado na cidade de Maputo]. Do total dos contactos, 35 encontram-se no Acampamento da Total, em Cabo Delgado, e 17 encontram-se distribuídos nas cidades de Nampula, Maputo e Pemba e 14 destes contactos encontram-se também fora do país, concretamente, em cinco países, como África do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e nos Estados Unidos da América e, relativamente a estes, o sector da saúde está em contacto com a Organização Mundial da Saúde para os devidos procedimentos”, detalhou o Director do Instituto Nacional de Saúde (INS), Ilesh Jane, encarregue por pormenorizar os resultados da investigação feita na província de Cabo Delgado.

 

Na sua breve intervenção, o Director do INS garantiu que as autoridades da saúde já iniciaram a investigação dos contactos dos seis novos casos de infecção pela Covid-19, pelo que nos próximos dias poderão iniciar a sua testagem.

 

Assim, dos 17 casos já confirmados de Covid-19, nove resultam da transmissão local, o que revela a facilidade com que a doença se propagou no país, desde o anúncio do primeiro caso, a 22 de Março último.

 

Questionado sobre a realização de testes de coronavírus em pacientes com pneumonia, Jane respondeu: “Já estamos a fazer esta vigilância em doentes com doença respiratória grave há duas semanas e estamos a usar hospitais que servem de ‘postos-sentinela’ para fazer a testagem. Em todo o país, já testamos mais de 40 pacientes e todos se revelaram negativos à Covid-19”.

 

Referir que, de terça para quarta-feira, o INS testou 43 casos suspeitos, sendo que 36 deram negativos. Ao todo, 467 pessoas já foram submetidas ao teste de Covid-19, a nível do Instituto Nacional de Saúde. (Marta Afonso)

A petrolífera norte-americana ExxonMobil anunciou oficialmente o adiamento, sem prazo, da decisão final de investimento para o seu megaprojeto de gás natural na Área 4 no Norte de Moçambique, onde a portuguesa Galp é parceira.

 

O adiamento deve-se a um corte em 2020 nas despesas de capital em 30% e nas despesas operacionais em 15% devido à queda dos preços do petróleo e derivados, provocada pelo excesso de oferta e baixa procura com a pandemia de covid-19. 

 

"Uma decisão final de investimento para o projeto de gás natural liquefeito (GNL) da bacia do Rovuma em Moçambique, prevista para o final deste ano, foi adiada", lê-se em comunicado acerca do empreendimento avaliado entre 20 a 25 mil milhões de dólares, um dos maiores previstos para África.

 

É um valor semelhante ao do megaprojeto da Área 1 da petrolífera francesa Total - que já disse continuar a avançar como previsto - sobre os quais recaem as esperanças de Moçambique de dar fôlego à sua economia.

 

A ExxonMobil refere que "continua a trabalhar ativamente com os seus parceiros e o Governo para otimizar os planos de desenvolvimento, melhorando as sinergias e explorando oportunidades relacionadas com o atual ambiente de custos mais baixos". 

 

Ainda dentro da Área 4, o desenvolvimento da plataforma flutuante Coral Sul prossegue como previsto, acrescenta, com o navio em construção na Coreia do Sul e início de exploração marcado para 2022.

 

A plataforma em mar alto vai fornecer 3,4 milhões de toneladas por ano (mtpa) de gás liquefeito.

 

A extração em mar e processamento em terra (pensínsula de Afungi) das jazidas Mamba, cuja decisão de investimento fica agora adiada, deverá fornecer 4,5 vezes mais, ou seja, 15 mtpa.

 

A Área 4 é operada pela Mozambique Rovuma Venture (MRV), uma 'joint venture' em co-propriedade da ExxonMobil, Eni e CNPC (China), que detém 70 por cento de interesse participativo no contrato de concessão. 

 

A Galp, KOGAS (Coreia do Sul) e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (Moçambique) detém cada uma participações de 10%.

 

A ExxonMobil vai liderar a construção e operação das unidades de produção de gás natural liquefeito e infraestruturas relacionadas em nome da MRV, e a Eni vai liderar a construção e operação das infraestruturas upstream (a montante).

 

"Os fundamentos a longo prazo que sustentam os planos de negócios da empresa não mudaram: a população e a procura de energia irão crescer e a economia irá recuperar. As nossas prioridades de alocação de capital também se mantêm inalteradas", conclui Darren Woods, CEO e presidente da ExxonMobil no comunicado de ontem.(Lusa)

Fernando Bemane E César Carvalho

César de Carvalho, o famigerado Presidente do Conselho Autárquico da Cidade de Tete, reeleito em 2018 – após 10 anos à frente daquela edilidade aos quais se seguiu um interregno de um mandato – volta a estar nas bocas do mundo. E, tal “como era no princípio, agora e sempre”, pelos piores motivos.


Facto é que, informações em poder da “Carta” dão conta que o edil, a exemplo do que aconteceu noutros tempos, apoderou-se de um terreno reservado à construção do Complexo Desportivo Municipal de Tete, no bairro Matundo, parcelou-o em dois, (auto) “atribuiu-se” uma das partes, e deu de presente a outra ao seu camarada Fernando Bemane, Primeiro Secretário Provincial do Partido Frelimo.

Trata-se de uma reserva do Estado, que há mais de 10 anos tem o aval, e toda a documentação já tramitada junto do Governo Provincial (através da Direcção Provincial da Juventude e Desportos), para a construção de um Estádio Municipal e de outras infra-estruturas adjacentes.

 

Mais: o próprio governo central, não só tem conhecimento da existência do projecto, como também se envolveu, através do Fundo de Promoção Desportiva, na angariação de fundos para que o sonho da construção desse Complexo Desportivo Municipal se tornasse uma realidade.

Aliás, o lançamento da primeira pedra para a edificação do referido Complexo Desportivo aconteceu em Janeiro do ano passado, tendo sido devidamente reportado pelos diversos órgãos de comunicação social. As obras chegaram mesmo a ter início, mas a verdade é que, contra todas as expectativas, assim que César de Carvalho tomou posse como edil mandou parar tudo, sem dar explicações a quem quer que fosse.

Na altura, munícipes de Tete não perceberam lá muito bem o que se estaria a passar, porém, hoje, volvido um ano, tudo parece fazer sentido: as intenções obscuras do edil passavam por abocanhar o espaço, ficar com parte dele, e atribuir a outra parte ao seu camarada Fernando Bemane – o qual, por sinal, já iniciou com as suas próprias obras.

 

Ao que tudo indica trata-se de (mais um) “pagamento de favores”, pelo facto de Bemane, no cargo que ocupa a nível do partido, ter sido a pedra angular para que De Carvalho voltasse a merecer a confiança dos camaradas, a ponto de voltar a ser eleito, depois de um interregno de um mandato, e uma série de tentativas frustradas de voltar à ribalta política.

Em boa verdade, César de Carvalho é sobejamente conhecido como “o homem dos envelopes”, ou seja, alguém que não olha a meios para atingir os seus fins, quando se trata de ascender a cargos públicos/políticos.

 

Ele possui um longo historial que aponta para esse sentido, sendo que nos dois (primeiros) mandatos em que esteve à frente da autarquia (2003/13), foi acusado de um sem fim de falcatruas, esbanjamento do erário público e toda a gama de más práticas, que acabaram chamuscando não só a sua imagem, mas sobretudo a da Frelimo.


Um “currículo” nada abonatório

 

Segundo se sabe, ao longo dos 10 anos em que foi Presidente do Conselho Autárquico de Tete, César de Carvalho fez sempre de saco azul os cofres da edilidade, comprando simpatias dentro do partido Frelimo e dos munícipes, com recurso ao erário público.

 

Como corolário do seu percurso sinuoso em dez anos da chancelaria no Município, De Carvalho acabou, entre outras coisas, enfrentando algumas vezes a barra dos tribunais, sendo que a mais mediática aconteceu quando o Gabinete Central de Combate à Corrupção, através do processo 12/GCCC/2013, o acusou dos crimes de “abuso de cargo e de falsas declarações”, por se ter (auto) atribuído dois terrenos, através de despachos por si assinados, além de ter usado os seus subordinados Arnaldo Morais Charimba, Luísa Gandar e Isaías Sardinha, então vereadores, para despachar a seu favor um total de 12 talhões, localizados nos bairros Samora Machel, Chingodzi, Matundo, Francisco Manyanga e Josina Machel.

 

Na mesma acusação, o Ministério Público, referia: «por exemplo, no dia 27 de Janeiro de 2007, o arguido César de Carvalho requereu a si próprio uma ocupação de terra e, no dia seguinte, a 28 de Janeiro, ele próprio deferiu o seu pedido, atribuindo-se DUAT sobre uma área de 5280m², no bairro Chingodzi, para fins de habitação».

 

O processo em questão nunca conheceu grandes avanços: o Tribunal Judicial da Cidade de Tete julgou o caso e César de Carvalho foi absolvido. Aliás, para a opinião pública, o mesmo serviu apenas de “ameaça” para o impedir de avançar como independente, caso fosse chumbada a sua candidatura nas eleições internas do partido – o que viria de facto a acontecer.

 

Outro caso que também se tornou célebre foi o da disputa de terras envolvendo a família William Nabat, sendo que César de Carvalho foi acusado de tentar usurpar um espaço localizado no bairro Josina Machel, onde a referida família vivia havia mais de 60 anos.

E o rol de “makas” envolvendo César de Carvalho prossegue: algum tempo depois de ter deixado a presidência da edilidade, 325 funcionários municipais foram expulsos, sob a acusação de que estavam a trabalhar ilegalmente no Município de Tete.
Ou seja, no acto da contratação dos visados, não foram obedecidos os requisitos e métodos preconizados para o ingresso na Função Pública – o Município fechou os olhos à lei e avançou com a contratação desses cidadãos.

 

E afinal veio a constatar-se que a maioria desses funcionários eram nada mais e nada menos que membros do partido Frelimo, que obtiveram o emprego como “gratificação” pelo seu empenho e activismo político durante a campanha eleitoral para as eleições autárquicas que culminaram com a vitória da Frelimo e do seu candidato… César de Carvalho!

 

Os revezes…

 

Depois de tanta “poeira”, durante os primeiros 10 anos em que esteve à frente do Município de Tete, é óbvio que De Carvalho não granjeou grandes simpatias mesmo a nível do seu próprio partido.
Ainda assim, o “mayor” tentou encetar algumas tentativas (inglórias) de se manter na ribalta.

Em 2013, com o seu segundo mandato prestes a atingir o epílogo, César de Carvalho ainda tentou estabelecer-se no cargo, através da distribuição de favores aos bairros e a figuras influentes da Frelimo. Essa foi a forma que encontrou para se recompor nas eleições internas, porém, a Comissão Política do seu partido excluiu-o da lista de pré-candidatos, impedindo-o assim de chegar a votos.

 

No ano seguinte, para as eleições legislativas, César de Carvalho voltou a tentar uma nova “chance” de voltar à vida política: falhou redondamente ao posicionar-se no 13.º lugar na lista do seu partido que, entretanto, conseguiu eleger apenas 11 Deputados.

 

Mas mesmo assim – e como quem corre por gosto não cansa – não se coibiu de voltar à carga, em 2015: depois do então Primeiro Secretário Provincial da Frelimo, Xavier Sacambwera, ter sido nomeado Director Nacional de Florestas, César de Carvalho candidatou-se à sua substituição.
Debalde: a mesma Comissão Política que o havia excluído “na secretaria”, aquando das internas para o cargo de edil, voltou a preteri-lo, em favor de Fernando Bemane de Sousa – o mesmo que, curiosamente, agora se tornou no seu “amigo do peito” nesta questão do espaço municipal usurpado.

… E as “voltas por cima”

 

Não obstante os supramencionados revezes, e mesmo com toda a contestação interna de círculos críticos e da opinião pública tetense, De Carvalho conseguiu sempre eleger-se a membro de todos os órgãos da Frelimo: membro do Comité da Frelimo na Cidade, membro do Comité Provincial da Frelimo e membro do Comité Central da Frelimo.

 

Em 2016, contra todas as expectativas, foi indicado para o cargo de Director Regional Centro do Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG), com sede na Beira, num “acto promocional” tido (na altura) como visando afastá-lo dos circuitos internos de poderes dentro da Frelimo, a nível da Província de Tete.
Tal nomeação não deixou de ser sobejamente contestada, não só a nível interno (do seu próprio partido), mas sobretudo por quadros do FIPAG, os quais consideravam que a empresa tinha gente com competência técnica mais do que suficiente para poder dirigir a região centro do FIPAG, não havendo, vai daí, necessidade de se recorrer a um “político com percurso duvidoso”.

Mal sabiam os contestatários que César de Carvalho voltaria “com tudo”, dois anos depois, ao candidatar-se e ser novamente eleito edil de Tete, para um terceiro mandato.

 

Mandato que, até agora, parecia estar a decorrer na “santa paz do Senhor”, até emergirem as informações supracitadas, dando conta de que abocanhou um terreno predestinado à construção do Complexo Desportivo Municipal, retalhou-o, ficou com uma parte, e “agraciou” ao Primeiro Secretário Provincial da Frelimo com a outra… (Carta)

A Covid-19, como é conhecida a doença causada pelo novo coronavírus, continua a alterar, em todo o mundo, o funcionamento normal da sociedade, com maior destaque para as empresas e entidades governamentais, que optaram pelo teletrabalho, como forma de evitar a propagação da pandemia. Depois de alguns Estados (sobretudo europeus) terem adoptado algumas medidas para fazer face à Covid-19, como a implementação de reuniões virtuais, agora é a República de Moçambique a seguir os mesmos passos, porém, num estilo diferente dos outros países.

 

Por exemplo, no país, as reuniões do Governo e da Assembleia da República continuam a realizar-se no mesmo espaço físico, no entanto, observando o distanciamento recomendado pelas autoridades da saúde. Ainda são desconhecidas as razões para a não introdução de reuniões virtuais, tanto no Conselho de Ministros, assim como na Assembleia da República, tendo em conta as medidas decretadas pelo próprio Governo face à propagação da doença.

 

Porém, apesar de ainda não se ter introduzido as reuniões virtuais, o facto é que a Covid-19 já mudou a ordem político-administrativa nacional, com a introdução de algumas medidas a nível dos órgãos de soberania para conter os efeitos da doença, que já infectou 10 pessoas no território nacional e mais de 1.3 milhão em todo o mundo.

 

O primeiro órgão a ver mudar a sua vida, devido à Covid-19, é a Assembleia da República, que se viu obrigada a mudar do local da realização das suas sessões plenárias para uma das salas do Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, como forma de garantir o espaçamento recomendado (mínimo de 1 metro) entre os deputados. Ainda não são conhecidas as implicações financeiras desta medida, mas o órgão defende que a medida visa proteger a saúde de todos os intervenientes (deputados, membros do governo e secretariado da Assembleia da República).

 

Lembre-se que a Assembleia da República está reunida desde 25 de Março último, na sua primeira Sessão Ordinária, nesta IX Legislatura, tendo já discutido e aprovado o Programa Quinquenal do Governo 2020-2024; a Lei da Amnistia e do Perdão de Penas, proposta pelo Presidente da República, como uma das medidas para evitar a propagação da doença nas cadeias; e o Programa de Actividades do órgão para 2020 e o respectivo Orçamento. O Parlamento também já ratificou o Decreto Presidencial que decreta o Estado de Emergência, assim como já elegeu os membros do Conselho de Estado e do Conselho Nacional da Defesa e Segurança. Ainda faltam discutir, entre outras matérias, o Plano Económico e Social para 2020 e o respectivo Orçamento de Estado; e o Informe Anual da Procuradora-Geral da República.

 

Entretanto, se a Assembleia da República decidiu mudar de local das sessões, o Chefe de Estado prefere manter-se confinado no seu Gabinete de Trabalho, de onde, algumas vezes, vai-se comunicando com o país. Por exemplo, nesta terça-feira, Filipe Nyusi não se dirigiu à Praça dos Heróis Moçambicanos para dirigir a habitual cerimónia de deposição de coroa de flores, pela passagem do dia 07 de Abril, o Dia da Mulher moçambicana.

 

A partir do Gabinete da Presidência da República, Nyusi dirigiu-se ao país, tendo reconhecido o papel da mulher na luta pela emancipação, igualdade e bem-estar dos moçambicanos. Defendeu que, com a contribuição da mulher, o país registou avanços inquestionáveis na promoção dos direitos humanos, na melhoria do acesso à saúde, educação, emprego, produção da riqueza e gestão responsável dos recursos.

 

Refira-se que há mais de 30 dias que Filipe Jacinto Nyusi não é visto fora da Presidência da República. A última vez que o Chefe de Estado foi visto fora dos edifícios da Presidência da República e do Palácio da Ponta Vermelha foi a 05 de Março, quando dirigiu a XV Cerimónia de Graduação na Academia de Ciências Policiais, no bairro Intaka, no Município da Matola, província de Maputo.

 

Assim, a cerimónia de deposição de coroa de flores, alusiva ao Dia da Mulher Moçambicana, foi dirigida pela Ministra do Género, Criança e Acção Social, Nyeleti Mondlane, acompanhada pela Secretária de Estado da Cidade de Maputo e alguns membros do Governo.

 

A Presidência da República não emitiu nenhuma nota oficial em relação a este facto, mas sabe-se que a decisão visava evitar a presença massiva de pessoas naquele local. O facto é que, tratando-se de uma cerimónia de Estado, a Praça dos Heróis Moçambicanos contaria com a presença dos titulares dos órgãos de soberania, dos membros do Governo, antigos Chefes de Estado e um número não quantificado de agentes de segurança, que, regra geral, inundam aquelas cerimónias.

 

A nova rotina de trabalho, criada pela Covid-19, alarga-se também aos Tribunais, que também deverão adoptar a modalidade de rotação de funcionários, que não exercem cargos de direcção e chefia; suspender reuniões presenciais, a menos que sejam inadiáveis; reduzir para 1/3, o número de passageiros nos automóveis de serviço; assim como realizar sessões de julgamento sem a "plateia". Isto significa que estarão na sala da audiência o juiz, os juízes eleitos, o representante do Ministério Público, os réus e seus assistentes, oficiais de Justiça, testemunhas, declarantes ou outros intervenientes processuais imprescindíveis.

 

O Tribunal Supremo decidiu também que os Tribunais Judiciais não podiam marcar julgamentos de vários processos para a mesma hora, assim como para a não entrada simultânea de partes processuais para as salas de audiência para julgamentos marcados para momentos diferentes. Ainda não há clareza sobre a presença ou não de jornalistas nos casos mais mediáticos.

 

Esta é a nova rotina adoptada pelo país, face às medidas decretadas pelo Governo para conter a propagação do novo coronavírus. O país observa, hoje, o seu oitavo dia de Estado de Emergência, entretanto, no terreno, parece ainda estarmos a viver os dias normais das nossas vidas, pois, os cidadãos, incluindo os agentes de Lei e Ordem, continuam a ignorar as medidas anunciadas pelo Governo. (Abílio Maolela)

Entre os dias 04 e 05 de Outubro de 2017, o distrito de Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado, vivenciava um ataque por homens desconhecidos que, durante meses, as autoridades governamentais procuraram banalizar. O facto é que, dias depois, os distritos da zona norte e centro da província começaram a acompanhar episódios de decapitações, saque de bens, sequestros de crianças e mulheres, incêndio de palhotas e destruição de propriedades diversas.

 

De Outubro de 2017 a esta parte, passam dois anos e seis meses, que as autoridades governamentais não dão uma explicação do que está a acontecer em Cabo Delgado. E, enquanto o Governo vai-se mantendo no silêncio, o grupo vai demonstrando, cada vez mais, a sua musculatura, lançando ofensivas nas sedes distritais.

 

Nos últimos dias 06 e 07 de Abril, os homens “sem rosto” voltaram a ocupar os distritos de Mocímboa da Praia, Muidumbe (nas aldeias de Miangalewa, Namakande, Ntchinga e Muatide), Quissanga (em Bilibiza) e aos arredores de Mueda.

 

Conforme garantiram populares da aldeia de Ntchinga, no distrito de Muidumbe, próximo ao distrito de Mueda, os insurgentes, como são tratados, orientaram uma reunião com a população local, na qual dirigiram-se a esta na língua local kimuani (com um sotaque de Mocímboa da Praia) e que ficou registada através de um vídeo de 2 minutos e 50 segundos que, posteriormente, foi posto a circular nas redes sociais.

 

“Carta” traduziu o que o suposto porta-voz dos “homens sem rosto” diz: “Nós ocupamos para mostrar que o governo do dia é injusto. Humilha os pobres e dá vantagem aos chefes. Quem fica detido são os da classe baixa, então isso não é justiça. As pessoas queiram ou não, estamos a defender o Islão. Pretendemos um governo islâmico, não governo de descrentes. Nós somos filhos daqui e essas caras não são novas. Nós, lá no mato, somos tantos. Nós queremos tirar os militares, para nós eles são porcos. Eles e vocês se juntavam, desejando que nós fôssemos mortos, pois não! Allahu Akbar (Deus é grande)”.

 

Acrescentando, o indivíduo diz: “este governo islâmico é de paz. O governo que vocês têm não é justo, são coisas de pessoas e não estão no Alcorão. Estamos a sair aqui na aldeia, não destruímos nada. Se tem algo destruído não é da nossa conta. É do vosso governo injusto. Nós temos tido todas as informações e os planos que os militares, os porcos, preparam contra nós”. 

 

De acordo com relatos populares colhidos pela nossa reportagem, no Posto Administrativo de Miangalewa, “os homens sem rosto” ficaram durante todo o dia de ontem, 07 de Abril, uma vez que os agentes das Forças de Defesa e Segurança (FDS), alegadamente, colocaram-se em fuga. Conforme contam as fontes, pouco mais de 300 militares retiraram-se do local, deixando a população à sua sorte e os invasores, sem respostas, iam cantando em língua local: “ninguém nos pode parar, ninguém nos vai derrotar”.

 

As fontes (civis) garantem que, durante os dois dias, os insurgentes não fizeram nenhum saque, porém, fontes militares afirmam que saquearam bens da população. Conforme contam, no confronto houve seis mortos e um motorista foi ferido. Na ocasião, foram queimados o estaleiro da empresa contratada para construir a ponte, o acampamento dos militares e o estaleiro da empresa de segurança Arkhê.

 

Já Bilibiza, no distrito de Quissanga, de acordo com fontes populares, foi ocupada na segunda-feira, 06, e na ocasião realizou-se uma reunião com a população, que foi informada para passar a seguir as práticas islâmicas e que as pessoas não podiam ter medo.

 

Nesta terça-feira, 07, foram levados 40 jovens para supostamente irem ao posto de Mahate levar arroz para a população se alimentar. Refira-se que, durante a reunião, os “homens sem rosto” disseram que “a luta deles era contra os militares e outras personalidades ligadas ao Estado”.

 

No ataque acima descrito foram queimados o hospital de Muatide, a Escola Secundária de Luanda e outras infra-estruturas públicas e privadas.

 

A situação de insegurança que se vive nos distritos de Mocímboa da Praia, Quissanga, Muidumbe, Palma, Nangade, Macomia, Meluco, Mueda e Ibo levantou rumores de um possível ataque na Cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, levando as autoridades a decretarem um recolher obrigatório para todos e a patrulha passou a ser exercida a pente fino.

 

No entanto, Augusto Guta, porta-voz do Comando da Polícia da República de Moçambique, em Cabo Delgado, em entrevista concedida à Rádio Zumbo FM, na semana finda, desmentiu essas informações.

 

Guta disse: “nos dias que correm, circulam muitas informações que, de certa forma, fazem com que a ordem e segurança pública estejam ameaçadas e a população, acima de tudo, esteja com sentimento de insegurança à flor da pele”. Acrescentou: “a polícia, assim como as FDS, está a fazer um trabalho, de modo que o sentimento de insegurança não seja uma questão de facto na população”.

 

O porta-voz da PRM, em Cabo Delgado, disse que estão atentos a todas as informações que chegam e que o suposto ataque à Cidade de Pemba no dia 07 de Abril não passava de um boato porque as FDS estavam a fazer um trabalho com objectivo de garantir a segurança em todos os distritos da província.

 

Aliado a este suposto rumor no domingo, 05, dois homens supostamente pertencentes ao grupo dos malfeitores foram capturados quando, alegadamente, faziam reconhecimento na localidade de Nacuta, no distrito de Metuge, sita a 39 km da Cidade de Pemba onde foram espancados pela população, tendo um perdido a vida e outro encontra-se gravemente ferido. (Carta)

Um cidadão vietnamita morreu decapitado num ataque contra um estaleiro na aldeia de Matarara, no interior sudeste de Manica, centro de Moçambique disseram várias testemunhas. O grupo entrou na aldeia cerca das 05:00 locais (04:00 em Lisboa), tendo invadido o estaleiro madeireiro onde também incendiou sete camiões de carga e dois 'bulldozers'.

 

“Eram sete homens, cinco armados e dois com catanas", descreveram.  "Mataram, com catana [o cidadão vietnamita] e deixaram-no na mata onde fomos recuperar o corpo”, disse à Lusa José Chimudondo, um sobrevivente.

 

Um outro sobrevivente contou que os atacantes agruparam os trabalhadores do estaleiro, após serem retirados das suas palhotas, fazendo deles reféns e classificando a ação como um ”recado” acerca das suas reivindicações. “Eles diziam que as pessoas estão a morrer por culpa de Ossufo [Momade]”, afirmou à Lusa Manuel Jone, um guarda do estaleiro, que escapou das mãos dos atacantes.

 

Ossufo Momade é o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição em Moçambique, que em agosto de 2019 assinou um acordo de paz com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, que prevê o desarmamento e reintegração de guerrilheiros do seu partido.

 

O acordo e a liderança de Momade são contestados por um grupo de guerrilheiros dissidentes liderados por Mariano Nhongo. “Nós estamos no mato a sofrer enquanto Ossufo está na cidade”, disse Manuel Jone, citando um dos guerrilheiros durante um ataque.

 

Os atacantes exigiam dinheiro e alimentos, disseram os sobreviventes, mas durante a sua retirada não conseguiram carregar a farinha de milho e peixe seco que ali havia. Autoridades de saúde locais confirmaram à Lusa a entrada do corpo da vítima mortal do ataque no centro de saúde de Dombe. Este ataque ocorreu a cerca de 10 quilómetros da Estrada Nacional 01, a principal ligação do Sul ao Norte de Moçambique, com um histórico de incursões de homens armados que desde agosto já matou 23 pessoas.(Lusa)