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quinta-feira, 20 agosto 2020 07:12

Rodália

Achei melhor que eu escrevesse em duas palavras a Rodália da minha imaginação. A própria não conheço, a não ser pela perfurante Wansati, música que pega na mulher por inteiro e transforma-a na ferramenta da vida. Ouvi pela primeira vez este tema numa madrugada e senti a alma toda da cantora envolvida naquilo que eu considero ser um trabalho de antologia. Por tudo. Pela letra, pela composição, e sobretudo pelo engajamento dela na interpretação. É como se todas as mulheres do chão estivessem amalgamadas no seu sentimento.

 

Da Rodália nunca ouvi nada antes, nem o nome. E ao aparecer no mostruário da arte desta forma, surpreendeu-me como uma dinamite que explode sem obedecer ao rastilho, é assustador. Mas não importa o que possa vir depois de Wansati, mesmo que não haja mais montanhas para subir. Ela está topo, aliás é alí, ao que parece, onde tudo começou. E agora só lhe resta cingir o lombo para lá se manter, ciente de todos os vendavais porque a partir de agora, será julgada em função dessa música profundamente comovente, cantada com toda a dor e esperança.

 

A Rodália da minha imaginação já percebeu com certeza que do topo onde se encontra, pode voltar a oscilação, e passar a viver entre os cumes e os sopés, mas ela não tem medo. Nem sequer pensa nisso porque há uma grande luz no seu horizonte, e é nessa luz que ela se concentra. Rodália é mulher de sete costados, preparada para remover as pedras todas do caminho, usando as suas próprias picaretas. É por isso que ficou chocada perante a oferta de uma casa provavelmente nunca sonhada.

 

Wansati é capaz que esteja a colocar a Rodália completamente nua, no sentido de que essa wansati é ela mesma.  Porque só nua é que podemos captar a guerreira que está por dentro, capaz de regressar a lama e recomeçar. Wansati simboliza a coragem de vestir outras roupas e criar novas searas, com obstinação e fé. Então é aí onde coloco a Rodália da minha imaginação, uma mulher tenaz que nasceu para cantar.

 

Comunicando numa mistura de português, inglês e provavelmente o xiswati ou zulu, não sei bem, Rodália descomplexa-se nas mesas de júri e veste a linguagem rústica nunca disfarçada. Ela parece ter medo de julgar, então prefere rejubilar quando os outros reverberam, sem no entanto esconder a vontade de saltar da cadeira e invadir o palco para viver  e deixar tudo por conta das emoções.

 

É esta a Rodália da minha imaginação. Se calhar igual a própria. Não sei!

quinta-feira, 20 agosto 2020 06:15

Nyusi mais predisposto a liderar

terça-feira, 18 agosto 2020 06:35

Reverter

Há 2500 anos Hipócrates disse: “Que o teu alimento seja o teu medicamento”. A OMS define a Saúde como “situação de perfeito bem-estar físico, mental e social”, e doença o inverso, ou seja, “perturbação do bem-estar físico, mental e social”.

 

Passei o final de semana numa celebração inusitada. Era o 30º aniversário do enlace matrimonial de um casal de amigos. O inusitado – para responder à curiosidade – estava no facto de ambos terem apenas 40 anos de idade e celebravam 30 anos de casados. A explicação não tardou e veio do celebrante ao referir, no final da sua intervenção, que a sua contagem iniciava no ano em que se avistara pela primeira vez com a celebrante e não no ano do casamento. Eis - para que não hajam dúvidas -  as palavras finais do celebrante: “Uso o mesmo critério para a definição dos 500 anos de colonização portuguesa em Moçambique”. E assim a cerimónia ganhou um outro ímpeto com os diversos casais a recontarem os respectivos anos de casados. Foi interessante.

 

Na mesa em que me encontrava o debate passou a ser  a idade dos assuntos e das instituições em Moçambique. Em relação a das instituições, foi dito, por exemplo, que para alguns a contagem da idade do partido Frelimo inicia a partir de 1977, o ano da transformação da FRELIMO, Frente de Libertação de Moçambique, em partido. Para outros tantos, o cálculo começa a partir da sua fundação, enquanto Frente, em 1962. Quanto à idade dos assuntos, foi largamente citado o exemplo dado pelo celebrante em que se atribui, à colonização portuguesa, a idade arredondada de 500 anos, contados a partir da chegada de Vasco da Gama em 1498 até 1975, com a independência nacional. Em contracorrente há quem atribua, à colonização portuguesa, menos de 100 anos, calculados a partir da Conferência de Berlim (1884/85) e/ou da queda do Império de Gaza em 1895, actos que simbolizaram o início da ocupação colonial efectiva que se prolongou até à proclamação da independência.

 

Outros e semelhantes exemplos foram citados e que, certamente, são do conhecimento do leitor. De forma breve, e para arrolar mais dois, seguem os casos da cidade de Inhambane e o da Rádio Moçambique (RM) versus Jornal Notícias (JN). Sobre a cidade de Inhambane, que recentemente (12 de Agosto) celebrou o seu aniversário, faz alguma confusão que um local secular (os edifícios falam por si) celebre os módicos 64 anos. No caso da RM versus JN, ambos do tempo colonial, anos 30 e 20 do séc. XIX, respectivamente, não se compreende, salvo melhor entendimento, a razão de em 2020, a RM celebrar 45 anos (já nos tempos da independência) e o JN celebrar 94 anos de idade (anterior aos tempos da independência).  

 

Na linha do entendimento dominante, o dos 500 anos da colonização, será igualmente correcto questionar quem tenha resistido contra quem entre Portugal e o Império de Gaza, atendendo que a invasão colonial portuguesa  é anterior à existência do Império/Estado de Gaza, este fundado em 1821, fruto de uma outra invasão, a Nguni. E, na senda da outra perspectiva, não é de admirar que o país não esteja independente, e tal só será possível com a independência efectiva. De toda a maneira, e em jeito de conclusão do debate, a recomendação dos membros da mesa, já com copos de vinho à mistura – por sinal um vinho de casta portuguesa -, foi a de que é preciso que o Estado aclare/padronize os critérios para a definição da idade dos assuntos e das instituições, mormente de âmbito estatal. Aliás, um desafio de um outro maior: o da necessidade da História ser reescrita.

 

Voltando à celebração do 30º aniversário do enlace matrimonial do casal amigo: por enquanto cola a ideia de que são de facto 30 anos de casados, contabilizados a partir do 1º encontro e, por tabela, 10 anos de “Casamento Efectivo”, calculados a partir do acto oficial e com o devido registo nos termos da lei. Para terminar, e por qualquer razão, talvez de analogia com o processo moçambicano de paz, já aguardo do casal o convite para a celebração do “Casamento Definitivo”.

segunda-feira, 17 agosto 2020 07:12

'Je suis Diomba!'

Irmãos, que tal fazermos uma corrente beneficente a favor do camarada Raimundo Diomba?! Ele não pode sair da casa do Estado porque não tem onde morar. Não tem onde ir. Que tá-lé?! Vamo-nos unir em prol desta causa justa, pessoal!

 

O velhote merece a solidariedade do povo moçambicano do Rovuma ao Maputo, do Zumbi ao Índico. Vejam só: o velhote foi governador provincial durante 15 anos consecutivos sem descansar. É muito sofrimento isso! Quem de nós aceitaria ser governador provincial durante 3 mandatos consecutivos? Quem?! Quem aceitaria tal sacrifício? 

 

Vamos a isso, pessoal! O camarada Diomba não tem casa. Precisa de um teto. Ele fez muito pelo povo moçambicano. Sacrificou-se. Aceitou sofrer. Ser governador provincial ninguém merece. Imagina, então, durante 15 anos ininterruptos! 

 

Deux-tá-ver! Ajudar o próximo é muito bom! Então, ajudemos Sua Excelência Raimundo Diomba, antigo governador da província de Niassa, Gaza e Maputo e actual Secretário do Comité de Verificação do partido FRELIMO. O homem não teve oportunidade de construir uma casinha sequer. Estava preocupado em resolver os problemas do povo moçambicano. Não teve tempo. 

 

Não me perguntem onde ele vivia antes de ser governador provincial durante 15 anos sem repouso. Não me perguntem isso. Talvez era um molowene, um mendigo, um vira-lata. Não sei. Só sei que ele se sacrificou em sair das ruas para ir viver num palácio com direito à escolta, segurança e sirenes durante uma década e meia. Esse é um acto de grande heroicidade para um marginal. Foi muito corajoso. Esses molowenes de hoje em dia - xiliquentos que são - não aceitariam um sacrifício desses. É preciso ter muita bondade no coração. Esses últimos 15 anos devem ter sido os piores da sua vida. Mas, também, este governo de Nyusi é muito insensível sabe!... querer tirar um 'madala' daqueles, pobre-coitado, do palácio mesmo!!! 

 

Participe desta campanha de angariação de uma duplex tipo 5 com cozinha americana, garagem para 4 viaturas e piscina olímpica para o camarada Diomba! Envie a sua contribuição para o 'Eme-Pesa' de Nhangumele. Aqueles jovens que outrora receberam terrenos na Guiné, oferecidos pelo vereador da área de Autoestima Juvenil, também podem oferecer, querendo. Será um grande passo. Quem tiver um talhão em Mocimboa ou em Macomia, também pode oferecer. Em qualquer lugar... aí em Muxunguê idem... não tem problema. Vai ajudar muito. 

 

Sejamos solidários, gentxi! Participemos efusivamente desta campanha de solidariedade 'Je Suis Diomba!' Façamos cartazes, dísticos, camisetes e bonés. Este camarada precisa de ter onde cair morto. Coitado!

 

- Co'licença!

quinta-feira, 13 agosto 2020 06:32

Inhambane minha cidade maltratada

O meu problema não é o governador Daniel Tchapo porque esse vai passar como passaram todos os outros que lhe antecederam. Estou preocupado com o palácio, uma obra de arte, um património tangível da cidade que pertence e orgulha a todos os manhambanas. É um foco de contemplação reservado igualmente aos turistas que vão passar por aqui. É por isso que na concepção desta obra, colocada numa duna estável no bairro de Balane, o arquitecto fez uma combinação perfeita, onde a baía será um complemento importante, demonstrando uma preocupação profunda em não ferir a natureza.

 

O palácio do governador de Inhambane era um edifício livre, soberbo em toda a dimensão, tornando assim impossível passar pela marginal sem observá-lo com paixão, sem ceder a sedução das suas linhas, aliás, a própria marginal ganhava outra aragem, era mais linda, agradecia por ter aquele complemento na sua paisagem, lembrando as palavras do poeta, “o belo atrai o belo”. Mas alguém apareceu e tirou-nos o direito de alimentarmos a alma ao passarmos por ali.  Mandou, sem meias medidas, erguer um muro de vendação. Um muro monstruoso que sufoca um lugar privilegiado. O palácio foi escondido.

 

Eu já havia vindo a terreiro sublevar-me contra esta barbaridade, ainda na fase de construção,  numa altura em que o governador de Inhambane (não o senhor Daniel Thchapo), criava cabritos no palácio, os quais eram amarrados na relva a vista de toda a gente. Falei até a exaustão mostrando a minha cotrariedade, porém ninguém me ouviu. E hoje está aí o muro que para além de ser desnecessário, descaracterizou a zona toda. Tiraram-nos uma atração que nos orgulhava.

 

A cidade de Inhambane não merece esta agressão, assim como não merece algumas obras que o Município está a desenvolver por aqui, com o edil Benedito Guimino na batuta. Há casos preocupantes de vias de acesso pavimentadas com qualidade muito duvidosa. Em vários troços dessas ruas recentemente inauguradas o pavet está a desfaze-se. Não há nivelamento em muitos lugares, e não precisamos de ser engenheiros para concluir que aquilo foi mal feito, e mesmo assim a empreitada foi entregue e recebida pela edilidade.

 

O presidente do Município tem facultado o número do seu celular aos interessados como forma de estar mais perto dos munícipes. Foi assim que, usando dessa prerrogativa, enviei mensagens ao ilustre Guimino para lhe chamar a atenção sobre um problema que está a agravar-se. Disse-lhe ainda que corre o risco de não se orgulhar de ter ficado dois mandatos (se não for indicado para o próximo) porque terá deixado obras destroçadas. Enviei várias sms com o meu nome assinado, alertando sobre a fraca qualidade dos trabalhos que estão sendo feitos, incluindo outros assuntos de interesse dos cidadãos, mas o senhor Benedito Guimino nunca me respondeu, embora conhecendo-me.

 

Não basta que o Presidente faça obras, é preciso que as faça bem, com garantia de qualidade, para que ao terminar o seu mandato, caminhe com orgulho pela cidade que terá ajudado a construir. Ganha ele e ganhamos todos nós. Aliás, no coração da cidade há gente que ergueu casas de pasto em jardins públicos, violando grosseiramente a postura camaráia, e o edil tem conhecimento disso. Então o nosso bom do Guimino tem que fazer qualquer coisa para remover aquilo e devolver nos a leveza na avenida, como estão fazendo, e muito bem, os seus homólogos de Maputo e Chimoio.

 

Muitos parabéns Inhambane, minha cidade maltratada, pelos 64 anos de existência !