O Banco Mundial (BM) aprovou, na passada sexta-feira (14 de Junho), um financiamento adicional para a implementação da segunda fase do Projecto de Serviços de Água e Apoio Institucional, em curso no país, no valor de 75 milhões de USD, a ser alocado pela Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA), no âmbito da sua Janela de Resposta a Crises (CRW, em inglês).
A informação foi partilhada, esta segunda-feira (17), pela representação da instituição financeira, em Maputo, através de um comunicado de imprensa, no qual revelou que os fundos serão utilizados na recuperação de emergência dos sistemas de abastecimento de água nas cidades da Beira, Dondo, Tete, Moatize, Nampula, Quelimane, Mocuba e Nacala, afectados pelos ciclones Idai e Kenneth, que fustigaram as zonas centro e norte do país, nos passados meses de Março e Abril, respectivamente.
De acordo com o comunicado, os investimentos poderão abranger mais de 130 mil beneficiários, do total previsto no projecto. Refira-se que o projecto faz parte do pacote regional mais amplo de recuperação pós-ciclones do Banco Mundial, que compreende um conjunto de operações de cerca de USD 700 milhões em recursos da IDA, incluindo até 545 milhões de USD do CRW da IDA, para a resposta aos ciclones no Malawi, Moçambique e Zimbabwe.
“Os danos causados pelo recente ciclone Idai colocam uma grande pressão nos serviços de abastecimento de água existentes, deixando milhares de famílias sem abastecimento de água adequada, com impactos adversos na saúde pública”, observou Mark Lundell, Director do BM para Moçambique, citado no documento.
Segundo o Banco de Moçambique, o projecto financiará a reconstrução de parte das infra-estruturas de abastecimento de água danificadas pelos ciclones Idai e Kenneth, incluindo a expansão e reabilitação de sistemas de captação e tratamento, reabilitação e expansão de redes e melhoramento dos sistemas de controlo de fugas.
“Essas cidades foram duramente afectadas por fortes chuvas e inundações, durante o ciclone Idai, danificando os poços e partes da rede existente,” observou Lizmara Kirchner, especialista sénior em abastecimento de água e saneamento e líder da equipa no BM, citada no comunicado.
O Banco Mundial sublinha que o financiamento adicional cobrirá 50 por cento dos custos de investimento do projecto, com os outros 50 por cento a serem financiados pelo Governo da Holanda, através do seu programa DRIVE. (Carta)
A Confederação das Associações Económica de Moçambique (CTA), através da Câmara dos Despachantes Aduaneiros (CDA), diz que a eliminação da obrigatoriedade do uso do despachante aduaneiro no comércio internacional, em Moçambique, exige antes reformas internas.
A posição foi manifestada, esta segunda-feira (17), à “Carta”, pelo Presidente da CDA, Dixon Chongo, em reacção à recomendação feita pelo Banco Mundial no relatório, recentemente publicado, que avalia o ambiente de negócios para as empresas domésticas em Moçambique.
Designado “Doing Busness em Moçambique 2019”, o primeiro estudo subnacional feito por aquela instituição internacional, defende que, para facilitar as exportações e importações, no contexto do comércio internacional, “a Autoridade Tributária de Moçambique deve, em curto prazo, eliminar o uso obrigatório de despachantes aduaneiros e fomentar a concorrência na profissão”.
Entretanto, Chongo afirma que o estudo do Banco Mundial só traz a recomendação, mas não explica em concreto, como proceder para a eliminação da obrigatoriedade do uso do despachante aduaneiro no país.
Aliás, recorda a fonte que esta questão não é nova. Há sete anos que a classe tem vindo a falar da mesma, sob orientação da Organização Mundial do Comércio.
“Esta recomendação é antiga e nós já assumimos e apoiamos. Mas, sua implementação requer uma série de condições a serem observadas”, revela Chongo.
O nosso entrevistado explica que a eliminação do uso do despachante aduaneiro, sem a observância de requisitos necessários, pode causar efeitos negativos aos agentes económicos e a sociedade em geral.
Chongo aponta, como primeira consequência, o “embaraço” na hora de importar ou exportar bens, por parte do cidadão, que sem domínio das tecnologias de informação e comunicação, não poderá recorrer àquela figura.
“O facto é que mais de 60 por cento da população nunca usou computador. Mas, mesmo assim, a pessoa vai querer importar e sem obrigação de usar o despachante. Então, que mecanismos o Governo de Moçambique criou para satisfazer àquelas pessoas que, necessitando de importar, não sabem como aceder a Janela Única Electrónica (JÚE)?”, questiona fonte.
Outro efeito, segundo Chongo, centra-se na vulnerabilidade das receitas geradas pela JÚE, quando mais pessoas tiverem acesso a plataforma. Conforme explica o nosso entrevistado, a JÚE não serve apenas de desembaraço, mas também de um instrumento, onde o Estado retém receitas.
“Se hoje a plataforma não consegue controlar 248 despachantes (deixando margem de fugas), quando forem efectivamente 28 milhões de moçambicanos com acesso, não teremos dinheiro do Estado a desaparecer como aconteceu no passado?” questiona Chongo.
Segundo o Presidente da CDA, essas e outras questões a classe tem apresentado há mais de sete anos, mas o Estado não consegue satisfazer.
“Hoje (segunda-feira), por exemplo, tive encontro com a Presidente da Autoridade Tributária e, mais uma vez, notei que as condições não estão plenamente criadas. Não havendo, no passado chegou-se a consenso que vamos avançar até que se criem”, disse a fonte.
Na óptica do Presidente dos despachantes aduaneiros, a recomendação do Banco Mundial, sem antes observância das questões mencionadas, pode dever-se a falta de inclusão de especialistas moçambicanos no estudo, como tem sido costume.
Entretanto, com vista a eliminação desejada do uso obrigatório do despachante aduaneiro, Chongo apresenta para cada uma das questões levantadas, possíveis soluções. Relativamente à primeira, a nossa fonte sugere que o Governo adopte procedimentos similares às do âmbito da advocacia, em que o cidadão sem posses, na hora de julgamento, recorre ao Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ) para pedir apoio.
Em relação à vulnerabilidade das receitas do Estado, o nosso entrevistado defende o aprimoramento da JÚE, bem como a criação de leis específicas que garantam a segurança cibernética no país.
Em geral, Chongo afirma que, perante a recomendação do Banco Mundial, o Estado moçambicano deve continuar soberano e decidir, após ultrapassar questões internas, pois, “as boas práticas internacionais podem ser funcionais num determinado país, mas catastróficas noutro”. (Evaristo Chilingue)
Desde o princípio deste ano que os estudantes da Universidade Mussa Bin Bique (UMBB), delegação de Inhambane, estão entregues à sua própria sorte, depois de ter sido encerada, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional (MCTESTP), devido a irregularidades.
Em causa está o facto de a UMBB ter orientado os estudantes finalistas, da delegação da chamada “terra da boa gente”, a se deslocarem à cidade de Nampula, onde está sediada aquela instituição de ensino superior, para efeitos de defesa dos seus Trabalhos de Fim do Curso. As referidas defesas, contam os estudantes, seriam mediante o pagamento das propinas referentes a 10 meses.
A orientação surge meses depois de a mesma direcção ter garantido aos estudantes que ia fazer deslocar uma delegação de Nampula para assistir às defesas, que deviam ter lugar neste mês de Junho. “Não somos respeitados, a direcção abandonou-nos, a cada semana inventam uma história para se livrarem de nós. Agora dizem que nos devemos deslocar a Nampula e sequer estão preocupados em saber se reunimos ou não as condições para as defesas. Exigem-nos 39.000 Mts, pouco se importam se temos ou não”, contam os estudantes daquela Universidade, sublinhando que a medida abrange apenas os estudantes finalistas.
Segundo relatam as fontes, são cerca de 40 estudantes que deviam defender este mês, nos cursos de Contabilidade, Direito, Gestão, Contabilidade e Auditoria e Ciências Agrárias. Refira-se que alguns estudantes do primeiro ano, afectados pela situação, deslocaram-se a Nampula, a título individual e outros viram o seu sonho de adquirir o grau de licenciatura ruir.
A “Carta” procurou ouvir a direcção da UMBB, tendo interagido com Momade Amisse e António Lucas, membros do órgão. O primeiro escusou-se a dar qualquer tipo de esclarecimento sobre o assunto e o segundo disse que só podia falar mediante a autorização da Directora Pedagógica, Anathi Bay, por sinal esposa do dono da Universidade. Tentativas de ouvir a Directora Pedagógica redundaram em fracasso. (Marta Afonso)
O vice-ministro do Trabalho, Emprego e Segurança Social, Oswaldo Petersburgo, instou, recentemente, aos centros de formação profissional públicos e privados a apostarem continuamente na qualidade, para que estejam alinhados às necessidades do mercado.
Para Oswaldo Petersburgo, os centros de formação profissional devem assegurar, também, que os formandos estejam capacitados e habilitados para tirar proveito das oportunidades de trabalho e emprego, contribuindo, assim, nos esforços para a melhoria da produção e produtividade.
“A busca pela qualidade é um exercício permanente, e, por isso, exige de nós a capacidade de nos reiventarmos para encontrarmos as abordagens mais apropriadas e tornar a formação profissional cada vez mais relevante”, disse o vice-ministro, que falava na cerimónia de abertura do II Conselho Pedagógico e Consultivo do Instituto de Formação Profissional e Estudos Laborais Alberto Cassimo (IFPELAC), na cidade de Maputo.
Na ocasião, Oswaldo Petersburgo referiu que, no âmbito das iniciativas do Governo com vista à promoção do emprego, através da abertura de centros de formação em diferentes províncias, complementadas com os esforços do sector privado, o País formou, de 2015 até Março do presente ano, mais de 650 mil cidadãos, maioritariamente jovens, “que vão sendo absorvidos pelo mercado de trabalho, como trabalhadores por conta própria ou de outrem”.
No mesmo período, foram realizados aproximadamente 23 mil estágios pré-profissionais, e abertos novos centros de formação profissional em Quelimane (Zambézia), Chongoene (Gaza), Pemba e Balama (Cabo Delgado), estando prevista para este ano a entrada em funcionamento dos centros de Cuamba (Niassa) e Catembe (Cidade de Maputo) Namanhumbir (Cabo Delgado).
Através destas acções, acrescentou Oswaldo Petersburgo, “queremos que os nossos formandos sejam os mais procurados pelo sector privado. Aliás, temos estado a testemunhar, com agrado, o facto de as multinacionais que operam no nosso País estarem, insistentemente, a procurar os nossos centros de formação profissional nas diversas províncias, com destaque para Cabo Delgado, Tete e Maputo”.
Por seu turno, o director-geral do IFPELAC, Anastácio Chembeze, revelou que, até o primeiro trimestre do ano em curso, a instituição que dirige já tinha cumprido 94% das metas definidas para o presente quinquénio, no que à formação profissional diz respeito. “Temos fé e acreditamos que vamos conseguir ultrapassar aquilo que foi definido”. (FDS)
Uma das maiores reservas de vida selvagem da África está marcando um ano sem um único elefante encontrado morto por caçadores furtivos, o que os especialistas chamam de um desenvolvimento extraordinário numa área onde milhares de animais foram abatidos nos últimos anos. A aparente reviravolta na reserva do Niassa surge após a introdução de uma força policial de intervenção rápida e patrulha e resposta mais assertivas por via aérea, segundo a Wildlife Conservation Society, sediada em Nova Iorque, que gere a reserva com o governo de Moçambique. e vários outros parceiros.
O monitoramento da vasta reserva com levantamentos aéreos e patrulhas a pé permanece incompleto e depende de amostragem. Mas, apesar do sinal de progresso, pode levar muitos anos para que a população de elefantes do Niassa se reconstitua até aos níveis anteriores, mesmo se a caça furtiva for mantida sob controle.
A caça furtiva agressiva ao longo dos anos reduziu o número de elefantes do Niassa de cerca de 12.000 para pouco mais de 3.600 em 2016, de acordo com uma pesquisa aérea. Estratégias anti-caça furtiva de 2015 a 2017 reduziram o número de mortos.
As novas intervenções, com o presidente moçambicano Filipe Nyusi autorizando pessoalmente a força de intervenção rápida, levaram os parceiros a esperar que os elefantes do Niassa "tenham uma chance genuína de recuperação", disse o grupo ambientalista. "É uma conquista notável", disse James Bampton, diretor da Wildlife Conservation Society, à Associated Press. A última vez que um elefante na reserva do Niassa foi morto por um caçador ilegal foi em 17 de Maio de 2018, disse ele.
A vontade política é uma das principais razões para o sucesso, disse Bampton, com o presidente de Moçambique interessado em reduzir a caça furtiva. Bampton reconheceu que o baixo número de elefantes restantes também é um factor no declínio da caça furtiva. Um ano atrás, ele estimou que menos de 2.000 elefantes permaneceram em Niassa, embora ele agora diga que a análise preliminar de dados de uma pesquisa realizada em Outubro e ainda não publicada indicava que cerca de 4.000 elefantes estão na reserva.
Ainda assim, um ano livre da caça furtiva de elefantes na extensa reserva suscita considerações positivas de alguns especialistas em vida selvagem.
“É um desenvolvimento importante e muito importante que a caça furtiva cessou. Isso representa um grande sucesso”, disse George Wittemyer, que preside o conselho científico da organização Save the Elephants, sediada no Quênia. A nova força policial de intervenção rápida é uma unidade de elite que é mais bem armada do que os guardas normais da reserva e tem “uma certa reputação de ser bastante dura”, disse Bampton, acrescentando que não foram reportados “incidentes ruins” no Niassa.
Os membros da força têm o poder de prender os suspeitos de furto, organizar um processo crime em 72 horas e entregá-lo a procuradoria local, disse Bampton. “Ser encontrado com uma arma de fogo é considerado intenção de caçar ilegalmente", com uma sentença máxima de 16 anos de prisão. Especialistas em vida selvagem viram ganhos em outras partes da África contra a caça ilegal de elefantes. A Reserva de Caça Selous da Tanzânia, amplamente reconhecida como “Marco Zero” para a caça furtiva e ligada à reserva do Niassa por um corredor de vida selvagem, também assistiu a um declínio recente nos assassinatos.
A caça ilegal de elefantes africanos diminuiu para níveis anteriores a 2008, após atingir um pico em 2011, de acordo com a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas. Mas especialistas dizem que a taxa de perdas anuais por elefantes ainda excede a taxa de natalidade, e a invasão de assentamentos humanos está reduzindo o alcance dos animais.
A colaboração e o “enorme esforço” entre os parceiros da reserva do Niassa tem sido crucial, mas os dados mostram que as questões permanecem com outras espécies icônicas como os leões, disse Rob Harris, gerente nacional da Fauna & Flora International, que apoia um dos operadores da reserva. “Portanto, a combinação de apoio de nível nacional e esforço local deve ser mantida para melhorar a situação de toda a vida selvagem.” (Carta)
A AGRA (Aliança para Revolução Verde em África) e a Gapi lançaram, no passado dia 13 de Junho corrente, em Quelimane, um projecto que visa o relançamento da cadeia de valor do arroz, através do fortalecimento da produção e das ligações com o mercado, numa acção que, durante os três anos, envolverá mais de 100 mil pequenos produtores, de cinco distritos da província da Zambézia.
Este projecto, denominado Moz-Arroz, insere-se na estratégia de apoio ao desenvolvimento rural e modernização da agricultura que a Gapi vem implementando ao longo de todo o país.
Além da participação da Gapi, o projecto é co-financiado pela Agra, que mobilizou fundos da Fundação Bill e Melinda Gates. A sua implementação é feita por um consórcio que envolve a Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar da Zambézia e duas empresas ligadas ao ramo, nomeadamente a Agro Comercial Olinda Fondo (ACOF) e African Fertilizer and Agribusiness Partnership (AFAP).
O Moz-Arroz propõe-se a contribuir para o aumento da segurança alimentar e rendimento dos produtores de arroz na Zambézia, através de intervenções que facilitem o acesso a sementes de variedades melhoradas, fertilizantes, tecnologias de gestão de água e mercado, bem como sistemas de produção por contrato.
Durante a cerimónia de lançamento, o director da AGRA em Moçambique, Paulo Mole, considerou que a intervenção da sua organização visa apoiar o fortalecimento e eficiência do sector através da melhoria da coordenação: “Este projecto vai de encontro a alguns dos principais objectivos que nos norteiam, nomeadamente, a necessidade de se fortalecer o acesso estruturado aos mercados; aumentar a disponibilidade e distribuição de insumos; e desenvolver uma plataforma de mercados agrícolas”.
Este projecto tem como base o trabalho anteriormente feito pela Gapi e financiado pelo Reino dos Países Baixos, que permitiu a revitalização da fábrica de processamento de arroz de Nicoadala, na província da Zarnbézia. A empresa IMPERE, criada pela Gapi para sanear e relançar a fábrica de processamento de arroz de Nicoadala. que já beneficia organizações de agricultores familiares, será um operador chave para assegurar o processamento e comercialização da produção local.
Para Fidel João, coordenador deste projecto ao nível da Gapi, “tal como em muitos outros projectos, o envolvimento da Gapi prende-se com o seu alinhamento com a agenda de desenvolvimento do Governo, sendo que, neste caso, visa responder à Estratégia Nacional de Desenvolvimento do Arroz de Moçambique, que prevê urn sector competitivo no sistema produtivo de pequenos agricultores integrado no sector comercial e capaz de satisfazer cada vez mais a procura interna e gerar excedentes".(FDS)
Conversa sobre a Exposição em cartaz na Galeria Principal da Fundação Fernando Leite Couto: “O Profundo do Meu Ser”. Os dois artistas partilham nas suas obras a visão que unifica-os, devido às fontes onde retiram a matéria-prima para compor os seus trabalhos.
(18 de Junho, às 18Hrs na Fundação Fernando Leite Couto)
O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) está a preparar um seguro contra as catástrofes naturais para ajudar Moçambique a lidar com fenómenos como as cheias e os ciclones, desembolsando ajuda mais depressa e contabilizando melhor os danos.
"Estamos a preparar, juntamente com outros parceiros com o Banco Mundial, uma infraestrutura financeira para melhor gestão dos desastres naturais e estudar a possibilidade de um seguro climático que pode ser ligado ao fundo de gestão de calamidades e ver que tipo de sistema podemos usar para a identificação das vítimas na altura do reembolso pelos danos”, disse Pietro Toigo em entrevista à margem dos Encontros Anuais do BAD, que terminaram sexta-feira em Malabo.
“O chefe de Estado [Filipe Nyusi] está muito interessado, foi ele mesmo que começou a conversa neste sentido”, apontou o representante do BAD em Moçambique, explicando que a ideia é utilizar a Capacidade de Risco Africana (African Risk Capacity - CRA), uma agência pública que funciona no âmbito da União Africana que serve como seguradora para mais de 30 Estados africanos.
Segundo o responsável, “a ideia é que quanto mais países aderirem, mais barato se torna; já existe um seguro bastante avançado contra as secas", estando agora a ser desenvolvido um seguro para cheias e ciclone.
Toigo acrescentou que uma das grandes vantagens é a rapidez no desembolso das verbas para ajudar as populações afetadas, que recebem o reembolso em cerca de seis semanas, através de um modelo científico que permite a contabilização prévia dos estragos materiais e das pessoas afetadas.
“Temos uma avaliação paramétrica, nesta região temos um determinado número de culturas, de pessoas, de agricultores e de fábricas; uma cheia de x milímetros de chuva num dia significa y danos, e a vantagem é que não vamos avaliar no terreno, usamos o modelo que nos diz que para x chuva, pagamos y, o que demora seis semanas após o acontecimento, portanto o objetivo é ter o dinheiro muito rapidamente reembolsado para os países”, desde que a contabilização da situação em cada região seja feita previamente ao desastre natural, detalhou Pietro Toigo.
“O trabalho que estamos a fazer agora é a avaliação dos riscos climáticos e a parametrização dos custos das catástrofes naturais”, afirmou.
A CRA é uma agência, uma associação de países africanos que funciona como uma seguradora privada e financia-se com os pagamentos feitos pelos Estados, que têm de escolher a cobertura que querem, usando a avaliação paramétrica de contabilização dos custos das catástrofes naturais, concluiu o responsável.
De acordo com informação disponível no site desta agência, a CRA, de que Moçambique é um membro fundador desde 2012, já desembolsou 36,8 milhões de dólares (cerca de 32,7 milhões de euros) para ajudar 2,1 milhões de pessoas afetadas por secas que põem em causa a segurança alimentar, estando em preparação um programa sobre as inundações fluviais e ciclones tropicais.
O ciclone Kenneth, de categoria quatro (numa escala de um a cinco, o mais forte), matou 45 pessoas e afetou mais de 160 mil pessoas. Moçambique foi pela primeira vez atingido por dois ciclones na mesma época chuvosa (de novembro a abril), depois de em março o ciclone Idai, de categoria três, ter provocado 603 mortos. (Lusa)
Com vista a dar assistência à perfuração de dois poços, mais um opcional, nos blocos em prospecção de petróleo e gás offshore (em mar) da bacia de Angoche A5-B e Zambeze Z5-C e Z5-D (bacia do Zambeze), a Exxon Mobil Mozambique Limitada (EMML) avança, buscando serviços de agenciamento de carga e desembaraço aduaneiro e de instalações e serviços shorebase.
De acordo com anúncios publicados na última sexta-feira (14), o âmbito de trabalho do primeiro concurso inclui a prestação de serviços internacionais de embalagem, consolidação, preparação de carga e transporte de mercadorias para Moçambique, por via marítima, aérea e terrestre, bem como transporte doméstico de carga dentro do país. “Serviços aduaneiros, quarentena e embarcação, serviços de agência e outros solicitados pela empresa, em Moçambique”, acrescenta o anúncio.
A Exxon Mobil afirma que o início deste trabalho está previsto para Outubro de 2019 e irá exigir pessoal, devidamente qualificado, licenciado e competente, no país, principalmente na assistência de perfuração pela empresa. O concurso sobre instalações e serviços shorebase para assistência aos blocos de exploração referidos inclui o fornecimento de infra-estruturas, nomeadamente, cais de atracação de navio, aéreos de deposição, armazenagem, equipamentos de apoio e serviços por pessoal, devidamente qualificado e competente para oferecer a base de apoio de operações offshore de perfuração.
Para este anúncio, a Exxon Mobil frisa que as propostas são convidadas, em particular, a partir de Nacala, Beira, Quelimane e Pemba, com uma meta de início prevista para Abril de 2020. Refira-se que os três blocos, em que a EMML se prepara para perfurar dois blocos, mais um opcional, foram atribuídos, em Outubro, a um consórcio liderado pela Exxon Mobil, após um concurso internacional, lançado pelo Governo moçambicano, em 2014, em Londres.
Além da Exxon Mobil, com 40 por cento de participação, o consórcio para prospecção inclui a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos com 20 por cento, a Rosneft com 20 por cento e a ENI e Qatar Petroleum, com 10 por cento cada. (Evaristo Chilingue)
Vinte e sete anos após o fim da guerra civil, que opôs o governo do partido único (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), a vida selvagem está a “rejuvenescer” no Parque Nacional da Gorongosa (PNG), o maior cartão-de-visita “selvático” do país, localizado na província de Sofala.
A observação consta de um Relatório, intitulado “Um novo dia em Moçambique”, produzido em conjunto entre a organização National Geographic Society e o PNG, divulgado, semana finda, pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC).
O documento, publicado na página oficial da entidade responsável pela gestão das áreas de conservação, refere que, até ao momento, foram documentadas 5.867 espécies, através dos Censos Aéreos, que decorrem anualmente, no país, desde 2013. Entre as espécies que mostraram uma ampla recuperação, encontram-se os elefantes, búfalos, hipopótamos, inhacoso e leões.
De acordo com o Relatório, em 1972, o PNG tinha 2.542 elefantes, mas, devido à guerra que durou 16 anos, quase toda a espécie foi dizimada e seus troféus usados para comprar armas e alimentar a guerrilha. Em 2002, só existiam 300 elefantes. Entretanto, com a campanha para a recuperação da espécie, naquele parque nacional, iniciada, em 2002, estima-se que existam 650 paquidermes.
A outra espécie que, em 1972, existia em maior quantidade é o búfalo (quase 13.286), mas, em 2002, era das menos numerosas (só tinham 90 búfalos). Porém, com o trabalho de recuperação, iniciado naquele ano, em 2018, já se contabilizavam 1.021 búfalos.
O hipopótamo também não passou ao lado da situação. Em 1972, o PNG tinha 3.483 hipopótamos, mas até 2002, só tinha 160 membros desta espécie, entretanto, dados do último censo animal revelam que existem 546 hipopótamos.
O Relatório afirma ainda que, em 2018, nasceram 30 leões, foi avistado um leopardo e reintroduziu-se uma matilha de mabecos. Algumas presas, defende o estudo, abundam, pois, quase não têm predadores.
Os dados da monitorização dos leões indicam que os esforços para recuperar o equilíbrio estão a funcionar. As coleiras de GPS ajudam a reduzir conflitos entre seres humanos e elefantes.
Flávia é uma leoa do grupo de Sungué e foi-lhe colocada uma coleira, em 2015. Quando o Parque começou a monitorizar os leões, um aglomerado de pontos de GPS costumava indicar que um leão ficara preso numa armadilha, porém, actualmente, com os esforços de aplicação da Lei, os aglomerados revelam que as leoas e suas crias encontram-se sempre em movimento.
Antes de serem trazidos para a Gorongosa, em Abril de 2018, documentam os especialistas, os mabecos não se conheciam. Para estabelecer uma ligação entre si, formando uma matilha, o PNG manteve-os num recinto fechado durante dois meses.
O estudo revela que o PNG foi, em tempos, dominado pelos búfalos. Agora, o inhacoso é o herbívoro mais abundante, representando 63 por cento (correspondente a 57.016) da biomassa animal daquela área de conservação, prosperando junto dos lagos e rios, uma vez tendo poucos predadores e melhor acesso à água.
Refira-se que os censos aéreos são realizados em cada dois anos, com recurso a helicóptero, numa área com cerca de dois mil quilómetros quadrados. Os censos visam monitorizar o crescimento da população de animais à medida que são trazidos exemplares da África do Sul e de outras áreas de conservação do país.
Entre os censos realizados, destaque vai para o do ano de 2018, num voo efectuado ao longo de PNG, nos rios Vunduzi e Urema, onde foram contados mais de 500 hipopótamos, pela primeira vez, desde a guerra civil. Nessa época, mais de três mil hipopótamos viviam prosperamente no Parque, enquanto os Búfalos, provenientes de outros Parques, foram introduzidos para reforçar o número de efectivos da Gorongosa.
O documento diz que, com o rejuvenescimento da vida selvagem, o PNG recebeu 4.800 visitantes, em 2018, isto após o “reacendimento” do conflito político-militar, entre 2014 e 2016, na zona centro, que tinha retraído os visitantes.
No passado, o PNG registou a presença de rinocerontes-negros, mas a sua reintrodução afigura-se difícil, por gerar um risco elevado de atrair caçadores furtivos com fins comerciais. Os especialistas dizem que, face a isto, “é um projecto ainda na gaveta”. A recuperação total precisa de tempo e de espaço, pelo que a Fundação Greg Carr e parceiros (incluindo o governo) são defensores do alargamento da Gorongosa.
Outro aspecto, apresentado no documento, indica que, durante este período de recuperação da fauna, naquele Parque, foram confiscadas mais de 21.027 armadilhas de laço e de mandíbula de aço, que, de acordo com os especialistas da National Geographic Society e do Governo, continuam a ser a principal ameaça para os leões. Outras 1.700 armadilhas de laço e de mandíbula de aço foram, voluntariamente, entregues, quando o esforço de recolha começou em 2015.
O PNG já formou 50 clubes de raparigas, atendendo às necessidades de duas mil raparigas na zona-tampão. Os programas ensinam competências importantes, que as ajudam a manter-se na escola e a evitar o casamento infantil.
Contudo, os especialistas alertam que, apesar da recuperação da vida selvagem naquele local, o futuro dos animais depende da esperança que for dada às comunidades que vivem nas redondezas do PNG.(Omardine Omar)