Os confrontos entre a Polícia da República de Moçambique (PRM) e os membros e simpatizantes da RENAMO em repúdio aos resultados eleitorais e a PRM na cidade de Nampula resultaram em três (3) mortos e vários feridos.
Os protestos levaram à intervenção brutal da polícia na manhã de sexta-feira, tendo obrigado a paralisação das principais actividades económicas e dos serviços públicos ao nível da cidade. Os três mortos, segundo relatos não oficiais, foram registados no bairro Namicopo, que foi o epicentro da violência entre os manifestantes e a Polícia da República de Moçambique na tarde de sexta-feira.
No mesmo bairro, foram destruídas pelo menos 170 bancas no centro comercial informal, conhecido por "mercadinho", um poste de energia eléctrica e algumas residências, segundo um vídeo amador posto a circular nas redes sociais desde a tarde daquele dia.
Além de mostrar os prejuízos, o autor do vídeo aponta que a culpa é da Polícia da República de Moçambique, que usou balas reais e gás lacrimogéneo para expulsar os manifestantes, na sua maioria jovens.
Até ao meio-dia de sexta-feira, o Hospital Central de Nampula tinha atendido nove (9) indivíduos com ferimentos graves e ligeiros, dentre os quais, uma menor de 12 anos e um membro da Unidade de Intervenção Rápida (UIR). O director do Serviço de Urgências, Suleimane Isidoro, disse a jornalistas que alguns pacientes foram submetidos a tratamento cirúrgico.
Em conferência de imprensa, o Comando-Geral da Polícia da República Moçambique tinha avançado a detenção de 60 pessoas na cidade de Nampula e as restantes em Maputo, Nacala e Quelimane, totalizando 70.
Noutro desenvolvimento, o porta-voz da PRM em Nampula, Zacarias Nacute, avisou que a corporação está pronta para responder a qualquer situação que põe em causa a ordem e segurança pública. Contudo, desde sábado, a situação tende a regressar à normalidade na cidade de Nampula. (Carta)
O partido Frelimo diz que os moçambicanos votaram no seu partido como forma de reconhecer seus feitos durante o período da Covid-19 e do terrorismo.
“Os membros e militantes da Frelimo sempre estiveram presentes, procurando formas de ajudar as populações a superar aquele momento difícil. Quero recordar os momentos dramáticos da situação do terrorismo em zonas como Mocímboa da Praia, Palma e outros, onde depois dos ataques estávamos lá a consolar e apoiar a população. Tudo isto era uma forma de preparar as bases para que, chegada a altura de pedir o voto, a população nos pudesse ouvir”, disse o Secretário-Geral da Frelimo, Roque Silva, falando à imprensa pouco depois da divulgação dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
“Estamos conscientes de que o processo de confirmação dos resultados ainda não terminou, caberá ao Conselho Constitucional (CC) a proclamação dos resultados. Mas também temos consciência de que ainda há processos que correm nos tribunais e no Conselho Constitucional. A Frelimo continuará a aguardar com muita serenidade pelo desfecho desses processos”, frisou.
Segundo Roque Silva, a Frelimo neste momento é grata a todos os moçambicanos que depositaram o seu voto de confiança no partido. “O sucesso das eleições de 11 de Outubro é fruto do envolvimento de toda a sociedade moçambicana porque demonstra uma vez mais que Moçambique tem um povo comprometido com a democracia”.
Para Roque Silva, a vitória da Frelimo nestas eleições autárquicas começou a ser preparada em 2018. “Depois das eleições de 2018, o Presidente Filipe Jacinto Nyusi em balanço realizado no Comité Central disse que a campanha para as eleições de 2023 começou e fomos nos empenhando, trabalhando com as bases, com os órgãos do partido, participando de forma activa em momentos bons e difíceis da vida do nosso povo, em busca de consolidação de confiança deste mesmo povo”. De referir que a Frelimo foi proclamada pela CNE vencedora em 64 autarquias do país. (M.A)
A Frelimo ganhou em todas as autarquias menos na Beira, de acordo com a Comissão Nacional de Eleições (CNE). Num evento aguardado com enorme expectativa em todo o país, agendado para esta tarde, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) vai anunciar que a Frelimo ganhou em Maputo, Matola, Nampula e Quelimane, entre outras autarquias.
De acordo com dados obtidos pela “Carta de Mocambique”, a CNE chancelou, com 8 votos a favor (Carlos Cauio, Paulo Cuinica, Rodrigues Timba, Mário Ernesto, Eugénia Chimpene, Daud Dauto Ussene Ibramogy, Focas Mauvilo e Alice Banze) e 5 contra (Alberto Sabe, Bernabé Ncomo, Apolinário João, Abílio Baessa and Rui Cherene) todos os dados recebidos do apuramento distrital em cada uma das autarquias que foi a votos no passado dia 11 de Outubro. Parte desse apuramento foi severamente contestado pela oposição e por observadores independentes.
O conclave eleitoral esteve reunido das 10 horas de ontem até por volta das 7 horas da manhã de hoje. A CNE é composta por 17 vogais, sendo 10 provenientes de partidos políticos com assento parlamentar (5 da Frelimo, 4 da Renamo e 1 do MDM) e 7 da sociedade civil (indicados por via parlamentar, sendo 4 pela Frelimo e 3 pela Renamo).
Eis o perfil da votação: dos oito votos a favor, a Frelimo (com 5 vogais na CNE) obteve mais 3 votos provenientes de 3 dos 4 elementos da sociedade civil que o partido indicou por via parlamentar. O Bispo Carlos Matsinhe, que teria um voto de qualidade no caso de empate (tendo em conta a natureza colegial do órgão), absteve-se.
O jornalista Salomão Moyana também absteve-se.
Dos 5 votos contra, 2 foram depositados por membros da Renamo, 1 pelo membro do MDM e os restantes 2 por elementos da sociedade civil indicados pela Renamo na Assembleia da República.
Estranhamente, dois vogais da Renamo faltaram a uma sessão crucial na luta política do partido: são eles Fernando Mazanga, o vice-presidente da CNE, e a antiga parlamentar, Maria Anastácia Xavier (que não compareceu às sessões nos últimos dias alegando doença). Todos os membros da Frelimo estiveram presentes. (M.M.)
O MISA-Moçambique condena quaisquer actos de ameaças, intimidação ou proibição de trabalho dos jornalistas, incluindo a censura. A posição do Misa-Moçambique surge em reacção a recentes pronunciamentos da Renamo proibindo a TV Miramar e ameaçando a Televisão de Moçambique (TVM) para não cobrirem os seus eventos.
O Misa-Moçambique lembra ainda: ″a cobertura jornalística de eventos de índole político, social, económico, ou qualquer outro, não pode e não deve ser condicionada ao tipo de abordagens a serem feitas sobre a matéria recolhida. Qualquer condicionalismo nesse sentido configura censura, uma violação grave da liberdade de imprensa″.
Aquela entidade avança, igualmente, que o órgão de informação não tem a obrigação de cobrir diariamente todos os eventos partidários, porque eles têm diariamente assuntos prioritários que podem não ser marchas políticas.
″Quer dizer, o jornalismo tem critérios de definição de notícias. E é na base desses critérios que se definem as notícias mais relevantes que devem merecer cobertura prioritária. Mas isso não pode ser usado abusivamente pelos jornalistas para excluir coberturas políticas relevantes de partidos″.
Nesta senda, o MISA-Moçambique apela aos órgãos de informação e aos respectivos jornalistas a pautar, neste período de tensão política, pelo rigor, imparcialidade e neutralidade, quer na definição do que deve ser notícia como na cobertura noticiosa dos eventos. ″O profissionalismo ou os altos padrões técnico-profissionais, a ética e deontologia devem ser valores a serem preservados e a serem colocados em primeiro lugar″.
Refira-se que a Renamo impediu, no dia 21 deste mês, a Miramar de fazer a cobertura da sua marcha de manifestação contra os resultados das eleições autárquicas na cidade de Maputo. O mesmo partido, através do seu cabeça-de-lista Venâncio Mondlane, ameaçou bloquear a TVM de cobrir os eventos por si organizados.
No caso da Miramar, a equipa de reportagem foi proibida de cobrir a manifestação da Renamo, o maior partido da oposição. Os simpatizantes da Renamo alegaram que a Miramar não tem feito a cobertura das suas manifestações, optando pelo distanciamento. Por isso, não queriam que, naquele dia (21), a Miramar acompanhasse a sua marcha pelas ruas da cidade de Maputo, a partir do mercado grossista do Zimpeto.
A Miramar confirma a ocorrência, mas diz que houve um mal-entendido da parte dos simpatizantes da Renamo, mas que isso acabou sendo ultrapassado e neste momento a Miramar faz coberturas das manifestações da Renamo sem qualquer problema.
Relativamente à TVM, a delegação política da Renamo tinha decidido que este órgão não devia cobrir mais os seus eventos, mas o seu cabeça-de-lista, Venâncio Mondlane, pediu para que se abrisse uma excepção para que a Televisão Pública estivesse na última marcha.
O cabeça-de-lista da Renamo ameaçou: “se a TVM continuar a desvirtuar as nossas comunicações, os nossos eventos... fiquem a saber que automaticamente será dispensada de todos os nossos eventos”. (Carta)
A Direcção Provincial de Agricultura e Pesca de Nampula convocou a imprensa esta quarta-feira (25), para desmentir as notícias postas a circular sobre a venda de frangos congelados em diferentes mercados contaminados com salmonella. A salmonela é uma bactéria que também se desenvolve em algumas verduras e que pode provocar a febre tifoide e outras doenças.
O chefe do Departamento de Pecuária na Direcção Provincial de Agricultura e Pesca, Equiteandro Ração, afirma que não existe nenhum risco no consumo de frango congelado, assegurando à população que todo o frango comercializado a nível dos mercados da chamada capital do norte passa pelo processo de avaliação e controlo de qualidade.
"Não constitui verdade a informação que circula desde o dia 23 do mês em curso sobre a presença de salmonella na carne de frango congelado", declarou.
Equiteandro Ração lembrou que, no mês de Março, apenas o distrito de Nacala importou de um país europeu um lote de 230 caixas de pedaços de frangos suspeitos, mas o mesmo produto foi incinerado.
"No mês de Março tivemos um lote de 230 caixas de pedaços de frangos importados da Holanda, isso foi em Nacala, mas o produto ainda estava cativo e não foi comercializado. Depois dos resultados laboratoriais, todo o produto foi incinerado na base aérea de Nacala", explicou. (Carta)
Uma jovem luta pela vida após uma compressa ter sido esquecida na sua barriga, durante o parto que ocorreu no Hospital José Macamo. Falando em anonimato com receio de que os médicos não a atendam bem quando for à observação, a jovem de aproximadamente 30 anos de idade, residente no bairro Ndlavela, na província de Maputo, teve um parto à cesariana em 2021 e desde lá nunca mais teve paz.
Depois dos médicos terem realizado a cirurgia para ela ter o seu bebé, que por sinal nasceu grande e saudável, surgiu uma borbulha no local onde foi operada e ela chegou a confundir com abscesso porque não parava de tirar sujidade.
Passados três meses, voltou para o Hospital José Macamo, local onde teve o seu bebé e explicou que não andava bem. Chegado lá, foi atendida por uma estagiária que lhe recomendou que fosse apenas exprimir a borbulha e lavasse o local com água e sabão.
“Fui lavando a borbulha e me apercebi que a mesma não parava de tirar sujidade, voltei novamente ao hospital e a enfermeira que me atendeu disse que não era nada de especial, eram apenas as linhas que foram usadas para a cirurgia que rebentaram e estavam a provocar essa dor e a libertar sujidade. Os meses foram passando e a situação não melhorou, até que um dia decidi marcar uma consulta no Hospital Central de Maputo (HCM) e encontrei uma médica que me recomendou fazer uma ecografia abdominal e não viram nada. Posto isto, a médica recomendou-me a fazer um Raio X e, quando saíram os resultados, disse que tinham esquecido uma compressa na minha barriga e recomendou-me a voltar para José Macamo e explicar o que estava a acontecer para que eles voltassem a operar-me”, contou a Jovem
“De volta ao Hospital José Macamo, já em 2022, fui mostrar os resultados do Raio X e expliquei que a médica do HCM disse que esqueceram uma compressa na minha barriga e a pessoa que me atendeu disse que não era nada disso e me disse que eu tinha fístula e devia aguardar na fila até que primeiro fossem operados os pacientes diagnosticados em 2021”.
Segundo conta a jovem, voltou para casa e foi aguardar enquanto a dor a consumia, mas ainda se sentia muito melhor que hoje. “Aguentei uma vez mais com a dor durante o ano de 2022, enquanto isso fui expulsa do lar pelo meu esposo e pela minha sogra, alegando que eu tinha maus espíritos por isso que tinha uma ferida que não sarava. Tive que voltar a viver com minha mãe e com poucas condições”.
A jovem conta que este ano (2023) continuou a arrastar a sua dor até que um dia assistiu a um programa televisivo que falava sobre uma campanha de cirurgias massivas de fístula obstétrica, realizadas por um médico da Clínica Cruz Azul e decidiu aproximar-se àquela unidade sanitária. No local, foi atendida pelo respectivo médico que a aconselhou a voltar para o Hospital onde tudo aconteceu para que fossem eles a operar a fístula com bastante urgência ″porque foram eles que provocaram aquele problema e que já se encontrava num estado avançado″.
“Para minha sorte, na Clínica Cruz Azul havia um médico que trabalhava no Hospital de Mavalane e quando leu os meus resultados disse que conhecia a médica que me estava a atender e que entraria em contacto com ela para que acelerasse a data da minha cirurgia. Graças a Deus e a esse médico, quando saí da clínica e voltei para casa, não fiquei uma semana e, no dia 02 de Agosto último, chamaram-me e foram operar-me dia seguinte”, conta.
“Fiquei feliz quando fui operada apesar de não me terem mostrado o que foi retirado da minha barriga, mas parece que foi daí que o meu martírio começou. Fiquei internada no Hospital José Macamo por quase 30 dias e os médicos deixaram uma parte da minha ferida aberta para poder libertar a sujidade, mas de lá para cá, mais dois locais da primeira operação se abriram e já tenho praticamente três buracos na minha barriga”, continua.
“Hoje, depois desta operação, sinto mais dores do que antes quando diziam que tinha compressa na barriga. Estou cada dia a perder peso, não consigo comer e quando bebo água sinto muita dor. Minha mãe não tem condições para cuidar de mim, até para termos comida aqui em casa é um problema e os médicos recomendaram a comer carnes, tomar leite Nido entre outras coisas que não conseguimos comprar”.
Contudo, o mais agravante é o facto de o pai da criança estar a ameaçar tirar o filho à jovem. “No hospital deram-me apenas vitaminas e dizem que vou melhorar e recomendaram a ir semanalmente para lavar a ferida e fazer o controlo, mas não temos dinheiro para alugar um carro que me tire de casa para o hospital porque não consigo andar. O pai do meu filho quer tirar a criança e está sempre a ameaçar-me em vez de me apoiar. Neste momento, só rezo que não me tirem o meu filho, o pai pode até não dar mais os 1000 mts que dá mensalmente desde que deixe o meu filho aqui. Eu quero que os médicos cuidem de mim. Eu quero ficar bem e depois disso poderei responsabilizar os que fizeram isso comigo”.
Contactada a direcção do Hospital José Macamo para reagir ao caso, esta recomendou apresentar mais dados. (M.A.)