Quatro rios da província de Cabo Delgado, na zona norte do país, ainda se encontram acima dos níveis de alerta em alguns pontos do distrito de Montepuez, segundo deu a conhecer, ontem, a Direcção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (DNGRH).
Em comunicado de imprensa, divulgado na tarde de ontem, a DNGRH garantiu que as bacias hidrográficas dos rios Messalo, Megaruma, Montepuez e Muaguide ainda se encontram estacionárias naquela região do país, com o volume das águas ainda a manterem-se acima dos níveis de alerta.
Um dos rios que ainda mantém o caudal acima do nível de alerta é o Messalo que, na zona de Nairoto, distrito de Montepuez, mantém os 19 centímetros de caudal, acima do nível de alerta, porém, de acordo com aquela instituição, sem impactos significativos.
De acordo com a autoridade responsável pela gestão das bacias hidrográficas, nas próximas 72 horas, o Rio Messalo poderá manter-se acima do nível de alerta, entretanto, condicionando a circulação rodoviária entre Mirate e Nairoto.
Já o rio Megaruma, em Montepuez, também continua com os seus 2 metros acima do nível de alerta e com tendência a subir. Esta situação, segundo a DNGRH, provocou a interrupção da circulação rodoviária entre Mecúfi-Chiúre e inundações nas aldeias de Napolimuite, Nimanro, Natuco, Moje e Milapani.
Tal como o rio Messalo, a DNGRH refere que o rio Megaruma, naquele ponto do país, poderá manter-se também acima do alerta, condicionando a circulação rodoviária entre os distritos de Chiúre e Mecúfi.
Por seu turno, o rio Montepuez, na zona de Mecuia, também está com 30 centímetros acima do alerta e com tendência a subir. A situação já causou um galgamento da ponte que liga os distritos de Quissanga e Macomia.
Inundações causou também o rio Muaguide, que deixou as aldeias de Nangua, Nacuta, Nuamapala, 25 de Junho, Nanjua, Pulo e Tratara debaixo das águas.
Para as próximas 72 horas, a DNGRH prevê a subida do nível de água nas bacias do Limpopo, Inhanombe, Mutamba, Búzi, Púnguè, Zambeze, Ligonha, Meluli, Lúrio e Rovuma.
A bacia do Licungo, que já desalojou centenas de famílias nos distritos de Maganja da Costa, Namacurra, Lugela e Mocuba, na província central da Zambézia, poderá manter-se em alerta, causando inundações moderadas nos distritos de Maganja da Costa (povoações da Vila Valdez, Yassopa e Ntabo) e em Namacurra (povoações de Furquia, Mbau, Muebele e Malei).
A DNGRH prevê, igualmente, a continuação do cenário de inundações nas cidades da Beira e Quelimane.
No que tange ao armazenamento da água nas principais albufeiras do país, a DNGRH revela que a Albufeira de Nampula está esgotada (100%), com uma reserva de 20.25 m³/s; Nacala, também com 100% (2.98 m³/s); Mugica com 78.13% e Chipembe com 95.06%, correspondentes a 0.96 m³/s.
Já na região centro, a Albufeira de Cahora Bassa está com tendência de subida, contando com 72% de armazenamento, equivalente a 2895.50 m³/s e 1885.70 m³/s. Chicamba está com 68.68%; e Muda-Nhaurire com 88.20%, o que equivale a 0.80 m³/s.
Na região sul, a Albufeira dos Pequenos Libombos tinha 25.43% de armazenamento, estando a descer, correspondente a 1.85 m³/s e 3.09 m³/s. A Albufeira de Corumana apresenta uma tendência de subida, estando com 27.45%, equivalendo a 15.86 m³/s e 2.43 m³/s. Já a Albufeira de Massingir, com 35.31%, apresenta uma tendência de subida, correspondente a 56.44 m³/s e 20.00 m³/s.
No seu comunicado, a DNRGH apela à sociedade, em geral, para a observância de medidas de precaução, evitar a travessia do leito dos rios, particularmente nas bacias de Púnguè, Licungo, Montepuez, Megaruma e Messalo, sob o risco de ser arrastado pela força da água. (Carta)
O antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano, defendeu que a única saída para os conflitos que se vivem no centro e norte de Moçambique é que haja união entre os moçambicanos. Chissano respondia, assim, a uma questão colocada pela imprensa, relativamente aos possíveis caminhos conducentes a uma paz efectiva.
Para Joaquim Chissano, a solução passa por “todos os moçambicanos, sem distinção de cor partidária, estarmos unidos para encontrarmos formas de acabar com estes conflitos. O conflito do centro é diferente do conflito do norte, mas a solução é a mesma. No norte acrescentamos a necessidade de uma maior cooperação com a comunidade internacional, sendo os nossos vizinhos em primeiro lugar”.
Numa outra passagem da breve entrevista que concedeu aos media, Chissano defendeu que “o Presidente Nyusi deve falar menos e fazer mais”.
Relativamente à aposta do novo executivo em apontar a empregabilidade da juventude como prioridade, Chissano disse: “emprego é uma questão de desenvolvimento, portanto, como nós estamos optimistas que o desenvolvimento deve acontecer a breve trecho, obviamente que há que priorizar o emprego, até porque emprego não é coisa que se compra na loja e depois distribui-se, mas sim é algo que se cria conforme o desenvolvimento”.
Joaquim Chissano explicou que tudo depende da juventude, pois esta já foi ensinada a inventar e inovar, incluindo inventar o que fazer, para satisfazer a sua vida e a de seus amigos.
“Temos tudo que é necessário no país, temos a terra, temos um clima que, apesar de variações, não é dos piores no mundo, temos uma juventude com todas as escolas necessárias. Ensinamo-los a ser empresários, a ser empreendedores, por isso, mandamo-los para a escola, porque nós não sabíamos fazer tudo isso”, adiantou o antigo estadista moçambicano.
Acrescentando o posicionamento acima citado, Joaquim Chissano instou os jovens a usarem os conhecimentos científicos e tecnológicos adquiridos para inventarem e inovarem para que possam criar autoemprego e emprego para os outros, embora o governo esteja empenhado em trazer investimentos como tem feito.
De acordo com o antigo presidente, o desenvolvimento da economia moçambicana depende da entrega da juventude e do trabalho que o governo tem feito ao longo dos anos, tal como foi o caso da renovação de regadios, a construção de estradas e pontes, a expansão da energia e a criação de bases de desenvolvimento que a juventude deve usar. (O.O)
“Espero que haja paz e que haja desenvolvimento”. Este é o desejo manifestado pelo antigo Chefe de Estado, Armando Guebuza, quando questionado pela “Carta” em relação às suas expectativas, relativamente aos próximos cinco anos de Filipe Jacinto Nyusi na Presidência da República.
Falando a jornalistas momentos antes do início da cerimónia de investidura de Filipe Nyusi ao cargo de Presidente da República para o quinquénio 2020-2024, Armando Guebuza defendeu, de forma reiterada, que o maior desafio deste quinquénio é alcançar-se a paz que os moçambicanos tanto perseguem.
“Que este seja um momento que vai garantir que, efectivamente, o grande desejo do povo moçambicano se alcance, isto é, a paz em todo Moçambique e maior unidade nacional para alcançarmos o desenvolvimento”.
Questionado pela “Carta” sobre o que estará a falhar para que os sucessivos Acordos de Paz, assinados, sequencialmente, por Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama (1992), Armando Guebuza e Afonso Dhlakama (2014) e Filipe Nyusi e Ossufo Momade (2019) não tenham tido sucesso desejado, o antigo estadista respondeu:
“Pode ser uma das pessoas que pode esclarecer o que está a falhar, mas o certo é que, infelizmente, apesar dos esforços que foram feitos, neste sentido, ainda não alcançamos a paz. Os moçambicanos morrem. Não se podem movimentar por todo o país, por isso esse é objectivo central: alcançarmos a paz”.
Para Armando Guebuza, alcançar a paz é a condição sine qua non para que se cumpra o manifesto desenhado pelo seu partido (Frelimo) para os próximos cinco anos.
Lembre-se que foi durante a governação de Armando Guebuza que recrudesceu a violência armada na zona centro do país, concretamente, na Serra da Gorongosa, caracterizada por ataques militares protagonizados por homens da Renamo, na altura liderados pelo falecido Afonso Dhlakama, então Presidente daquela formação política. A intolerância e a exclusão políticas eram apontadas, pela liderança da Renamo, como os principais motivos para o regresso às armas. (A.M.)
À margem da cerimónia de investidura do Presidente da República Filipe Nyusi, a activista e membro sénior do partido Frelimo, Graça Machel, defendeu que “para além de trazer grandes expectativas, o novo ciclo de governação terá também de enfrentar grandes desafios, entre as quais as calamidades naturais, a paz e a segurança”.
Para Graça Machel: “o maior desafio é aquilo que é trazido pelas calamidades naturais: nós temos neste momento as zonas centro e norte com cheias, com quebras de estradas, de pontes e energia. E portanto, a reconstrução disso tudo vai desviar os recursos que nós devíamos usar para andar para frente. Teremos de repor aquilo que está a ser destruído pelas calamidades naturais” considerou.
E disse mais: “o impacto disso nas pessoas é muito grande, especialmente no que respeita à produção de alimentos, que é a condição básica para a sobrevivência. Vai ser um grande desafio. Na zona sul temos uma seca devastadora, portanto, o país vai para esta segunda governação com desafios de sobrevivência – este é o primeiro ponto que me preocupa”.
Relativamente ao controlo da situação da guerra no norte do país, a activista mostrou certo cepticismo, referindo: “O segundo desafio é a questão da paz e da segurança: não estamos claros que a situação da guerra que nos é imposta na zona norte do país esteja sob controlo. Nós, sim, trabalhamos pela paz, mas aparentemente temos desafios grandes para conseguir a estabilidade, harmonia e paz social, em particular na zona norte do país”.
Graça Machel entende ainda: “as grandes expectativas são de que nós agora temos grandes investimentos que estão a acontecer e vão ter impacto a partir de 2021, 22 ou 23, mas, neste momento, a prioridade são os desafios que mencionei acima”.
Questionada a respeito da instabilidade no centro do país, Graça Machel exortou os órgãos de comunicação social presentes a remeterem a questão aos dirigentes da Renamo. (O.O)
“Não há negociação com Nyusi porque estamos a lutar. Ele está a atacar-me e eu também lhe estou a atacar. Estamos assim. Até alguém vai sentir”. Estas são as palavras de Mariano Nyongo, Presidente da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, quando questionado por jornalistas, baseados na cidade da Beira, se estava aberto a conversar com o Chefe de Estado, Filipe Nyusi, de modo a pôr fim aos ataques que se verificam na zona centro do país, desde Agosto de 2019, e que são atribuídos ao seu grupo militar.
Na entrevista, Nyongo disse que já não tinha nada a conversar com o Presidente da República porque este não respondeu à solicitação feita pela Junta Militar, no sentido de acomodar as suas reclamações.
“Não tenho nada a conversar com Nyusi porque eu queria um Governo, enquanto ambas partes já juntaram as forças (forças residuais da Renamo e Forças de Defesa e Segurança)”, disse Nyongo, acrescentando: “não sou bruto. Só não fui à escola. Se estão acostumados a enganar Dhlakama, eu sou Mariano Nyongo”, sentenciou.
Segundo o Presidente da Junta Militar, a Frelimo “manipulou tudo” o que tinha sido acordado com o antigo Líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que perdeu a vida a 03 de Maio de 2018. Entre os consensos que tinham sido acordados com Dhlakama, recorde-se, estava a integração dos homens da Renamo nas estruturas superiores das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), Polícia da República de Moçambique (PRM) e Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), porém, a “perdiz” apenas conseguiu colocar homens na PRM e FADM, havendo ainda um “braço-de-ferro” em relação à integração daqueles homens na secreta moçambicana.
“O que a Frelimo sabia, antes de morrer Dhlakama, é que receberia homens da Renamo para enquadramento e era do conhecimento de cada moçambicano. Sabíamos que homens da Renamo seriam integrados nas FDS; seriam desmobilizados antes das Eleições, mas a Frelimo manipulou tudo. Nyusi não é Presidente da República, em 2020. Isso é violação da vontade da maioria dos moçambicanos”, afirmou Nyongo.
Sendo assim, os jornalistas quiseram saber qual seria a solução para o problema, que “devolveu” o centro do país a um novo ambiente de instabilidade, ao que o homem que lidera o grupo de contestatários do actual Presidente da Renamo, Ossufo Momade, respondeu: “vamos estudar uma solução. Quando filhos de Israel saíram do Egipto encontraram o Mar Vermelho cheio, mas Deus abriu caminho. Deus vai abrir-nos caminho, como Junta Militar”, garantiu.
Na conversa mantida com os jornalistas, Mariano Nyongo apelou aos empresários estrangeiros a cuidarem das suas empresas, pois, “a Junta Militar está aqui em Moçambique e nunca vai dar espaço ao governo marxista da Frelimo”. Sublinhou ainda que “Moçambique não está bom”.
Nyongo acrescentou não reconhecer os 60 deputados da Renamo que tomaram posse, na manhã desta segunda-feira, alegadamente porque não receberam nenhuma formação da Junta Militar.
“Deixaram os militares no mato a sofrer sem sapato, comida e hoje foram tomar posse. Isso significa que são pessoas que se aproximam da Renamo para explorá-la e mandar os donos para pobreza, enquanto eles enriquecem. A Junta Militar nunca reconhecerá os deputados que tomaram posse”, disse, salientando: “são os mesmos que quando Dhlakama fazia algo estavam com ele, mas na hora do dinheiro abandonavam-no”.
“Queremos liquidar esses homens. Quem foi tomar posse é inimigo da Junta Militar”, disse Mariano Nyongo, defendendo ainda que a Junta Militar “não tem conhecimento de que Filipe Nyusi vai ser Presidente da República em 2020”. (Carta)
Decorreu ontem a cerimónia de investidura dos 250 deputados eleitos a 15 de Outubro de 2019. O evento foi dirigido pelo Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, e contou com a presença de 246 deputados, sendo 180 da Frelimo, 60 da Renamo e seis do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
Uma vez que até há dias existia um certo “suspense” em volta da tomada de posse do maior partido na oposição, eis que estes se fizeram presentes na cerimónia de investidura. Em entrevista à “Carta”, tanto José Manteigas, Porta-voz da Renamo, António Muchanga e Ivone Soares, todos deputados nesta legislatura que iniciou, foram unânimes em afirmar que foram tomar posse porque valorizam o voto da população e que tudo farão para que o mesmo seja respeitado.
Para José Manteigas, “a nossa primeira função é representar os cerca de 28 milhões de moçambicanos na casa do povo”. Manteigas disse que os seus pares irão fiscalizar devidamente o Governo neste quinquénio que começa. Questionado pela “Carta” sobre qual seria a estratégia da Renamo nesta legislatura, face à maioria da Frelimo, o nosso interlocutor disse que as estratégias serão implementadas em função dos casos e que, neste momento, não poderia adiantar nada.
Segundo António Muchanga, a Renamo vai representar com dignidade o povo moçambicano, “o povo moçambicano está consciente do que aconteceu. O que aconteceu é que houve roubo, que qualquer um está sujeito”. Usando uma metáfora, Muchanga disse: “se na tua casa aparece um ladrão e descobre teu cofre, rouba 15 milhões, e depois a correr deixa cair cinco, você abandona os 5 milhões porque roubaram a maioria?”. António Muchanga afirmou que as “sobras são de representação do povo moçambicano e por isso temos de dignificar este povo que votou em nós”. Para o deputado, a Renamo vai “representar o povo moçambicano com dignidade e respeito, fiscalizar o governo do dia e denunciar as manobras dilatórias que põem em causa o bem-estar do povo moçambicano”.
Enquanto isso, Ivone Soares, também deputada da Renamo, disse que espera não defraudar as expectativas dos moçambicanos que esperam ser muito bem representados. Para tal, disse, a Renamo irá fiscalizar o governo declarado vencedor e discutir questões que mexem com a população, como os salários que são discutidos sempre no primeiro semestre de cada ano.
Soares disse ainda que a pressão que a sua bancada vai fazer será para que o governo eleito possa cumprir com os planos de governação, garantindo condições de vida para os moçambicanos, como por exemplo na questão da electricidade que, embora seja produzida em Moçambique, não chega a todos os cantos do país, falta de água potável para as comunidades, falta de meios para escoar os produtos agrícolas, entre outros problemas.
Ivone Soares disse que a expectativa da Renamo era de ter maioria para que pudesse aprovar leis que iriam beneficiar os moçambicanos. “Nós vimos o que foram as eleições que acabaram de acontecer, e depois os resultados foram validados pelo Conselho Constitucional (CC) apesar do nosso partido não reconhecer. No entanto, apesar de termos sobrado poucos, o que temos de fazer é garantir que tenhamos muita qualidade”, defendeu a Deputada.
Respondendo uma questão feita pela imprensa, sobre porque decidiram tomar posse, embora não reconhecendo os resultados eleitorais, a deputada voltou a socorrer-se da mesma metáfora usada pelo colega: “se alguém assalta a nossa casa, nós não vamos dizer que o bandido fica com tudo, fica com tudo para si… A postura da Renamo é de proteger aquilo que sobrou. E como os moçambicanos quiseram que a Renamo estivesse aqui representada, e nós somos esta sobra, temos que garantir intervenções com a qualidade que os moçambicanos merecem, e não estarmos a discutir pessoas, mas sim políticas que possam melhorar a qualidade de vida dos moçambicanos”, finalizou. (O.O.)