Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Sociedade

Após detenção a 16 de Agosto de 2019 de Francisco Mazoio devido ao seu papel no caso CR Aviation, onde o visado concedeu 84 milhões de Mts sem que o Conselho de Administração do Instituto Nacional de Segurança Social tivesse deliberado, o INSS teve de encontrar, entre os membros do CA, um membro para segurar o “saco azul”, uma vez que Mazoio se encontra detido e a responder em Tribunal pelos crimes de abuso de cargo ou função, simulação e peculato.

 

Segundo aferimos, devido a esta detenção, o CA teve de procurar uma figura proveniente do sindicato dos trabalhadores tal como Mazoio. Esta figura é Gonçalves Zitha, que passou a ser substituto do PCA do INSS.
Zitha foi escolhido pelo facto de ser a figura que há mais tempo faz parte do CA.

 

Apesar das suas dificuldades básicas de comunicação, derivadas da sua humilde proveniência profissional (sindicatos), Zitha foi indigitado uma vez que a gestão do INSS neste momento encontra-se nas mãos dos trabalhadores, já que o então PCA é arguido no processo acima citado. Ele ocupava o cargo desde 2013 e havia sido empossado pelo então Primeiro-Ministro Alberto Vaquina.

 

Gonçalves Zitha irá cumprir o mandato de Francisco Mazoio, que desde que assumiu o posto há seis anos nunca chegou a ser reconduzido, segundo preconiza o decreto 17/88, de 27 de Dezembro, no capítulo II, artigo 6, na alínea 1: “a duração dos mandatos dos administradores é de dois anos, renováveis, mediante um acto administrativo do Conselho de Ministros”, o que não aconteceu nos últimos anos.

 

Enquanto PCA substituto, Gonçalves Zitha lidera uma equipa composta por Maria Rosel Salomão e Eduardo Nhampossa (Administradores em representação do Estado), Jéssica Gune (Administradores em representação dos Trabalhadores), Adelino Buque e Prakash Prehlad (Administradores dos Empregadores), Emídio Mavila (Representante da Ministra do Trabalho) e Isaltino Cassamo (Auditor Não Administrador).

 

Entretanto, conforme avançam fontes do INSS, com a entrada da nova Ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social, Margarida Talapa, algumas “pedras” serão movimentadas, principalmente os restantes membros do CA que são nomeados por ela através do parecer dos trabalhadores e empregadores.

 

De salientar que, num evento que decorreu nos finais do ano passado, Gonçalves Zitha exortou os trabalhadores a pautarem por uma gestão transparente do sistema de segurança social e aprimorar as acções de cobrança das dívidas dos contribuintes. (O.O.)

As províncias de Sofala e Zambézia estão sob influências de baixas pressões. Desde o dia 19 do corrente mês, a cidade da Beira tem estado a registar chuvas intensas com cerca de 124 milímetros de precipitação, descargas atmosféricas, trovoadas severas, e registo de ventos com rajadas, segundo informações do Instituto Nacional de Meteorologia (INAM).

 

De acordo com o representante do INAM, Acácio Tembe, em Manica também há registo de chuvas e as previsões mostram que as precipitações poderão continuar.

 

“Neste momento, o sistema está a movimentar-se para o norte e, a partir do final desta segunda-feira, vai começar a afectar a província da Zambézia, Tete, assim como a parte sul da província de Nampula, onde também estão previstas chuvas intensas acima de 100 milímetros de precipitação em 24 horas. Este sistema vai manter-se estacionário durante os próximos três dias, o que significa que até ao dia 22 do corrente mês, principalmente para a cidade de Quelimane e toda a província da Zambézia estarão sob fortes chuvas intensas’’.

 

Diante deste cenário, as projecções mostram que este sistema poderá fazer o movimento para o mar encostando-se à Ilha de Madagáscar. As projecções mostram também que este sistema poderá chegar à depressão tropical quando ele já tiver chegado a Madagáscar e poderá igualmente trazer muita chuva para aquele país. Entretanto, a partir dos dias 23 e 24, este sistema já não originará a queda de chuvas abundantes naquele país, mas, não se descarta a possibilidade dele fazer uma viragem e retornar a Moçambique, razão pela qual deve-se fazer a monitoria cerada para se ver as condições do mar, e para o que poderá acontecer depois deste movimento.

 

Face a esta situação, o Chefe do Departamento das Bacias Hidrográficas, Agostinho Vilanculos, referiu que as previsões hidrológicas que indicavam a probabilidade de ocorrência de cheias no regime moderado a alto, em alguns locais altos, sobretudo nas bacias dos rios Búzi, Púnguè e Licungo, e para as cidades da Beira e Quelimane. Importa referir que neste momento, já existem alguns bairros inundados na cidade da Beira.

 

“A chuva vai continuar na Beira e esta situação pode agravar-se cada vez mais. Portanto, apelamos para as populações residentes nos bairros propensos a inundações para que se retirem imediatamente, visto que na noite desta segunda-feira a situação poderá agravar-se”, referiu.

 

Bacia do Licungo acima dos níveis de alerta

 

As previsões mostram que, a partir da noite desta segunda-feira, a cidade de Quelimane poderá registar inundações urbanas de regime moderado a alto, o que poderá agravar a sua situação. Nestas áreas apela-se aos automobilistas para que evitem fazer-se às ruas, porque há previsão de cheias nos rios e a grande preocupação é para a bacia do Licungo.

 

Com base nesta situação, Vilanculos explicou que, neste momento, a bacia do Licungo encontra-se com os níveis altos e com volumes muito altos, e que qualquer quantidade de precipitação acima dos 100 milímetros poderá ser fatal, visto que o rio poderá incrementar rapidamente e começar a transbordar – o que se torna deveras preocupante visto que há dois dias consecutivos que está a chover muito. Isso é bastante para uma bacia que já vem recebendo precipitação desde o mês de Dezembro. É mais preocupante, sobretudo para os distritos de Namacurra e Maganja da Costa, para onde é lançado um apelo para que as populações saiam imediatamente desses locais.

 

A fonte disse ainda que se chama também a atenção aos automobilistas sobre o ponto na EN1 onde existe a ligação entre Mocuba e o posto administrativo de Mugeba, visto que se a bacia do Licungo transbordar poderá afectar aquela zona.

 

Com base nas previsões acima indicadas, o porta-voz do Centro Operativo de Emergência (CENOE), Paulo Tomás, referiu que, do trabalho que está a ser feito no terreno, já foram retiradas cerca de 20.000 pessoas e que parte destas se encontram alojadas nos centros de acolhimento previamente criados. Deste número, cerca de 2000 pessoas foram a estes centros e a outra parte, tendo em conta o trabalho prévio de sensibilização, foram fixar-se em locais seguros, enquanto outras, ainda, se encontram em casa dos familiares.

 

Desde que iniciou a época chuvosa há registo de haverem cerca de 12.000 famílias afectadas, o que corresponde a um universo de cerca de 58.000 pessoas. O número de pessoas retiradas das zonas de risco poderá sofrer um incremento uma vez que as equipas do INGC estão ainda no terreno a fazer o levantamento.

 

Assim sendo, tendo em conta as doenças de origem hídrica, o sector da saúde já activou os seus comités e iniciou com o processo de distribuição do cloro. Por sua vez, o sector da educação já iniciou com a distribuição do livro escolar em locais considerados críticos.

 

Por conta das chuvas que caíram entre sábado e domingo na província de Maputo, registou-se a morte de quatro pessoas (em Boane e na Matola), tendo subido de 12 para 16 o total de óbitos, na presente época chuvosa, nesta província. Das quatro pessoas que perderam a vida, duas morreram devido a descargas atmosféricas, uma por arrastamento das águas e outra por electrocução. A nível das províncias já existem brigadas para trabalharem com a monitoria e prontidão, face à presente época. (Marta Afonso)

De cima para baixo, a equipa da continuidade (Carlos Agostinho do Rosário, Adriano Maleiane, Celso Correia, Max Tonela, Carlos Mesquita e João Machatine); da renovação (Verónica Macamo, Margarida Talapa, Augusta Maita, Amade Miquidade, Jaime Neto e Eldevina Materula); e dos “excluídos” (José Pacheco, Conceita Sortane, Basílio Monteiro, Atanásio M’tumuke, Vitória Diogo e Joaquim Veríssimo)

Foram necessárias 57 horas – após a investidura – para conhecer-se a composição do novo Governo da República de Moçambique, liderado por Filipe Jacinto Nyusi, no seu segundo mandato consecutivo como Chefe de Estado e do Executivo moçambicano. Eram exactamente 19:55 horas, da última sexta-feira, 17 de Janeiro, quando a Presidência da República comunicou a nomeação, através de despachos presidenciais separados, do Primeiro-Ministro e de alguns membros do Conselho de Ministros.

 

São, no total, 18 membros do Governo nomeados por Filipe Nyusi – Primeiro-Ministro e 17 Ministros – sendo que apenas 17 tomaram posse na tarde do último sábado, 18 de Janeiro de 2020. A Ministra da Cultura e Turismo, Eldevina Materula, não tomou posse, em virtude de estar “fora do país a realizar um concerto”, segundo a explicação do Presidente da República.

 

Entretanto, dos 18 nomeados, apenas quatro renovaram os mandatos nos seus respectivos pelouros. São eles Carlos Agostinho do Rosário (Primeiro-Ministro), Adriano Afonso Maleiane (Ministro da Economia e Finanças), Ernesto Max Elias Tonela (Ministro dos Recursos Minerais e Energia) e João Osvaldo Machatine (Ministro das Obras Públicas e Recursos Hídricos).

 

Já Carmelita Rita Namashulua, Carlos Alberto Fortes Mesquita e Celso Ismael Correia renovaram os mandatos, porém, foram movimentados para outras áreas.

 

Namashulua irá ocupar o cargo de Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, depois de ter cumprido cinco anos no Ministério da Administração Estatal e Função Pública. Carlos Mesquita sai do Ministério dos Transportes e Comunicações para o da Indústria e Comércio e Celso Correia, o “todo-poderoso” Ministro de Nyusi, vai liderar o recém-criado Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, depois de ter comandado o extinto Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural. Isto é, continua a tutelar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável, a “vaca leiteira” do momento.

 

Os restantes 11 Ministros são caras novas e estreantes no Conselho de Ministros, apesar da Ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Mateus Kida, ter ocupado o cargo de vice-Ministra do Interior de Novembro de 2017 a Janeiro de 2020. São eles: Verónica Nataniel Macamo Dlhovo (Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação), Margarida Adamugy Talapa (Ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social), Jaime Bessa Neto (Ministro da Defesa Nacional), Amade Miquidade (Ministro do Interior), Armindo Daniel Tiago (Ministro da Saúde), Augusta de Fátima Charifo Maita (Ministra do Mar, Águas Interiores e Pescas), Gabriel Ismael Salimo (Ministro da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional), Ivete Maibase (Ministra da Terra e Ambiente), Janfar Abdulai (Ministra dos Transportes e Comunicações) e Eldevina Materula (Ministra da Cultura e Turismo).

 

Os “excluídos”

 

Com cinco prováveis vagas ainda por serem preenchidas – tendo em conta o Governo de 2015 – nos Ministérios da Administração Estatal e Função Pública; Juventude e Desportos; Género, Criança e Acção Social; Presidência para os Assuntos da Casa Civil; e dos Combatentes, 16 ex-ministros estão na expectativa de verem seus nomes indicados para ocupar qualquer destas vagas.

 

Entre os grandes ausentes está José Condungua Pacheco, o polémico Ministro que assumiu duas “pastas” no primeiro mandato de Filipe Nyusi. Foi Ministro da Agricultura e Segurança Alimentar de 2015 a 2017 e Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de 2017 até Janeiro de 2020. Seguem-se Jaime Basílio Monteiro (Ministro do Interior de 2015 a 2020); Atanásio Salvador M´tumuke (Ministro da Defesa Nacional de 2015 a 2020); Vitória Dias Diogo (Ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social de 2015 a 2020); Cidália Manuel Chaúque Oliveira (Ministra do Género, Criança e Acção Social de 2015 a 2020); e Nazira Abdula (Ministra da Saúde de 2015 a 2020).

 

A lista inclui ainda Eusébio Lambo Gondiwa (Ministro dos Combatentes de durante todo o mandato); Jorge Olívio Penicela Nhambiu (Ministro da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional durante todo o mandato); Agostinho Salvador Mondlane (Ministro do Mar, Águas Interiores e Pescas); Silva Armando Dunduro (Ministro da Cultura e Turismo durante todo mandato); Adelaide Anchia Amurane (Ministra da Presidência para os Assuntos da Casa Civil durante o mandato); Higino Francisco de Marrule (Ministro da Agricultura e Segurança Alimentar entre 2017 e 2020); Conceita Ernesto Xavier Sortane (Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano entre 2016 e 2020); Nyeleti Brooke Mondlane (Ministra da Juventude e Desportos entre 2017 e 2020); Ragendra Berta de Sousa (Ministro da Indústria e Comércio entre 2017 e 2020); e Joaquim Veríssimo (Ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos entre 2018 e 2020).

 

Refira-se que no seu primeiro mandato, Filipe Nyusi contou com 22 Ministros, para além do Primeiro-Ministro. Dos 23 membros do Governo, apenas 17 terminaram o mandato, sendo que, destes, 15 cumpriram os cinco anos nos pelouros para os quais foram empossados, em 2015, enquanto dois mudaram de “pastas” ao longo do mandato (José Pacheco e Max Tonela).

 

Porém, destes, apenas quatro continuam a desempenhar as mesmas funções, sendo que três foram transferidos para outras áreas. Os restantes oito ainda não sabem qual será o seu destino, tal como José Pacheco que no dia da tomada de posse, como Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, disse ser “pau para toda obra”.

 

Discursando este sábado, durante a tomada de posse do novo Governo, Filipe Nyusi afirmou que nenhum dos Ministros foi solicitado a apresentar cartão partidário – da Frelimo – para ser nomeado, mas que a escolha baseou-se na competência.

 

Por isso, o Chefe de Estado espera um Governo que paute pela integridade, lealdade, ética governativa e intolerância à corrupção, um mal que, nas suas palavras, fragiliza as instituições do Estado moçambicano. Sublinhou ainda que “não poderá existir a desculpa de que sou novo ou nova na função, pois, as instituições que passam a dirigir sempre existiram e possuem instrumentos que delimitam as suas atribuições e competências”, pelo que, os mais de 28 milhões de moçambicanos “vão cobrar os resultados”. (Abílio Maolela)

Está em vigor desde 2002 o regulamento que determina que “50% dos valores provenientes das multas por transgressão à legislação florestal e faunística, destina-se aos fiscais de florestas, fauna bravia e aos agentes comunitários, que tiverem participado no levantamento do processo de transgressão respectivo, bem como as comunidades locais ou a qualquer cidadão que tiver denunciado a infracção”.

 

Em todo o distrito da Gorongosa estão registados oito operadores florestais, dos quais três em regime de concessão e cinco em regime de licença simples. Além dos comités de gestão de recursos naturais de Tambarara e Canda, existem outros cinco, nomeadamente Nhambita, Nhanguo, Kuzo, Tchutchenja e Santugira.

 

No entanto, desde então, duas comunidades do distrito da Gorongosa, em Sofala, com registo predominante de operações florestais, nomeadamente Tamarara e Canda, revelaram que nunca se beneficiaram do prémio de multas aplicadas sobre a exploração ilegal de recursos florestais, nas respectivas zonas.

 

Na busca de informações sobre o processo de canalização dos prémios para denunciantes e actuantes, bem como a forma que são feitas as denúncias das irregularidades nas comunidades e respectivo seguimento, uma equipa de investigação liderada pela Livaningo do consórcio ADEL Sofala, Livaningo, Muleide, IPAJ, e Rede de Jornalistas Amigos do Ambiente.. Deslocou-se em finais do ano passado à Gorongosa, concretamente, às comunidades acima mencionadas e constatou que as mesmas nunca se beneficiaram dos valores oriundos das denúncias de casos de exploração ilegal de recursos florestais.

 

No trabalho realizado, foram entrevistados cinco membros do corpo de fiscalização comunitária, designadamente Albertino Miquirisse, Rosita Chamisso Saroia, Rosário Araújo João (Comité de Gestão dos Recursos Naturais de Canda); Carlitos Jacinto Alficha e Bói Marcelino Gemo (Comité de Gestão dos Recursos Naturais de Tamarara). Nas respostas dadas ao conjunto de perguntas que lhes foram colocadas, foram unânimes em afirmar que não se lembram de alguma vez se terem beneficiado do mecanismo legalmente instituído pelo Decreto N º 12/ 2002, de 6 de Junho, sobre a comparticipação.

 

Albertino Miquirisse, chefe da equipa de fiscalização ao nível do Comité de Gestão dos Recursos Naturais de Canda e Carlitos Jacinto Alficha, chefe de fiscais do comité de Tamarara ambos confirmaram a ocorrência recorrente, nas suas comunidades, de casos de violação da legislação florestal e faunística, com principal destaque para situações de abate indiscriminado de árvores para produção de carvão vegetal.

 

Miquirisse afirmou ainda que são tantos os casos de infracção nas operações florestais, na sua comunidade, que já nem se lembra de quantos foram no total, desde que se encontra envolvido neste trabalho, ou seja, desde 2007. Referiu ainda que, na sua maioria, os casos envolvem membros da comunidade local que se dedicam à produção de carvão, os quais tem feito o abate indiscriminado de árvores.

 

Sobre o tratamento que dão aos supostos prevaricadores, respondeu que tem sido levados à sede do comité onde são sensibilizados a não retornarem à prática. E, nos casos em que se observa relutância ou reincidência são encaminhados as autoridades estatais.

 

Perda de confiança as autoridades

 

De acordo com fontes, normalmente, quando se neutraliza um furtivo o caso resolvido na respectiva comunidade. “Geralmente temos aplicado uma multa e nos beneficiamos imediatamente dos valores. Recentemente, por exemplo, flagramos uns cidadãos a poluir o rio para facilitar a captura de pescado. Tivemos uma resolução de irmãos para irmãos, um “combinado” da zona. O valor da multa que aplicamos foi de 1.500,00 Mts, porém, os prevaricadores disseram que não tinham dinheiro para pagar, vai daí, demos-lhes o trabalho de construir latrinas a favor das comunidades locais”.

 

Nas suas declarações, Miquirisse deu a entender que há pouca confiança em relação à transparência por parte das autoridades do distrito. “Quando apresentamos uma denúncia somos excluídos dos passos subsequentes. Não assinamos nenhum documento. Outro dia neutralizamos tractoristas, comunicamos aos fiscais do governo, mas até hoje não tivemos resultados. Já não temos motivação para continuar a desenvolver uma cooperação sã com as autoridades, porque não vemos a vantagem”, denunciou.

 

“Eles é que não nos dão esse direito. Nem chegamos a ver o tipo de documento... Estamos cansados. Nós preferimos pegar esses nossos e cobrar multa para as comunidades. Nunca recebemos nenhum valor. Também temos medo, não temos capacidade”, acrescentou. Relativamente aos operadores florestais, o entrevistado disse que neutralizar camionistas tem sido muito difícil, por não possuirem meios para imobilizar as viaturas em circulação.

 

“Não temos essa capacidade. A nossa intervenção tem sido mais para os homens de corte e não são muitos casos que temos conseguido porque as zonas de corte também ficam distantes das nossas áreas residenciais. Mas sempre que ocorre um caso nas redondezas temos conseguido capturar os autores e geralmente apreendemos os instrumentos de corte. Não temos capacidade para neutralizar transportadores”.

 

Revelações semelhantes foram dadas pelos restantes dois membros do comité de gestão dos recursos naturais de Canda, designadamente Rosita Chamisso Saroia e Rosário Araújo João. Para Rosita Chamisso, nos últimos anos houve uma redução substancial de operações florestais, reduzindo, consequentemente, as práticas ilegais. Por seu turno, Bói Marcelino Gemo, fiscal de Tamarara, que actua na área há sensivelmente 18 anos, declarou que nunca recebeu e nem acompanhou a recepção de dinheiro resultante de multas. “Dinheiro não tenho recebido”, repisou a fonte.

 

 “Foi em 2018. Eramos dois fiscais e levamos a madeira para a sede do distrito. Depois o SDAE vendeu a madeira e nos deu pouco dinheiro, para pelo menos comprar sabão. Disseram-nos que venderam a madeira para carpinteiros locais por 150,00 Mts cada peça. Eram 10 peças que renderam 1500, 00 Mts e deram-nos 500,00 Mts, tendo dividido 250,00 Mts para mim e a outra metade para o meu colega”, contou Bói Marcelino Gemo.

 

Carlitos Jacinto Alficha, chefe de fiscais do comité de Tamarara, disse que ao longo do ano 2019 a sua comunidade neutralizou 26 carvoeiros ilegais. “Todos eles foram julgados na sede do comité. Se constatarmos que é reincidente encaminhamos a pessoa às autoridades do governo. Já levamos três pessoas este ano às autoridades do governo. Não sabemos se já pagaram as multas”, afirmou o entrevistado, frisando que este ano reduziu muito a acção de furtivos.

 

Relativamente à abordagem primária, Gimo Simango, Director do Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE) em Gorongosa mencionou um caso de transgressão que culminou com a aplicação de uma multa no valor de 200 mil meticais, cujo denunciante foi o presidente do comité de gestão de recursos naturais de Kudzi.

 

A fonte disse ter informação de que a multa já foi paga e quanto à compensação de direito ao denunciante, afirmou tratar-se de um caso recente e que ainda está em tramitação. “Temos informação de que a multa já foi paga, mas está ainda no processo de tramitação ao nível da DPTADER”, avançou Simango.

 

Gimo Simango explicou que os denunciantes em condições normais tem de participar em todo o processo e para a beneficiação da compensação resultante do valor das multas exige-se que preencham os requisitos pré-estabelecidos.

 

“O que muitas vezes acontece nós agora estamos a tentar trabalhar com os denunciantes, com as comunidades, porque para que os valores de comparticipação sejam transferidos é preciso que eles tenham NUIT, conta bancária. Então, há alguns procedimentos que é preciso que aconteçam e muitas vezes os denunciantes não têm. Mas, há um trabalho que estamos junto as comunidades de forma a sensibilizar cada membro do comité para ter NUIT, conta bancária para facilitar as transações”, avançou o Director do SDAE de Gorongosa. (Paula Mawar & Omardine Omar)

Quarta-feira última, o país parou, literalmente, para assistir à cerimónia de investidura do novo Presidente da República, Filipe Nyusi. Entretanto, mais do que o acto em si (investidura), a cerimónia foi, sem dúvidas, marcada pela ausência dos líderes dos partidos da oposição, que, com Filipe Nyusi, disputaram a presidência do país.

 

Trata-se de Ossufo Momade (presidente da Renamo), Daviz Simango (Movimento Democrático de Moçambique) e Mário Albino (AMUSI), todos convidados por Filipe Nyusi para assistir à sua investidura. Não só foram convidados, como também tinham um lugar destacado na tenda reservada aos VIPs do megalómano evento. Ou seja, na primeira fila, onde também se sentaram Armado Guebuza e Joaquim Chissano.

 

Mas nem Ossufo Momade, nem Daviz Simango e muito menos Mário Albino se fizeram presentes ao local que acolheu a cerimónia. Aliás, os deputados dos dois maiores partidos da oposição (Renamo e MDM) do xadrez político nacional, também boicotaram a cerimónia de investidura.

 

Esta quinta-feira o nosso jornal procurou ouvir a versão dos ausentes. Para o MDM, na pessoa do seu respectivo porta-voz, Sande Carmona, o presidente do partido dignou-se em não comparecer à cerimónia porque não queria assistir a uma “investidura da fantochada”.

 

Sande Carmona disse que o MDM não reconhece os resultados saídos das eleições do passado dia 15 de Outubro, porque os mesmos não reflectem a real vontade expressa nas urnas pelos eleitores. O porta-voz do “galo” disse que, na verdade, o partido Frelimo manipulou, de forma maquiavélica, a vontade popular.

 

Participar da cerimónia, disse Carmona, igualar-se-ia a “testemunhar à investidura de um ladrão que lhe roubou de forma descarada”.

 

Sobre o facto de os deputados do MDM terem tomado posse na última segunda-feira, enquanto esta formação não reconhece os resultados eleitorais, Carmona avançou que assim procederam porque dão valor à vontade do povo. Para esta legislatura, o MDM conta com um total de seis deputados, depois de na anterior ter tido 17.

 

Já Ossufo Momade, citado pela DW África, na passada quarta-feira, começou por confirmar a recepção do convite para tomar parte do evento. De seguida, o presidente do maior partido da oposição disse que optou por não se fazer presente porque não “tinha moral” para lá estar e também para evitar ser confundido pelo povo. Tal como disse, a sua presença no local igualar-se-ia a um “escândalo”.

 

Ossufo Momade reiterou a não aceitação dos resultados das últimas eleições, mas deixou a garantia que continuará a dialogar com o recém-empossado Presidente da República, por prezar os princípios deixados pelo falecido presidente do partido, Afonso Dhlakama.

 

Em relação à assumpção do estatuto especial de líder da oposição, Momade disse que cabia ao partido decidir se deve ou não aceitar.

 

Por outro lado, Mário Albino, “marinheiro de primeira viagem” nas corridas à Presidência (tal como Momade), declinou tecer qualquer comentário à volta do assunto, sob o argumento de que estava reunido. De forma insistente, o nosso jornal tentou entabular conversa com o líder do AMUSI, mas este simplesmente declinou as nossas chamadas. (Carta)

Foi a 28 de Novembro de 2019 que Shelton Lalgy, de 30 anos de idade, filho do empresário do ramo de transporte de cargas Junaid Lalgy foi raptado por indivíduos até aqui “desconhecidos”. Completa hoje 51 dias de cativeiro, numa altura em que a família colocou à venda 20 camiões como forma de pagar o resgate que, segundo apuramos, ronda pouco mais de 4 milhões de USD.

 

Entretanto, a Directora Provincial do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) na Província de Maputo, Benjamina Chaves, afirmou, em entrevista à Rádio Moçambique: “o caso em que a vítima é um dos familiares da família Lalgy continua em investigação. Quero dizer, em casos de rapto dificilmente a investigação tem a colaboração da própria família, porque afinal de conta os raptores ameaçam tanto a própria vítima como os familiares da vítima. Por isso, não tem sido fácil os familiares colaborarem com as autoridades para o esclarecimento do caso, mas nós já dissemos à família que estamos sempre disponíveis, assim que precisarem da nossa mão ou se tiverem algum elemento adicional que nos ajude a caminharmos para o esclarecimento do processo”.

 

Relativamente ao pedido de somas elevadas para libertar a vítima, Benjamina Chaves, disse: “se existe algum valor que os raptores tenham solicitado para o resgate não posso precisar, pois não chegou aos nossos processos. Podem ser conversas de corredores, mas não posso precisar. Portanto, o processo deste caso prossegue: todos os dias fazemos as nossas diligências no âmbito da investigação para que, de facto, o caso seja esclarecido, para poderemos resgatar a vítima do cativeiro”.

 

Refira-se que Shelton Lalgy foi raptado quando regressava de mais uma jornada de ginástica em direcção a sua residência, às 06:00h do passado dia 28 de Novembro de 2019 por indivíduos que se faziam transportar numa viatura da marca Toyota Noah, sem chapa de matrícula, tendo os mesmos interpelado a viatura da vítima, de marca Toyota Hilux. Até aqui o SERNIC diz não ter pistas. (Carta)