Depois do seu violento repúdio contra as declarações de Roque Silva, o solícito e interventivo SG da Frelimo que elevara o PR Filipe Nyusi ao estatuto divino de Allah, o lobby muçulmano de Maputo não ficou de braços cruzados. Esperavam uma reacção pública de Silva? Talvez não! Mas houve quem tivesse considerado o repúdio uma acção exagerada. Roque Silva já se tinha retratado usando os canais discretos na sua relação com a comunidade. Longe dos holofotes. Alguém na comunidade forçou aquela reacção, aquele registo de grupo de pressão.
Na segunda-feira a noite, no jantar de angariação de fundos da Frelimo no Hotel Glória em Maputo (entre leilōes e venda de lugares, o partido arrecadou 26,4 milhões de Meticais), novos actores entraram em cena. Na mesa central, ao lado do Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, não estavam os filhos de Mohamed Bachir Suleman (MBS), nomeadamente Kayum e Vali, que no início da presente legislatura se destacaram nos jantares de angariação de fundos do partido. Desde a transição democrática nos anos 90, o clã Bachir foi useiro e vezeiro desse palco desregulado de financiamento partidário. Joaquim Chissano e Armando Guebuza, os anteriores presidentes da Frelimo, atrairam uma camada empresarial ligada ao comércio internacional aos jantares onde eram promovidos leilōes que terminavam com arremataçōes milionárias.
Há pouco mais de duas semanas, os dois destacados juristas moçambicanos, sumidades da interpretação doutrinal do direito, impuseram-se contra a deliberação inicial da Comissão Nacional de Eleições (CNE), nomeadamente quando esta votou pela inelegibilidade do Eng. Venâncio Mondlane (proposta da Renamo para sua cabeça de lista em Maputo) em função da sua renúncia a um cargo anterior de membro da Assembleia Municipal de Maputo. A deliberação da CNE penalizava Mondlane por essa renúncia. Teodato Hunguana e Teodoro Waty esgrimiram argumento destinto. A renúncia era para evitar uma incompatibilidade. Hunguana foi também cáustico quando demonstrou que o procedimento da CNE na tramitação do processo da AJUDEM e de Samora Machel Júnior era como alguém metendo os pés pelas mãos, que tentava rejeitar liminarmente aquele grupo quando a lei indicava outro caminho. A CNE estava a mostrar incompetência gravosa ou qualquer coisa insondável.
Amanhã, quando se celebrar o Dia da Vitória, o significado profundo do 7 de Setembro no imaginário das novas gerações estará ausente. A maioria sabe pela historiografia oficial mais difundida do dia como um daqueles em que a Frelimo finalmente assinou os Acordos de Lusaka, mas poucos sabem da resistência de centenas de jovens que, na antiga Lourenço Marques, antes da Frelimo chegar, se barricaram contra o último reduto urbano e reacionário do colonialismo. O dia não é apenas o da vitória das armas. Não, não foi apenas isso. Havia as armas dum vento que soprava do norte, empunhadas sem balas por uma fornada de jovens nacionalistas que, mobilizados pela luta e sem procuração passada, fizeram também a sua quota-parte pela independência deste país. Mas o que aconteceu realmente a 7 de Setembro de 1974, aqui no hoje Maputo?
Na terça-feira da semana passada, o General Alberto Chipande levantou-se do leito onde, acometido por doença, tem passado seus dias. No ensopado azedo da política nacional, ele decidiu meter sua colherada de tempero...picante. Subiu ao andar do edifício branco da antiga Pereira do Lago, a sede nacional da Frelimo. A Comissão Política (CP) decidira reunir-se para discutir o "caso Samito". Mas Chipande não foi de meias medidas. Caso Samito?, vociferou. Para ele não havia um "caso Samito". Havia um caso de traição e manipulação. Samora Júnior era um traidor. Nos tempos sombrios da luta de libertação da Frelimo, que durou de 64 a 74, ele teria um destino macabro.