Na mesma semana, no entanto, alguns empresários muçulmanos haviam soltado largas somas em dinheiro para financiar as campanhas da Frelimo em todo o país. Entre eles, sobressaíram Munir Sacoor, Noor Momade, Shafee Sidat e Junaid Lalgy. Os primeiros três pousaram semana passada num evento de angariação de fundos no Niassa. Trajados das vestes coloridas da maçaroca e batuque. Empresários da comunidade sempre estiveram na dianteira do financiamento à Frelimo. Uns dão mais a cara que outros, que optam pela descrição mas gastam rios de dinheiro. Esta semana, a comunidade muçulmana de Maputo despiu o casaco da pressão e vestiu a camisola do lobby.
Na terça-feira de manhã, representantes de 14 associações estiveram no prédio da antiga Pereira do Lago num encontro com Eneias Comiche onde deram suas opiniões sobre a vida da cidade de Maputo. A iniciativa partiu da Frelimo. O repúdio tinha sido violento e era preciso clarificar se depois do barulho a comunidade estava com o partido. Mas como não estar? Na noite da mesma terça-feira, pelas 20 horas, o cachimbo da paz foi fumado em jantar com pompa. No Hotel Afrin na baixa de Maputo. Todas as associações islámicas de Maputo (14) e mais de 100 empresários muçulmanos juntaram-se à volta de Eneas Comiche. O jantar não era de angariação de fundos. Era para Comiche aprofundar sua compreensão sobre o que inquieta as associações e empresários mulçumanos.
Basicamente, a comunidade espera de Comiche que ele oleie e máquina burocrática do Conselho Municipal. Olear no bom sentido de agilizar decisões e autorizações. Pode ser que Comiche tente se agilizar, ele próprio. Mas se os processos burocráticos de tomada de decisão forem intricados, demorados, não esperem que Comiche renasça com o perfil do pragmático que nunca foi. Comiche é um “burocratista” quase a roçar para o kafkiano.
Mas o essencial é que o lobby muçulmano falou de quase tudo: lixo, comércio informal nas suas barbas, mendicidade (que têm combatido com notoriedade) alcoolismo, violência doméstica, etc. E mostraram saudade do moribundo projecto “Chonga Maputo”, que estava a trazer novas cores aos prédios desbotados da cidade mas também uma nova dinâmica de organização intra-condomínios. Isso se perdeu.
Houve quem tentasse o diapasão da queixa particular sobre uma decisão ilegítima do consulado de David Simango mas o que mais ressaltou foi uma intervenção geral de carácter cívica e duas grandes preocupações. A Associação Muçulmana (AM) quer que a edilidade autorize o uso do espaço vedado em Hulene onde seria a zona muçulmana do cemitério que nunca foi. No passado, a AM investiu na vedação, incluindo da zona cristā, mas quando a ideia de cemitério foi descartada nunca obteve autorização para usar o lugar para outra coisa.