Engana-se quem pense que a actuação dos insurgentes no distrito de Macomia se limita às aldeias do litoral, porque, supostamente, a maior parte dos insurgentes é constituída por jovens oriundos naquela zona. A tensão tende a alastrar-se para o interior do distrito. Já foram atacadas as aldeias Litandacua, Chitoio e agora Chicomo, localizadas nas entranhas do distrito de Macomia. A aldeia Chicomo, posto administrativo de Nguida, dista quase 45 km da vila sede de Macomia e é, desde a noite desta sexta-feira, mais um local que caiu nas malhas dos rebeldes que atacam Cabo Delgado.
Pelas 20 horas da última sexta-feira, 21 de Dezembro de 2018, os insurgentes protagonizaram mais um ataque àquela comunidade, que na sua maioria vive da agricultura familiar e caça, deixando mais de 103 casas construídas com material local queimadas, mas sem registo de nenhum óbito. Foram também consumidos pelo fogo vários bens, incluindo produtos alimentares e vestuário. "Quando entraram eram 20 horas. Eram muitos homens. Assustámo-nos quando já estavam na aldeia a queimar casas. Como já sabíamos que haviam sido vistos na zona baixa do rio Messalo, depois do ataque em Chitoio, toda a gente saiu a correr até para onde cada um conhece, mas eu e outras pessoas fomos para o mato até chegarmos à aldeia Onumoz", conta um popular daquela aldeia. Uma outra fonte explica que antes de entrarem, já havia sido registada uma passagem deles por volta das 15 horas, por algumas pessoas que vinham das machambas, que deram a notícia logo que chegaram à aldeia, pelo que a população ficou atenta.
Segundo a mesma fonte, que estima que o número de revoltosos era de 10 homens, já havia sido desenhada uma estratégia visando emboscá-los, que não funcionou devido à falta de armas. A maior parte dos aldeões já se tinha refugiado na mata. De forma geral, os residentes de Chicomo descrevem um cenário de terror, o que é agravado pela falta de abrigo, numa altura em que as chuvas já começam a cair. Entretanto, o medo nas aldeias Onumoz e Nguida-Sede está a aumentar e os populares receiam que sejam as próximas vítimas, advertindo que a situação pode atingir o vizinho distrito de Meluco, porque é limítrofe de Macomia. Com vista a estancar este estado de coisas, a população de Chicomo e da aldeia Nguida reuniu-se.
Cerca de 70 homens fizeram-se à mata visando a caça ao homem, depois de supostamente saberem para onde o se grupo dirigiu após a sua incursão em Chicomo. Depois de ver as aldeias vizinhas, como Chitolo e Chicomo atacadas, um grupo de 20 pessoas, representando as comunidades de Liúkwe e Nkoe, foi na manhã de sábado ao Comando Distrital de Macomia implorar ao governo que ceda armas para a sua defesa ou que, no mínimo, seja afectada uma força permanente para evitar o pior.
No final da tarde, a vila de Macomia, segundo contam alguns populares, começou a registar-se a entrada de pessoas com bagagens e crianças ao colo, oriundas da aldeia Chicomo. Alguns a pé e outros de carro, transportados a partir da aldeia Licangano, fugiam por falta de um lugar de abrigo e comida. Um grande número de aldeões foi acolhido no bairro Nanga, de onde, de acordo com a história, parte dos residentes é originária. Em menos de uma semana, no distrito de Macomia, os insurrectos atacaram as comunidades de Chitoio, em Chai, Milamba, em Quiterajo, e Chicomo, no posto de Macomia sede, causando enormes prejuízos às populações locais. (Saíde Abibo)
Logo a seguir ao anúncio do acórdão n° 30/CC/2018 relativo à validação e proclamação dos resultados das eleições de 22 de Novembro (que deu a vitória à Frelimo), surgiu o porta-voz da Renamo, José Manteigas, a afirmar categoricamente que “não haverá governo” naquela parcela do país. Ele acusou o Conselho Constitucional de ter "vilipendiado toda a verdade eleitoral estampada nas urnas naquela vila autárquica”.
Manteigas não avançou como o seu partido irá inviabilizar a governação da Frelimo, mas garante que isso vai acontecer em Marromeu. A decisão da Renamo surge porque, no seu entender, é inconcebível que o CC, uma instituição que deveria ser guardiã da normalidade e do Estado de direito democrático, valide os resultados naquele ponto do país.
A insatisfação pelos resultados das eleições em Marromeu tem sido constantemente manifestada pelos representantes da Renamo em vários quadrantes. A título de exemplo, um dos juizes do CC, Manuel Henrique Franque votou contra o acórdão e Fernando Mazanga, vogal da Comissão Nacional de Eleições (CNE) denunciou a existência de um grupo composto por quatro pessoas que teriam usurpado a vontade do povo nas últimas eleições, tendo afirmado que a CNE não foi consultada pelo CC, mas levanta a possibilidade de três pessoas – lideradas pelo Vice-Presidente da CNE, António Chipanga – terem estado envolvidas no processo que garantiu a vitória à Frelimo. O representante da Renamo afirma que, provavelmente, tenham sido estas as únicas pessoas que foram auscultadas pelo CC.
Nas suas diligências com vista à verificação das eleições de 22 de Novembro, a Renamo submeteu dois recursos, um a nível distrital e outro a nível central, mas foram todos chumbados pelo CC, por alegadamente não terem seguido alguns procedimentos legais. Os resultados finais, que estão a ser o epicentro de contestações, deram a vitória à Frelimo, com 8395 votos, uma percentagem de 45,78%, contra 8349 votos, correspondentes a 45,53%, que couberam à Renamo, e 1594 votos ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), equivalentes a 8,69%. (Omardine Omar)
Hoje, quando o Conselho Constitucional (CC) anunciou que decidira validar a vergonha eleitoral de Marromeu, ficou-se a saber que o Juiz Conselheiro, Manuel Franque, um dos mais antigos na casa, fez aquilo que fizera nas eleições autárquicas de 2008: voto vencido. Franque foi apontado pela Renamo no quadro da composição do órgão de justiça eleitoral, que se baseia na representação proporcional dos partidos na Assembleia da República. O CC foi estabelecido em 2003. Franque é um dos seus juízes mais antigos, e ao longo dos anos ele tem ele tem votado sempre alinhado com o “bloco maioritário”. Seu aparente colagem aos juízes oriundos da Frelimo tem causado alguns calafrios nas hostes da Renamo.
O filho do ex-presidente Armando Guebuza, Mussumbuluko de seu nome, está a enfrentar um dilema: ele deve salários a 27 trabalhadores da extinta Direção de Operações do seu grupo empresarial, a Msumbiji. Em Fevereiro deste ano, Mussumbuluko decidiu rescindir unilateralmente com os trabalhadores, tendo-lhes garantido que pagaria uma indemnização. Na semana passada ele encaixou 17 milhões de Meticais da Aggreko e zarpou para o Bilene, onde goza sol e praia.
Para esclarecer determinadas questões relacionadas com os ataques a vários distritos da província de Cabo Delgado, a “Carta” apresenta alguns pormenores importantes, relativamente aos integrantes do grupo que há quase 15 meses atormenta os habitantes da região.
Na história do surgimento do grupo de insurgentes – que primeiro criaram uma seita religiosa islâmica, localmente conhecida por Al Shabab, termo árabe que significa “juventude” – não está dissociado o nome de Mabondo. Ou seja, quando se fala do grupo de rebeldes é forçoso referir-se, necessariamente, a este personagem.
Apesar de actualmente se encontrar em parte incerta, Aly Anlawe Mabondo, de 40 anos de idade, é um nome que não sai da cabeça das pessoas na vila de Mocímboa da Praia, quanto mais não seja porque este cidadão é tido como quem construiu a primeira mesquita dos “Al Shabab” naquele ponto do país.
Nasceu na aldeia Malindi e os pais são oriundos da zona de Cabacera, na localidade de Quelimane no distrito de Mocímboa da Praia. Durante a sua infância, não há indicação de ter frequentado o ensino formal, mas sim uma madrassa. Ainda assim, não atingiu um grau elevado nos estudos islâmicos.
Era apenas um muçulmano praticante, pertencente à seita al-sunni. Ate à data da sua integração no grupo e do início dos ataques, foi um empresário de sucesso, associado à venda de capulanas de vários tipos que ele mesmo encomendava de Nampula, Beira e importava da Tanzânia. A actividade comercial do nosso personagem foi sempre desenvolvida em parceria com o seu irmão mais velho, Janfar Anlawe Mabondo.
Os que o conhecem caracterizam-no por ser um homem afável, sempre disposto a ajudar e próximo, e sobretudo muito empenhado quando se tratava de realizar alguns trabalhos em prol da mesquita onde frequentava.
Mais tarde, os dois irmãos viriam a divergir por motivos não revelados e, repartidos os bens comuns, cada um passou a dedicar-se aos seus próprios negócios. O mais velho continuou a vender roupa e o mais novo apostou no sector de transporte, adquirindo algumas carrinhas para o transporte semicolectivo de passageiros, no trajecto Mocímboa da Praia - Rio Rovuma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Entre 2015 e 2016, passou a frequentar, amiúde, aquele país irmão, donde trazia sheiks. Além de os transportar, também os hospedava e se responsabilizava pela sua alimentação. Foi sensivelmente nesse período (2016) que Mabondo liderou a construção de uma mesquita no bairro Nanduadua, muito próximo do mercado. Este era o principal local de culto, onde juntava crentes vindos de outros bairros. Consta também que um dos seus filhos terá sido enviado por si para a Tanzânia, onde foi estudar numa madrassa.
Os crentes ligados à mesquita de Nanduadua eram de alguma maneira liderados pelos sheiks trazidos por Mabondo, os quais, igualmente, passaram a dirigir a escola maometana instituída naquele templo. Porém, ao longo do tempo, alguns crentes começaram a desconfiar dos ensinamentos ministrados pelos sheiks tanzanianos, alegadamente pelo facto de estes propagarem mensagens próximas do radicalismo islâmico. Além disso, contrariamente ao que sempre aprenderam, os ditos sheiks instavam os crentes a calçar sapatos, ou no mínimo chinelos, no decurso das suas cinco orações diárias.
Parte dos crentes abandou a seita, mas Mabondo manteve o (principal) sheik e só mais tarde o transferiu para a aldeia Makulo, onde se presume ter havido a grande base dos insurgentes antes dos ataques de 5 de Outubro. Quando assimilou a ideologia da seita islâmica que pregava o uso de sapatos em plena oração, mudou de negócio e começou a comprar peixe seco, holotúrias e conchas para posterior revenda na vizinha República da Tanzânia. Pai de (pelo menos) quatro filhos, desapareceu no mesmo dia em que a vila de Mocímboa da Praia foi atacada. Não deixou rasto. Pouco tempo depois, o seu irmão Janfar, que supostamente também fazia parte do grupo, foi preso pelas autoridades. (Saide Abibo)
O principal ganho para Moçambique em 2018 foi a estabilidade social e política que permitiu uma recuperação económica, embora ainda ténue. O Presidente Filipe Nyusi apresentou ontem, em discurso de Estado da Nação, os números sobre os quais assenta sua qualificação final de Moçambique como país “estável e promissor” em 2018. Ele disse que a crise económica de 2016 ficou já ficou para trás e apontou que a retoma já é palpável. O país mostrou-se resiliente, disse ele, “o que nos permitiu, em tempo recorde, recuperar a rota do crescimento e da prosperidade”. Mostrou alguma cautela: “Não estou a dizer que vencemos a crise, mas não permitimos que as dificuldades afetassem a nossa confiança nos caminhos estabelecidos”.