Pio Matos pode ter lá as suas razões, mas não ter ido à abertura do ano judicial pode ser considerado uma descortesia para com quem o convidou, ou seja, o poder judicial, que não tem culpa do imbróglio criado por outrem.
Há-de ter tido a delicadeza de dar uma satisfação pela sua ausência a quem o convidou, por deferência com os cidadãos da província que representa. Como todos os zambezianos bem educados costumam fazer.
Se não o tiver feito, dará lugar à interpretação legítima de que não foi à cerimónia por birra, acabando por fazer uma desfeita a quem até tem a consideração devida pelo Governador eleito da Zambézia.
"Não fui por vontade própria... O estado estava lá" - tio Pio, o futuro ex-governador da Zambézia.
Agora que o cota Pio descobriu que foi enganado com pasta de "gover" está a levantar poeira. E, diga-se, muita poeira. Dizem que o velhote marimbou para a cerimónia de abertura do ano judicial. Não quis levar desaforo para casa. Como todos sabem, o tio Pio pode alegar não bater bem da "head". Pode dizer que está a ter uma recaída.
O mais engraçado nisso tudo é que os seus camaradas têm consciência de que o velhote não tem preguiça de entornar o caldo. Já fez no passado e pode fazer de novo, se lhe irritarem os miolos. Sabem que o velhote pode mandar um manguito para essa porra e bazar. E com razão. É muito abuso.
Sujou geral na banda. Ninguém tem dúvida do que o cota Pio é capaz quando está f*dido. E agora, o que vamos fazer!? Remédio de lua vai ajudar!? Levarmos o velhote aos ritos de iniciação!? Ao Infulene!? Ao Onório Cutane!? Darmos uns chambocos!? Ou vamos deixar acalmar-se sozinho!?
O cota Pio é uma espécie de político "kamikazi". Age como se não tivesse nada a perder. Lava roupa suja no rio, ao relento. Tá nem aí. Cagou para todo o mundo. A qualquer momento pode bater a sua última beata e escangalhar essa porra. Está pouco se marimbando pra a malta.
Já dizíamos, quando ainda era cabeça de lista, que tio Pio devia apresentar Junta Médica, mas não nos deram ouvido. Agora é tarde. O cota deve ter tido uma recaída e deve ter activado o "f*da-se!". Os médicos podem dizer que trata-se de uma reincidência. O futuro está cada vez mais incerto na zona dos Bons Sinais. Natural não treme... pior quando é eleito.
Literalmente, o cota disse: fí-lo porque quí-lo. Um dia "As Recaídas do Tio Pio" pode ser um grande capítulo de um livro de História Universal. Quem viver verá. "Muana mutxuabo ka-nkala burutu".
- Co'licença!
Era uma fogueira admirável. Desafiava as fortes chuvas que vinham, por exemplo, de Maputo e Nampula e Xinavane e Sofala e de dentro da sua zona de influência. A precipitação caía em catadupa sobre as fortes labaredas dessa lareira, que entretanto, no lugar de desvanecer, ressurgia. E triunfava nos combates. A equipa do Gomes da Maxixe, como também vai ser conhecida esta formação, tornou-se um elo. Unia todos os bitongas e todos os vathswa e todos os vatchopi e todos os vandawu que desciam de Mambone para festejarem a magnificência de um conjunto de mito.
Mesmo assim, ainda alguém tentou contrariar o rumo fervoroso de uma formação que tinha um patrão forjado para as sagas. Reuniram-se dirigentes e antigos jogadores de futebol nascidos em Mucucune, um arquipélago discreto que fica à ilharga da cidade de Inhambane, e o obejctivo era reformular a equipa local para, com todas as armas possíveis, parar com as “brincadeiras” desses senhores.
Tocaram-se as trompetas em toda a província, anunciando o grande jogo que vai colocar frente a frente o Nova Aliança da Maxixe e o Mucucune, numa luta em que a equipa do Gomes da Maxixe tinha que ganhar para se manter no Campeonato Nacional, e os “ilhéus” também precisavam da vitória para ascenderem à panóplia dos grandes. No fundo o Mucucune tinha bons executantes, capazes de contrariar todas a expectativas, é por isso que o Gomes da Maxixe passou noites e noites sem dormir, enquanto o jogo não se realizasse.
A província inteira borbulha porque, como se propala pela voz do povo, alguém vai morrer. Foi convidado um grupo de zorre para abrilhantar a festa que se espera intensa. O farfalhar dos trazeiros das mulheres, libertados na dança, segundo se diz por aqui, é um forte incentivo para os jogadores. E como se isso não bastasse, vem aí a orquestra de Tmbila ta Mwaneni e a sua louca matxatxulani, que vai nos mostrar o feitiço das coxas e das ancas. Os locutores da Rádio Moçambique não páram de anunciar a realização da partida. E em todo o lado a conversa é essa, ou seja, ninguém sabe o que na verdade vai acontecer, porque esses tipos de Mucucune podem fazer das suas. Outros ainda diziam, agora é que o Gomes vai sentir o sabor do sal. E o sal vem de Mucucune.
O Nova Aliança da Maxixe era isso, um desiquilibrador dos prognósticos. Não é por acaso que no seu logotipo vamos ter uma gaivota ( nhalégwè em bitonga). Significa que é uma equipa concebida para atravessar mares e oceanos. Não há vento que o desvie do seu azimute. É como se todas as suas realizações fossem feitas a partir do topo, de onde já não se pode ir a mais nenhum lugar, ou melhor, de onde só se pode partir para a levitação.
Eles eram a glória da Maxixe, e de toda a província de Inhambane, até ao dia em que o eixo de toda a gravitação, o Gomes da Maxixe, deu o último suspiro sobre a terra. Aí tudo começou a desmoronar, até entrar em derrocada. O que nos entristece é que até hoje nunca ouvimos, a nível oficial, nada sobre uma homenagem a um homem que deu tudo de si e da sua fortuna, para alegrar o povo, onde os políticos se emiscuíam. Agora a gaivota já não voa. E o mais provável é que sucumba de vez. O que seria muito lamentável!
Dissiparam-se as dúvidas sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e, passaram a realidade, criando alguma instabilidade, dada a incerteza de muitos dossiers por esclarecer, que levarão muitos anos. Os Ingleses fecharam os olhos e avançaram. Podia descrever inúmeras teorias desenvolvidas ao longo dos 24 meses de prolongadas discussões internas em UK, e externas, UE, ou vice-versa.
Porém, ficou claro que, independentemente das incertezas, ameaças e riscos do BREXIT pela UE, os ingleses optaram claramente usaram a sua soberania e decidiram o seu futuro. Europa sim, mas sem os burocratas da União Europeia. Em outras palavras, os ingleses sabem que, cedo ou tarde, estarão de volta ao mercado europeu, continuarão a partilhar aspectos de interesse comum como segurança, neo-colonialismo, e muitas outras, conforme dita a história. Os interesses que lhes une, UK e UE, são maiores que os factores de divisão.
Apesar de estarmos num mundo “globalizado”, os benefícios dessa integração global continuam a ser apenas para os que podiam mais. Quando elementos novos no mercado, como a China, Índia, Brasil e outros integram-se e tornam-se competitivos globalmente, ameaçando a hegemonia dos que podiam, acabam-se todas as regras de comércio livre.
A famosa teoria dos mercados livres muito propaladas nas academias e bibliotecas dos USA e UE, as regras da Organização Mundial de Comercio (OMC), que foram criadas pela dupla USA e UE e mais meia dúzia de países como Moçambique para legitimar a tal Comunidade Internacional, estes últimos aliciados por falsas promessas de ajuda ao desenvolvimento, deixa de fazer sentido porque os seus (UE/USA) interesses falam mais alto. Estas são as “regras da hipocrisia”, quando os seus interesses estão em jogo, tudo o resto não conta, como por exemplo o Trumpismo e as relações comerciais com seus parceiros tradicionais, como Canadá, México e China.
No último ciclo governativo, que terminou a 31 de Dezembro de 2019, os chamados doadores em uníssono suspenderam a relação de financiamento em aproximadamente 40% ao Orçamento Geral do Estado (OGE). Qual o impacto que essa suspensão teve na vida das famílias e gestão do país?
Imagine caro leitor, amanhã acordar e perceber que no seu salário foram retirados 40%, as suas poupanças valem menos 50%, e terá que fazer face as mesmas responsabilidades domésticas, familiares, pagamentos de compras a prazo, financiamentos, etc, etc.
Mais grave se torna porque devido ao impacto dessa suspensão ao OGE, a economia nacional retraiu, originando uma desvalorização do Metical a 100% e a taxa de juro bancária comercial aumentou 150%, e, como consequência, as suas responsabilidades financeiras duplicaram, os preços dos produtos alimentares básicos aumentaram entre 50% a 100%, só para citar alguns casos dramáticos como desemprego, perdas de empresas e habitações, divórcios e suicídios, etc.
Como é que o leitor resolveria o seu plano de obrigações e responsabilidades, mantendo-se vivo com a sua família ? O parágrafo anterior não é ficção, nem um excerto de um texto teatral dramático. Foi exactamente o que aconteceu aos 30 Milhões de moçambicanos nos anos de 2015, 2016, 2017, quando os parceiros/doadores/financiadores/especuladores tiraram o tapete a Moçambique, com a desculpa das dívidas ilegais. Os moçambicanos foram duplamente penalizados pelos corruptos das dividas ilegais, entre os quais alguns dos nossos governantes em conta com a justiça, banqueiros suíços e a tal Comunidade Internacional.
Como consequência desse boicote, o Governo de Nyusi, desesperado, procurou soluções como a maior parte dos chefes de famílias moçambicanas o fizeram, reinventando-se.
Surpresa para muitos, incluindo os doadores/boicotadores que esperavam tudo, menos a continuidade da vida dos moçambicanos, perante tamanha adversidade.
Verdade seja dita é que o país continuou timidamente a crescer, os salários foram pagos, o serviço da divida externa gerido, infra-estruturas básicas como escolas, postos de saúde, sistemas de abastecimento de água, bancos nos distritos, transporte público urbano e rural foram cumpridos.
O que é que BREXIT tem haver com MOZEXIT? O paralelismo entre o BREXIT e o MOZEXIT deve-se ao facto de os ingleses assumirem o princípio da sua soberania acima de todas as certezas que a UE lhes proporcionava, mesmo sabendo que os dias que se avizinham serão muito difíceis.
Com MOZEXIT, os moçambicanos poderão finalmente continuar a gerir os seus próprios destinos sem a hipócrita ajuda dos doadores, bem como decidir sobre políticas de desenvolvimento, alianças sem ameaças, acordos bilaterais e ou multilaterais, etc.
Moçambique é membro das instituições de Breton Woods (FMI e BM), com quem devemos manter relações, porém, mesmo aí devemos filtrar o que nos convém.
Moçambique, ao ser expulso em 2015 das saias dos “doadores e ou comunidade internacional” teve que apertar o cinto. Contudo sobreviveu pela primeira vez sem depender dos que dizem que nos dão mas de facto são os mesmos (maioria) que sempre nos tiraram e implementaram contra nós políticas de empobrecimento.
Passamos o teste da maioridade, em que provamos que podemos viver com aquilo que temos e, com o que é nosso, fazendo as opções que acharmos certas, com todos os riscos de cometer erros e aprender desses mesmos erros. Sucesso é um acumular de erros aprendidos!
O MOZEXIT é uma oportunidade única dos moçambicanos se livrarem da má influência desses países, a fim de fazermos o caminho que muitos países africanos cada vez mais fazem e merecem a nossa admiração.
Se Moçambique sobreviveu um ciclo governativo com os seus próprios meios pela primeira vez desde a Independência, o caro leitor deve estar a questionar-se :
Então para onde íam as centenas de milhões de dólares americanos que os doadores diziam que davam?
Há vários estudos e relatórios nacionais e estrangeiros que abordam desapaixonadamente a questão dos “doadores”, afirmando que aproximadamente 66% dos valores declarados para ajuda aos nossos países regressam ao país “doador” pela via de consultorias, salários dos expatriados, auditorias, procurement condicionado e outras, entre elas a corrupção cá e lá. Esta conclusão, confirmada pela escritora africana Moyo, no seu livro “best seller” Dead Aid denuncia esta falsa e hipócrita ajuda.
Faço votos que o governo não recue na pressão que os doadores já começaram a exercer em criar um novo “formato de cooperação”. Aprendamos com eles próprios “doadores” como defender os maiores interesses dos nossos cidadãos, olhando para um horizonte de médio prazo, como fez o Reino Unido com o BREXIT.
Senhor Presidente e senhores Ministros, por favor, tenham coragem e façamos o MOZEXIT.
A luta continua!
A professora e académica Iraê Lundin (1951-2018) contara uma vez – na verdade mais do que uma – que no seu tempo de juventude e estudante universitária na Suécia ela perdeu o verão por culpa de umas horinhas a mais de sono. Ela contara que certo dia e depois de meses molestada pelo frio sueco foi anunciado que no dia seguinte seria o esperado verão e daí uma oportunidade tropical para ela matar as saudades do sol e reviver o Brasil, a sua terra natal. O momento mereceu uma saída “by night” de despedida do inverno da qual se arrependera pelo resto da vida: por conta de excessos dessa noite ela teve que dormir um pouco mais e quando acordara o verão já se tinha ido.
Imagino que o mesmo esteja a acontecer com os actuais Governadores Provinciais (GPs): logo que os Secretários de Estado da Província (SEPs) tomaram posse de repente o verão que se pensava igual aos anteriores durou apenas umas horinhas. Assim e contra todas as previsões “políteorológicas” da corrente do Poder o inverno cinzento do processo político moçambicano continua com a diferença de que para além de longo, agora chove intensamente no inverno.
Nas cerimónias oficiais de abertura do ano lectivo e mais recentemente as do 3 de Fevereiro, o dia dos heróis, foram avistados - logo pela manhã - aguaceiros locais no semblante dos GPs que denunciavam uma temporada de intensa chuva cujas inundações a História encarregar-se-á de registar e estudar as consequências. Agora e diante das inundações cabe aos GPs escolher a melhor estratégia para a própria sobrevivência política.
E em matéria estratégica de sobrevivência recomendo aos GPs que recorram à uma estratégia dos tempos de moleque do bairro. Nesses tempos e perante um sinal de algum perigo, principalmente de agressão exterior e diante da nítida inferioridade na capacidade de resposta, a estratégia de defesa (preventiva) passava pelo recurso ao “agarrem-me senão não respondo por mim”. No caso, os GPs podem adaptar a estratégia para o “agarrem-me se não desisto/bato-lhe”.
E assim segue a democracia à moda moçambicana onde a política também ( como em outros quadrantes) não se difere tanto do clima. Nos dois casos não se celebra uma previsão, sobretudo quando a partida ela é boa. E por estes tempos de mudanças climáticas/políticas não se guie pelo embrulho é necessário que saiba previamente o seu conteúdo e o quanto é resiliente às intempéries dos ventos que sopram do norte.