Dois camiões transportando bens alimentares e toros de madeira da Beira para o Chimoio foram atacados por homens armados desconhecidos, na manhã desta terça-feira, à entrada da montanha de Zimpinga, na estrada nacional N6 (EN6), que liga a região portuária da Beira ao “hinterland”. O ataque deu-se cerca de 30 km a Este da vila de Gondola, de acordo com relatos de Sousa Maulate, motorista de um dos camiões, que foi ferido numa das pernas. Ele encontra-se internado no Hospital Provincial de Chimoio.
Maulate disse à “Carta”, por telefone, que foi tudo de repente. Os homens, em número que ele não conseguiu estabelecer, irromperam do mato e começaram a disparar indiscriminadamente. Ferido e sentindo que um dos pneus traseiros do seu camião havia sido atingido, ele não abrandou a marcha e só assim escapou à uma morte certa. Atrás de si vinha outro camião, que também foi atingido, com ferimentos em parte dos seus ocupantes. Maulate diz que não houve vítimas mortais.
A EN6 é uma via vital para a economia de Moçambique, permitindo o escoamento de mercadorias e o comércio internacional centrado no Porto da Beira. Zimpinga foi sempre um lugar estratégico da insurgência dos homens armados da Renamo. Não se sabe se este ataque tem alguma ligação com a auto-denominada Junta Militar da Renamo, liderada pelo General Nhongo, que contesta o acordo de paz assinado recentemente entre o Governo e o antigo movimento rebelde. (Carta)
Os telespectadores da DStv e GOtv poderão se deliciar com o regresso ao meio da semana da primeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA.
A acção começa na terça-feira, 17 de Setembro, em uma noite onde dois jogos se destacam: Borussia Dortmund x Barcelona e Napoli x Liverpool. O primeiro vê uma das equipes mais emocionantes da Alemanha enfrentar os campeões da Espanha, em um confronto que contará com talentos emocionantes, como Jadon Sancho, Antoine Griezmann e o grande Lionel Messi.
Na reunião entre o Nápoles e Liverpool, os Reds abrem a defesa do título da Liga dos Campeões da UEFA no Stadio San Paolo contra um adversário familiar: os napolitanos e os Reds também se encontraram na fase de grupos do ano passado, com cada equipa a vencer a partida em casa por 1-0. Desta vez, os comandados de Jurgen Klopp terão chances de vitória em Nápoles contra uma equipe da Serie A, que marcou muitos golos na presente época 2019/20.
A terça-feira também apresenta o semifinalista surpresa da temporada passada, o Ajax, que abre a sua campanha em casa contra o Lille, além dos pesos pesados Internazionale (em casa para Slavia Praha) e Chelsea (em casa para Valência).
Ainda na 3ª feira, o SL Benfica, único representante português na prova, recebe o Leipzig da Alemanhã no Estádio da Luz.
A acção de quarta-feira na Liga dos Campeões da UEFA apresenta novamente alguns confrontos titânicos, principalmente Paris Saint-Germain vs Real Madrid e Atlético Madrid vs Juventus. Com o técnico do Real, Zinedine Zidane, sob imensa pressão para trazer o troféu da UEFA de volta ao Bernabeu, o confronto com o PSG pode ser o que definirá a sua temporada.
Enquanto isso, o encontro do Atlético e da Juventus vê a renovação de uma rivalidade que tem ocorrido fortemente nos últimos anos. A equipe espanhola estará ansiosa por vingança depois que uma actuação de gala de Cristiano Ronaldo que viu a Juve derrotar o Atlético por 3-2 no total, na fase a eliminar da Liga dos Campeões da temporada passada.
As outras partidas de quarta-feira também incluem o campeão inglês Manchester City fora do Shakhtar Donetsk, o vice-campeão na última temporada, o Tottenham Hotspur, vai para a Grécia para enfrentar o Olympiakos e o contundente perpétuo Bayern de Munique inicia sua campanha em casa para o Crvena Zvezda (Estrela Vermelha de Belgrado).
A seguir o quadro de jogos completo.
Terça Feira, 17 de Setembro
18:55: Olympique Lyonnasi v Zenit – em Directo na Supersport 6
18:55: Internazionale v Slavia Praha – em Directo na Supersport 5 & Maximo 1
21:00: Chelsea v Valencia – em Directo na Supersport 6
21:00: Ajax v Lille – Em Directo na Supersport 12
21:00: Benfica v RB Leipzig – Em Directo na Supersport 11 & Máximo 2/Máximo 360
21:00: Borussia Dortmund v Barcelona – Em directo na Supersport 3 & Máximo 1
21:00: Napoli v Liverpool – Em Directo na Supersport 5
21:00: Salzburg v Genk – Em directo na Supersport 8 & Select 4
Quarta-feira, 18 Setembro
18:55: Club Brugge v Galatasaray – Em Directo na Supersport 6
18:55: Olympiakos v Tottenham Hotspur – Em Directo na Supersport 5 & Máximo 1
21:00: Paris Saint-Germain v Real Madrid – Em Directo on Supersport 5 & Máximo 1
21:00: Bayern Munich v Crvena Zvezda – Em Directo na Supersport 8, Máximo 2 & Select 4
21:00: Shakhtar Donetsk v Manchester City – Em Directo na Supersport 3
21:00: Dinamo Zagreb v Atalanta – Em Directo na Supersport 12
21:00: Atletico Madrid v Juventus – Em directo na Supersport 6
21:00: Bayer Leverkusen v Lokomotiv Moscow – Em directo na Supersport 11
O Chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Europeia às eleições gerais de 15 de Outubro em Moçambique, Ignacio Sánchez Amor, defendeu, último sábado, em Maputo, que o desfecho do escrutínio não pode condicionar a paz no país.
"Quanto à mistura que, por vezes, pode haver entre o processo eleitoral e o processo político, é óbvio que a União Europeia [UE] apoia fortemente a pacificação do país e um bom fim para o acordo de paz de 06 de Agosto", declarou Sánchez Amor, durante uma conferência de imprensa em Maputo.
A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, afirmou várias vezes que a sobrevivência do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional assinado com o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), em 06 de Agosto deste ano, depende de eleições gerais livres, justas e transparentes.
Questionado pelos jornalistas sobre a posição da Renamo, o chefe da Missão de Observação Eleitoral da UE afirmou que o processo eleitoral não deve funcionar como moeda de troca para uma paz duradoura no país.
"As eleições são um direito do povo, não são uma propriedade dos partidos políticos e as eleições democráticas não podem ser reféns de nenhuma agenda política partidária", disse o eurodeputado espanhol.
Sánchez Amor defendeu que as instâncias judiciais devem decidir atempadamente sobre a investigação à polémica em torno do recenseamento eleitoral na província de Gaza, cujo registo é rejeitado pela Renamo e por organizações da sociedade civil.
"Pensamos que é muito importante, para gerar confiança no processo eleitoral, que as autoridades envolvidas na operação, principalmente a Procuradoria-Geral da República, tomem uma decisão atempada e que dê uma resposta à inquietação que se levantou", considerou Sánchez Amor. (Lusa)
Dez agentes das Forças de Defesa e Segurança (FDS) foram assassinados, semana finda, em três incursões dos insurgentes nas aldeias Ilala, Mitacata e na sede do Posto Administrativo de Quiterajo, no distrito de Macomia, província de Cabo Delgado.
Fontes, que revelaram a informação à “Carta”, contam que os ataques às posições das FDS ocorreram, em simultâneo, no cair da noite da passada quarta-feira (entre as 19 horas e as 19 horas e 30 minutos) e foram levados a cabo por um número não quantificado de homens, que se separaram em três grupos.
Durante o referido ataque, os insurgentes queimaram o Centro de Saúde local e o Posto de Controlo Militar. São ainda escassos os detalhes sobre os três ataques, mas imagens postas a circular mostram viaturas e blindados da Polícia incendiados, próximo de um acampamento das FDS. As fontes avançam ainda que os três locais estão separados por uma distância estimada de 1 km.
“Carta” foi informada ainda que, momentos antes de atacar a posição das FDS, os insurgentes queimaram, roubaram e vandalizaram maior parte dos bens da população de Mitacata. No ataque realizado na tarde daquele dia, garantem as fontes, os insurgentes levaram uma viatura pertencente a um comerciante local, tendo, de seguida, recolhido vários produtos alimentares, antes de incendiar todas as residências da vila de Quiterajo.
Dez deslocados de guerra morrem em naufrágio
Na sequência dos ataques, pelo menos 10 cidadãos, residentes na aldeia Mitacata, naquele distrito costeiro de Cabo Delgado, perderam a vida, em naufrágio, ocorrido na passada sexta-feira, nas águas do Oceano Índico, entre o Posto Administrativo de Quiterajo e o distrito de Mocímboa da Praia, quando tentavam fugir dos ataques que se verificam naquela região do país. Não se sabe quantas pessoas seguiam na embarcação, mas suspeita-se que a mesma tenha naufragado devido ao excesso de carga.
Fontes garantem que dois corpos terão sido localizados junto da praia de Ulo, no distrito de Mocímboa da Praia, tendo já sido realizados os respectivos enterros. Tentativas de ouvir as autoridades, na província de Cabo Delgado, acerca deste assunto, redundaram em fracasso. (Carta)
“Acuso directa e publicamente o partido Frelimo e o presidente Filipe Nyusi por este acto. Isto é um atentado à vida”. Foi com esta afirmação categórica que Manuel de Araújo, cabeça-de-lista da Renamo para as Eleições das Assembleias Provinciais do próximo dia 15 de Outubro, na província da Zambézia, reagiu ao atentado que fora alvo a sua mãe na madrugada desta segunda-feira, no bairro Coalane II, arredores na cidade de Quelimane, capital daquela província do centro do país.
Indivíduos, até aqui não identificados pelas autoridades policiais, incendiaram, com recurso à gasolina, a residência da mãe do também mayor de Quelimane, isto depois de terem neutralizado o indivíduo que guarnecia o imóvel.
De Araújo assenta o seu posicionamento no facto de, desde que começaram a denunciar a violência a que estão a ser alvos os membros e simpatizantes da Renamo, nem a Frelimo e muito menos o seu candidato presidencial, Filipe Nyusi, que concorre à sua própria sucessão, terem emitido qualquer posicionamento público condenatório a respeito dos episódios de violência que estão a marcar a maratona de “caça” ao voto.
Esta postura, disse Manuel de Araújo, não reflecte outra coisa senão anuência e conivência daquela formação político-partidária e do seu respectivo dirigente máximo. “Desde que começamos a denunciar a perseguição dos nossos membros nunca vi ou ouvi nenhum membro da Frelimo a condenar, a denunciar ou no mínimo a solidarizar-se com as vítimas da violência”, disse De Araújo.
De salientar que, recentemente, um membro da Renamo, no distrito de Derre, na Zambézia, foi brutalmente agredido supostamente por membros e simpatizantes da Frelimo. O maior partido da oposição denunciou, igualmente, no passado domingo (15), supostos casos de inviabilização da sua campanha eleitoral nos distritos de Nicoadala e Milange.
O que diz a Frelimo sobre as declarações de Manuel de Araújo
Na ressaca das declarações do cabeça-de-lista da Renamo na província da Zambézia, Manuel de Araújo, “Carta” chegou à fala, na tarde de ontem, com o porta-voz do Partido Frelimo, Caifadine Manasse, cujas primeiras palavras foram: “lamentamos o incidente que aconteceu”.
Manasse disse que a Frelimo é contra e lamenta todo e qualquer tipo de situação do género que aconteça a qualquer cidadão independentemente da sua qualidade ou filiação partidária. De seguida, o porta-voz da Frelimo disse que as declarações de Manuel de Araújo eram dignas de total repúdio e que não faz parte do ADN do partido instruir os seus militantes, simpatizantes ou ainda quem quer que seja para atentar ou tirar a vida a outrem. Adiante, Manasse desafiou o actual edil de Quelimane a apresentar provas de que o atentado que sofrera a sua mãe fora orquestrado pela Frelimo e seu candidato presidencial, Filipe Nyusi.
“Repudiamos a atitude de Manuel de Araújo, sabemos que está num momento de angústia. Ele devia ser mais ponderado nas suas declarações. Esse tipo de situações tem acontecido no país a uma e outra pessoa, mas como estamos num momento eleitoral, já imagina. O que tenho a dizer é que essa não é postura da Frelimo. A Frelimo nunca vai orientar ninguém a pautar por estes actos. Nós estamos preocupados em ganhar as eleições. Ele que apresente as provas. Se você acusa tem de trazer as provas”, reagiu
Caifadine Manasse disse, igualmente, que Manuel de Araújo, que tem, no seu currículo, idas e vindas pelos partidos da oposição, sabe e tem plena consciência de que os seus inimigos não são a Frelimo e os seus militantes e que devia abandonar a estratégia de imputar à Frelimo toda e qualquer situação anómala que lhe acontece. Adiante, Manasse disse que é chegado o momento de o cabeça-de-lista pela “Perdiz” desencadear uma investigação interna (na Renamo) de modo a apurar o que de facto se está a passar.
“Manuel de Araújo é candidato da Renamo. Já esteve no MDM. Manuel de Araújo tem seus amigos e inimigos, mas esses inimigos não são a Frelimo. A Frelimo é um partido claro, coeso e tem a sua forma de fazer campanha. Repudiamos esta acusação. Se calhar frisar que tem sido recorrente por parte de Manuel de Araújo atacar a Frelimo por qualquer situação. É preciso dizer que nós repudiamos esta política da vitimização, olhando a Frelimo como promotora. Ele sabe que isto não é obra da Frelimo. E os interessados em fazer confusão com Manuel de Araújo não fazem parte da Frelimo e se calhar devia fazer uma introspecção dentro da Renamo e saber o que está a acontecer”, retorquiu. (Carta)
Os ataques a autocarros e camião, que se registaram no final da tarde da última sexta-feira (13 de Setembro), nos distritos de Malema, na província de Nampula, e Cuamba, província de Niassa, visavam a recuperação de pedras preciosas roubadas a um grupo de garimpeiros ilegais, que actuam em algumas minas clandestinas daqueles distritos.
Fontes da “Carta” garantiram que alguns traficantes, que roubaram as referidas pedras preciosas, seguiam viagem nas viaturas atacadas pelo grupo de homens armados, compostos por mais de 15 homens cada. Entretanto, o motorista do camião, da marca norte-americana Freightliner, conseguiu fugir do local, não tendo parado mesmo diante de disparos contra o veículo.
O ataque ocorreu a 40 km da Vila-Sede de Malema, no troço Malema-Nakata, no povoado de Thui, no Posto Administrativo de Mutuali e as viaturas saíam do distrito de Cuamba. No referido ataque, perdeu a vida o motorista do autocarro e ficaram gravemente feridos cinco passageiros, que foram atingidos por objectos contundentes. Os feridos encontram-se em tratamento no Hospital Central de Nampula.
O outro ataque registou-se na região de Morusso, no distrito de Cuamba, porém, sem confirmação das autoridades da província de Niassa.
No entanto, o Porta-Voz do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Nampula, Zacarias Nacute, confirmou, na manhã desta segunda-feira, o ataque de Malema e garantiu que foi enviada uma equipa especializada para garantir segurança aos locais, investigar o sucedido e fortificar a protecção dos partidos políticos que efectuam a campanha eleitoral naqueles pontos do país, que estava paralisada, devido ao cenário de medo instalado.
De salientar que os homens que atacaram os veículos falavam as línguas cisena e xindau, línguas predominantes na região centro do país, concretamente nas províncias de Manica e Sofala, e no país vizinho Zimbabwe (Omardine Omar)
O Bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), Flávio Menete, defende que “os advogados foram, são e serão sempre uma das profissões que incomodaram, incomodam e incomodarão a muitos”, porém, foram e serão sempre aqueles a quem recorrem, recorreram e recorrerão à busca de assistência para a defesa dos seus direitos e interesses, sempre que os mesmos foram, são e venham a ser violados, independentemente de se tratar de cidadão comum, político ou magistrado.
Menete defendeu esta tese, na passada sexta-feira, durante a celebração dos 25 anos da criação da OAM, efeméride que teve lugar na capital do país. O Bastonário recuou no tempo para lembrar que, de tanto incomodar, “na história de Moçambique existem registos de advogados que escaparam a tiros da polícia ou se viram privados da sua liberdade por ordem policial ou judicial”. Avançou também que são riscos inerentes à profissão, quando o Estado de Direito ainda não está devidamente consolidado.
Acrescentando, Flávio Menete disse que, de tanto incomodar, a OAM celebra 25 anos da sua existência, num contexto em que outras organizações judiciárias comemoram 41 anos. Nisto, o Bastonário lamenta o facto de, no passado, o Governo ter proibido o exercício da advocacia, tendo mesmo encerrado escritórios e faculdades.
Outro aspecto realçado por Flávio Menete foi a abolição do Tribunal da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e o facto de o Tribunal Administrativo não ter feito nada para inverter a decisão e não ter feito a apreciação do pedido submetido pela OAM, na altura, o que, na sua óptica, se tratou de uma decisão política.
Fazendo uma breve avaliação do seu mandato, prestes a findar, Menete disse que, de 2016 a 2019, conseguiu consolidar a “desmaputização”, que prometeu no seu manifesto eleitoral, e o diálogo com a sociedade civil, que passou a ver a OAM como uma entidade credível e incontornável. (Omardine Omar)
O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) ainda não tem data para voltar a apoiar directamente o Orçamento do Estado, três anos após parar (junto com outros 13 parceiros de Apoio Programático, entre países e instituições multilaterais), pela descoberta do escândalo das dívidas ocultas.
Mesmo com a detenção e acusação de alguns visados pela contracção das referidas dívidas ocultas (avaliadas em mais de 2 biliões de USD), dentro e fora do país, o BAD mostra-se ainda sem data para voltar a apoiar directamente o país, através do Orçamento do Estado.
“No sentido de quando vamos [voltar a] financiar o Orçamento Público, eu acho que estamos a pôr demasiado ênfase no assunto apoio orçamental e acho que há várias formas de financiar o desenvolvimento do país e, especialmente, nos países emergentes, há uma combinação de instrumentos, através do financiamento ao sector privado, através de programas ligados aos resultados, a programas de investimento sectorial”, disse há dias, em Maputo, o representante do BAD em Moçambique, Pietro Toigo em entrevista exclusiva à “Carta”.
Embora sem data, Toigo garantiu, no entanto, que o BAD vai reavaliar o mecanismo de financiamento adequado para o desenvolvimento do país no próximo ano, com um novo Governo. “Nós vamos olhar, com um novo Governo (…) depois das eleições, quais são os instrumentos financeiros que maximizam o impacto do desenvolvimento do país”, afirmou o nosso interlocutor.
Após o grupo de doadores parar de apoiar directamente o Orçamento de Estado, em Abril de 2016, preferindo contribuições sectoriais, o Governo moçambicano viu-se obrigado a implementar reformas económicas no sector público. Avaliando o processo, o representante do BAD em Moçambique disse terem sido implementadas algumas acções importantes para que a gestão dos recursos públicos seja feita respeitando os trâmites legais.
De entre várias acções, a fonte destacou a “nova Lei sobre a Emissão de Garantias Públicas que foi aprovada pelo Parlamento, no ano passado, uma nova Lei sobre as Empresas Públicas que cria novos padrões de transparência dentro do sector estatal, portanto, são todas as reformas positivas que nos dão confiança para que no futuro algumas coisas que aconteceram no passado não voltem a acontecer”.
Embora saúde as acções levadas a cabo, Toigo disse ser necessário continuar-se a implementar mais reformas, principalmente, no sistema de aquisições públicas, regulando a lei que zela por esse sector.
“Outro sector muito impotente é o de selecção de projectos de investimento público. Há algumas estratégias impotentes que foram aprovadas, por exemplo, no sector de energia, mas na selecção de projectos específicos, onde o Estado vai investir é preciso ter uma organização bastante sistemática no processo de selecção, com uma avaliação económica, técnica e transparente”, concluiu a fonte.
Dados na posse da “Carta” indicam que Moçambique recebeu, desde 2004 até 2015, cerca de 4 biliões de USD em apoio geral ao orçamento, o equivalente a uma média anual (até 2015) de 4 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e 12 por cento da receita total do Estado. Contudo, na sequência da descoberta das dívidas avultadas, com garantias do Governo e sem aprovação na Assembleia da República, o G14 viu violados Princípios Básicos de Parceria e, como consequência, abandonou o desembolso de fundos através do apoio geral ao orçamento. (Evaristo Chilingue)
A consultora Fitch Solutions considera que o acordo entre os credores da dívida e o Governo de Moçambique é positivo mas não resolve a necessidade de apoio externo, com os investidores a serem "altamente cautelosos".
De acordo com esta consultora detida pelo mesmo grupo que é dono também da agência de notação financeira Fitch, "o acordo é positivo porque melhora o perfil da dívida e a credibilidade orçamental a longo prazo, mas não resolve o problema da falta de apoio internacional ao orçamento, que é necessário para estimular o crescimento económico a curto prazo".
Na nota que comenta o acordo alcançado já este mês entre os credores dos títulos de dívida e o Governo de Moçambique relativamente à reestruturação da dívida soberana no valor de 726,5 milhões de dólares, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, a Fitch Solutions diz que foi "um marco" para o país e lembra que os anúncios dos acordos preliminares motivaram sempre reduções significativas nos juros cobrados pelos investidores, "o que mostra uma melhoria da confiança".
Os portadores de títulos soberanos de Moçambique aprovaram a reestruturação da dívida de 726,5 milhões de dólares (656 milhões de euros) que teve origem na empresa pública Ematum, anunciou o Governo a 9 de Setembro.
"A proposta foi aprovada por meio de uma deliberação escrita dos obrigacionistas detentores de 99,5% do valor agregado do capital das notas existentes em dívida", lê-se em comunicado do Ministério da Economia e Finanças, que adianta que o voto favorável "inclui o Grupo Global de Obrigacionistas de Moçambique", que representa 68% dos títulos e que já tinha declarado apoio à proposta, restando chegar aos 75% de votos favoráveis para a reestruturação ter efeito - fasquia que foi superada.
"A resolução escrita entrará em vigor após a satisfação das condições de liquidação e espera-se que a distribuição inicial dos direitos ocorra no dia 30 de Setembro de 2019", acrescenta o comunicado.
Para a Fitch Solutions, apesar deste acordo, "os investidores privados fora do sector dos hidrocarbonetos vão continuar altamente cautelosos sobre Moçambique nos próximos anos por causa das consequências do escândalo da dívida e do forte envolvimento do Governo na economia".
O crescimento económico abrandou de 7% entre 2010 e 2015 para 3,6% entre 2016 e 2018 e esta consultora prevê que a expansão económica abrande ainda mais, para 1,4% este ano, devido aos efeitos dos ciclones Idai e Kenneth, recuperando depois para 3,8% em 2020. (Lusa)
O Instituto de Comunicação Social (ICS), entidade do Governo que controla cerca de 60 rádios comunitárias em todo o país, emitiu uma circular datada de 11 de Setembro de 2019, a impedir os jornalistas das rádios comunitárias de exercer actividades jornalísticas remuneradas e de observação eleitoral, alegando que isso viola um conjunto de Leis.
A circular assinada pela respectiva directora-geral do ICS, Farida Abdula, alega que a Política Editorial do ICS, a Lei de Imprensa, a Lei de Probidade Pública, o Código de Conduta dos Funcionário e Agentes do Estado e o Estatuto geral dos Funcionários e Agentes do Estado, impedem os funcionários e agentes do ICS de estabelecer vínculos ou prestar serviços de correspondentes de órgãos de comunicação social nacionais e estrangeiros, de Organizações Não Governamentais, bem como exercer actividades de observação de processos eleitorais.
A directora do ICS parece que comete grande erro de tratar jornalistas como funcionários públicos de carreira geral. Isto nota-se, em parte, porque a circular do ICS limita-se a enumerar diplomas legais mas não indica artigos em concreto que impedem aos jornalistas de exercer as actividades enumeradas.
A Constituição da República de Moçambique estabelece que “o Estado garante a isenção dos meios de comunicação social do sector público, bem como a independência de jornalistas perante o Governo, a administração e os demais poderes políticos”.
A medida imposta pela circular do ICS limita um direito constitucional que assiste a todos os jornalistas, incluindo os do sector público, uma evidente afronta à independência dos jornalistas.
Em Moçambique, onde grande parte da população não tem acesso aos meios de comunicação social convencionais, as rádios comunitárias jogam um papel importante de levar a informação às comunidades. Existe em Moçambique cerca de 140 rádios comunitárias, sendo 60 controladas pelo ICS, 50 filiadas ao Fórum Nacional das Rádios Comunitárias (FORCOM) e as restantes sob tutela do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Durante o período eleitoral, o Governo procura exercer pressão sobre a imprensa pública no seu todo e sendo as rádios comunitárias sob tutela do ICS as mais precárias devido a sua localização em distritos longe dos centros urbanos e a relativa inexperiência dos seus jornalistas. (CIP)