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Redacção

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 Jamal Omar, administrador do Banco de Moçambique intervindo sobre Desdolarização em Conferência

Em Conferência havida, semana finda, em Maputo, sobre “Branqueamento de Capitais e a Desdolarização da Economia”, o administrador do Banco de Moçambique, Jamal Omar, revelou que, entre 2015 a 2019, a Desdolarização estagnou no país.

 

Desdolarização é, para o Banco Central, o processo de redução do uso da moeda estrangeira (como o Euro, Dólar, Rande) em transacções domésticas, pelo uso do Metical. O processo contrário a esse, o Banco de Moçambique apelida de Dolarização.

 

Tendo sido suplantado pela Rússia, em meados de Setembro, o Frontier Services Group (FSG), de Erik Prince, retirou os helicópteros que havia colocado em Cabo Delgado para compensar as deficiências do exército moçambicano. Essa acção foi forçada, uma vez que o presidente moçambicano Filipe Nyusi havia simplesmente se recusado a pagar ao fundador americano da empresa anteriormente conhecida como Blackwater.

 

Os Gazelle SA 341 F enviados a Cabo Delgado e equipados militarmente pela Warbird Aircraft Services, na África do Sul, deixaram o Presidente impressionado, e por boas razões: a tripulação permaneceu inactiva enquanto estava em Moçambique. Contratados por três meses e colocados no norte do país em 5 de agosto, não começaram as operações até a visita do Papa um mês depois. O governo, desejando evitar um escândalo durante essa visita, transferiu os Gazzelle para o Parque de Limpopo, no extremo sul. Os helicópteros voaram de volta para Cabo Delgado na noite de 10 a 11 de Setembro.

 

Mais uma vez, as estrelas africanas tiveram papéis importantes nos seus clubes, nas principais ligas europeias, com a estrela argelina Riyad Mahrez a apoiar o Manchester City na vitória por 3 x 1 sobre o Everton no sábado, 29 de Setembro. Os espectadores da DStv e GOtv desfrutaram de mais um fim-de-semana de acção futebolística em qualidade 100% digital e em alta definição.

 

Após a sétima vitória consecutiva do Liverpool, era vital para o Citizens obterem uma vitória no Goodison Park no final do sábado, 29/09. A equipa se encontrava a empatar a 1 bola, quando ao minuto 71, Mahrez marcou de livre directo, quebrando assim a resistência do Everton e colocando a sua equipe no caminho dos três pontos vitais que ajudaram a permanecer na perseguição ao líder Liverpool.

 

O meio-campista nigeriano Wilfred Ndidi foi outra estrela africana a brilhar na Premier League no fim-de-semana, com uma exibição poderosa e marcando um golo na vitória por 5 x 0 do Leicester City sobre o Newcastle United.

 

Ndidi e a sua equipa Leicester enfrentarão agora um verdadeiro teste quando defrontarem o Liverpool em Anfield no sábado, 5 de Outubro, enquanto Mahrez deve continuar a ser uma peça vital na máquina poderosa de Pep Guardiola quando o City jogar em casa contra o Wolverhampton Wanderers de Nuno Espírito Santo no Domingo, 6 de Outubro.

 

Na La Liga, Allan Nyom e Djene Dakonam do Getafe foram derrotados por 2 a 0 em casa pelo Barcelona, ​​enquanto Ramon Azeez deu-se bem sobre os seus compatriotas nigerianos Chidozie Awaziem e Kenneth Omeruo na vitória de Granada por 1 x 0 sobre o Leganes, e Thomas Partey jogou os 90 minutos no empate em casa 0 x 0 do Atlético de Madrid frente ao Real Madrid no derbi madrileno.

 

Os espectadores da SuperSport podem ainda ver o Atlético Madrid de Partey enfrentar o Real Valladolid no domingo, 06 de Outubro, para a próxima jornada da La Liga, onde a principal atracção é um confronto de dar água na boca entre Barcelona e Sevilha, que poderá marcar mais actuação da estrela em ascensão nascida na Guiné-Bissau, Anssumane Fati.

 

Não perca a temporada de futebol de 2019/2020 na DStv e GOtv. (Carta)

Ossufo Momade iniciou a sua campanha na região sul do país, no passado dia 30 de Setembro e, ao longo de três dias, foi trabalhando sem obstáculos nas províncias de Inhambane e Gaza. Depois dos simpatizantes da Frelimo terem inviabilizado a campanha de Daviz Simango, do MDM, nas duas províncias, esperava-se ver como seria o comportamento face ao candidato do maior partido da oposição. Ossufo teve livre-trânsito desde o Rio Save até Manjacaze!

 

Ossufo Momade iniciou a campanha nos distritos de Massinga e Vilanculos, onde os seus comícios concentraram grandes multidões de simpatizantes. Os melhores resultados da Renamo nas eleições autárquicas, em Inhambane, foram nestes dois distritos do norte da província.

 

As estradas moçambicanas estão, cada vez mais, a tornar-se autênticos corredores de morte. De 21 a 27 do mês de Setembro, 39 pessoas morreram, em consequência de 30 acidentes de viação, ocorridos em todo o território nacional, o que representa uma média de 1.3 mortes por acidente. Relativamente ao igual período do ano passado, os acidentes de viação ocorridos, esta semana, produziram mais 10 mortos.

 

De acordo com informações partilhadas pelo Comando Geral da Polícia, esta quarta-feira, durante o seu habitual briefing semanal, em Maputo, os acidentes de viação, grande parte, resultaram de atropelamentos (12) despistes (10) e capotamentos (08).

 

“Todas as condições estão criadas para que aconteça a votação em todos os locais da província de Cabo Delgado”. Esta é a garantia dada pelo Porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Orlando Mudumane, aos eleitores dos distritos da zona norte da província de Cabo Delgado face à escalada da violência que se verifica naquele ponto do país, há quase dois anos.

 

Falando à imprensa, esta quarta-feira, no seu habitual briefing semanal, Mudumane afirmou que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) estarão em todos os cantos de Cabo Delgado, de modo a garantir segurança aos eleitores daquela parcela do país, para poderem votar e manifestarem seus sentimentos no próximo dia 15 de Outubro.

 

A fonte referiu ainda que, neste momento, várias equipas das FDS estão em Cabo Delgado a garantir a segurança da população e que esta está a “viver normalmente, com excepção de alguns ataques que têm ocorrido”, para além de que “as pessoas são prontamente socorridas e os malfeitores são muito bem combatidos”.

 

“Trata-se de malfeitores sem rosto, que saqueiam as residências das populações e, neste momento, as FDS estão a trabalhar no sentido de dar resposta imediata a qualquer acto destes indivíduos”, garantiu o porta-voz da corporação, reiterando que os ataques militares de Cabo Delgado “são esporádicos”.

 

A fonte acrescentou ainda que a Polícia distancia-se das informações que dão conta do descarregamento de material bélico russo, no Aeroporto Militar de Nampula, para ajudar no combate à insurgência.

 

No total, são oito distritos da zona norte da província de Cabo Delgado que estão em estado de alerta para o próximo dia 15 de Outubro. Palma, Nangade, Muidumbe, Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga, Mecufi e Meluce são os distritos que, desde 05 de Outubro de 2017, têm sido assolados pelos ataques terroristas, protagonizados por um grupo ainda não identificado.

 

Para as próximas eleições, o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) recenseou, na província de Cabo Delgado, 1.185.024 eleitores e prevê montar 1860 Mesas das Assembleias de Voto.

 

Ataques em Zimpinga

 

Durante a conferência de imprensa, havida ontem, o porta-voz da Polícia garantiu que as FDS encontram-se posicionadas na zona de Zimpinga, onde também se têm verificado ataques militares contra alvos civis.

 

Questionado sobre os autores dos ataques, Mudumane explicou que “até agora, trata-se de criminosos não identificados” e que “estão a decorrer investigações e estas pessoas estão sendo perseguidas”. Acrescenta ainda não haver qualquer indício que ligue os ataques na EN6 e EN7 com a auto-proclamada Junta Militar da Renamo. (Marta Afonso)

O Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFIM) diz ser elevado o risco de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo no país. Em conferência subordinada ao tema “O Branqueamento de Capitais e a Desdolarização da Economia”, havida ontem (02) em Maputo, o director do GIFIM, Armindo Ubisse, disse, recorrendo aos dados do Índice de Basileia recentemente publicado, que dum total de 125 países avaliados, Moçambique ocupa o primeiro lugar como o país de maior risco de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.

 

Para analisar o branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo num determinado país, Ubisse explicou que os autores do índice analisam cinco aspectos, nos quais Moçambique apresenta percentagens que, quando somadas, levam o país a posicionar-se num pior degrau na matéria.

 

Dos cinco domínios está a qualidade do quadro legal e institucional para combater os crimes, em que Moçambique apresenta 65 por cento. O Índice analisa também os crimes de suborno e corrupção em que o país apresenta 10 por cento; transparência financeira, 15 por cento; transparência pública e prestação de contas, cinco por cento e, por fim, o domínio de riscos legais e políticos cuja percentagem também é de cinco.

 

Intervindo no evento organizado pelo Millennium Bim, perante uma plateia de mais de uma centena de participantes, desde empresários até gestores públicos, o advogado e antigo Bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique, Tomás Timbana, apontou o baixo nível de formação sobre a matéria, por parte dos agentes económicos e financeiros quer públicos, quer privados, bem como a fraca implementação da base legal existente.

 

Perante o empecilho e demais factores, o director do GIFIM disse que o órgão que dirige, junto com outras entidades públicas e o sector privado, está a levar a cabo acções para reverter o cenário dadas as consequências que o problema representa para a economia de um país. De entre várias, Ubisse apontou a fuga de capitais, que levam a distorções económicas e redução do investimento (estrangeiro) e a gangsterização do Estado.

 

Refira-se que por causa da violação da lei 14/2013, de 12 de Agosto, que vela sobre o branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, o Banco de Moçambique já sancionou 15 instituições financeiras. (Evaristo Chilingue)

O país comemora amanhã (sexta-feira) mais um aniversário da assinatura do Acordo de Geral de Paz (AGP). Foi a 04 de Outubro de 1992, na cidade de Roma, Itália, que Joaquim Chissano, então Presidente da República, e Afonso Dhlakama, Presidente da Renamo, já falecido, rubricaram o Acordo Geral de Paz com vista a pôr fim à confrontação armada entre o exército governamental e aquele movimento rebelde, que durou dezasseis anos.

 

Amanhã, o AGP, rubricado depois de dois anos de conversações, completa os precisos 27 anos. De 1992 a 2019, o país viveu momentos de instabilidade, com os actores da fratricida guerra civil a serem, novamente, os protagonistas. Primeiro, no final do segundo e último mandato de Armando Guebuza e, de seguida, no início do mandato de Filipe Nyusi, ora na sua recta final.

 

O clima de confrontação armada durante o consulado de Armando Guebuza cessou com a assinatura do Acordo de Cessação das Hostilidades Militares a 05 de Setembro de 2014, tendo o país realizado, seguidamente, as V Eleições Gerais, ganhas por Filipe Nyusi. Nos primeiros anos da administração de Filipe Nyusi, a instabilidade política e militar, como consequência da não-aceitação dos resultados eleitorais, voltou a ser a tónica dominante e só veio a cessar, sob ponto de vista formal, com a assinatura do Acordo de Paz e Reconciliação de Maputo a 06 de Agosto do ano prestes a findar.

 

O Acordo de Paz e Reconciliação de Maputo foi rubricado por Filipe Nyusi e Ossufo Momade, Presidente da Renamo, no seguimento de um processo negocial iniciado pelo falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama.

 

Salientar que depois da assinatura do Acordo de Paz e Reconciliação de Maputo tem-se assistido a ataques com recurso a armas de fogo a alvos civis na província de Manica, concretamente na região de Zimpinga, protagonizados por indivíduos, até ao momento, não identificados pelas autoridades policiais.

 

Os ataques têm tido lugar depois de a auto-proclamada junta Militar da Renano, grupo que contesta a liderança de Ossufo Momade e que se diz a verdadeira e genuína Renamo, liderado por Mariano Nyongo, ter prometido inviabilizar as Eleições deste ano caso não sejam consideradas as suas reivindicações.

 

Nas vésperas da celebração da efeméride, “Carta” colheu, na tarde desta quarta-feira, a sensibilidade de dois cientistas sociais, nomeadamente, os Professores Doutores Lourenço do Rosário e José Jaime Macuane. Ambos foram unânimes em afirmar que pelo “simbolismo”, mas sem ignorar o contexto actual, deve-se “sim” continuar a celebrar o 4 de Outubro de 1992.

 

Entretanto, foram, igualmente, unânimes em afirmar que os moçambicanos ainda estão longe de usufruir da tão almejada paz efectiva.

 

 

“O acordo de 6 de Agosto está pendurado”, Lourenço do Rosário

 

Lourenço do Rosário atirou que o país comemora mais um aniversário da assinatura do AGP, uma vez mais, distante do alcance da paz e reconciliação nacional. As reivindicações da auto-proclamada Junta Militar da Renamo (recusa na entrega das armas) e o facto de o partido (Renamo) tomá-los como sendo “filhos da casa” constituem, na óptica Do Rosário, os principais factores que minam o acordo rubricado em Agosto último e, consequentemente, a tão almejada paz efectiva.

 

“Essa era a nossa expectativa. Mas, os dados no terreno mostram que pairam muitas dúvidas, sobretudo, porque a Renamo quer se manter no jogo político e ao mesmo tempo mantém os homens armados. Esta questão não está resolvida porque ao mesmo tempo que está o general Ossufo Momade a fazer campanha está o Mariano Nyongo que não entrega as armas e a Renamo a considerar que eles são da Renamo. Reconhecendo que eles são seus irmãos, então mantemos o acordo de 06 de Agosto pendurado”, disse Do Rosário.

 

Outro elemento, não menos importante, vincado por Do Rosário, tem que ver com os resultados que sairão das Eleições de 15 de Outubro corrente. Neste caso, anotou que se a Renamo não ficar satisfeita com os resultados eleitorais e, uma vez mais, evocar a fraude, estarão criadas todas as condições para o país voltar a assistir a um conflito pós-eleitoral.

 

“Se a Renamo não ficar satisfeita com os resultados eleitorais e evocar, mais uma vez, a fraude temos as condições para o conflito eleitoral”, atirou.

 

 

“Estamos longe de ter a paz que nós almejamos”, Jaime Macuane

 

Tal como Do Rosário, José Macuane anotou que o país ainda está longe de usufruir a tão almejada paz perene. Para os moçambicanos, anotou o académico, o presente 04 de Outubro sabe a agridoce, por ter por mais de vinte anos vivido num clima de paz e, posteriormente, experimentado momentos de instabilidade política e militar.

 

Sobre as razões que têm sucessivamente minado a paz no país, isto tendo em conta os sucessivos acordos, José Macuane pronunciou-se nos seguintes termos: “Eu penso que é a má governação e, no seu interior, podemos encontrar a existência de lideranças políticas medíocres. Medíocres no sentido de que o interesse nacional deixou de ser as suas prioridades e os interesses do grupo se impuseram sobre o interesse nacional. A título de exemplo, a falta de compromisso com as instituições do Estado, a falta de compromisso de construção de uma Nação onde são respeitados os direitos fundamentais e democracia. É exemplo de que temos liderança sem qualidade e que não está à altura dos desafios que o país enfrenta”. (Carta)

A Polícia da República de Moçambique (PRM) disse hoje que os ataques armados contra viaturas no centro do país, que já provocaram alguns feridos desde agosto, não estão associados a guerrilheiros dissidentes da Renamo.

 

"Não há nenhuma informação que ligue esses indivíduos [que praticam os ataques] à autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo)", criada em junho, referiu Orlando Modumane, porta-voz da PRM em conferência de imprensa, em Maputo.

 

Régio Conrado e Calton Cadeado

Passam dois anos desde que um grupo supostamente composto por 30 homens armados com catanas e armas de fogo atacou, durante a madrugada do dia 05 de Outubro de 2017, postos policiais na Vila-Sede do distrito de Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado, tendo resultado na morte de dois agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) e três membros do grupo, de acordo com a informação confirmada, na altura, pelo Comando Geral da Polícia.

 

Após o ataque, houve várias reacções, com destaque para o Comandante-Geral da PRM, Bernardino Rafael, que deu vários ultimatos ao grupo para que se entregasse. Aliás, Bernardino Rafael chegou a apresentar, no princípio dos ataques, alguns indivíduos de diferentes nacionalidades, como estando ligados ao fenómeno.

 

Na ocasião, Rafael estipulou um período de uma semana para que o grupo se entregasse, entretanto, isto não aconteceu e os ataques alastraram-se para os distritos de Nangade, Quissanga, Palma, Macomia, Muidumbe, Mecúfi e Meluco.

 

A par dos supostos autores apresentados por Bernardino Rafael, a detenção, em Setembro de 2018, do empresário sul-africano Andrew Hannekom, acusado de ser um dos responsáveis pela logística e financiamento dos insurgentes, levantou diversas questões na opinião pública. O indivíduo acabaria por perder a vida, em Janeiro deste ano, no Hospital Provincial de Pemba, supostamente vítima de envenenamento, deixando mistérios sobre sua personalidade, pois, o “dossier” foi tratado pelas entidades máximas dos dois países, tendo ficado “trancado a sete chaves”.

 

A outra individualidade que, durante este período, procurou a todo o custo tranquilizar e desdramatizar a situação foi o Ministro da Defesa Nacional (MDN), Atanásio M’tumuke, que sempre disse que tudo estava controlado. Entretanto, nas últimas semanas, o governante mudou de discurso, chegando a pedir ajuda externa para “eliminar todos os malfeitores (insurgentes)”.

 

A situação acentuou-se quando, nos últimos dias, bases das Forças de Defesa e Segurança (FDS) foram atacadas e mortos vários militares e civis nos distritos de Macomia e Mocímboa da Praia. Devido à situação, o Chefe de Estado e Comandante-em-Chefe das FDS, Filipe Nyusi, defendeu que “estamos a sofrer uma invasão camuflada” e que “já é momento de colocar um ponto final”. A posição foi reforçada pelo Chefe do Estado-Maior General, Lázaro Menete, que reconheceu estarmos diante de uma situação de guerra.

 

Coincidentemente, dias depois, o país recebia três helicópteros do modelo MI-17, oriundos da Síria, supostamente através dos “irmãos russos” que, segundo apurámos, já se encontram no território nacional a apoiar técnica e taticamente o exército moçambicano. Mesmo com estes factos, os ataques não param e a 05 de Outubro de 2019 completar-se-ia dois anos de insurgência ou “invasão camuflada”, que já matou centenas de pessoas, entre civis, militares e membros do grupo desconhecido, para além da destruição de propriedades e bens privados e públicos. Nos últimos dias, tem-se relatado ameaças de ataques aos postos de votação no próximo dia 15 de Outubro.

 

Face a este cenário, “Carta” procurou os académicos Régio Conrado, Doutorando em Ciências Políticas e Calton Cadeado, docente universitário, para perceber o que estará por detrás das acções bárbaras que se verificam na província de Cabo Delgado. Entre os aspectos arrolados no debate, destacamos os factores que influenciam aquela violência, os possíveis interesses, o significado da suposta presença de militares russos em Cabo Delgado, o papel do Estado moçambicano no combate a este fenómeno e o futuro da província de Cabo Delgado e do país, no geral.  

 

 

Factores da violência extrema

 

Para o pesquisador Calton Cadeado “não há uma resposta única para este fenómeno”. A fonte explica: “quem analisa as questões de segurança diz que não devemos ser adeptos do factor único para explicar aspectos de segurança, sobretudo, quando estamos em período de confrontação, envolvendo violência”.

 

Citando a pesquisadora de conflitos Mary Caldon, que estuda “novas e velhas guerras”, o docente universitário defende que nas “novas e velhas guerras” é difícil verificar o limite entre o crime organizado e o terrorismo.

 

“Estamos a falar, por exemplo, de um actor que você diz que é um terrorista, mas também pode ser um mercenário, também pode ser um agente do crime organizado, então, há uma miscelânea de factores que estão envolvidos neste tipo de situações”, argumentou o docente da Universidade Joaquim Chissano, antigo Instituto Superior de Relações Internacionais.

 

Entretanto, o nosso entrevistado diz ser difícil transportar esta teoria para realidade moçambicana, pois, “não sabemos quem são estes actores”. “Há nomes que estão a circular, mas não sabemos quem são estes actores para vermos se ele é um terrorista, se é um mercenário, se é um agente do crime organizado, se é um drop dillerarm diller”, explica a fonte, sublinhando que, neste momento, o grupo pode ser qualquer coisa (terroristas, mercenários, garimpeiros ilegais ou mesmo de insurgência militar).

 

Por isso, para o académico, o debate deve começar com a seguinte questão: que fenómeno é este? Face a questão, o pesquisador recorre a outro estudioso de conflitos e segurança para compreender o fenómeno (Patrice Chaball, que desenvolveu a teoria da instrumentalização da desordem) para, novamente, perguntar: quem teria interesses em fazer a instrumentalização da desordem?

 

Cadeado sublinha que a grande surpresa deste grupo é o facto de não mostrar cara, passados dois anos de ataques e decapitações, pelo que, “pode ser terrorismo, guerra civil, insurgência ou qualquer coisa”, pelo facto de ninguém saber o que está a acontecer naquela província do norte do país. A isto, a fonte chama de “surpresa estratégica” porque a sociedade, o Estado e os estudiosos foram pegos de surpresa com a forma de agir do grupo.

 

Cadeado lembra que o Ministério da Defesa Nacional (MDN), os Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) e a Polícia da República de Moçambique (PRM) fizeram diversos estudos para perceber certas dinâmicas nas fronteiras nacionais, mas ninguém imaginava que, passado algum tempo, o país iria sofrer ataques de “pessoas sem rosto”.

 

Tal como Calton Cadeado, o Doutorando em Ciências Políticas, Régio Conrado, cuja tese de doutoramento tem como enfoque as províncias de Niassa e Cabo Delgado, defende ser errado associar a questão da violência extrema em Cabo Delgado a um e único factor, mas sim deve ser associado a uma extensa lista de razões, em que constam as fracturas de ordem social, económica, política, cultural, que estão a ser negligenciadas por determinados sectores do poder a nível de Moçambique.

 

Por outro lado, o académico busca a experiência dos outros países para defender que a exploração dos recursos naturais atrai vários males, pelo que Moçambique está na “linha da mira”.

 

Para Régio Conrado, se a pobreza fosse o único factor, “porquê a província de Niassa, que é a mais pobre e excluída do país, não está a viver a mesma situação?”, questiona, sublinhando haver fracturas internas estruturantes que exigem algumas cautelas na abordagem do fenómeno.

 

Segundo Conrado, a insurgência não é um movimento qualquer e que existem várias fragilidades no país, sobretudo, no que concerne ao controlo de fronteiras, uma vez que o país é vizinho da Tanzânia, que faz fronteira com o Quénia e República Democrática do Congo, que vivem fenómenos similares nos seus territórios.

 

Outro elemento chamado ao debate pelo nosso entrevistado é o facto de a religião muçulmana ser praticada há vários séculos no nosso país, mas sem nunca se ter registado qualquer violência entre os praticantes desta e de outras religiões, assim como conflitos envolvendo fiéis do Islão, em Moçambique.

 

Para Conrado, passados estes dois anos sem que o grupo se tenha revelado e emitido suas posições e, em contrapartida, aparecer organizações internacionais terroristas reivindicando ataques, demonstra que o grupo tem uma origem externa e que o governo deve mudar de abordagem e procurar novos elementos para perceber o fenómeno, uma vez que estão a matar civis e militares, o que demonstra que o grupo tem objectivos que precisam ser apurados.

 

 

Interesses por detrás da insurgência

 

Neste ponto, Régio Conrado entende que existem vários interesses geopolíticos relacionados com o facto de Moçambique ser epicentro de recursos minerais e energéticos, facto que leva o país a estar na “mira” de diversos interesses económicos e políticos.

 

“Esta hipótese pode atrair instabilidade, uma vez que as multinacionais, quando vêm, trazem empresas de segurança compostas por militares e mercenários para garantir os seus interesses e pelos países envolvidos na exploração dos hidrocarbonetos. Caso algumas empresas sejam rejeitadas, podem financiar estes grupos extremistas, porque os mesmos são experientes na ‘economia de guerra’ e podem usar este elemento para impedir que Moçambique dê um boom”, defende Conrado.

 

Já Calton Cadeado entende que existem objectivos políticos, económicos e ideológicos, entretanto, estes estão ocultos. Para Calton Cadeado, mesmo com as fragilidades do Estado (fraca presença em alguns locais, falta de recursos humanos qualificados, materiais e infra-estruturas), nunca houve ataques. Por isso, questiona: “Porquê agora? Porque estes ataques começaram agora que Moçambique descobriu recursos minerais?”

 

A esta perspectiva, Cadeado avança que podem existir duas dimensões, uma associada ao garimpo ilegal, que após o governo reforçar o controlo sentiram-se frustrados e estão a retaliar e outra ligada a “teorias de conspiração”, como é o caso da existência de empresas internacionais privadas de segurança com interesses de garantir a protecção dos investimentos, mas com as quais o Estado moçambicano não quis trabalhar.

 

“Uma vez que as multinacionais de hidrocarbonetos sempre trabalham em paralelo com as empresas de segurança privada e que podem estar a usar a violência para determinar a incapacidade do Estado, ou seja, passar um atestado de incompetência ao Estado para, posteriormente, virem propor-se para acabar com o fenómeno”, explica o académico.

 

Questionado quem seriam os maiores interessados na desestabilização de Cabo Delgado, Cadeado respondeu tratar-se hipoteticamente de mais uma teoria de conspiração. Sustentando a sua afirmação, o nosso entrevistado questiona o facto de, constantemente, o Estado Islâmico emitir comunicados, reivindicando a autoria dos ataques e os serviços secretos norte-americanos e italianos, até aqui, não terem reagido. Explica a fonte que estes países têm interesses fortes naquela região e os seus serviços secretos não se preocupam em verificar a autenticidade das mesmas, sabendo-se que sempre que aquele grupo emite um comunicado, a secreta destes países faz uma análise detalhada dos comunicados.

 

O académico lembra que não é novidade que as empresas de segurança privada norte-americanas e italianas manifestaram interesse em garantir a protecção dos investimentos, mas que não houve um avanço por parte do Estado. Recorda ainda que onde há uma empresa multinacional de hidrocarbonetos, há sempre uma empresa privada de segurança e que muitas delas são de antigos quadros dos serviços secretos ou dos exércitos dos respectivos países.

 

Eric Prince e Yevgeny Prigozhin

 

Significado da suposta presença de tropas russas em Cabo Delgado

 

Relativamente ao significado da suposta presença de militares russos em Cabo Delgado, Régio Conrado afirmou que a escolha da Rússia é bem-vinda, dada a experiência militar daquele país do leste europeu, que, na sua óptica, demonstrou isso na Síria, quando o Estado Islâmico demonstrava ter vencido o Governo de Bashar al-Assad, tendo melhorado a situação com a sua intervenção.

 

Para Conrado, a situação iria se complicar caso o governo escolhesse a França, porque esta já demonstrou a sua forma de actuação em países como a República Centro Africana (RCA) e Mali, onde a violência atingiu níveis elevados com a sua intervenção.

 

Conrado defende ainda que as FDS não estão suficientemente preparadas e modernizadas e sublinha que “nenhum país, hoje no mundo, é capaz de vencer, sozinho, uma insurreição radical”, pelo que os moçambicanos não se devem preocupar com as parcerias que o governo faz, mas sim nos resultados.

 

Conrado faz lembrar que o grupo que fustiga Cabo Delgado vem usando a tática da guerrilha, usada pela Renamo na guerra dos 16 anos, pelo que “a aposta do governo (pela Rússia) é de salutar”.

 

Por sua vez, o pesquisador Calton Cadeado diz que a se confirmar a presença russa, em Cabo Delgado, será uma estratégia de contrabalançar o poder para que não se dê o monopólio ao ocidente, uma vez que os russos estão com uma política um pouco “agressiva de retorno à África”, que mais do que a vertente económica e política, também passa por treinar Forças Especiais, como se registou em certos países africanos (como é na República Centro Africana).

 

Cadeado lembra que existem fortes laços históricos entre os dois países, desde os tempos da luta de libertação, para além da experiência russa no combate ao terrorismo na Chechénia, assim como eles também têm interesses na bacia do Rovuma. Entretanto, defende que o Estado moçambicano tem uma perspectiva de diversificação de parcerias para fazer mais amigos, daí ter optado pelos russos para garantir a defesa e segurança no norte.

 

Papel do Estado e o futuro de Cabo Delgado e do país

 

Para Régio Conrado, a responsabilidade primária do Estado não devia ser de alarmar as pessoas, mas sim garantir a serenidade da população e, nesse caso, entende o académico, o Estado saiu-se bem.

 

“Agora, o Estado deve reforçar as fronteiras devidamente, assim como os ataques, de hoje em diante, devem ser feitos de fora para dentro, uma vez que alguns insurgentes vêm de outros países”, considera Conrado.

 

De acordo com Conrado, a comunicação deve ser eficaz com as populações e, enquanto se combate, é importante que se criem mecanismos de desenvolvimento inclusivo a nível daquela região e não só, para além de fazer de tudo para vencer este movimento.

 

No entender de Conrado, não deve haver “sentimentalismo” no combate contra este tipo de movimentos, por isso o governo deve ter uma reacção agressiva, séria, rigorosa e contínua para vencer este grupo. No entanto, Conrado defende que os moçambicanos não devem estar preocupados com as parcerias, mas, sim, com os resultados político-militares.

 

 

Por seu turno, Calton Cadeado defende que, a partir das últimas declarações do Presidente da República, de que estávamos diante de uma invasão camuflada e as do Chefe do Estado-Maior General, de que estamos perante um estado de guerra disfarçado, a abordagem deve ser ofensiva, uma vez que, desde 2017, a abordagem do Estado foi mais reactiva ou defensiva.

 

O académico espera que, a partir das últimas reacções, o Comando Operativo, sediado em Cabo Delgado, não dependa tanto das decisões de Maputo, mas ganhe mais poder para agir nas referidas zonas de ataque e, relativamente à presença russa, faz lembrar que o Estado tem legitimidade de contratar e cooperar com quem bem entender. (Omardine Omar)