Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quarta-feira, 17 abril 2019 13:24

“Edgar Barroso”, pombo-correio da desinformação e maleficência

Escrito por

Li no jornal a Carta um longo texto da autoria de um tal Edgar Barroso, tentando desmontar um texto meu intitulado Reflexão em torno do atual Pânico moral no qual, a partir do conceito cunhado pelo sociólogo sul-africano Stanley Cohen, tento transpor à situação e ao atual humor social. Não irei repetir a descrição, dado pode ser acedido a partir do seguinte endereço: http://bit.ly/2Xi3fVB

 

Em reposta, o suposto Edgar Barroso critica-me por ter recorrido a textos inacessíveis - para ele, textos em língua inglesa são inacessíveis – para falar sobre o pânico moral. Critica-me por ter recorrido a dois ou três autores para explicar o significado do pânico moral e tentar enquadra-lo no nosso contexto. Edgar critica-me por ter referenciado ao papel da imprensa no empolamento de alguns assuntos e abafamento de outros; pois é esse mesmo o papel dela. O texto do Edgar pode ser lido aqui: http://bit.ly/2IDAjTL e tem como título “Os intelectuais copy & paste”. E por causa disso ele até duvida da minha intelectualidade e até do meu estatuto de académico. Ora, comecemos pelo começo.

 

Egídio Vaz, Egídio Guilherme Vaz Raposo, de seu nome completo é Historiador, Estratega de Comunicação por formação e por prática profissional; autor de 2 livros, mais de 10 capítulos de livros publicados nomeadamente nos EUA, Holanda e Portugal; autor possui dezenas de artigos entre científicos revistos por pares a artigos de opinião publicados. Egidio é vencedor do Premio Internacional de Inovação em Justiça pela HiiL (The Hague Institute for Innovation of Law, Holanda) graças a campanha internacional por ele concebido e gerido por via da The Wage Indicator Foundation; Campanhista Internacional pelos direitos laborais e trabalho digno, ideólogo da marca internacional Justiça Móvel da Fundação Wage Indicator da Holanda, bolseiro do The Amsterdam Institute for Advanced labour Studies (AIAS), Institute for International Journalism, E. W. Scripps School of Journalism at Ohio University (através do Departamento do Estado, Study of the US Universities program); membro da AEJMC-American Association for Education in Journalism and Mass Communication e relator da Divisão de Comunicação Internacional da ICD-AEJMC; membro-fundador do Centro de Estudos Interdisciplinares e autor de vários estudos e pesquisas do mesmo, membro-fundador da Historians Without Borders, um organismo similar ao do Médicos Sem Fronteira, mas no meu caso, baseado em Helsinki, Finlândia; enfim, CONSULTOR INTERNACIONAL de comunicação e advocacia, tendo trabalhado na Zâmbia, África do Sul, Holanda,e outros países.  Já vai longa a introdução, mas tem muito mais.  Neste momento, trabalho em colaboração com a Rand Institute dos EUA na pesquisa sobre o ecossistema da desinformação. E no prelo, aguardam dois livros. 

 

Quero com essa longa introdução deixar claro que não se é académico por presunção muito menos se é intelectual por ler jornais. Não é por meros graus, cargos ou títulos académicos que se presume que seja académico. Esses, como são a maioria, são licenciados, mestres ou doutores. Para ser académico, deve praticar a academia, investigando, publicando e ou lecionando. O mesmo se refere a intelectualidade. Nem todo aquele que tem cabeça é intelectual.

 

PRINCÍPIO DE CARIDADE: UM VALOR ÉTICO QUE ESCAPA A MUITOS

 

Na filosofia e no debate que se quer intelectual ou académico, o princípio de caridade é de cardinal importância. O princípio obriga a que o arguente se esmere em fazer a melhor interpretação possível da mensagem e do argumento do proponente. Ao assim ditar, o objetivo desse princípio metodológico é a prevenção da introdução de falácias ou irracionalidades no discurso de alguém. O princípio constrange o intérprete a maximizar a verdade ou racionalidade nos ditos do sujeito.

 

No longo manifesto político e deturpador do “Edgar”, ele não só atropelou esse princípio como de forma ativa, tratou de descaracterizar a mensagem do meu texto. E porque falava essencialmente para pessoas com poucas hipóteses de desconfiar, a linguagem fina, agressiva, insinuadora e até o recurso à sátira e a paródia por ele escolhido atiçaram a sua audiência ao êxtase. Muito poucos trataram de ler o texto original por mim escrito.

 

Eu não sabia que interpretar um conceito cunhado há mais de 60 anos à luz da atualidade fosse pecado. Se for o caso, então, deveríamos recolher todo legado dos filósofos que precederam Jesus Cristo para a pira! O próprio conceito de pânico moral é hoje usado para se referir exatamente ao que descrevi: A moral panic is a feeling of fear spread among a large number of people that some evil threatens the well-being of society. O Dicionário de Sociologia define pânico moral como "o processo de despertar a preocupação social sobre uma questão – geralmente pelos ditos empreendedores morais como o próprio Edgar Barroso e os meios de comunicação de massa". Portanto, será que o Edgar Barroso não sabia que o termo já está sendo usado para além do contexto em que foi cunhado? Sabia sim, mas era do seu interesse ocultar tal detalhe para fortalecer o seu argumento DESONESTIDADE INTELECTUAL.

 

Eu não sabia que citar extensivamente o autor para clarificar um conceito fosse mau. Mas o maior interesse do Edgar não era rebater o texto. Era, isso sim, mostrar a sua audiência que era capaz de desmontar o meu texto. Para isso, recorreu a um conjunto de argumentos falaciosos, desde o argumento de espantalho a falácia de ataque ao homem, chamando-me de pseudointelectual, plagiador e deturpador da ordem social, exercício esse também que convoca à catarse por extirpação do outro. Recordou o público, com recurso a falácias de ancoragem e ajustamento, situações menos boas por que o país passa, tais como a pobreza e corrupção, para depois associá-las a minha personalidade, acusando-me de ser o defensor dos malfeitores.

 

Com um texto malévolo como aquele, Barroso mobiliza a população para o linchamento público da minha pessoa. Aliás, Barroso é conhecido pelas suas líricas sediciosas; ele é um rapper que mobiliza a população para a revolta. Não admire que ao aderir a escola, confunde linguagem Hip-hop com o que na academia chamamos por scholary voice (o estilo/tom académico). Na academia gritar não confere razão a ninguém, muito menos o apelo a emoção. É tudo falácia e não tem peso.

 

FOME PELO RECONHECIMENTO

 

Para terminar, a estratégia de ataque do Edgar Barroso é conhecida e reconhecida pela sua eficácia desde a muito. Os gurus de vendas, aconselham marcas emergentes a se associarem às grandes. Por exemplo, se quiser iniciar com a produção de leite em pó, sabe que em Moçambique, NIDO é rei. Então, pode fazer tanto publicidade negativa como positiva. A negativa seria, O meu leite é melhor que NIDO. Assim, as pessoas que já teriam experimentado o NIDO sentirão curiosidade em experimentar esse tal leite, que se diz melhor que NIDO. E Edgar fez exatamente isso. Dedicou horas para cortar com a sua pequena lâmina Egídio Vaz. Só por isso ele ganhou pontos, pelo menos dos meus já adversários. Na veterinária o seu comportamento equipara-se à caraça, que se instala na teta de vacas para sobrevier. A vaca é tao grande que quase não sente a picadela da caraça!

 

Espanto-me ao ver que com todas fontes devidamente atribuídas; com citações claras, com conceitos bem definidos, Edgar Barroso ainda foi a tempo de ver o meu caracter pseudointelectual e com direito a publicação no jornal Carta.

 

Indigno-me contra gente que se acha que pode a qualquer custo trepar a integridade dos outros só para saciar a sua falta de autoestima. E, à semelhança do que o político congolês disse, o bom pedreiro afere-se pela qualidade das suas obras. E se ninguém atira pedras a arvores que não dão frutos, então, estou no bom caminho.

Contra pombos-correio da desinformação, vai o meu abraço.

Sir Motors

Ler 10514 vezes