(Texto dedicado ao amigo Leandro Paul)
“Dr. Mabunda, todos os jornalistas já vieram levantar os cabazes, menos um da TVM. Liguei para ele, diz que não precisa!” - assim me dava o relatório da distribuição de cabazes numa instituição onde eu geria a relação com os Media, num certo ano. Eu, que tanto me tinha batido para que o CA daquela empresa aprovasse a concessão de cabazes aos profissionais de comunicação, fazedores de opinião e outras personalidades da praça, como forma de massagear a sociedade - como nos ensinou o outro, então estava ali alguém a dizer que não precisa…
Atónito e no meio de tantas “dores de cabeça” do trabalho, ainda perguntei à Dra. Isabel, então chefe do Departamento Administrativo e Financeiro, de quem se tratava: “Chama-se Simião Phongwane, chefe de Redacção da TVM”! Agradeci a colega por ter distribuído a contento todos os mais de 60 cabazes e depois prometi-lhe que ia falar com aquele jornalista que prescindia. Dito e feito, na primeira oportunidade, lá me pus a falar telefonicamente com o Simião Phongwane, meu antigo colega na escola e de profissão, depois. Somos amigos, mas consideramo-nos irmãos. Desde a escola, nunca mais deixou de me chamar “meu chefe”! Mas, debalde! Nem a minha voz o convenceu a ir levantar o cabaz!
Este é o Simião Phongwane (não Simeão Ponguane, como ele próprio gosta de corrigir quando pode) que conheço desde 1987, na Escola de Jornalismo. Ele, vindo da Secundária de Nwaxikolwane, distrito de Chókwè, em Gaza; e eu, da Rádio Moçambique. Eu e ele fizemos parte da turma de jornalismo dos anos 1987 a 1988, dois anos, com perto de vinte estudantes.
As relações entre todos nós eram muito cordiais, éramos quase família! Ao Simião Phongwane coube a responsabilidade de ser o chefe dos alunos internos e a mim a de chefe da turma. Havia os alunos que estudavam morando na Escola e outros que estudavam vivendo em suas próprias casas, na cidade de Maputo.
As queixas sobre o “Xipongwani”, como o falecido João Matola (que saudades… Deus o tenha na sua graça) o chamava clandestinamente, não tardaram: o chefe era demasiado chato e exigente! Duro. Queria sempre “ordem” na casa. Nada de indisciplina; nada de desleixos, nada de barulho, nada de bebedeiras; nada de farras na Escola de Jornalismo. Ele impunha essa… ordem! Que ia contra a vontade de muitos estudantes que se viam num internato, onde quase cada um vive livremente como quer e como pode! Claro que o casal “Couto”, que geria a escola gostava da disciplina!
Ele, o Simião, que é verdadeiramente homem às direitas: até hoje, não bebe álcool, nem fuma; não é homem de curtições, não é de mulheres, nem farras… ele é de conversas, estudos e mais nada! Nem de futebol gosta, pelo que, quando ainda na Escola de Jornalismo íamos jogar, quase todos os alunos, semanalmente, na agora inexistente Escola Secundária de Maxaquene, ali na Av. Eduardo Mondlane (hoje Universidade São Tomás), ele não ia; nem para assistir, nada. Trabalho, organização e preparação do trabalho, era/é só isso com ele! Um homem organizado!
De forma que estava claro que ele iria muito longe na vida social e profissional. E foi. Embora ache eu que, numa sociedade mais honesta, mais justa, poderia ter ido, ou pode ir, bastante longe. Ele é um homem honesto, sincero, frontal, sem regateios. Não tem muito de diplomacia. Aquele que o conhece minimamente bem, sabe das qualidades dele. Profissionalmente, é o que todos sabemos: bom, agressivo, justiceiro e contundente. Todo aquele que acompanhou os trabalhos do Simião Phongwane sabe que ele reporta tudo. Mas tudo mesmo, até o detalhe desnecessário. As suas entrevistas são contundentes de facto. Quem não se lembra da memorável entrevista dele com o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama (Deus o tenha)? Quase discutiam em frente às câmeras, com o líder completa e visivelmente nervoso… quem não se lembra da discussão acérrima em pleno “Quinta à Noite” com o Professor Ferreira, há uns dois anos?…
De modo que, quando a Dona Isabel me veio falar que o Sr. Simião Phongwane, chefe de Redacção da TVM, prescindia do cabaz, depois de fazer o flashback da figura dele, não fiquei muito surpreso, ante a cara de muito espanto e admiração dela. É o Phongwane que conheci/conheço. Um homem honesto! Incorruptível! Imassageavel!… Sempre que nos encontramos ou para um café, ou um almoço, ainda que maior parte de consumo seja meu por conta do copo, ele sempre exige dividir a conta. Deve ser esta sua honestidade, seriedade e frontalidade que assusta as pessoas!
Fica aqui o registo da minha admiração por este grande jornalista moçambicano, em serviço na Televisão de Moçambique, a nossa estação pública.
ME Mabunda