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sexta-feira, 01 março 2019 06:26

Os ladrões de crenças

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Escrevi num romance meu que o mais importante não é a casa onde moramos mas a casa que mora dentro de nós. Essa casa pode ser a Pátria.


A Pátria é uma palavra delicada. Foi (e continua a ser) usada com nobres propósitos. Mas também já foi usada por ditadores para manipular as pessoas. Serviu para justificar guerras, crimes, regimes de opressão. Em nome de Deus, da Pátria e da Família construíram-se tiranias, fabricaram-se ódios e campanhas de morte e sangue.


A questão é a seguinte: quem realmente ama a sua Pátria não se serve dela. Serve-a. E serve-a construindo valores morais, esperança e dignidade. Não é obra para dirigentes políticos. É um assunto para todos nós. Não é obra para discursos. Nasce do exemplo, de acções concretas.


O que ficou claro em redor da extradição de Manuel Chang é revelador da enorme descrença que criamos em relação a nós mesmos. A percepção é esta: lá fora é melhor do que aqui dentro. Os americanos serão mais eficazes, mais isentos e mais justos. Vale a pena avaliar esta descrença. Para se saber quanto deve ser feito – com obras e não com palavras – para restaurar essa confiança nas nossas próprias instituições.


Não foram inimigos externos que tanto descredibilizaram essas instituições. E agora para que as olhemos como “nossas”, estas instituições têm uma  oportunidade única e irrepetível: tratar o assunto da corrupção associada às dívidas com toda a seriedade e todo o rigor. A mesma seriedade e rigor que se espera que o assunto mereceria nos Estados Unidos da América.


Esta que pode ser uma dor de cabeça para as autoridades mas, ao mesmo tempo, coloca nas mãos das nossas instituições uma ocasião de ser redimirem da imagem de inoperância que se somou durante décadas. Para se provar que nós, moçambicanos, podemos fazer mais e melhor. Para oferecermos às gerações vindouras a certeza instituída de que o crime não compensa na nossa tão mal amada Pátria.


Os que tanto destruíram a nossa auto estima não foram nunca os que, no tempo certo, criticaram a corrupção. Foram os corruptos que discursavam em nome da Pátria e da moçambicanidade. Não é só Manuel Chang que pode ser expatriado para os Estados Unidos da América. Nós já expatriamos a nossa crença em nós. E queremos-la de volta, senhores e senhoras da política. Queremos-la de volta, senhores e senhoras da Justiça. Escutem-nos, também todos os que misturam Política e Justiça. Devolvam-nos a confiança que nos foi subtraída. Porque se há uns que roubam dinheiro, há outros que roubam a nossa auto estima.

Sir Motors

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