A pergunta é esta: porque motivo as autoridades que tanto hasteiam a bandeira da anti-corrupção não fazem uso desta memória, deste tão valorosos exemplos? Por desatenção? Por estarem ocupadas em outras urgências? A resposta só pode ser uma: porque não querem. Se quisessem teriam feito mais. Teriam incluído nos programas escolares histórias lembrando o seu exemplo. Afinal, os heróis não foram apenas os que deram a vida pela causa da Independência. Foram os que, antes e depois de 1975, se entregaram aos outros, à sua pátria e ao mundo. E a Moçambique faz falta essa inspiração nos que não ficaram calados perante a indecência e o crime organizado.
Logo a seguir ao assassinato, um grupo de jornalistas e amigos do Cardoso iniciou junto às autoridades municipais uma campanha para que fosse erguido um singelo memorial junto ao lugar onde se cometeu o crime. A resposta foi sempre esquiva. Ou melhor, negativa. Uma das justificações foi em nome da circulação facilitada nos passeios públicos. Triste resposta essa numa cidade em que os passeios há muito que deixaram de ser públicos e se encontram atafulhados de tudo e todos.
Na cerimónia fúnebre do Cardoso coube-me tomar da palavra em nome da família, dos colegas da profissão e dos amigos. Lembro-me de ter terminado assim essa alocução: “a verdadeiro homenagem ao Cardoso não é esta cerimónia. A homenagem começa depois na maneira como fizermos do nosso quotidiano uma batalha pela verdade. O nosso amor por Moçambique não pode mais ser confrontado com a impunidade dos que mancham e envergonham Moçambique.“