Sempre estive preocupado com esses sentinelas de prontidão sentados em cada esquina das redes sociais e não só que tentam titanicamente a todo custo fazer-nos crer que o Presidente da República está sempre certo. Assustam-me esses compatriotas que de tanto endeusarem o Presidente da República chegam a acreditar que ele é Deus de verdade, não erra... não falha. Esses nossos irmãos que pensam que o Presidente da República não pode ser corrigido, negado, lembrado, guiado, sugerido ou chamado à razão. Esses que, para eles, o Presidente da República pode cair num buraco, se ele não viu é problema dele. Esses que pensam que é falta de respeito dizer ao Presidente da República que a sua gravata está torta ou que a sua braguilha está aberta.
O próprio Presidente da República abraçou a sensatez e interrompeu a sua visita ao Reino de Eswatine (uma visita que nem devia ter iniciado, diga-se). Fez uma introspecção. Ouviu o seu coração, aquele onde cabemos todos nós, e ouviu o brado do seu povo. Reconheceu que era melhor ir pessoalmente ao terreno do que tomar decisões com base em imagens partilhadas no "feici" por puxa-sacos estagiários. Deu-se conta de que, afinal, a sua presença lá em Macurungo, na Munhava, no Chinde, na Soalpo, em Canongola, etecetera, era melhor que a de qualquer ministro. Percebeu que o seu abraço era de longe melhor que qualquer comunicado da Presidência. Lembrou-se que a mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer também.
Mas, há uma claque de académicos-cipaios que desencadeou uma corrente de aplausos à visita do Presidente dando a entender que se tratava de uma decisão tirada dos melhores manuais de boas práticas de uma sociedade. Foram até desenterrar teorias satânicas para justificarem tais hossanas. Mas, como o bem sempre vence, o prevaleceu o bom senso.
Ahhh, sim! Tenho medo desses assessores voluntários recém-convertidos que pululam por aqui. Esses académicos que fizeram pacto de não agressão com os seus próprios diplomas a troco de petisco. Esses nossos bradas que pensam que Filipe Nyusi é presidente só deles. Esses nossos contemporâneos que querem vender ingressos ao coração do Presidente Nyusi. Esses que assumiram que Nyusi é propriedade privada deles.
Hoje, Filipe Nyusi está aí no terreno abraçando, chorando e dando força pessoalmente ao seu povo. Está aí mostrando que, se enfrentou os mistérios de Satungira para negociar a paz com Dhlakama, pode também enfrentar os estragos do Idai. Está aí dizendo ao mundo que unidos venceremos. Está aí mostrando que pisa matope e lodo mesmo quando não é para pedir voto. E, de certeza, deve estar com a alma muito leve. E os sentinelas estão aqui com caras de picolho, carentes de ideias, mandando indirectas para si mesmos.
Ao Presidente Filipe Nyusi vão os meus parabéns pela sábia e humana decisão de interromper a visita (repito: uma visita que devia ter sido cancelada antes mesmo de iniciar). Nunca é tarde. Afinal, diria Jonathan Swift, uma pessoa nunca se deve envergonhar de ter errado, ou seja, nunca se deve envergonhar de ser mais sábio hoje do que era ontem. Somente quem nada faz nunca comete erros. Errar é humano. Todos nós humanos ainda viventes somos susceptíveis a errar a qualquer momento.
Aos académicos-cipaios sugiro que as vezes arranjem um tempinho para visitarem os seus cérebros lá no estômago onde deixaram. Vai que um dia descarregam com autoclismo sem se aperceberem.
- Co'licença!
É impressão minha ou é mesmo difícil convencer um investidor da área de processamento de frutas, por exemplo, a se instalar em Moçambique? Será que não existem indústrias de produção de sumos e polpas de frutas por aí interessadas em fazer negócio neste vasto e rico território? Não existem ou não há vontade política de apadrinhar esses investidores? Não dão boas comissões? (já que tudo funciona com comissões por aqui).
Em Dezembro, ananás apodreceu em Nicoadala. Há bem pouco tempo, em todo o país mangas apodreceram e agora já nem parece que já houve mangas aqui. Neste momento, abacate está a apodrecer em Mugulama, no Ile. Daqui a nada a vila da Maganja da Costa estará a cheirar à laranja podre. Quando você encontra, em Nacata, Malema, tomate sem compradores sendo levado para o lixo, é de partir o coração. Será que não é possível encontrar quem queira processar e conservar estas coisas?
Provavelmente eu sou das raríssimas pessoas que não está muito empolgada com a nova fábrica de cerveja construída em Marracuene. Não rendi nem um bocadinho. Nada contra!
Vão dizer que é bom porque dá emprego e paga impostos. Vão dizer que na Holanda, na Alemanha, na Rússia, etecetera, esse tipo de indústrias é assado ou frito e contribui com isto ou aquilo aos cofres do Estado. Mas eu não sei se isso vale a pena. É que eu acho que já andamos "piffs" o suficiente para estarmos a celebrar efusivamente a inauguração de mais uma indústria de álcool. Mas também porque acho que existem outras áreas importantes por investir que podem dar-nos empregos e contribuírem com impostos da mesma maneira.
Nada contra os que bebem. Até porque eu também bebo. Mas não sei se vale a pena a ideia de nos anestesiarmos ainda mais. Parece que, para uma sociedade normal e do bem, a demanda já supera de longe a procura. Ou seja, o que se oferece já é mais do que suficiente. É que fora essas indústrias inauguradas com pompa e circunstância também existem aquelas de bebidas-secas de alto teor alcoólico que funcionam sem nenhuma fiscalização do Estado e da sociedade.
Longe de mim querer me fazer passar por sentimentalista ou moralista de ocasião. Como disse, nada contra. Não quero misturar nada com nada, nem quero ser escolástico. Só acho que somos uma sociedade inerte. Uma sociedade de descaso com o bem colectivo. Não pode haver "unidade nacional" sem lucidez. Se estivéssemos no tempo colonial, não haveria a ideia de união e luta pela independência. Não há sobriedade para isso. Até parece que há quem tem medo que a nossa babalaza acabe. Parece que há quem nos quer assim. Parece que estamos a fazer agenda de alguém. Esta cena de um ministro confundir 14 com 400 é reflexo de um desequilíbrio colectivo voluntário do topo à base. Até o governo anda "djez".
Por fim, gostaria de lembrar que as zonas centro e norte estão a ser afectadas pela Lagarta do Funil do Milho (spodoptera frugiperda), uma praga que está a devastar culturas, principalmente milho, arroz e mapira. Camponeses estão a perder as suas machambas e vão perder ainda mais porque a broca ataca a planta em qualquer idade. É uma praga que vai levar algum tempo para erradicar. Precisamos de incrementar a assistência medicamentosa e técnica aos camponeses.
Dizem que a nova fábrica vai produzir cerveja também à base de milho de mais de mil agricultores de Catandica, distrito de Barué, em Manica. Em Nampula tem a Impala que também compra dos camponeses. Isso é muito bom (juro!). Mas temos para comer?
- Co'licença!
As notícias dizem:
"A Justiça norte-americana confirmou, esta sexta-feira, o envolvimento do gabinete do antigo Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, acusando Teófilo Nhangumele de ter agido em nome da Presidência no caso que corre em Nova Iorque sobre as dívidas não-declaradas. (...) 'Teófilo Nhangumele, 50, cidadão e residente em Moçambique, agiu em nome do Gabinete do Presidente de Moçambique' (...)".
E assim a Polícia já foi mobilizada e está atrás do gabinete e da presidência que se encontram a monte. A Polícia canina está em todas as esquinas. Diligências estão sendo feitas e já foi decretado o recolher obrigatório em todo território nacional. A Polícia está a trabalhar no assunto. Está a envidar esforços. Procura-se um gabinete e uma presidência de dois mandatos, os principais culpados das dívidas ocultas que deixaram o país a travar com jantes de segunda-mão.
É um caos total. Estão em curso muitas, diversas, diferentes e multifacetadas operações: terra-mar-ar. Tem de se encontrar o gabinete e a presidência onde quer que estejam. Os parceiros históricos já foram contactados. A Rússia enviou os seus melhores mergulhadores que estão a procurar os dois arguidos algures no mar. Tubarões estão sendo confundidos com atuns, mas eles juram que nunca burlaram ninguém e os seus nomes não aparecem em nenhum documento oficial do calote. Por sua vez, a China diz que os foragidos só podem estar escondidos na Serra da Gorongosa. Helicópteros inundam o céu. Leões e gazelas se abraçam de medo. Nunca tinham visto, nem nos tempos da guerra dos dezasseis anos nem nas recentes instabilidades intermitentes. Enquanto isso, os búzios divinatórios da Ametramo sentenciam que o gabinete está junto com a presidência, numa wella, a exaltarem a pátria numa dessas praças da capital. E o povo confirma.
Todas as evidências indicam que a autoria moral das dívidas ocultas recai sobre o gabinete e a presidência, pelo que vão responder criminalmente. Se forem encontrados, vão aguardar o julgamento em prisão preventiva. O mundo parou, finalmente os verdadeiros culpados das dívidas ocultas foram revelados. A mídia não fala de outra coisa. Diz-se que, nos últimos tempos, o gabinete vive uma vida de rei e a sua comparsa presidência anda em festas fastuosas. Compraram mansões e carros de alto calibre de último grito. O gabinete e a presidência colocaram o país na sarjeta. E agora, cadê eles?
Gratifica-se com um prato de atum em água e sal e mangas secas com xima de mapira a quem indicar o paradeiro desses dois autores morais desta cómica maracutaia. Mas atenção: não é para pegarem naquele que foi o dono do gabinete e presidente da presidência em causa. Não! Esse não tem culpa.
- Co'licença!
As notícias dizem:
"A Justiça norte-americana confirmou, esta sexta-feira, o envolvimento do gabinete do antigo Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, acusando Teófilo Nhangumele de ter agido em nome da Presidência no caso que corre em Nova Iorque sobre as dívidas não-declaradas. (...) 'Teófilo Nhangumele, 50, cidadão e residente em Moçambique, agiu em nome do Gabinete do Presidente de Moçambique' (...)".
E assim a Polícia já foi mobilizada e está atrás do gabinete e da presidência que se encontram a monte. A Polícia canina está em todas as esquinas. Diligências estão sendo feitas e já foi decretado o recolher obrigatório em todo território nacional. A Polícia está a trabalhar no assunto. Está a envidar esforços. Procura-se um gabinete e uma presidência de dois mandatos, os principais culpados das dívidas ocultas que deixaram o país a travar com jantes de segunda-mão.
É um caos total. Estão em curso muitas, diversas, diferentes e multifacetadas operações: terra-mar-ar. Tem de se encontrar o gabinete e a presidência onde quer que estejam. Os parceiros históricos já foram contactados. A Rússia enviou os seus melhores mergulhadores que estão a procurar os dois arguidos algures no mar. Tubarões estão sendo confundidos com atuns, mas eles juram que nunca burlaram ninguém e os seus nomes não aparecem em nenhum documento oficial do calote. Por sua vez, a China diz que os foragidos só podem estar escondidos na Serra da Gorongosa. Helicópteros inundam o céu. Leões e gazelas se abraçam de medo. Nunca tinham visto, nem nos tempos da guerra dos dezasseis anos nem nas recentes instabilidades intermitentes. Enquanto isso, os búzios divinatórios da Ametramo sentenciam que o gabinete está junto com a presidência, numa wella, a exaltarem a pátria numa dessas praças da capital. E o povo confirma.
Todas as evidências indicam que a autoria moral das dívidas ocultas recai sobre o gabinete e a presidência, pelo que vão responder criminalmente. Se forem encontrados, vão aguardar o julgamento em prisão preventiva. O mundo parou, finalmente os verdadeiros culpados das dívidas ocultas foram revelados. A mídia não fala de outra coisa. Diz-se que, nos últimos tempos, o gabinete vive uma vida de rei e a sua comparsa presidência anda em festas fastuosas. Compraram mansões e carros de alto calibre de último grito. O gabinete e a presidência colocaram o país na sarjeta. E agora, cadê eles?
Gratifica-se com um prato de atum em água e sal e mangas secas com xima de mapira a quem indicar o paradeiro desses dois autores morais desta cómica maracutaia. Mas atenção: não é para pegarem naquele que foi o dono do gabinete e presidente da presidência em causa. Não! Esse não tem culpa.
- Co'licença!
Se há coisa que não nos podemos queixar é falta de gatunos no governo. Até parece que a cada mandato o governo cessante passa a ser procurado pela Justiça. Parece que a cada cinco anos descobre-se que os antigos governantes eram todos ladrões. É como se neste mandato estivéssemos a colocar na prisão os ministros, governadores, embaixadores, Pê-Cê-As, assessores, directores, secretarias, filhos, etecetera, do antigo governo e no próximo mandato o mesmo vai acontecer com estes que estão a roubar agora. É como se estivéssemos a colher o que plantamos há cinco anos.
Dizia, somos um país de gatunos. Mas atenção: nem todos os gatunos que pululam por aí são de estimação. Os gatunos de estimação não são quaisquer. Nós conhecemo-los. Estão timbrados. Os nossos gatunos de estimação são "Indivíduos" agrupados e codificados em ordem alfabética pela Kroll. Têm selo.
Não misturem os gatunos. Por exemplo, há dias ouvi num café que esse ex-ministro que disse que pagou coisas sem saber faz parte dos gatunos de estimação. Nããão!!! Esse pode ser gatuno, mas é gatuno doutro tabuleiro, não é desse tabuleiro de gatunos de adoração. Grupo desse daí é daqueles que se venderam e se compraram aviões entre si. Depois temos o tabuleiro das embaixadoras, que também é um outro grupo. Essa remessa de larápios pode-se encontrar por aí, em qualquer esquina. Agora, aquele que está com os nossos cunhados é outro nível. É internacional e tem selo da Kroll. Como ele só na China antiga, na dinastia Chang.
São muitos tabuleiros de gatunos. São muitas coleções de gatunos. Cada tabuleiro é uma coleção. Mas a coleção de estimação é a dos "Indivíduos", a nossa relíquia nacional. Neste momento, há muitos grupos em julgamento. Estamos perante um festival de audições e de prisões preventivas, mas o mais importante é não misturar. Não confundir a coleção de Chang com a de Zucula. Chang pertence à bandeja daqueles meninos fosfóricos que estão a brincar de estar presos em Maputo. Esses é que são nossos por afecto. Cada gatuno no seu tabuleiro e cada tabuleiro com os seus gatunos.
- Co'licença!
Estou a render com as notícias dessas últimas semanas: a zanga entre Guebuza e Nyusi e as teorias de envenenamento. "O filho mais querido" e "o enviado de Deus" estão em guerra de venenos. Agora só comem com técnicos de laboratório e médicos ao lado para testarem o que vão comer ou para derem desintoxicados depois de comerem. Sempre que leio essas notícias me caem lágrimas... de vergonha.
Quer dizer, aqueles dois cidadãos que juraram servir a pátria, dedicar todas as suas energias para o bem-estar do povo moçambicano e respeitar e fazer respeitar a Constituição da República decidiram disputar olimpíadas de intoxicação alimentar entre si. Ou seja, agora a preocupação deles é saber preparar a poção mais mortífera para matar o outro. Coisas de vergonha! A preocupação agora é ler enciclopédias de Química para saber confeccionar venenos.
Duas pessoas que deviam estar unidas e preocupadas com o desenvolvimento do país, com as decapitações em Cabo Delgado, com o "chek-in" de Manuel Chang, com os "mai-love", com o gás, etecetera, etecetera, preferem brincar de Tom & Jerry na praça. Pessoas que deviam estar a partilhar vivências, experiências e conhecimentos preferem exibir musculatura do ódio e da baixaria. Pessoas que deviam estar a promover e a valorizar os "doutores-honoris-causas" que receberam preferem transformar-se em feiticeiros. No lugar de ocuparem laboratórios e cientistas com sobremesas envenenadas, podiam ocupá-los com investigação de sementes melhoradas, fertilizantes orgânicos, até mesmo medicamentos.
"O visionário" e "o restaurador" se esqueceram do seu país e do seu povo. O país e o povo que eles juraram servir ainda estão aqui na mesma penúria, mas parece que ninguém se importa. O mais importante agora é bisbilhotar onde, quando e o que o outro vai comer para lhe administrar sorrateiramente o elixir fatal da última geração. O foco agora é o "último adeus" do outro. Se me contassem, eu não acreditaria. Estou a falar de duas pessoas reputadas... Estou a falar de dois Presidentes da mesma República ... Estou a falar de dois estadistas... Estou a falar de dois guias.
Com tanta coisa boa e oportuna para fazerem para o país e para o povo, eles decidem caminhar na contra-mão. Juro que eu não sei onde essa gente busca essa inspiração. Não sei onde encontram tanto tempo. Não sei onde deixam a seriedade. Não sei onde querem chegar. A única coisa que sei é que ninguém vai nos levar a sério assim. Paremos com palhaçadas, faz favor! Isso não é normal. Estamos a exagerar.
- Co'licença!
Ontem um vizinho meu dizia que os moçambicanos deviam se organizar e marcharem contra a subida da energia elétrica da É-Dê-Eme. Dizia ele que a energia sobe todos anos, mas continua a mesma porcaria de sempre. Há uns meses, o mesmo vizinho dizia que era preciso nos manifestarmos com uma marcha nacional contra o preço e a qualidade da água da FIPAG. Segundo ele, a água sai turva, como café, e com cheiro a lodo, mas o preço sobe sempre que os donos desejam.
Para este meu vizinho nós não somos organizados. E tenho visto amiúde nas redes sociais alguns amigos alinhando no mesmo diapasão. Uns dizem que devíamos marchar contra as dívidas ocultas. Para outros, a marcha devia ser para a extradição de Manuel Chang para às Américas. Há quem diga que a marcha devia ser contra a inoperância da Pé-Gê-Ere e quejandos.
Parece que somos um país com muitas marchas em stock. Há quem propõe uma marcha contra a subida do combustível, mas também contra os "mai-love" e buracos. Fala-se da subida do pão, do cimento, da capulana, do frango, do tomate, etecetera. Fala-se da falta de medicamentos, de carteiras, e coisas do género. Fala-se de mortes em Cabo Delgado, de Namanhumbiri, e mais.
São tantas marchas que não marchamos. São tantos chambocos, cotoveladas, gás e ponta-pés que não levamos da Polícia. São tantas mordiduras caninas que não levamos.
Entretanto, dizia eu ao meu vizinho que não são necessárias tantas marchas. Perdíamos o nosso tempo marchando contra isso e contra aquilo e não teríamos tempo para trabalhar. Não precisamos de marchar todos os dias. Não precisamos! É que em cada cinco anos há um dia de marcha. Aquele dia em que marchamos das nossas casas às nossas assembleias e depositamos na urna todas as marchas que não marchamos. O dia das marchas não marchadas, das manifestações não manifestadas. Esse dia existe. Quem quiser marchar de verdade que marche nesse dia. Nesse dia as marchas são ouvidas e têm o seu valor. É um bom dia para marchar. É uma marcha que vale a pena.
O problema é que quando chega esse dia preferimos beber muitas Impalas e Txilares ou, então, quando chegamos à assembleia, esquecemos que temos muitas marchas que não marchamos nesses cinco anos. O problema somos nós.
- Co'licença!
Eu não gramo dessa cena das pessoas colocarem seus familiares para comerem dinheiros públicos... de qualquer maneira. Eu acho que as pessoas deviam "merecer" as posições que ocupam. O ideal era que, para cargos públicos, todos passassem por um concurso público, com entrevistas, testes psicotécnicos e tudo. Era o ideal. Mas não é, e nunca foi neste país.
Para ser franco, não fiquei indignado com essa notícia de Vahanle ter nomeado o filho do Presidente da RENAMO para o cargo de Vereador em Nampula. Até aqui não vejo conflito nenhum, a não ser que se prove a sua incompetência. É que num país onde os cargos desse feitio são de confiança política isso é normal, tanto que eu nunca vi um concurso público para a vaga de Vereador, nem de Ministro, nem de Secretário-Permanente, etecetera.
Isso, quanto a mim, é um não-assunto. Pode ser problema, mas não é o grande problema. O grande problema deste país são filhos de Presidentes da República, que por coincidência são também presidentes do partido no poder, que não trabalham e nunca trabalharam, mas que vivem a grande e à francesa. O grande problema são esses putos que ficam ricos da noite para o dia. Esses miúdos que viram empresários de sucesso em fracção de segundos.
Não podemos fechar os olhos a isso. Se tivermos que falar de filhos de presidentes que nos envergonham como País, então, falemos desses moleques milionários, mas que não sabem o que é pôr a mão na massa de verdade. Falemos desses pirralhos que criam empresas hoje e amanhã são adjudicadas compras de armas para o Estado, contra os princípios do próprio Estado, num negócio que quebrou o Estado. Falemos dessas meninas esporadicamente milionárias que ganharam a migração tecnológica digital de tê-vê com concursos dúbios. Falemos desses adolescentes que burlaram o Estado com pranchas de surf no lugar de atuneiros.
Falemos desses filhos e desses pais. Falemos desses pais que não querem que os filhos trabalhem honestamente. Falemos desses pais que oferecem mansões da Privinvest de presente as filhas. Falemos desses pais que ensinam os seus filhos que burlar o erário público é que está na moda. Falemos desses pais que vêem os seus filhos organizando orgias e deitando dinheiro em bares luxuosos e aplaudem. Falemos desses pais, filhos, genros e noras que são uma autêntica quadrilha para delinquir o Estado. Falemos desses meninos de sucesso que nunca viram o seu próprio suor. Falemos desses empresários sem empresas. Falemos desses filhos que aprenderam dos pais a drenagem dinheiro do povo para ganhos privados. Não podemos ter medo de falar disso. O tempo nos ajudou e agora tudo está aí a descoberto.
Não é esse filho de Ossufo que me preocupa. Esse se não trabalhar, vai cair juntamente com o próprio Vahanle que o nomeou. Eles têm consciência disso. Macuas não brincam. Ele sabe que está ali para trabalhar. E está de parabéns o Ossufo Momade que ensinou o filho a trabalhar.
Quem, de facto, me preocupa são miúdos como esse que está na "djeil-house" a falar de sobremesas com nomes da tabela periódica. Esses miúdos é que são o cancro e a vergonha deste país.
- Co'licença!
Sabem duma... Já não tenho o mesmo entusiasmo que tinha para essas audições de Manuel Chang. Já não tenho o mesmo "filing" para essas audições. Sei lá!!! De repente fiquei sem aquela excitação de início. Estou farto. "Ai-ami-taiede" desse julgamento. Perdeu o sal.
No dia que for decidido que Chang vai para as Américas, talvez nesse dia comemore com alguma euforia. Mas hoje por hoje só vejo uma espécie de jogo com resultado sem interesse, como aquelas partidas de futebol cujo resultado não muda nada. Provavelmente, este cenário seja até pior que isso. Talvez seja um jogo de futebol que o resultado depende da boa vontade do presidente da FIFA. Você já imaginou assistindo à uma final da "Txampions" baita renhida e, no meio da partida, você ouve que, na verdade, não interessa quem vai ganhar ali... o campeão será anunciado pelo presidente da UEFA na próxima semana? É isso mesmo.
Pois é! Quando ouvi que a decisão da extradição de Chang, se será para os É-U-Â ou se será para Moçambique, é de um ministro, perdi tesão para o assunto. Na verdade, comecei a ver esse vuku-vuku do Kempton Park como uma grande perda de tempo. Estou a achar que aqueles magistrados deviam mandar logo esse Chang para o tal ministro de uma vez. Ou seja, aqueles argumentos todos de malta Elivera, Sagra, Krause, e agora esses novos malta Skate, Du Toit e Willie não vão decidir nada. Quem vai decidir essa porra é um tal de ministro, que está numa wella não-sei-onde, a bater uma boa gandja do gajo, a coçar os tomates (se os tem), enquanto assiste aquilo como uma novela do meio-dia. No fim do dia é esse "quete" que vai decidir para onde vai o Chang, pensando nas boas relações que a pessoa que o nomeou tem com os exaltadores da pátria de cá. Isso me tirou tesão. Tirou a piada da coisa. Toda aquela lábia jurídica não vai servir para nada.
Podem dizer que não é bem assim, mas é assim que se parece. Já não vejo diferença entre aquele "julgamento" e esse dos dezoito-apóstolos da Buchili. É que, no fim de tudo, a decisão que prevalece será política. Até porque, com um pouco de azar, vamos descobrir que o pior teatro é aquele de Chang e não este de pudim fosfórico.
Isso tudo perdeu a graça. Já não fico a roer unhas. Quero, contudo, desde já, e do fundo do meu coração, endereçar os meus parabéns e obrigados à Justiça sul-africana pelo seu empenho e profissionalismo. Se dependesse daqueles profissionais, particularmente da procuradora Elivera Dreyer e da juíza Sagra Subroyen, esse gatuno já estaria em Nova Iorque faz tempo. Tentaram de tudo, mas, infelizmente, extraditar um gatuno daquele quilate nem sempre é fácil. Por isso, para mim, esse julgamento perdeu graça.
- Co'licença!
Não adianta ter o melhor jogador do mundo, se os restantes jogadores só sabem fazer faltas perigosas na sua própria pequena área. Não adianta ter um bom guarda-redes, se os defesas são especialistas em auto-golos. Não adianta ter de volta um Mano Mané, se o resto da equipa nem conhece a cor do seu próprio equipamento. Não adianta ter um novo mister, como o Ossufo, se os jogadores e os adeptos não sabem por que é que estão a jogar e nem sabem em que liga estão a jogar.
Ainda não entendi o assunto do momento da RENAMO na Beira, mas também não quero entender. Aliás, ninguém é capaz de entender ou fazer entender problemas da RENAMO. Normalmente, coisas da RENAMO não se entendem. Contudo, uma coisa é certa, é triste ver uma RENAMO se autoflagelando, se infligindo sofrimento a si mesma. É triste saber que, quando não tem com quem lutar, a RENAMO luta consigo mesma como um cão com raiva.
É um equívoco a RENAMO pensar que pelo simples facto de ela existir como partido político é suficiente para ter voto. É ingénuo pensar que o facto de o povo estar zangado com a FRELIMO, por causa das dívidas ocultas - por exemplo, é motivo para votar nela. É mentira! A simpatia conquista-se... o voto conquista-se. E o primeiro quesito para conquistar a simpatia e o voto é a organização.
É impossível acreditar em pessoas que lutam entre si em plena luz do dia. Até nos piores momentos da FRELIMO, o seu mais directo adversário, a RENAMO consegue ser "mais pior". Quando a FRELIMO entra em crise, a RENAMO inventa a sua própria crise. Quando a FRELIMO recua um degrau, a RENAMO pega no elevador e regressa ao res-do-chão.
Infelizmente, a RENAMO ainda não definiu o seu rumo. A RENAMO só sabe que quer ganhar, mas para quê e como se ganha não sabe. A RENAMO só sabe dizer que quer levar Moçambique a bom porto, mas onde fica e como se chega a esse tal bom porto não sabe. A primeira verdade de um discurso é o orador, dizia um filósofo.
A RENAMO é aquele mesmo navio velho, com novo piloto e sem bússola. A mesma embarcação à deriva que quer chegar à terra firme graças a fé dos seus tripulantes.
- Co'licença!