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quinta-feira, 14 março 2019 07:04

Este país já anda bêbado demais

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É impressão minha ou é mesmo difícil convencer um investidor da área de processamento de frutas, por exemplo, a se instalar em Moçambique? Será que não existem indústrias de produção de sumos e polpas de frutas por aí interessadas em fazer negócio neste vasto e rico território? Não existem ou não há vontade política de apadrinhar esses investidores? Não dão boas comissões? (já que tudo funciona com comissões por aqui).



Em Dezembro, ananás apodreceu em Nicoadala. Há bem pouco tempo, em todo o país mangas apodreceram e agora já nem parece que já houve mangas aqui. Neste momento, abacate está a apodrecer em Mugulama, no Ile. Daqui a nada a vila da Maganja da Costa estará a cheirar à laranja podre. Quando você encontra, em Nacata, Malema, tomate sem compradores sendo levado para o lixo, é de partir o coração. Será que não é possível encontrar quem queira processar e conservar estas coisas? 



Provavelmente eu sou das raríssimas pessoas que não está muito empolgada com a nova fábrica de cerveja construída em Marracuene. Não rendi nem um bocadinho. Nada contra!



Vão dizer que é bom porque dá emprego e paga impostos. Vão dizer que na Holanda, na Alemanha, na Rússia, etecetera, esse tipo de indústrias é assado ou frito e contribui com isto ou aquilo aos cofres do Estado. Mas eu não sei se isso vale a pena. É que eu acho que já andamos "piffs" o suficiente para estarmos a celebrar efusivamente a inauguração de mais uma indústria de álcool. Mas também porque acho que existem outras áreas importantes por investir que podem dar-nos empregos e contribuírem com impostos da mesma maneira. 



Nada contra os que bebem. Até porque eu também bebo. Mas não sei se vale a pena a ideia de nos anestesiarmos ainda mais. Parece que, para uma sociedade normal e do bem, a demanda já supera de longe a procura. Ou seja, o que se oferece já é mais do que suficiente. É que fora essas indústrias inauguradas com pompa e circunstância também existem aquelas de bebidas-secas de alto teor alcoólico que funcionam sem nenhuma fiscalização do Estado e da sociedade. 



Longe de mim querer me fazer passar por sentimentalista ou moralista de ocasião. Como disse, nada contra. Não quero misturar nada com nada, nem quero ser escolástico. Só acho que somos uma sociedade inerte. Uma sociedade de descaso com o bem colectivo. Não pode haver "unidade nacional" sem lucidez. Se estivéssemos no tempo colonial, não haveria a ideia de união e luta pela independência. Não há sobriedade para isso. Até parece que há quem tem medo que a nossa babalaza acabe. Parece que há quem nos quer assim. Parece que estamos a fazer agenda de alguém. Esta cena de um ministro confundir 14 com 400 é reflexo de um desequilíbrio colectivo voluntário do topo à base. Até o governo anda "djez".



Por fim, gostaria de lembrar que as zonas centro e norte estão a ser afectadas pela Lagarta do Funil do Milho (spodoptera frugiperda), uma praga que está a devastar culturas, principalmente milho, arroz e mapira. Camponeses estão a perder as suas machambas e vão perder ainda mais porque a broca ataca a planta em qualquer idade. É uma praga que vai levar algum tempo para erradicar. Precisamos de incrementar a assistência medicamentosa e técnica aos camponeses. 



Dizem que a nova fábrica vai produzir cerveja também à base de milho de mais de mil agricultores de Catandica, distrito de Barué, em Manica. Em Nampula tem a Impala que também compra dos camponeses. Isso é muito bom (juro!). Mas temos para comer? 



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