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Sociedade

O Presidente da República, Filipe Nyusi, inaugurou esta quinta-feira (28), no Hospital Central de Maputo, o primeiro serviço de radioterapia do país. A construção e apetrechamento da nova infra-estrutura custou 17 Milhões de USD, parte dos quais financiados pelo Orçamento do Estado. Numa primeira fase, serão alocados ao serviço 19 médicos moçambicanos, que beneficiarão de um treinamento ministrado por uma equipa portuguesa durante um período de dois anos, como forma de garantir uma prestação de serviços de qualidade.

 

De acordo com Ridwan Esmail, Chefe do Departamento de Radioterapia no HCM, o serviço hoje inaugurado “vem complementar o que faltava em termos de quimioterapia”. O tratamento por radioterapia será usado apenas em casos de doenças oncológicas. A Organização Mundial da Saúde estima em 70 a percentagem de doentes oncológicos em Moçambique que precisam de tratamento por radioterapia. O acesso a estes serviços será feito de forma gratuita. Prevê-se que serão poupados cerca de 6 Milhões de USD, com o tratamento anual de 300 pacientes dentro do país.

 

De 2016 a 2018, Moçambique gastou 4.870.149,25 USD no tratamento de 251. Geralmente, os pacientes que eram forçados a deslocar-se ao estrangeiro, usando as facilidades da Junta Médica. Nessas circunstâncias, o dinheiro gasto no tratamento de cada doente era equivalente a 19.402,29 USD por ano.

 

Filipe Nyusi desafiou os médicos afectos ao departamento de radioterapia a atenderem mais de 500 doentes por ano, contra os 300 propostos, como forma de garantir uma certa celeridade no combate ao cancro, que é a segunda causa de morte no país. Por sua vez, Ridwan Esmail garantiu que, nos primeiros dois anos, a manutenção do equipamento de radioterapia, assim como o treinamento da equipa do HCM, será da responsabilidade dos parceiros. (Marta Afonso)

quinta-feira, 28 março 2019 09:52

Buzi volta a ter água potável

Já tem água no Buzi. Sim, água potável. Os especialistas em materiais perigosos da portuguesa GNR (Guarda Nacional Republicana) foram exímios no trabalho. Na terça-feira esbarravam com uma torrente de dificuldades para voltar a fazer funcionar a estação local de tratamento de água. Ontem, finalmente conseguiram e aqui está a prova. Água potável é um meio caminho andado contra as doenças que andam à espreita. O pessoal médico agradece. As crianças exultam. A senhoras celebram. Buzi está recuperando sua vida, sua narrativa onde a água das cheias, que parece trágica, é marca antropológica do quotidiano.(Carta)

Reagindo ao veredito do Tribunal Judicial de Pemba, que condenou dois dos três agentes da Polícia acusados de terem impedido o exercício da liberdade de imprensa, pelo jornalista Estácio Valoi, os profissionais da comunicação social, em Cabo Delgado, defendem que a pena, de cinco meses de prisão "suspensa", foi “muito suave”, sobretudo, por tratar-se de uma província onde exercer este direito constitucional não tem sido fácil, nos últimos tempos, devido à repressão exercida pelos militares, visando todos os suspeitos de “instigar” a insurgência, com os jornalistas a serem os principais alvos.

O Presidente da República, Filpe Nyusi, nomeou esta terça-feira (26) os reitores das Universidades públicas criadas recentemente na sequência da extinção da UP (Universidade Pedagógica).

 

Assim, Luís Jorge Manuel António Ferrão, antes reitor da ex-UP, vai agora desempenhar as mesmas funções na Universidade Pedagógica de Maputo. Boaventura José Aleixo é o reitor da Universidade de Licungo. Para reitor da Universidade Joaquim Chissano o PR nomeou José Mário Joaquim Magode, e Lukas Dominikus Mkuti será vice-reitor naquela mesma instituição pública do ensino superior. Manuel José de Morais é o reitor da Universidade do Save, enquanto Mário Jorge Caetano Brito dos Santos irá ocupar idêntico cargo na Universidade de Rovuma.

 

A UP foi extinta em Janeiro deste ano, dando lugar à criação de cinco novas Universidades. Na mesma altura foi alterada a designação Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), passando a ser Universidade Joaquim Alberto Chissano.

 

Do grupo das Universidades recentemente criadas falta nomear o Reitor da Uni-Púnguè, assim como os vice-reitores das outras quatro Universidades.(Carta)

O Juiz Eusébio Lucas impediu, na semana passada, uma equipa de reportagem da “Carta” de fazer a cobertura de uma audição relacionada com um rombo financeiro no Cedsif. Lucas nem sequer deixou os repórteres permanecerem na sala como meros assistentes. Trata-se de um caso reportado em Dezembro na “Carta”, onde denunciáramos uma tendência do juiz em protelar algumas diligências essenciais para a formação de prova indiciária contra alguns arguidos.

 

Na quinta-feira da semana finda (21), realizou-se mais uma audição do referido caso na 4ª secção do Tribunal Distrital de Ka Lhamankulo, agora a funcionar no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM). Nossa equipa de reportagem apresentou-se na secretaria do Tribunal e recebeu ordens para aguardar. Volvidas cerca de três horas, quando a audição estava na iminência de começar, alguém mandou-nos ir ter com o escrivão.

 

Ele sugeriu que devíamos ter requerido com antecedência, mas permitiu que entrássemos na sala. Mas fomos imediatamente escorraçados alegadamente a mando do Juiz Eusébio Lucas, que também argumentou não ter sido informado com antecedência sobre a nossa presença. Tentámos convencer Eusébio Lucas a deixar-nos permanecer como meros assistentes, mas o juiz e a procuradora do processo foram unânimes em afirmar que não queriam a “Carta” na sala da audição. (Carta)

A passagem do Idai deixou um rastilho de diarreias e malária na Beira, e a probabilidade de ocorrência da cólera é enorme. Um surto de doenças que as autoridades, na manhã de domingo, apontavam como “inevitável”e que já contava com 68186 vítimas e pouco mais de 100 óbitos.

 

Os números são do Hospital Central da Beira (HCB), do Centro de Saúde da Munhava, Ponta Gêa, Inhamizua e Cerâmica. Só o HCB registou, após a tragédia, 2558 crianças com menos de cinco anos com casos de malária, 1798 com diarreias. O Centro de Saúde da Ponta Gêa, por exemplo, atendeu 771 crianças da mesma idade com malária e 1355 com diarreias.

 

Moçambique é o país com a terceira maior percentagem (5%) de casos de malária no mundo e o oitavo onde a doença mais mata (3% do total de vítimas), segundo um relatório anual divulgado pela OMS. Funcionários da Saúde apenas dizem que “há muitas mortes e inúmeros casos de cólera”.  Mas um especialista em epidemiologia garantia ontem que ainda não havia evidências de cólera, que testes estavam a ser feitos mas que as condições de sanitárias eram altamente precárias e que a eclosão da doença era tida como inevitável.

 

O destino dos Celsos...

 

Enquanto Celso Correia afirmava, no Aeroporto da Beira, rodeado de jornalistas, que era “inevitável” que surgissem “casos de cólera e malária”, outro Celso, noutra ponta da cidade, recorria à sobras de estacas, madeiras e pregos desprendidos das casas de construção precária, pela fúria do Idai, para construir um caixão para a filha menor, “vítima de cólera”. “O pior que pode acontecer a um homem é enterrar uma filha deste jeito”, refere. Não sobrando espaço para a dor, “é preciso continuar a viver…tenho uma casa por reconstruir”, diz.

 

Celso não é o único cidadão nessa situação, na linha divisória entre a cidade de cimento e a Praia Nova, um dos bairros mais afectados pelo Idai. Um grupo de jovens também constrói um caixão nos mesmo moldes. É para uma mulher adulta, mas não deve ter mais do que um metro e meio, é estreito e com pequenas aberturas na base. É o caixão possível.

 

No interior do bairro, deitado num catre, Paulo vira-se e revira-se para encontrar uma posição menos sofrível, um exercício inútil naquele cenário dantesco. As febres altas e os vómitos, com semanas de duração, já anunciavam coisa pior. A sua casa continua intacta, como se o ciclone, ciente do seu drama, tivesse sido assomado por uma crise de compaixão.

 

Jaime, por sua vez, tenta concertar uma chapa retorcida pela força do Idai enquanto, do outro lado, a maré caminha triunfante pela terra adentro, anunciado uma desgraça futura. As quatros estacas onde vai colocando as chapas para desempenharem o papel de paredes foram aproveitadas do que sobrou dos escombros. A casa, essa, não passa de um exercício de fé e a maré cedo ou tarde vai acabar por mostrar-lhe que ali já não é lugar para viver.

 

Celso, Paulo e Jaime compõe uma parte ínfima dos rostos da tragédia na Beira. Antes do Idai, a percepção entre as autoridades da Saúde, era a de que manter distante o rasto da cólera já não era uma prioridade. “Quiçá não se recordam do que seja cólera. Um só caso tem um grande potencial epidémico”, ressalta um responsável dum centro de acolhimento que nos lembra que não há autorização para falar.

 

“Especialmente com as condições sanitárias que temos aqui, não temos escolha para não combater a cólera e outras doenças imediatamente”, refere um membro da Associação Moçambicana de Enfermeiros. “O que fazemos agora é o mínimo que se pode fazer. Mas cada vez que chove, a cólera renasce”, lembra.

 

O caso da cólera, no qual as inundações após a passagem do Idai afogaram os avanços da Saúde ao largo de seis anos, ilustra bem porquê os agentes da Saúde e as ONG sentem-se como o mitológico Sísifo, arrastando esforçadamente a pedra montanha acima, somente para ver como volta a rodar rumo ao chão. Há cólera e mortes na Beira, mas os dados das autoridades de Saúde, como ilustram as imagens, mostra que tudo é registado como diarreias e malária. (Rui Lamarques)