A vida está difícil na Pérola do Índico. Tudo está caro. Os bolsos do pacato cidadão estão cada dia mais vazios. O poder de compra das famílias perdeu-se, porque tudo subiu, até a agulha. Agora, sabem porque as pessoas que determinam o rumo das nossas vidas não são abrangidas e nem sentem estas situações lastimáveis? É porque os políticos neste país não pagam nada. Não gastam nenhum suor, nem a caixola para pensar. O que sabem é ler discursos e assinar documentos, alguns dos quais nem chegam a ler.
Alguns chegam a ter mais de sete empregos e fontes de renda, de tal sorte que nenhuma subida influencia na sua vida. Imagine um determinado dirigente ou assessor de um governante que é:
-Deputado;
-Professor Universitário;
- Gerente de uma empresa;
- Assessor jurídico de três ou quatro empresas, entre algumas multinacionais;
- Sócio de três a quatro empresas;
- Assessor do Ministro X ou Z;
- Proprietário de três condomínios;
- Secretário de A ou B do Partido Frelimo;
- Membro do Conselho de Administração não executivo, entre outras coisas – este pode sentir que a vida está cara?
- Obviamente que não, porque, além disso, tem combustível grátis, não paga nas portagens, tem empregados até para lhe entregarem escova na casa de banho, não paga renda de casa, não gasta nenhum tostão para comprar comida, faz business de isenções fiscais, pagam-lhe subornos para facilitar esquemas, está sempre no AC e sendo conduzido para tudo que é canto, tem ADC que pega o guarda-chuva no sol e na chuva, entre outras!
E para apimentar mais, em todos os locais, o Beltrano recebe. E acredite, não recebe abaixo de 100 mil Meticais. Lembram-se da guerra dos salários em dólar, na Electricidade de Moçambique (EDM)? Quando burocráticas da instituição decidiram que queriam receber na moeda da terra do Tio Sam. Se o documento não vazasse e os outros dolarcratas ordenassem que não se procedesse dessa maneira, os homens já estavam habituados a trabalhar em Moçambique e dormir em Sandton, na África do Sul.
Aqui eles vão subir tudo que lhes der na gana e depois afirmarem na nossa cara que este produto, a nível da região, em Moçambique é que está mais barato – o que na verdade é tudo falacioso. Porque um trabalhador como da Tongaat que em Moçambique trabalha mais que o trabalhador da mesma empresa na África do Sul, recebe quatro vezes menos que o da terra do Rand. O nosso salário mínimo aqui acaba antes de sair da folha do salário.
A culpa disso tudo vai ser do Idai, Kenneth, Covid-19 e agora a mãe de todas as nossas desgraças: a guerra entre Rússia e Ucrânia. Como se questiona, se a culpa é sempre dos outros ou das calamidades. O que os nossos governantes fazem (para além de produzir pobres) para que situações de género não sejam regulares? Quando passaram a fazer mais e melhor para que não se procure sempre uma fuga para frente e o problema morrer sem culpado?
O engraçado é que mesmo quando não havia conflito entre os ex-irmãos soviéticos – aqui o demónio já ministrava missas. A fome já governava vidas. Então, porque tantas justificações para subir ou inflacionar produtos que durante anos enganaram-nos que produzíamos, quando, na verdade, apenas embalamos e colocamos o rótulo de fabricado na Matola – tanta máfia num só país. Aqui Escobar virava aluno com menos aproveitamento!
Hoje o óleo de cozinha de 5 litros que rondava os 380 MZN subiu para 800 e de lá para 1050 MZN. Arroz - 25Kg que nas missivas ministeriais se dizia até há pouco tempo que seríamos autossuficientes de repente subiu dos 1250 MZN para 2200 MZN. A farinha de milho, o trigo, carapau, açúcar, água mineral, vinagre e até a magumba da Costa do Sol ou Zalala deixou de custar cinco vinte Meticais para 50 MZN. A culpa é da guerra Rússia - Ucrânia, enche a boca o político-governante e diz sem pestanejar e, no final de tudo, ele tem todos estes produtos sem gastar nenhum tostão do seu salário e subsídios infindáveis!
A verdade é aquela dita por Pio Augusto Matos, Governador da Zambézia, que disse de viva voz que eles, membros da Frelimo, Partido governamental desde 1975 e em exercício actualmente em Moçambique, eram os actuais colonos, exploravam os outros, faziam sofrer o povo, que dizem estar a governar!
Ouvindo e vendo isso, obviamente fica claro que ninguém está interessado em melhorar a vida do povo moçambicano. A culpa será das cheias, ventos, das guerras que nunca acabam e não da mão leve do governante que foi pegar na mola do “gringo” e não fez o melhor para o povo, mas gastou sem piedade chupando as tetas de uma samambaia da terra de Mácron. Das nossas opções erradas e alteradas porque confiamos alguém com batinas e um amuleto religioso na mão para garantir a verdade na leitura dos resultados das nossas induzidas ou forçadas escolhas!
“Sinto-me orgulhoso, de ser Moçambicano, mesmo em um contexto de muitas dificuldades, quer de natureza económica, quer de natureza social, se um Pais como a Rússia, gigante económico e militar nos procura, é porque temos valores a defender, se um Pais como a Ucrânia nos procura e quer nosso apoio é porque somos relevantes no contexto das Nações, pena que, a nossa oposição Parlamentar viva do passado, muita pena mesmo! O Embaixador Pedro Comissario, nas Nações Unidas, está a fazer a parte que lhe cabe, Moçambique chega la.”
AB
Moçambique, um País da região Austral de Africa, ladeado, nas suas fronteiras, por Países falantes do Inglês, o que, em outras palavras, Países que estiveram sob dominação Inglesa, enquanto Moçambique esteve sob dominação Portuguesa, isto é importante realçar porque, se formos a fazer a análise, é o Pais que, teve de se armar para lutar contra o seu colonizador, enquanto os restantes tiveram as suas independências em outros contextos.
Por exemplo, o Zimbabwe, lutou contra o Ian Smith, que dominava através de minoria racial, a Africa do Sul também, no entanto, estes Países estiveram sob dominação Inglesa, os opressores, com que o ANC e a ZANU tiveram de lutar, eram, igualmente, filhos da Africa do Sul e do Zimbabwe! Ou seja, outros interesses internos falaram mais alto porque, da Inglaterra estiveram todos livres e mantinham relações de cooperação com a antiga colonia.
Moçambique, que esteve sob dominação Portuguesa, no que se refere ao desenvolvimento, é o País mais pobre da região, apesar da sua dimensão territorial e as riquezas nela emprenhadas, quer no solo e no subsolo, isto porque, o colonizador, era ou é se quisermos, o pobre da Europa, parte do território Moçambicano foi usado a troca de favores pelos Ingleses, incluindo o cunho da moeda, ou seja, nesses locais de Moçambique, não era Moçambique porque hasteavam bandeira e moeda diferente da de Portugal.
Esta pobreza de Portugal, foi nos repassada e, Moçambique, depois da Independência, tornou-se dependente em vários domínios, talvez aqui reconhecer que, em muitas coisas também regredimos na pós-independência, não é fácil reconhecer mas é verdade isto, a nossa opção ideológica, não tínhamos outra opção, a nossa opção sobre o centralismo económico seguido do liberalismo, destruiu, parcialmente, os ganhos coloniais e os ganhos da revolução e, estamos numa espécie de um País a renascer, com todos os problemas que isso acarreta!
Moçambique, hoje, é um Pais com que se Dialoga.
Noto, hoje, com alguma satisfação, fruto do posicionamento estratégico de Moçambique, que muitos Países procuram-nos para dialogar, nos últimos dias, vimos emissários da Ucrânia e da Rússia a deslocarem-se a Maputo para influenciar a posição de Moçambique em relação a Guerra entre Rússia e a Ucrânia, isto, fruto da neutralidade de Moçambique em relação a esta Guerra. Engana-se quem pensa que esta procura de Moçambique para o diálogo é fruto do acaso, não senhor!
A procura de Moçambique para o diálogo é fruto de muita coisa que está acontecendo no nosso território nacional, é fruto da movimentação Diplomática de Moçambique no contexto das Nações, é fruto de exploração dos nossos recursos naturais e, poderia enumerar aqui uma serie de coisas que influenciam, o importante mesmo, é notar que, gigantes do mundo económico nos procuram e nos pedem audiência, isso é importante, na minha opinião.
Hoje falamos da carestia da vida em consequência da Guerra entre a Rússia e a Ucrânia, curiosamente, são estes dois Países que nos procuram para dialogar, nos procuram para saber se podem contar connosco, não é Moçambique que vai de joelhos pedir ajuda porque estamos com fome e a beira de uma catástrofe humanitário, notar que, a Guerra entre a Rússia e a Ucrânia levantou o velho problema das dependências Europeias, o Gás, os Cereais, tanto para os Europeus quanto para o resto do mundo e, sobretudo para a Africa.
Aqui, os nossos dirigentes, devem saber capitalizar isto, não e todos os dias que Países com a dimensão da Rússia nos procuram para dialogar e, aqui, abro um parenteses para dizer que, a nossa oposição Parlamentar não soube capitalizar a presença da delegação Russa na Assembleia da Republica, independentemente do passado, sabemos que a Rússia esteve sempre a favor do nosso Governo e a Renamo, na sua qualidade de Guerrilha, tinha apoio do outro lado mas, hoje, a Renamo é uma força politica de relevo na vida de Moçambique, na se deve perder pelo passado atualize a sua politica externa, bom, não é sobre a Renamo que faço esta reflexão.
Sinto-me orgulhoso de ser Moçambicano nesta fase da vida, sinto-me orgulhoso porque, caso a nossa Diplomacia saiba seguir as tendências, Moçambique poderá demarcar-se e se tornar em um País definitivamente com quem se dialoga e não continuar como um simples recetor das decisões de outras nações do mundo, neste contexto, faço votos que seja eleito membro não permanente da Nações Unidas e para isso o nosso Diplomata Residente, Pedro Comissario, muito tem feito, obrigado Moçambique “quem te conhece não te esquece jamais”.
Adelino Buque
Nasci e cresci num ambiente em que os livros jornais e revistas eram parte integrante da nossa vida. Pouco percebia do real significado que aqueles amontoados de papel tinham, tampouco da riqueza que escondiam. A medida em que as letras começaram a fazer sentido, as palavras ganharam melhor significado e a curiosidade despontou. Por conseguinte, muito cedo me permiti folhear alguns livros que tinha em casa. Ganhei gosto, aprendi a conversar e a entender o poder que o livro tem.
O livro é fonte do saber, de informação, de cultivo de homens doutos e cultos; são uma riqueza única e de valor inestimável para a sociedade. Para países em vias de desenvolvimento, como o caso de Moçambique, com altas taxas de iliteracia, o livro é uma arma fundamental no processo de educação e emancipação, ocupando sólida relevância.
O contexto evolutivo do registo- de informação desde as sociedades antigas aos nossos dias, mostra que, quando a humanidade fez a transição das fontes orais para as fontes escritas, assistiu-se a um salto qualitativo no processo de armazenamento e um maior acesso as fontes do conhecimento. O saber passou a ser não apenas mais acessível, mas também venceu a barreira geográfica e temporal - podia passar de geração em geração de forma fiel e fidedigna.
A conservação e armazenamento do conhecimento adquirido ao longo do tempo, evoluiu a pari passu a medida que as sociedades foram se desenvolvendo. Das gravuras, passando pelas pinturas rupestres, murais em pedra, em artefactos, e mais tarde em papiro com o uso dos hieróglifos, a humanidade foi se construindo rumo a um mais abrangente acesso a o conhecimento registado. O surgimento da imprensa escrita foi um marco fenomenal pois permitiu que a geografia e historia dos quatro cantos do mundo se cruzassem de forma eficaz e rápida.
Hoje, graças a esses registos, é possível visitar os escritos mais antigos, os clássicos nas suas mais diversas formas (desde o grego, latim, hebraico, aramaico à outras línguas civilizacionais). O livro permite a aprendizagem, a reflexão, a critica e o diálogo entre gerações.
Entre a construção e a (des) construção
O drama do africano durante séculos tem sido associado ao acesso a educação de qualidade que se julga, ser o caminho para a emancipação mental, cultural e de (re) construção da sua identidade. – Num mundo em que o conhecimento significa poder, quem não o tem, vive um drama humano existencial.
Nesta analogia, pouco interessa se o conhecimento que temos nos é identitário, se espelha a nossa cultura, a nossa tradição, a nossa história e as nossas vivencias enquanto africanos e donos de uma ontologia própria. A luta do africano tem sido a conquista pelo reconhecimento da sua racionalidade e de uma incessante afirmação da sua humanidade – ainda que este reconhecimento custe mais a sua alienação. A pouco e pouco vamos enterrando a nossa axiologia, os nossos usos e costumes, as nossas línguas, tradições, religiões e com isto vamos enterrando a nós mesmos, o nosso SER.
A educação que se pretendia libertadora e emancipadora, virou uma educação alienadora e usurpadora. Sim, usurpadora porque permitimos deixar para trás o que é realmente nosso e adoptados com muito orgulho o que não é e nunca foi nosso. E este processo desenrolou-se numa lenta e progressiva narrativa teórica e prática de inferiorização e de negação do ser do africano.
Contemporaneamente um dilema emerge na indagação do nosso lugar no mundo – o dilema identitário que tem muitas semelhanças com a disjuntiva periférica: ser como os do centro ou ser como nós mesmos? – Numa clara alusão a dúvida que se instalou em cada um de nós ditos civilizados.
Aqueles a que chamamos atrasados, ainda conseguem ser mais evoluídos e ilustrados que nós, ditos civilizados e herdeiros da ciência, dos novos ideais que nos foram impostas.
A arma usada para que tudo se efectivasse da forma mais natural foi o livro na sua capa educacional e evangelizadora. Não que ela (a educação) tenha sido má; muito pelo contrário, ela foi e é boa e necessária para edificarmos uma sociedade progressista e alicerçada nos valores da ciência, do desenvolvimento e da evolução da espécie humana. Os modelos educacionais e os currículos adoptados por muitos países independentes como é o caso de Moçambique, foram e são em algum momento modelos que gradualmente preconizaram a negação do nosso ser e inculcaram aceitação do ser do outro, modelos que nos distanciaram da nossa realidade.
Quando o livro que serve para formar milhões de crianças, adolescentes e jovens do Rovuma ao Maputo, e do Zumbo ao Índico, contém erros grotescos, desinformação e atropelos graves a ciência, e tais livros tenham passado pelo crivo da instituição de tutela, então o livro que tanto apregoamos é uma arma altamente destrutiva. Destrutiva porque há anos que vimos escangalhando o ensino público e tornando-o uma autêntica chacota - fazendo mais do mesmo na multiplicação de conteúdos não profícuos; há anos que transferimos a mediocridade e incompetência institucional para as nossas crianças e, há anos que reproduzimos um discurso vazio e inócuo em torno da educação.
Mas, mais do que erros, e incongruências, os nossos currículos estão em parte desfasados da realidade e, não espelham o país que queremos ser nas próximas décadas. Na reflexão em torno do poder do livro (livro não como objecto isolado, mas como base de formação), quero destacar três dimensões julgo fundamentais para a construção de um país genuinamente orgulhoso do seu passado, do seu presente e certo de que o futuro será risonho:
Não se pode normalizar gralhas nem produzir erratas para a nossa quase que penosa e decadente situação, aceitando que no futuro possamos ler e acreditar que a colonização foi um processo pacífico e não conflituoso, e de laços de fraternidade entre o colonizador e o colonizado; que os mais de 500 anos de presença colonial em África, Asia e América Latina foram, juntamente com a desumana escravatura, um momento de intercambio turístico, religioso e de descobrimento mutuo.
Não se pode, nem se deve permitir que o plano de desestruturação e de promoção de uma alfabetização medíocre seja uma bandeira de desumanização do negro e a negação da sua racionalidade, historicidade e eticidade. Um povo sem história é um povo sem rumo e um povo sem conhecimento da sua cultura não tem futuro algum; e o caracter malévolo dos manuais e livros produzidos reside neste aspecto – a marginalização, banalização e vulgarização do processo educativo.
O livro tem o papel idêntico ao da enxada sobre a terra – tornar possível um processo de produção de algo novo, abrir os solos e produzir – subentendendo-se que as mentes dos alunos são solos férteis e que merecem produção de qualidade. O livro deve abrir mentes e ajudar a reflectir um mundo e um país diferente e cada vez mais inclusivo.
Por: Hélio Guiliche (Filósofo)
A luz com que vês os outros é a luz com que os outros te vêem a ti. Provérbio africano
Este primeiro de Junho tem de ir além das comemorações, para ser, igualmente, um momento de reflexão sobre o quanto crianças com deficiências precisam ser olhadas, respeitadas e incluídas em todos os espaços da nossa sociedade. Na realidade, independente do que julgamos ser, saber e possuir, temos todos, grosso modo, uma deficiência temporária ou permanente. Esta deficiência se revelará em algum momento das nossa vidas. Quando isso suceder, as experiências podem ser mais ou menos marcantes, mas não deixarão de ser histórias de vida, de amor e de compaixão.
O leitor tem, em suas mãos, a primeira experiência literária de uma jovem mãe, guerreira, destemida, obstinada e que não se conforma com fatalismos e desigualdades. Uma mulher que conquista nossos corações e ganha estatuto de mulher solidária. Percorrendo estas páginas, reencontramos alguém que se predispõem a partilhar suas privacidades, contrapondo com o ostracismo e silêncios. Um exercício de reconstituição de memórias e convulsão de sentimentos. Benilde Mourana encontrou na deficiência todas as razões para interagir com o grande público leitor.
As facetas mais fascinantes da vida são, quiçá, as mais simples de serem descritas. As outras, mais complexas, obedecem e sugerem roteiros distintos. Temos de conformar a dor e o sofrimento, para reencontrar o caminho do alívio e da tranquilidade. Porém, a vida, este dom divino que desfrutamos na plenitude ou em partes, nos ensina fundamentos e lições diversas. Revelar estas facetas pode ser uma experiência fenomenal ou traumática. Mas, ignorar as diferentes dimensões da vida parece ser inconsequente. Então, reencontre nesta narrativa a revelação da inquietude e do amor, do sofrimento e da paz, a retoma pelos modelos de superação, reinvenção das memórias e a alucinante vontade de estabelecer uma comunicação horizontal.
A autora deste livro, nesta primeiríssima viagem descritiva, não cuida apenas de uma filha com problemas, trata de várias dezenas de crianças e jovens. Ao assim proceder, ela não só repõe a esperança aos familiares, mas, também, devolve um sorriso às crianças, jovens e até adultos com deficiência. Nesta relação, fica escancarada a certeza de que o amanhã se escreve com as cores do arco-íris de hoje. A autora converte-se numa espécie de Madre Teresa de Calcutá, que vence as emoções e empenha-se no essencial. Uma mulher de causas, recriando ou ressignificando os caminhos da indiferença e da negação da felicidade e do futuro.
As famílias moçambicanas mais carentes enfrentam, em diferentes em períodos históricos, a questão moral e ética de como lidar, incluir e apoiar, com mais perspicácia, com ou sem recursos, as pessoas com deficiência. Essa tarefa torna-se, cada vez, mais premente com o avançar da idade destas crianças e adolescentes. Em causa esta a tipologia e a demografia deste grupo populacional. A situação está longe de fácil, compreensível e aceitável. Em jogo estão cuidados primários, alimentares, apoio psicológico e moral. Em causa está a vida e a qualidade de vida que tem de ser providenciada. Enfim, a vivência nos limites da capacidade emotiva, física e emocional. Porém, estas famílias não vergam e nem viram, nunca, a cara a luta. Cada dia tem sido um dia, e em cada sorriso infantil rebuscam das cores invisíveis dos raios solares, a energia e foco para levarem a bom porto a sua missão.
Ao longo da obra, entendemos o sentido primário e ético de vocação; o sentido superior de missão; a face da virtude. Pela história de Luana, essa jovem menina que agora beijou os seus dez aninhos de vida, reencontram-se estes conceitos associados a crença e a fé. Este escrito, ainda que force a leitura com os olhos embaciados, leva-nos de volta ao sentido de chamamento. Benilde e seu grupo de colegas e profissionais, aqui superiormente narrados, repõe uma espécie de despertar, refazendo o convite para ampliar o valor intrínseco de sua vida, abandonando a inércia ou a zona de conforto, abraçando, deste modo, essa causa que faz dela e delas, verdadeiramente, pessoas especiais. Ao cuidar de crianças e jovens com deficiência, elas próprias se transformam em pessoas especiais, perseguindo novos sonhos, objectivos e, na maior parte dos casos, transformando-os em realidade.
A deficiência perpassa a estabilidade familiar e emocional, colocando-se num plano da inserção dos portadores de deficiência, ao nível societário na estabilidade e no próprio desenvolvimento de Moçambique. Existem evidências de que pessoas com deficiência experimentam os piores resultados socioeconómicos e pobreza, se comparadas com as pessoas não deficientes e mais independentes. Todavia, apesar da magnitude desta situação, carecemos tanto de consciência, como de informação científica das reais causas ou consequências da deficiência. Não existem consensos sobre definições, nem credíveis informações, que permitam comparar, com exactidão, a incidência, distribuição e tendências da deficiência. São escassos os documentos com análises comprovadas, sobre como lidar com a deficiência e, sobretudo, sobre as respostas para abordar as necessidades das pessoas com deficiência.
Historicamente, as pessoas com deficiência têm, em sua maioria, sido atendidas através de soluções segregacionistas, tais como instituições de abrigo e escolas especiais. As pessoas com deficiência apresentam piores perspectivas de saúde, níveis mais baixos de escolaridade, participação económica menor e taxas de pobreza mais elevadas em comparação as pessoas sem deficiência. Naturalmente, isto acontece pelo facto de as pessoas com deficiência enfrentarem barreiras no acesso a serviços que muitos de nós consideram garantidos, como saúde, educação, emprego, transporte e informação. Tais dificuldades são exacerbadas nas comunidades mais pobres.
O relatório Mundial sobre a deficiência múltipla, de 2012, dava conta de que mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo convivia com alguma forma de deficiência, dentre os quais cerca de 200 milhões experimentam dificuldades funcionais consideráveis. A previsão era de que, nos próximos anos, a deficiência seria uma preocupação ainda maior, porque a sua incidência tem aumentado exponencialmente. Este aumento tem a ver com o aumento global de pessoas expostas ao risco de deficiência crónica, tal como as diabetes, doenças cardiovasculares, canceres e distúrbios mentais. A saúde humana também tem sido afectada por factores ambientais, tais como água potável e saneamento do meio, nutrição, pobreza, condições de trabalho, clima, ou até acesso a atendimento de saúde. Mas, a desigualdade tem sido das principais causas dos problemas de saúde e, por conseguinte, da deficiência.
Em Moçambique, estas razões encaixam na sua plenitude. Porém, existem, ainda, as causas sobrenaturais ou espirituais. Não admira que um país que continua tendo mais de metade da sua população recorrendo a tratamento fora de unidades hospitalares, socorra-se a espiritualidade para explicar o fenómeno da deficiência. Assim, a explicação mais lógica tem sido o fenómeno da reencarnação dos espíritos. Os defuntos das famílias nem sempre são tratados com a devida dignidade e, assim, eles regressam à terra para se instalarem em determinadas pessoas. Esta crença explica uma relação difícil e complexa entre as famílias e seus filhos com deficiência.
Existem casos de filhos com deficiência que são retirados da família para serem enviados para o campo ou para as periferias, longe do núcleo central da família. Famílias que exerçam lideranças tradicionais convivem mal com o fenómeno deficiência e imputam as culpas às suas esposas por estas ocorrências. A autora foi acusada de ter cometido adultério. Esta é uma explicação comum e despropositada, não tem nenhuma prova nem racional científico.
Benilde Mourana quis partilhar a narrativa da sua trajectória e desmistifica e desconstrói factos complexos da deficiência, conferindo um carácter de humanismo, simplicidade e uma bênção divina. Deus, como ente superior, determina o caminho de cada ser e sabe qual o papel que cada um de nós precisa de seguir e desempenhar na terra. Com mestria de quem quer transmitir e escrever a meio de tantos outros afazeres, ela sugere que são estas crianças e jovens que fazem e convertem a todos nós como pessoas especiais.
Na sua descrição sobre Luana, sua filha de quem teve uma gravidez normal, e que embora não estivesse disposta a seguir com a gravidez, ela revela que a mesma não aparentava nenhuma complicação até ao nascimento. Seguiu as recomendações médicas e fez as consultas pré-natais com a devida regularidade. Só descobriu e tomou consciência da gravidade do problema da sua Luana, depois de ter visitado diferentes médicos no país e na África do Sul e em Portugal. Portanto, um caso de doenças raras, mas, que mudou de alguma forma a sua rotina e o modo como lida com a situação. Por isso, estas páginas pincelam essa angústia, mas, e sobretudo, a certeza de que o mundo foi feito para todos e, cada um a seu tempo, seguirá trazendo felicidade ou infelicidade para os que acreditam e para os menos crentes.
Esta narrativa nos transporta para outras facetas e para a essência de uma trajectória que faz questão de não esconder ao mundo. Fá-lo com orgulho e com uma capacidade de escrever e expurgar a dor. Exorcizar os fantasmas e colocar a divindade no centro do destino e da criação humana. Porém, tem sido claro que a maioria das pessoas com deficiência no mundo, tem extrema dificuldade até mesmo para sobreviver a cada dia, quanto mais para ter uma vida produtiva e de realização pessoal. Enquanto, algumas poucas pessoas, pelo mundo, tem a sorte de ter apoios e recursos para viver uma vida que vale a pena, a autora não tem perspectiva de que o seu pequeno espaço possa beneficiar de meios eficazes para levar a bom termo o seu trabalho. Mas, ela encontra algo bem mais significativo e importante: a superação, o apoio dos amigos e uma legião de pessoas que abraçam a causa da cidadania.
Embora a autora reconheça que, nas últimas décadas, o movimento das pessoas com deficiência ganhou novos contornos e atenção, a sua obra não tem o efeito de chamada de atenção, mas o de educar e transpor o papel das barreiras físicas e sociais vis-à-vis a deficiência. Para a autora, as pessoas são vistas como deficientes pela sociedade, porém muito para lá destas incapacidades, esta uma vida, um sorriso e o amor incondicional que eles oferecem a todos sem excepção. Portanto ela apela a uma abordagem conceptual mais equilibrada, que deveria dar mais ênfase ao enquadramento social, dos que propriamente ao estado físico.
A autora tem o mérito de explicar, de forma simples, que a deficiência afecta seja a criança recém-nascida com uma condição congénita, tal como paralisia cerebral, como também afectaria vítimas de acidentes, de guerra, pessoas que sofrem de artrite ou alguém que passa por algum infortúnio, que sofra de demência, de entre muitas outras causas. Um enxoval em cadeira de rodas como sugere o título. Quando terminar esta leitura entenderá que os problemas de saúde podem ser visíveis ou invisíveis, temporários ou de longo prazo, estáticos, episódicos ou em degeneração, dolorosos ou inconsequentes. No final estas crianças, como a sua Luana, natalina, e as dezenas de Luanas, que estão sob seus cuidados nem sequer se consideram pessoas com deficiência ou enfermas, são os seres que nos fazem especiais. (X)
Nas últimas duas semanas, este espaço foi dedicado ao sector de transportes no nosso solo pátrio. É que o assunto não é para menos: os transportes são nevrálgicos para o desenvolvimento de qualquer economia, de qualquer nação. A incidência do nosso posicionamento é que o nosso Sector dos Transportes e Comunicação não está à altura dos desafios do país, particularmente o de transportes. Há muitas coisas que não faz e que são de capital importância para o desenvolvimento da nossa querida nação. Não conhecemos, do nosso Sector de Transportes, nenhuma política, nem estratégia do sector. Não lhe conhecemos nenhum documento orientador, com abordagem clara e indicadora do caminho a seguir no desenvolvimento destas infra-estruturas; um plano director para qualquer das áreas (rodoviária, ferroviária e marítima). Nada. Se existe, não é de domínio público!
No entanto, não se abrem novas estradas nem ferrovias. Não se desenvolvem, nem se consolidam as rodovias existentes que precisam de mais trabalho, como as muitíssimas não asfaltadas e nem registadas pelo país adentro. Não se faz manutenção necessária e satisfatória das existentes. Idem para as pontes, muito pouca manutenção! Está num sono muito profundo, sob a alegação de que não há recursos, especialmente financeiros!
Para quem não está bem informado e não tem a possibilidade de viajar pelo interior do país, dá a ideia de que Moçambique não tem vias alternativas à Estrada Nacional no. 1. Para se chegar ao centro e ao norte do país, tem que ser só por intermédio da EN1. Pura falta de informação. Ou, é uma narrativa que se tem estado a encubar por muito tempo; que não está a ser desconstruída até pelas autoridades do Sector, para despertarem os moçambicanos para saberem e entenderem que, afinal, temos alternativas de circulação no nosso Moçambique!
Esta semana, tive a primeira oportunidade de voltar de Inhambane sem usar a EN1, só apanhando esta em Chissano, perto da Macia… Saímos, eu e os meus dois colegas de serviço e de viagem, da Maxixe, picamos para o distrito de Panda, atravessando o distrito de Homoine, província de Inhambane. Estrada muito bem asfaltada de Homoine até Panda, foi inaugurada após reabilitação, em 2020. Daqui onde termina a asfaltagem, nasce uma picada, recta, sempre em frente… até… Mawayela, cerca de 85 quilómetros. Uma picada em que se anda razoavelmente, nalgumas partes, pode-se conseguir andar a 80, 90 km/hora; noutras, nem tanto.
De Mawayela, logo no fim da sede da localidade - Mawayela é, ela própria, uma localidade com o mesmo nome - virando à esquerda, a picada leva a Mandlakazi!… e, depois, a todos os destinos na província de Gaza. Seguindo para a direita, para o norte, vai-se até à berma do rio Changane, do outro lado do qual é a localidade de Lhanganine… na província de Gaza. Ou seja, se vira para a esquerda vem para o sentido sul do país; e se vai à direita, vai no sentido norte.
Portanto e por conseguinte, compatriotas, é possível sem ser pela Estrada Nacional no. 1 galgar o país de lês-a-lês. Podemos partir de Moamba, atravessar Magude, cruzar Chókwè, Guijá, Chicualacuala até ir dar à Espungabeira, em Manica. É possível.
Agora, o problema que se põe é que estas vias não estão em condições de serem percorridas por uma viatura ligeira, normal. Tem que ser com uma viatura bem potente, com tracção em dia, o que nem todos os moçambicanos têm capacidade de ter. E a questão que nos intriga é: por quê não desenvolvemos estas alternativas de circulação do país? Por quê o Sector de Obras Públicas está tão dorminhoca assim? Só e só falta de recursos financeiros? É isso? Então estamos condenados a um desenvolvimento não célere nem robusto devido a estes constrangimentos na circulação de pessoas e bens. Sem circulação fluida de mercadoria, nossa economia não irá longe!
“Quando uma Jovem Licenciada escreve na sua página do FACEBOOK assim (mição comprida) com direito à fotografia empunhando o Diploma e buquê de flores da ocasião, significa que algo vai demasiado mal no nosso sistema de educação. Quando os livros escolares são produzidos sem o mínimo rigor na correcção, significa que a negligência atingiu o auge”.
AB
Quando digo “quando tudo parecia bem” refiro-me ao facto de o País ter uma massa de Jovens com formação superior a todos os níveis em quantidade suficiente para “tocar o barco a andar” baseado em recursos humanos locais. As nossas Universidades estão pejadas de gente sedenta de formar-se e quase todos os anos saem quadros aparentemente formados para reforçar o mercado de trabalho, digo aparentemente formados porque, ao constatar todas estas gralhas, estes erros todos de uma comunicação para o público, fica claro que algo não vai bem.
É tema de debate, nas redes sociais, o Livro de Ciências Sociais da 6ª Classe, onde aparece “Limites do grande Zimbabwe: Mar Vermelho e Golfo de Áden. A Sul, Malawi e Zâmbia, a Este, Oceano Índico e o Rio Inharrime é chamado Rio dos Bons Sinais”. Aqui o problema não está nos professores, não está nos alunos, está ao nível mais alto do sistema de educação que, a meu ver, pode não estar até no Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano, pese embora, deveria ter detectado isto antes da distribuição.
Digo pode não estar na educação porque, na verdade, todos sabemos que, para a edição do livro, deve-se passar por muitas etapas, desde a revisão, editação, retornar a revisão/limpeza para que saia tal como se pretende. No entanto, num sistema em que o Livro Escolar é produzido no exterior, lembrar que, temos alunos neste momento sem o Livro Escolar e não há ideia sobre quando chega, esta ginástica de ensaio antes da publicação fica difícil, salvo se tivermos revisores e editores no local de produção desse mesmo Livro Escolar.
Esta reflexão não pretende, de forma alguma, isentar de responsabilidade o Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano. Pretende, sim, lançar a reflexão para outras áreas que não são estritamente este sector vital. Diz-se à boca cheia que, se “queres destruir um País, mata a educação”, entretanto, não creio que os funcionários da educação sejam “suicidas” e que queiram matar o seu próprio sector. Certamente, serão colegas de outros sectores que percebem de educação que pretendem aniquilá-los.
Convenhamos, enquanto não se resolver o problema de produção interna do Livro Escolar, estes problemas serão recorrentes e, repito, a questão não deve ser vista, estritamente, na educação e desenvolvimento humano, todos os sectores do Governo devem ser responsabilizados por estes erros, desde a economia e finanças que diz não ter dinheiro, a indústria que nega existência de capacidade interna para a produção, assessores do Governo que se mantêm indiferentes ao problema da educação, digamos, este problema é do Conselho de Ministros, como um todo!
No princípio do ano, o debate foi sobre os conteúdos e aqui, sim, a educação e desenvolvimento humano tem responsabilidades acrescidas, sem isentar outros sectores da sociedade civil. A existência de uma massa crítica não significa a dispensa de consulta a outros sectores da sociedade sobre matérias a educar no sistema. Na verdade, a educação deve ser de participação de todos, mas, como não podemos fazê-lo, existem grupos da sociedade representativos a consultar e se as pessoas responsáveis pela produção de matérias se acharem suficientemente capazes e não precisarem de consulta, pode residir aí o erro, que merece correcção imediata!
Caro amigo! Já imaginaste um debate de estudantes sobre a localização de um determinado ponto geográfico, um a defender aquilo que estudou e que o professor o classificou como BOM e outro a defender aquilo que é universalmente correcto e baseado nas suas pesquisas e de autodidatismo!? O outro a provar por A+B que está certo e a prova é o que vem escrito no Livro de Educação Oficial? Evitemos embaraços, ao Governo, em última instância, compete criar condições para que a educação não seja o que vivemos hoje. Repito, temos bases para que a educação avance sem sobressaltos, precisamos é de capacitar esses quadros, fornecendo capacitações, reciclagens e outras formas para que as coisas estejam sob carris.
Não se pode ter um produtor de conteúdos escolares em regime de “past-time”, não se pode ter um revisor de conteúdos escolares enquanto professor “turbo” que deve dar aulas em múltiplas escolas para poder sustentar a família. Deve-se criar condições materiais para que as pessoas afectas nesses sectores estejam 24 sobre 24 horas a pensarem no trabalho que devem realizar. Se não tiver trabalho objectivo, a leitura deve ser o seu refúgio.
A terminar mesmo, esta reflexão vai longe, quero parabenizar os Pais e encarregados de Educação pela permanente preocupação para com a educação dos filhos e educandos, a sociedade de um modo geral que lê matérias sobre a educação e constata e denuncia estes erros. Esta é, na minha opinião, uma demonstração clara de vontade de ver as coisas a correrem bem neste sector vital da vida de uma Nação. Continuemos firmes, por uma educação abrangente e de qualidade!
Adelino Buque