Virou moda nos últimos tempos na Pérola do Índico que qualquer "Django" que pratique um determinado crime aponte o boss como sendo alguém que sabe ou o terá encomendado o mesmo. A situação está a ganhar contornos preocupantes, uma vez que o nome do boss devia ser imaculado. Devia ser como um pano branco que uma simples nodoa acaba alterando a beleza daquele tecido!
Aliado à situação, está o silêncio dos homens do boss que deixam que as narrativas do género ganhem razão. Se os tais homens citassem o nome do boss para coisas louváveis, mas não, citam-no em assuntos cabeludos. Num país com a CSI (Crime Sob Investigação) ou FBI já teriam pegado no cangote do boss e levado para aquelas sessões de psicologia criminal e social para de facto apurarem se o homem tem ou não participação nestas todas macacadas que lhe têm apontado!
O nome do homem aparece em tudo que é problema. Até em brigas de crianças no bairro – o boss é que disse para fazer isso! – Quando o meu vizinho Emakwa dá sova na mulher em plena madrugada, também cita o nome do boss na discussão – será que este boss é tão mau assim? Ele mexe em tudo deste jeito?
- Falam que o boss tem alguns amigos traficantes com passaportes diplomáticos e que sempre que chegam hospedam-se nas suas fazendas – sabe, eu tento não acreditar nestas historietas, mas já é demais. E como diz um adágio popular: "não há fumo, sem fogo!" Mas mesmo assim, questiono-me, porque fazem isso com ele? O que o boss tem feito de mau para vocês?
- O nome do boss é referenciado nos grandes e pequenos negócios. Nos bons e maus investimentos – até há quem cite o boss em conspirações de abate de indivíduos cadastrados e que vivem na linha do tiro à espera de um culpado – não façam isso com o boss, pensem que ele tem família e concubinas que o vêem como um representante divino na terra – deixem o boss respirar aquele ar puro de Mossuril e do Gúruè!
Se é ele, como dizem no Sistema Central Decisório (SCD) porque não procuram um pseudónimo, pelo menos para nos fintarem e não ficaremos a saber, porque há quem ama o boss – há quem acredita secamente e entraria no fogo para defender o boss - Não sujem o nome do "boss" desse jeito!
É muito provável que tenha chegado ao fim da estrada, porque se assim não fosse, sentiria pelo entusiasmo que me tem faltado nos últimos tempos, ao ponto de sair de casa com a camisa amarrotada. Já abdiquei das minhas próprias mãos, que deixaram de me convocar ao encontro do corpo da minha mulher que também ficou insensível de mim, se me sentisse havia de perceber pelo olhar ora com gotas ardentes de amor. Tenho a sensação de ter despejado toda a areia da minha báscula, e nem a pouca poeira que resta consegue levantar ao sopro do vento que igualmente perdeu o impulso.
Está a acontecer algo desesperado no meu ecossistema emocional, a minha mulher já não me acorda com as maõs leves nas manhãs para dizer bom dia. Então todo esse choque quer dizer que estou na mó de baixo, meu coração está frio como o mármore. Nem que a vontade de articular palavras ao acaso me invada, sinto que sou incapaz e o melhor que devo fazer é manter-me no mutismo, sob risco de sair desta penumbra que ainda me mantém com alguma luz, e cair definitivamente para o lado do escuro.
Mas as nuvens do meu espaço estão cada vez mais densas, nunca senti tanto medo. O pior é que cada vez que vou à cama, a minha solidão fica mais pesada. A mulher que está ao meu lado vergasta-me com o silêncio das costas flácidas, eu também tenho as mãos flácidas, incapazes de despertar o pólen. Tremo no centro de mim ao pensar que nesta casa onde tudo gravitava a à minha volta e da minha mulher, quem vibra agora são as vespas espalhadas em todos os cantos, incluindo nas minhas mãos que perderam o tacto.
Fiz anos ontem e a minha mulher nem sequer se lembrou de me oferecer uma flor, como sempre. Eu disse-lhe assim, amor, hoje é dia do meu aniversário, ela nem sequer olhou para mim. Continuou sentada na varanda olhando para o vácuo, com a mão tremendo por sobre o braço da cadeira de madeira que trouxe de São Tomé. Ignorou-me absolutamente, e, naquelas condições, senti-me desdenhado. Voltei à sala onde nunca gostei de estar por me sentir enclausurado.
Seja como for, ainda acredito no indulto, como os condenados que ficam longos anos no corredor da morte à espera da execução, eu também estou à espera da execução, com essa esperança de que um dia poderá abrir-se uma nova luz e ser chamado outra vez para a liberdade. Porém, enquanto esse dia não chega, continuarei aqui a ser incentivado ao castigo, pelas esporas do tempo. Sinto com dor o tilintar dos copos e das grandes canecas de cerveja nos bares que frequetava, e não posso sair daqui, as minhas pernas vacilam.
Estou à caminho dos noventa e pensava que o meu beco tivesse saída. Sim, tem saída! Para o aterro onde estou prestes a ir sem nada nas mãos, a não ser as memórias. As lembranças dos amigos. As saudades da liberdade. As músicas. E os agradecimentos todos à minha mulher, que deixou de falar comigo como se não me conhecesse. Recusa que as minhas mãos a toquem para despertar as melodias como noutros tempos em que éramos dois passarinhos desejosos de amor. Então, é essa a azagaia que levarei espetada no peito, por alguém que me acolheu durante toda a vida no coração, e que agora não me sente mais.
“Quem exagera o argumento prejudica a causa.” (Friedrich Hegel, 1770-1831, Filósofo Alemão, considerado um dos mais influentes da História)
QUATRO ANOS MAIS TARDE…
Era 07 de Abril de 2021, uma aclarada e movimentada Quarta-feira que fluía como as moléculas nos vasos sanguíneos de gente activa. Nas bermas das estradas da Cidade das Acácias, viam-se milhares de mulheres, as irmãs da Josina. Grande parte delas fingia conhecê-la e reclamava por coloridas peças de capulana para celebrar aquela memorável data!
Olhando para as filas de vozes femininas espalhadas na baixa da Cidade, as quais procuravam por peças de capulana para celebrar o 07 de Abril, alusivo à Josina Machel, o Jota, Jornalista-Estagiário no Mídia Lab (ML), entre 2017 e 2018, que se fazia acompanhar pelos seus dois amigos e uma amiga, ambos de qualidade, membros honorários do Sistema Nervoso Central[1], que eles fundaram enquanto estagiários no ML, questionou:
― Afinal de contas, o que realmente as irmãs da Josina, pintadas de peças de capulana, celebram no dia 07 de Abril?
Imediatamente, sem exercer muito esforço hermenêutico, o Omardine, jovem arrojado, soltou a sua voz e respondeu:
― Jota, a Josina Machel, que hoje elas celebram, iniciou, aos 7 anos, os seus estudos, a 1.ª Classe, em Mocímboa da Praia, local onde se ouviram os primeiros tiros dos insurgentes, a 05 de Outubro de 2017. Lá, naquele Cabo do Norte da nossa Pérola queimada, hoje, crianças, jovens, mulheres e homens clamam por socorro, mesmo assim, as irmãs da Josina estão aqui, todas emocionadas, à procura de peças de capulana para celebrar.
Comovido com a colocação do Omardine, na sequência, o Cornélio, que também era um Jornalista-Estagiário altamente informado e com qualidades firmes e autenticadas, sustentou:
― A Josina, que hoje elas celebram, juntou-se ao Núcleo dos Estudantes Africanos Secundários de Moçambique (NESAM)[2], onde desenvolveu a sua consciência político-cultural para lutar por Moçambique e libertar o País do jugo colonial português. Foi essa entrega que a fez abandonar os prazeres de vestir peças de capulana coloridas e rumar para as terras de Julius Nyerere, onde se treinou para defender a Pátria Amada. E hoje, lá, onde a Josina teve a sua primeira educação formal, sofre ataques violentos de estranhos e, por isso, muitas irmãs e suas filhas têm sido atacadas e abertamente vitimadas. Porém, estas irmãs, em vez de juntarem as suas vozes e lutarem para libertar as suas irmãs queimadas no Cabo do Norte sangrento, batalham por meras capulanas. Que cenário triste!
― Olha, aos 18 anos, a Josina abandou o solo pátrio para Tanzânia e Zâmbia. Pelo caminho, foi presa, e, em seguida, malandramente deportada; ainda jovem, ela era espionada por Polícias Coloniais, por causa das suas aventuras político-culturais movidas pela então Frelimo de todos contra a opressão portuguesa. ― Afirmou a Cátia Mangue, outra Jornalista-Estagiária brilhante, que se mostrava visivelmente revoltada. Ela sentia, na epiderme da sua iluminada pele, a dor das suas irmãs de Cabo Delgado, violenta e barbaramente maltratadas.
Minutos depois, aproximou-se o Sérgio Nhambi, outro Jornalista-Estagiário, excelente comunicador, que se juntou à conversa. De imediato, como que tivesse recebido, profeticamente, uma revelação divina, como alguém que conhecia os pormenores daquela conversação juvenil jornalisticamente bem nutrida, interveio:
― Presumo que estejam a falar da mãe das Mulheres Moçambicanas, a nossa Josina Machel. Dava para entender o baloiçar dos vossos lábios. Os ventos segredaram-me a vossa efervescente interacção. É isso, né? ― Interrogou o Nhambi.
O Jota, logo a seguir, correspondeu à solicitação do seu amigo de qualidade e disse:
― É verdade! Você sabia que Josina Machel, aos 19 anos, abandonou Moçambique e rumou para Suazilândia, onde foi acantonada num centro de refugiados? E pouco tempo depois, com a ajuda de um Pastor Presbiteriano, ela refugiou-se na África do Sul, e depois em Botswana, onde foi considerada visitante indesejada e, pelo governo Britânico, deportada. Sabia, Nhambi?
― Como não, meu amigo de qualidade. Graças a Eduardo Mondlane, nosso arquitecto-mor, construtor da Nação e visionário da nossa libertação do jugo colonial português, que convenceu os Britânicos, Josina foi enviada à Zâmbia e, seguidamente, para Tanzânia, o seu centro de formação político-militar, onde se tornou Mulher Moçambicana, mesmo fora de Moçambique… Tudo tendo em vista a nossa total e completa libertação, para ela, na altura, seu escravizado povo. ― Acrescentou o Nhambi, cheio de confiança.
― Aos 20 anos, Josina Machel assistiu a Janet Mondlane, esposa de Eduardo Mondlane, no Instituto de Moçambique, para treinar os seus irmãos e as suas irmãs, a fim de lutar e alcançar a Independência Nacional. ― Referiu o Omardine.
― Parece que estamos todos em sintonia aqui. Que sincronia! ― Conferenciou a Cátia que, em seguida, acrescentou:
― Aos 21 anos, Josina Machel abandonou uma Bolsa de Estudos para Suíça e livremente se juntou ao Destacamento Feminino, onde teve formação político-militar, com vista a melhorar o seu enquadramento na Luta de Libertação Nacional.
Em tempos de guerra, Josina Machel cuidava dos feridos, órfãos e de crianças abandonados; ela fazia de tudo para lhes fornecer apoio de natureza médica, moral, educacional e social. As suas mãos estavam treinadas não apenas para pegar na arma e lutar pela libertação do País, mas, também, para cuidar dos filhos das suas irmãs e dos mais desfavorecidos, hoje esquecidos.
― Aos 23 anos, a Josina advogava pela inclusão de raparigas e mulheres em todos os aspectos da Luta de Libertação. Nessa altura, ela tornou-se Representante das Relações Internacionais do Destacamento Feminino na então Frelimo de todos. ― Afirmou o Cornélio ― E, virando os seus olhos para as largas e compridas filas de mulheres que lutavam por coloridas peças de capulana, questionou aos seus companheiros:
― Afinal, onde aquelas irmãs buscaram tamanha inspiração para celebrar a Josina com peças de capulana?
Em seguida, fez-se um silêncio ensurdecedor. Naquele momento, os jovens Jornalistas fizeram viajar as suas mentes em profundas meditações. Pensavam Moçambique! Segundos depois, a conversa continuou. E o Jota, de súbito, adicionou:
― Com 24 anos, Josina já viajava para eventos internacionais, onde partilhava a sua experiência e de outras Jovens e Mulheres Moçambicanas e não só, advogando pela igualdade de participação em todos os aspectos de desenvolvimento ao nível local, regional e internacional. Foi com ela que o sonho das Mulheres Moçambicanas teve raízes profundas e sólidas, que, gradualmente, foram brotando até aos nossos dias. Será que aquelas irmãs da Josina sabem disso ou apenas querem celebrá-la, confortavelmente inconscientes?
― Hummm… Será?! Ainda aos 24 anos, a Josina já liderava o Departamento de Assuntos Sociais, na então Frelimo de todos e trabalhava, extensivamente, para prover cuidados de saúde e educação às crianças no Norte de Moçambique e, naquela altura, instava para a necessidade de formação de raparigas e mulheres. Vê-se, aqui, que ela tinha os olhos fitos no futuro não somente do País como, também, das suas irmãs, muitas das quais viriam a esquecer-se dos seus feitos. Mesmo assim, entregar-se-iam em comemorações nos futuros setes de Abril. ― Asseverou, com um ar carregado de profunda indignação, o valente Omardine.
Em meio à guerra, Josina Machel lutou por Moçambique. Após a morte de Eduardo Mondlane, ela juntou-se à Janet Mondlane para a consolar por aquele ataque que, igualmente, era um golpe para Moçambique e todos os Moçambicanos. Aliás, aquele golpe ao patrono da Nação, até hoje, permanece uma incógnita reservada aos deuses da Luta de Libertação Nacional.
Naquele instante, algumas vozes, que passavam próximas à Avenida que carregava o nome daquela heroína quase esquecida, Av. Josina Machel, onde começava a fila das mulheres que batalhavam por peças de capulana, interromperam a conversa daqueles jovens Jornalistas. Um jovem ambulante, com o corpo abatido pelas correrias da vida, aproximando-se à Cátia, única mulher naquela conversa juvenil, de viva voz, tentando granjear mais clientes, perguntou:
― Moça, não queres esta capulana para celebrar o dia de hoje, 07 de Abril? Viste como ela é bonita e combina contigo? Posso dar-te um bom desconto, se quiseres. Experimenta só esta capulana aqui. Eu juro que vais gostar. Experimenta lá!
A Cátia, boquiaberta, olhando para os seus colegas, soltou um sorriso radiante, e respondeu ao jovem ambulante, que atentamente recolhia a atenção de todas as mulheres que desfilavam nos corredores daquele pátio da baixa da Cidade:
― Desculpa lá, mano. Eu já estou a celebrar, e muito bem, com os meus colegas. ― E, olhando para os seus amigos, fazendo desabraçar as gêmeas fileiras de dentes alimpados que compõem a sua cavidade bucal, soltando um par de sorriso, ruçou-se.
No entanto, o jovem ambulante tentou convencer aquela jovem mulher para adquirir uma peça de roupa colorida que ele e os seus amigos traziam. Todavia, ele não foi capaz de persuadir aquela Jornalista de firmes qualidades.
Em seguida, esquecendo-se daquela interrupção, o Jota, ressuscitando a conversa sobre Josina, interveio e disse:
― Eu penso que aqueles jovens não sabem que, aos 25 anos, Josina Machel foi diagnosticada cancro do fígado. Mesmo assim, ela continuou a lutar por Moçambique exercendo, incansavelmente, as suas funções na então Frelimo de todos. Ainda que à beira da morte, a sua garra pela libertação do seu povo falava mais alto, por isso tudo fazia para o ver libertado do jugo colonial português.
― Nessa época, Josina Machel deixou o seu filho, o Samito – que, já adulto, se viu forçado a abandonar a corrida às Eleições Autárquicas de 2019, como Cabeça-de-Lista de um partido fundado com urgência para desafiar a hegemonia da antiga Frelimo de todos, seu partido de nascimento, e colocá-lo na Presidência do Município da Cidade de Maputo – quando tinha apenas 1 ano de idade, em Tanzânia, e viajou à Niassa para tratar de assuntos sociais e ajudar raparigas e mulheres naquele período de guerra, que matava o sonho de muitos homens e mulheres Moçambicanos. ― Revelou, abertamente, o Omardine.
― Ainda aos 25 anos, Josina Machel viajou a Cabo Delgado, onde começou a sua trajectória educacional, para verificar o progresso de programas sociais naquela Província. Naquela altura, ela sofria de graves problemas de saúde, e o cansaço e a perda de peso, gradualmente, tiravam a vida desta mulher lutadora pela causa nacional moçambicana.
― Acrescentou o Nhambi, com uma voz cheia de saúde.
― Infelizmente, já com a saúde totalmente debilitada, e de regresso à Tanzânia, a Josina foi internada, e no dia 07 de Abril de 1971, deixando para trás o seu sonho de ver Moçambique liberto da opressão colonial crónica, ela morre e os seus restos mortais foram no subsolo das terras do Pan-Africanista Julius Nyerere, entornados. ― Sublinhou o Jota, meneando a cabeça para os lados, enquanto vigiava o seu redor movimentado.
Entretanto, as irmãs da Josina Machel, naquele dia em que conversavam, não estavam a pensar em tudo isso. Elas só e tão somente queriam celebrar, com peças de capulana!
― Mesmo depois da sua morte, hoje, nós lembramos o sonho de Josina: “Camaradas, já não posso mais continuar a lutar; levem a minha arma e entregam-na ao Comandante Militar para contribuir para a salvação do Povo Moçambicano.” ― Revelou a Cátia.
― Foi assim que, um ano após a morte de Josina, a então Frelimo de todos declarou o 07 de Abril como Dia Nacional das Mulheres e, em Março de 1973, estabeleceu-se a Organização da Mulher Moçambicana (OMM), enquanto movimento social e político inspirado nos ideais de emancipação defendidos por Josina Machel, hoje quase todos simbolicamente trocados por simples peças de capulana enroladas em corpos que, igualmente, clamam por total libertação. ― Decretou o Cornélio.
― Hoje, a Mocímboa da Praia, que ensinou Josina Machel a ler e escrever, está em chamas. As suas irmãs Palma, Macomia, Muidumbe, Mueda, também, choram lágrimas amargas de guerra e assalto à soberania nacional. Mesmo assim, as irmãs da Josina fingem conhecê-la e reclamam por peças de capulana para a celebrar. Estranho, né! ― Acrescentou o Jota.
Os grandes problemas crónicos da pobreza generalizada, as famosas Dívidas Ocultas, os ignorados conflitos armados no Cabo do Norte queimado e a crise humanitária, os casamentos prematuros – hoje uniões prematuras –, as violações dos Direitos Humanos, o abuso de menores e a violência doméstica, as grávidas de Matalane e as negociações promíscuas de Ndlavela, os assaltos aos produtos das mamanas[3] nos mercados, protagonizados por Polícias Municipais, entre tantos outros problemas que assolam a nossa extensa Pátria Amada, as irmãs da Josina Machel que fingem conhecê-la, desconhecem-nos, e, contudo, reclamam por coloridas peças de capulana para celebrar a mesma Josina Machel que se entregou pela libertação do Povo Moçambicano.
― Afinal, o que realmente as irmãs da Josina Machel celebram a cada dia 07 de Abril que passa? ― Questionou, preocupada, a jovem Cátia.
Em seguida, respondendo a uma chamada telefónica, com qualidades de urgência, a Cátia desapareceu do meio daqueles jovens Jornalistas. E, por conseguinte, os quatro jovens separaram-se e continuaram com as suas agendas editoriais e de trabalho da semana.
Autor: Janato I. Janato
Texto extraído do livro “Contratado para ser Presidente do Município” (2022), págs. 53-61.
[1] Sistema Nervoso Central (SNC) é o nome atribuído pelo Jota ao grupo composto por 7 Jornalistas-Estagiários que faziam parte da Edição do Jornal semanal produzido pelos Estagiários. Os membros do SNC eram responsáveis por filmar e editar as peças jornalísticas, montar o jornal principal, rever e assistir ao jornal, anotar os possíveis erros e corrigi-los. Todas as Sextas-feiras, após as verificações, o líder do SNC deveria levar o jornal, num flash ou HD, e submetê-lo à STV para ser veiculado às 11h30 do dia seguinte. Às vezes, os membros deste grupo saiam da redacção às 23h ou mesmo à meia-noite.
[2] O Núcleo dos Estudantes Secundários de Moçambique (NESAM) foi uma associação estudantil moçambicana nacionalista, estabelecido nos princípios de 1949, na então Lourenço Marques, actual Cidade de Maputo, com cerca de 20 membros, que funcionava no Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique (CANCM). O NESAM tinha como objectivo fomentar a unidade e camaradagem entre os jovens africanos, através do desenvolvimento da sua capacidade intelectual, espiritual e física, para melhor servir a sociedade. Nos primeiros anos da sua existência, as autoridades coloniais portuguesas consideravam-no uma organização nacionalista embrionária, pelo que os seus membros eram considerados inimigos ao regime português, sendo, por isso, perseguidos pelas tropas coloniais.
[3] Mães – Forma popular de dizer.
Segunda-feira, 06 de Abril de 2020, as pessoas estavam agitadas em toda a aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, província de Cabo Delgado. Ninguém imaginava que seria um dia negro para os populares nativos, para os moçambicanos e o mundo. As aldeias circunvizinhas estavam em chamas. O som da pólvora poluía o distrito. As pernas da população tremiam. Ninguém conseguia beber pelo menos um copo de água. Os terroristas estavam nas proximidades da aldeia.
Os ponteiros dos relógios produziam ecos. As balas intensificaram o desespero da população. Horas depois, homens trajados de malaias caminhavam pelas aldeias, cantando, dançando e exibindo bandeiras do Estado Islâmico. A aldeia estava desprotegida. Os bravos militares destacados para garantir a segurança em Xitaxi haviam zarpado pelos relatos que chegavam e os horrores causados pelos terroristas em outras aldeias. Os que restavam eram poucos e terão ficado não pela coragem, mas pela falta de condições financeiras para escapulir-se.
Contra todas as vontades, os homens armados entraram na aldeia, dirigiram-se à casa do líder tradicional local, onde comunicaram que pretendiam ter uma reunião com a população local – a informação foi rapidamente transmitida – todos aqueles que estavam no cativeiro saíram. Militares trajados a civil fizeram parte da reunião. Começou o encontro. Os terroristas trajados de vestimentas islâmicas e empunhando armas de fogo começam por separar os presentes em função da religião que praticavam…
Alguns acataram a ordem dos terroristas e outros recusaram aderir. Repentinamente, começou uma agitação no seio da multidão. Eis que os terroristas foram recolhendo um por um e exigindo que passassem a frente, alegadamente, para amainar a confusão. Disparos para o ar e para as pernas dos revoltados. De repente o silêncio, lágrimas nos olhos e choros ofegantes faziam-se sentir. Começou o processo de recrutamento – quem seguia e quem não seguia com o grupo terrorista – o caos instalou-se no local.
Foram escolhidos 53 jovens e obrigados a recitar o Kalimah da aceitação do Islamismo – a shahada - "La ilaha illa Allah, Muhammad Rasul Allah" que traduzido para a língua portuguesa significa "não há outro Deus senão Alá e Maomé é seu servo e mensageiro." Os jovens negaram veementemente. Mesmo diante de chumbo grosso e baionetas no pescoço. A multidão implorava. Os anciões ajoelhavam pedindo misericórdia. Mas os terroristas não ouviram as súplicas dos presentes – pelo contrário, viram o acto como falta de respeito – o comandante dos terroristas deu a ordem para que os sanguinários começassem a actuar.
Insistiram por mais uma vez, se os jovens pretendiam aderir ao grupo ou à bárbara morte. Começaram as decapitações como forma de intimidar os restantes, mas estes estavam determinados – em não ceder! Aguentaram a agonia da morte e a crueldade humana foi visível, todos os presentes estavam inconformados com o acto. Era inacreditável que humanos feitos de sangue e pele igual pudessem agir de tal modo! Assassinaram os 53 jovens sem piedade, simplesmente por dizerem que louvavam um outro Deus e que não podiam aderir a uma guerra contra o próprio povo.
06 de Abril de 2020, o dia negro para a população da aldeia Xitaxi, Muidumbe, e a prova nítida da barbárie do terrorismo que aconteceu em Cabo Delgado - Moçambique …!
A exploração de recurso naturais deve ter sempre como prioridade proporcionar o bem-estar das populações e promover o desenvolvimento sustentável do país. Foi com este pressuposto que o Governo de Moçambique definiu a área de hidrocarbonetos por estratégica para a viabilização da exploração sustentável das reservas de gás natural de que o país dispõe, criando alicerces para o desenvolvimento industrial, criação de oportunidades de emprego e geração de renda em escala, bem como uma exploração dos recursos naturais que minimize o impacto negativo sobre o ambiente e sobre as comunidades. Nesse sentido, é imperioso que a gestão destes recursos seja prudente e transparente garantindo que as populações estejam informadas sobre as valências dos mesmos na melhoria da qualidade de vida dos moçambicanos.
Neste contexto, o anúncio do lançamento do programa “DÁ + GÁS Moçambique” representa a materialização da estratégia de desenvolvimento nacional e a resposta proactiva por parte do Governo de Moçambique às necessidades das populações, promovendo o acesso ao Gás de Cozinha como fonte primária de energia para cozinhar. A perspectiva que se tem com a campanha “DÁ + GÁS MOÇAMBIQUE” é de inverter o cenário apresentado pelo IOF (2019/2020), segundo o qual 95% da população é usuária de biomassa (lenha e carvão) para cozinhar, priorizando o Gás de Cozinha enquanto fonte de energia limpa na equação da gestão familiar. Por outro lado, o Gás de Cozinha vai permitir às populações reduzir os gastos mensais na cozinha, proporcionar mais conforto e diminuir o tempo gasto no processo de cozinhar.
Para tal, o Governo perspectiva colocar o Gás ao serviço de todas as comunidades moçambicanas, diminuindo os custos logísticos de distribuição, aumentando a disponibilidade nas zonas anteriormente não abastecidas, reduzindo as barreiras de acesso e estabelecendo um mecanismo de preços favoráveis a todos os intervenientes. A primeira etapa para o cumprimento deste objectivo passa pelo desenvolvimento da infraestrutura como é exemplo a recém-inaugurada a unidade de enchimento das botijas, construída pela Petromoc ou a nova linha de enchimento de GPL inaugurado no final do ano passado pela Galp na Matola. Estamos perante excelentes exemplos de verdadeira parceria entre o sector público e privados com benefícios evidentes para a sociedade e retorno financeiro para os investidores.
Parece-nos justo aceitar que o programa “DÁ + GÁS MOÇAMBIQUE” representa, de facto, a materialização da estratégia de desenvolvimento sustentável integrado e dos compromissos assumidos no âmbito da agenda 2030 das Nações Unidas e no Acordo de Paris e nos convém assumir que estamos no rumo certo à transição energética em Moçambique.
Apolinário Malauene
(Docente Universitário, Faculdade de Ciências da Terra e Ambiente – UP MAPUTO)
Na semana antepassada, o Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, reuniu-se com os militantes em Pemba, nos momentos vagos daquelas suas viagens presidenciais pagas pelo erário público. A reunião serviu para debater pessoas...não ideias. Uma das pessoas mais visadas foi o edil de Pemba, Florete Simba Moturua. Sua cabeça foi pedida. Entre os edis da Frelimo agora em exercício, Simba parece o mais crucificado.
Minhas fontes dizem que ele mostrou, durante estes anos, poucas simpatias para interesses mesquinhos de militantes e empresários locais, que achavam que tinham luz verde para satisfazerem seus apetites nos terrenos municipais. Mas, Simba não foi na cantiga. E criou inimigos figadais.
A nosso ver, o Edil de Pemba merece uma segunda oportunidade. Porque ele está a gerir a cidade mais pressionada em Moçambique por eventos extremos, incluindo o terrorismo. A pressão demográfica sobre a cidade é enorme.
De acordo com o Censo de 2017, Pemba tinha 204.872 habitantes. Em 2020, por causa do terrorismo, a cidade recebeu quase que uma outra cidade: 227.393 deslocados de Mocímboa da Praia, Palma e Muidumbe. Depois teve o ciclone Keneth...mas Pemba não se desestruturou. Mantém-se mais ou menos saudável, com uma melhoria visível nas suas infra-estruturas escolares, de saúde e estradas, para além da transferência da antiga lixeira.
A pressão sobre Pemba é enorme que faria cair qualquer Edil que se prese. Simba merece uma segunda oportunidade.
Marcelo Mosse