Imaginem vocês a viver num país, onde todos os anos a Autoridade Tributária (AT) ultrapassa as metas anuais de recolha de receitas, mas estranhamente muitos não pagam impostos e as contas públicas têm sempre défice, facto que obriga as lideranças locais a recorrerem a empréstimos que chegam em forma de doações. Imaginem vocês que estas doações acabam não sendo direccionadas para o real objectivo e, como consequência, os funcionários pagos para pensar sobre como aumentar as receitas na AT, que todos os anos ultrapassam as metas previstas, devem procurar inventar novos impostos e formas de arrecadação de mais receitas.
E uma das formas encontradas na Pérola do Índico é a selagem das cervejas. Uma prática que em nenhuma parte do mundo é feita. Mas os nossos "grandes cientistas da economia" decidiram avançar, estabelecendo metas e sanções para as empresas que não cumprirem com a ordem. O caricato é que quem pensou nesta medida nunca fez trabalho de campo e nem de produção de cervejas. Talvez quando a pessoa vê a mesma na sua mesa ou no copo pensa que a sua produção é como assinar um documento escrito por outro profissional apenas!
A realidade no terreno mostra outra coisa. Imaginem uma fábrica que por hora produz mais de 40 mil garrafas de cerveja, numa velocidade da luz, ter de parar para colocar a rotulagem do selo em cada uma destas garrafas. Quanto tempo levaria e como justificaria o atraso da demanda da mesma no mercado interno? O caso está deixando as empresas cervejeiras nacionais e internacionais nervosos com os cientistas da AT. Aquilo que seria mais uma empresa do estilo Kudumba ou Inspecção Nacional de Viaturas (INAV) parece estar a ser mais um mito – por ser uma prática que nenhum país do mundo já implementou!
A ordem da AT é abalada pela crise de sheeps no mercado internacional, pois, devido à Covid-19 e a guerra de Titãs nas velhas repúblicas soviéticas, os miolos dos homens que fabricam este importante dispositivo tecnológico, para que a selagem tenha efeito esperado, esteve centrado na busca de soluções para a pandemia e outros para a nova correria armamentista – brincadeira! Mas o facto é que não há sheeps suficientes para responder à demanda de produção das cervejeiras locais e estrangeiras.
Uma outra situação é que as datas antes previstas já venceram todas, porque não existem sheeps e o país virou piada no mercado internacional, devido a uma decisão "infantil" de pessoas que recebem para pensar e defender a bandeira de Moçambique. Esta decisão da AT não passa de um mito. Não passa de uma disfuncionalidade tributária, a não ser que queiram falir todas as fábricas que, ao que tudo indica, respiram saudavelmente nos seus lucros!
Avançar com a selagem das cervejas é impedir o desenvolvimento desta indústria. É mutilar um investimento que muito bem representa o país. É afugentar investidores e parcerias comerciais importantes, uma vez que as marcas estrangeiras que vendem “a bessa” e consumidas com pompa e vividez na Perola do Índico não aceitam que sacanagens económicas do género aconteçam e já comunicaram que não vão ceder à pretensão das nossas autoridades, porque tal medida é impraticável para o mercado da cevada.
Mesmo as empresas que produzem tais selos não estão em condições de produzir milhares em pouco tempo e o caricato é que quem influenciou na medida não fez uma análise exaustiva do sector para depois decidir com esta medida. Tudo parece ser mesmo um mito. A não ser que a AT queira fechar a vaca leiteira e a menina de olhos azuis da elite frelimista por não cumprir com o desejo de certos gananciosos que vêem oportunidade de comer em tudo!
Se querem agravar o preço da cerveja, devem encontrar outras fórmulas, porque esta não foi acertada – como se sai deste imbróglio tributário? Recuasse definitivamente ou avançasse mesmo com todos os prejuízos que isto possa vir a representar? – O facto é que o consultor contratado para desenhar este projecto talvez gostasse de como os mesmos aparecem nos vinhos e quis inventar a roda!
- Moçambicanos, temos de parar de brincar de trabalhar e pensar o país racionalmente, porque a época do Asterix e Obelix ficou na mitologia gaulesa! Quem sabe no dia que os homens tiverem seis mãos, esta decisão tenha algum efeito, se pelo menos existisse um projecto-piloto para ver como seria – mas nada! Ou vamos fazer de conta que…
Do seio da sarça, Deus rugiu como o verdadeiro Rei dos Céus, abafando todos os sons da planície onde Moisés apascentava o rebanho do seu sogro, Jetro. Era manhã fria e não havia outros pastores por perto, pois toda aquela vastidão de terras pertencia a uma única pessoa, escolhida entre os demais para desfrutar de um manancial sem fim. Foi nesse lugar que a Voz esvaziou-se e troou como o último vulcão e chamou por aquele que seria, afinal, um servo apetrechado de aço filtrado em fogo, para romper as grades do mal.
Deus trovejou como os trovões que, nas montanhas de pedra, na função de megafones Divinos, entram em harmonia com a existência, e chamou pelo pastor solitário imbuído em pensamentos que só o Próprio Jehová podia sondá-los.
- Moisés!!!!!!!!!
O pastor entrou em pânico ao perceber que a Voz que lhe chamava vinha da sarça ardente, suspensa no espaço onde o rebanho tinha alimento em porções sem limites.
- Quem é você que me chama com essa Voz do fim do mundo?
- Sou eu, Deus dos Exércitos.
- O quê que você quer de mim?
- Quero que vás ao Egipto libertar os filhos de Israel, presos nas masmorras de Faraó.
- Mas porquê que tenho que ser eu a ir ao Egipto, libertar os Teus filhos das masmorras de Faraó.
Deus fez uma pausa, permitindo que se ouvisse na plenitude a música dos rios fartos que serpenteam em todo aquele maná oferecido a Jetro. Era a mesma música que Moisés ouvia todos os dias, mas que agora ressurge retumbante, silenciando todos os outros sons maravilhsos que encontram no cântico dos pássaros, a síntese da maravilha. Depois – ainda do seio da sarça - a Voz voltou e retorquiu: porquê que não tens que ser tu?
II
Lembro-me desta passagem bíblica, sempre que vejo - nas ruas da cidade de Inhambane – um homem que usa um cajado que mais parece um elemento de adorno, do que propriamente de suporte. Então, na minha imaginação, este indivíduo enigmático pode ser o próprio Moisés, encarnado numa outra pessoa, que é esta que vagueia sem direcção, aproveitando ao máximo – provavelmente – a paz que reside em toda a urbe.
Nunca o tinha abordado até ao dia em que perdi a capacidade de conter-me. Aproveitei o facto - numa manhã de céu nublado - de estarmos lado a lado, na varanda da loja do Matocolo, à espera que a chuva parasse. Não sabia como ele reagiria às minhas palavras, e nem podia saber, por muitos motivos, e um desses motivos é que, para além de nunca ter falado com ele, jamais o vi a conversar com quem quer fosse, apesar de ser uma pessoa bastante conhecida.
- O senhor é muito parecido com Moisés!
- Qual Moisés?
- Da bíblia!
Ele riu-se às gargalhadas, olhando-me profundamente. Acariciou - com as duas mãos - o cajado que será, se calhar, um imprecindível talismã da sua vida. Parecia estar a procura das palavras apropriadas para responder à minha ousadia, como no dia em que Deus fez uma pausa, deixando soar levemente a música dos abudantes rios do maná de Jetro, antes de dizer a Moisés: porquê que não tens que ser tu!
Mas quando parou de chover, o homem foi-se embora sem dizer nada, até perder-se na zona dos “Quatro candeeiros”, e não olhou uma única vez para trás!
Jeremias Nguenha morreu a 4 de Maio de 2007. Passam hoje 15 anos. Provavelmente ainda sejam ouvidas as suas famosíssimas músicas “Vada Voxe” ou “La Famba Bicha”, que são, quanto a mim, um dos mais inventivos diagnósticos da sociedade moçambicana e das suas patologias inultrapassáveis. Permanecem actuais. Actualíssimas.
Era um artista extremamente irreverente e fazia uma arrojada e acerba crítica política e social. Nascera a 19 de Março de 1972, em Inhambane. Cantava em changana. Cantava enérgica e violentamente em changana. Morreu cedo, subscrevendo o anátema moçambicano, com apenas 35 anos. Deixou, no entanto, o seu génio criativo registado nas músicas que compôs e cantou.
Nguenha foi um artista carismático e popularíssimo. Isso devia-se, a meu ver, à sua música poderosa e às suas mensagens certeiras e veementes, mas também à sua imediata identificação com os mais desfavorecidos: a forma de vestir, a forma de se exprimir, a forma de dançar e as suas coreografias. A sua impetuosa denúncia social, sobretudo quando falava da pobreza ou das injustiças sociais, era uma resposta violenta à violência dos que sofriam e sofrem a exclusão, a pobreza e a marginalidade.
Jeremias Nguenha tinha uma portentosa e magnética energia em palco e vê-lo actuar era um momento fortemente impactante. Vestia uniforme militar e tinha o cabelo sempre rapado. Andava com um exemplar da Bíblia. Era um provocador. As suas composições tinham metáforas e imagens virulentas: "obrigam-nos a pentear as nossas carecas” (tradução livre) é um dos seus versos mais profundos. O grande instigador era, antes de tudo, um grande poeta social e um magistral e intrépido cantor e actor. Ele não cantava apenas. Actuava no estrado. Era a voz dos esquecidos, dos desprezados, dos proscritos.
Teve uma aparição fulgurante. As rádios tocavam-no regular e recorrentemente. Quando foi anunciada a sua morte, o choque foi inevitável. Mas parece que é o destino de grande parte dos artistas moçambicanos. Quantos talentos se perderam precocemente neste país? Quando estes (artistas) desaparecem sucede o silêncio e a escuridão sobre os seus percursos e suas vidas. Não são mais evocados, não são estudados, não existem biografias. Sabemos muito dos artistas estrangeiros e cultuamos o efémero entre nós. Pouco sabemos dos nossos melhores.
Aliás, parece que a Pátria se regozija em ignorar os seus melhores intérpretes. Intérpretes num sentido mais extenso – de tradutores de um tempo e de uma sociedade. Como é este imenso e perseverante artista. Um cantor desassombrado e arrebatador. Jeremias Nguenha foi e é um dos melhores intérpretes do nosso destino individual e colectivo. Foi e é um dos maiores tradutores do devir moçambicano.
La famba bicha!
A ideia era passar férias. Fazer fotos nos Shoppings luxuosos. Filmar uma “live” na torre Burj Khalifa e curtir a noitada. Os dias seguiam agradavelmente, afinal haviam feito uma boa poupança para que aqueles 30 dias naquela importante cidade dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Dubai, fossem memoráveis e inesquecíveis, em termos positivos. Até que numa aliciante noite de festas e luzes supersónicas, um grupo de mulheres que estavam hospedadas comigo, no Howard Johnson Plaza by Wyndham Dubai Deira, convidaram-me para o Doors Freestyle Grill – Steakhouse, onde provaríamos deliciosos pratos locais e estrangeiros.
O plano seguiu. Vestidas a rigor. Elegantes dos pés à cabeça. Estávamos vestidas para matar. A sensualidade e a elegância atraíam olhares e alimentavam desejos carnais de homens vestidos em malaias e roupa executiva. Lá estava eu, Maya de Almeida, de 26 anos de idade, nascida em Benguela, Angola, e residente em Coimbra, Portugal. Como jovem empreendedora e influenciadora digital, esperava encontrar em Dubai oportunidades de negócios e abrir novas portas comerciais. O que não sabia é que iria vivenciar algo suis generis que abalaria a minha vida para sempre!
Sentadas em direcção à porta de entrada do restaurante, as minhas companheiras de mesa iam lançando o charme e olhares para os homens que por ali entravam. Até que horas depois do convívio, os garçons trazem uma bandeja contendo telemóveis e pedindo que atendêssemos. Doutro lado da linha estava uma voz afável que começou por saudar-me e convidou-me para jantar na sua mansão, alegadamente porque havia ouvido falar de mim e que eu era linda de mais e tinha tudo que ele gostava numa mulher. Espantada, perguntei com quem teria ouvido falar de mim, ao que respondeu: do gerente do hotel onde eu estava hospedada!
Admirada pelo retrato fiel que o homem fazia de mim, acabei aceitando o convite e saímos todas juntas. Afinal, enquanto me mostrava preocupada, as outras estavam alegres porque sabiam para onde iam. Já na porta de entrada do restaurante, uma limousine nos aguardava. Entramos no veículo, lentamente e com tudo servido no interior, seguimos em direcção à residência do estranho homem. Chegando lá, fomos recebidas por guarda-costas que, cordialmente, nos levaram, cada uma, numa determinada direcção.
Finalmente, encontrei-me com o misterioso homem que, carinhosamente, me chamou pelo meu nome. Mostrou-me algumas fotos e convidou-me a fazermos um passeio pela sua mansão. Já no interior dela, colocou no meu pescoço um fio luxuoso e um relógio de diamantes. Sem rodeios, disse-me que pretendia provar o sabor da minha carne, enquanto dizia isso, um garçom trazia uma bandeja com um cocktail e muito dinheiro em Dólar e Euro – disse que tudo era para mim!
Confesso que naquele momento fiquei estupefacta. Nunca havia visto tanto dinheiro assim. Acabei aceitando. De imediato trouxeram uma cadeira de diamantes – toda brilhante. Sentei nela e em seguida fui carregada para um quarto. Chegando lá, o homem pediu-me que tirasse a roupa que eu vestia e ficasse de roupa interior, eis que prontamente o fiz!
Sem me aperceber, vejo um homem com alguns instrumentos de açoitamento nas mãos. Sem pedir, pegou-me com muita força e colocou-me uma coleira no pescoço e puxou-me pelas costas. Mordeu um mamilo e introduziu-me cinco dedos na vagina. Enquanto eu gritava por nunca ter passado por uma experiência do género, não sabia que aquilo era apenas o aquecimento para o que estava por vir!
- De repente, o homem pega num dispositivo e clica. Para a minha surpresa, por detrás da cama, havia uma parede falsa e estavam lá 10 homens, dois adolescentes e três cachorros pretos e enormes. Questionei-lhe o que era aquilo, ao que respondeu que a noite ainda era miúda! Pedi para que me deixasse sair e todos se riram. Algemaram-me os braços e as pernas. Puxaram as correntes a uma altura que combinava com a cintura deles e começaram a “bichar-me”!
Enquanto um penetrava agressivamente na vagina, o outro regava-me com champanhe e outros filmavam o acto. Depois de todos gozarem sobre mim de todos os cantos e usando objectos e eu já sem forças, deram-me de beber um cocktail estranho e açoitaram-me. Em seguida, obrigaram-me a ajoelhar, mesmo sem forças para mais, passaram um líquido no ânus e começou a vez dos adolescentes – todos sem camisinha! Depois vieram os cachorros, não aguentei. Caguei-me, levaram as minhas fezes e obrigaram-me a ingerir!
Já sem forças. Todos urinaram sobre mim. Desmaiei. Quando acordei estava num Iate, com mulheres, todas nuas e sujas. Do lado de fora, estavam homens abraçados com outras mulheres, como se tudo estivesse bem connosco. A viagem era para um outro local e, naquele momento, pensei em atirar-me pelo mar, mas não tinha como e questionava-me porquê estava a passar por aquilo, se eu não havia pedido!
Enquanto chorava e sofria de dor, as outras moças se questionavam quanto havia ganho por tudo que viveram nas mãos daqueles homens. O iate atracou e lá estavam os mesmos homens, se comportando como se nada tivesse acontecido. Tiraram-nos do iate. Veio um homem com uma mangueira e começou a despejar água sobre nós. Terminado o acto, atiraram toalhas e entregaram para cada uma mala com notas em USD e Euro.
Retiraram-nos daquele espaço e na mesma limusine levaram-nos ao hotel. Estranhamente, estávamos vestidas com roupas caras que escondiam a humilhação por que passamos. E, embora para algumas, aquilo fosse algo habitual, para mim era um símbolo de auto-negação da minha essência e um grande desrespeito sobre o meu ser!
Por tudo que vivi naquela noite, percebi que aquela vida luxuosa que por lá se vive escondia diversas sujidades sociais e síndromes de psicopatia que homens ricos de países como os EAU vivem, o que a roupa supostamente religiosa ou cultural esconde. Percebi o tamanho da falsidade que as pessoas vivem. Jurei naquele momento nunca mais pisar Dubai ou qualquer outro país com características idênticas.
Ultimamente, quando vejo este escândalo a ser bastante referenciado nas redes sociais e televisões, fico rezando para que minha imagem não apareça nos vídeos, pois afectaria bastante a minha autoestima e a reputação da minha família.
Acreditem que, desde que voltei daquelas férias em Dubai em 2018, nunca mais consegui envolver-me com qualquer homem, até mesmo com o meu então namorado. Passei a ver todos os homens como porcos e demónios. Percebi que o mundo está cheio de doentes, mas no meio desta minha solidão tento acordar deste pesadelo que hoje se chama Dubai Porta Potty e espero que algo seja feito para que outras mulheres não passem pelo que vivi em Dubai, porque as cicatrizes ainda são visíveis no meu corpo!
PS: Nome fictício. Texto de imaginação e escrito com base nos episódios do escândalo Dubai Porta Potty.
"Os cães ladram e a caravana passa"
Na última semana do mês de Abril do ano de 2022, na Pérola do Índico, as atenções estiveram voltadas para a Assembleia da República (AR), a dita casa do povo e, para alguns, a escolinha do barulho ou dos que comem só por aplaudir! Afinal, não era por menos – uma figura ilustre estaria lá por dois dias, apresentando seu informe anual, sobre o estado da justiça no país.
O informe estava robusto em termos de tamanho e organização, mas minúsculo de acções para quem chora por um país livre do crime organizado! Na AR, a Procuradora falou de diversos tópicos organizados em oito capítulos, entre eles: organização interna, controlo da legalidade e direitos humanos, criminalidade, prevenção e combate à corrupção, recuperação de activos, desempenho processual, cooperação jurídica e judiciária internacional e conclusões e perspectivas.
Portanto, no meio daquela tonalidade de voz e engates linguísticos, seguidos de desculpas, o exercício perdeu interesse quando a PGR demonstrou que, de facto, aquele exercício é mais para agradar os políticos, em concreto o partido no poder – Frelimo, que o povo que diz representar! Por mais um ano, o importante foi trazer números que nada dizem e nem existem certezas de que sejam realísticos mesmo. Até os valores monetários gastos no processo sobre Manuel Chang e que temos o direito de saber a todo o custo, uma vez que como povo somos o Estado e contribuímos para ele, a PGR não se dignou a abordar!
A ideia era mostrar trabalho lendo aquelas 199 páginas. A ideia não era informar o povo o que era feito naquele emblemático edifício! Coadjuvada ou animada com as palmas que eram feitas de frase em frase pela bancada do partido Frelimo, a PGR sentiu, como quem diz, que o importante são estes moçambicanos que estão satisfeitos com o meu trabalho, mesmo que alguns estivessem a fingir, pois, quando chegar a vez de alguém, irá dizer também que não confia na PGR. A ideia é esperar a sua vez e, enquanto não chega, que se lixem os outros!
O caricato foi no momento das perguntas e respostas. Enquanto de um lado, um grupo elogiava e cantava hosanas para ela, doutro lado, o outro desdenhava e nunca chegava a dar mérito ao que dizia. Era como se fossem "cães tinhosos de hoje" ou moçambicanos de quinta categoria – porque não filhos e enteados – tanto é que não conseguiu dizer aos moçambicanos qual foi o partido que levou a denúncia do calote para o seu Gabinete, como se isso ainda constituísse segredo do Estado!
Enquanto cidadão e jornalista, atento aos fenómenos sociais e políticos que acontecem no país, eu esperava que a PGR exibisse um vídeo das casas, carros, bens e dinheiro apreendido, de quem são e onde estão. Esperava que revelasse quais são os magistrados, polícias, advogados, agentes da polícia que colaboraram com o crime organizado, para não ser mais uma especulação que ouvimos todos os dias nos “chapas” e em parangonas noticiosas. Esperava que a PGR dissesse que já tinha elementos suficientes sobre o desaparecimento do Jornalista Ibrahimo Mbaruco. Que já sabia como os terroristas recebem dinheiro e quem são os colaboradores nas cidades e negócios.
Esperava que a PGR revelasse que já havia detido os chinocas que estão a destruir as dunas em Gaza. Os nacionais e estrangeiros que estão a poluir os rios na província de Manica e os seus cúmplices instalados no governo em troca de 10 quilogramas de ouro mensais. Esperava que, para além de Manuel Chang, a PGR também lutasse e mediatizasse a transferência de moçambicanos detidos por diferentes crimes no estrangeiro e que também, durante anos, o fizeram por aqui, porque eles também são moçambicanos, para que não transpareça que se está a lutar por Chang por ser da elite, à qual V.Excias pertencem!
Esperava, incluindo os demais moçambicanos, que a PGR nos informasse acerca do paradeiro dos filhos de Mariano Nhongo, pois, embora o pai fosse quem era, os filhos não podem e nem devem pagar pelo mal que ele fazia! Esperava que a PGR revelasse as principais rotas de entrada e saída de drogas pesadas no país, ou seja, quem permite, quanto ganha por fazer aquilo e onde estava o seu património. Esperava que a PGR explicasse aos moçambicanos porque esta festança de UGEA’s em tudo que é canto!
A PGR teve seu espaço para brilhar aos olhos dos cidadãos isentos e apoiantes de uma justiça justa, o que não se verificou, porque o que se demonstrou, durante os dois dias, é que o objectivo era agradar quem a nomeou e o partido maioritário! O importante era apresentar estatísticas, enquanto os filhos de moçambicanos trabalhadores são raptados e ninguém sabe de nada!
E tudo viria a ficar claro quando os vídeos e fotos da festança começaram a circular pelas redes sociais. Que, afinal, a PGR tinha ido a um campo de combate, ou seja, pelos vídeos, os colaboradores da PGR aparentavam ser familiares de um soldado que havia sido dado como morto, mas que num belo dia aparece na porta de casa!
Mas não, era uma representante da legalidade, que deveria combater a “hosanização” do Estado, o que propicia conduta indesejada na gestão e desvio de comportamento daqueles que devem agir de forma insuspeita e imaculada. Em algum momento, aparentava ser uma festa surpresa, em homenagem a mais uma data natalícia da PGR, mas logo, veio a mente que não precisava ser naqueles moldes e o discurso da festança acabou denunciando que, de facto, em causa estava mesmo o informe!
Rapidamente, as imagens “viralizaram” nas redes sociais. Diversas perguntas foram levantadas sobre os fundos da festança e se a luxuosidade que se verificou no evento havia sido contribuição dos funcionários da PGR ou saído dos cofres do Estado? Independentemente da resposta dada a esta questão, acaba manchada a cor branca da camisa ou pano que cobre a Procuradoria-Geral da República e os seus funcionários, num país sério. Talvez um dia nos venham clarificar, como em pleno dia laboral, deixasse processos e de controlo da legalidade para a realização de uma festança ao estilo da Roma antiga.
A mente continuou a parir questões. Principalmente, porque estamos no país onde a idoneidade dos que lideram e que são liderados está em cheque, ou seja, todos têm teto de vidro e basta uma pedra para que tudo se quebre. Não existem imunes à corrupção e, num contexto em que o exemplo deve vir de cima, o que se assiste são hosanas a quem não merece, pelo menos em público! Mas não basta, horas depois arrancava um banquete hollywoodiano, com direito à música ao vivo e bolaço recheado – a real causa do evento ninguém sabe. Será que era uma festa de despedida da boss? Ou estão a seguir um calendário do ano não convencional e estavam em pleno final do ano? – Ninguém sabe, pelo menos aqui fora!
O suspense vai continuar, enquanto não houver uma explicação pública do caso e apresentação da factura do evento. Donde foram retirados os fundos para a realização daquela festança? E porque não usar o mesmo aparato cinematográfico para reportar aos moçambicanos sobre as apreensões de activos ilícitos, no estilo Lussati, na República de Angola? Talvez aí teríamos certeza de que a nossa PGR, de facto, está a trabalhar mesmo!
(In) felizmente estamos na Pérola do Índico, onde mesmo que tragas críticas positivas e que visam reforçar a nossa jovem democracia, os criticados acabam deduzindo que estão a ser combatidos e levam tudo no estilo do ditado popular de origem árabe: enquanto "os cães ladram, a caravana passa." Enquanto patriota, espero que a nossa PGR venha ao público e diga quem pagou a factura da festança? Precisamos de saber. Também poderiam, através do Gabinete de Comunicação e Imagem, produzir um documentário informativo demonstrando as apreensões dos bens e patrimónios anunciados na AR – se os mesmos são nossos, precisamos de saber! Caso haja dificuldade, pode convocar a imprensa e apresentar estes patrimónios ilícitos apreendidos e avaliados a 1.4 mil milhões de meticais!
Temos de passar a exibir estas coisas, daí quem sabe, através do timbre das mansões, os cidadãos de bem não passem a denunciar casas suspeitas e que estejam escondidas em certos locais, já que as pessoas quando lambem muita mola alheia, acabam criando suas marcas e assinaturas! Não basta dizer, devem provar. E esta situação aplica-se aos outros casos. Porque não se deve esconder, o que se diz ser do povo!
PS: Este artigo de opinião foi escrito dentro daquilo que os números 1 a 6 do Artigo 48, da Constituição da República de Moçambique (CRM) preconizam – Liberdades de expressão e informação.