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terça-feira, 15 novembro 2022 12:29

Os bolseiros moçambicanos no estrangeiro

Um post no Facebook, há uns três meses, a pedir informação a quem a tivesse sobre o paradeiro de um amigo na infância que, a partir de uma das escolas secundárias do distrito de Chibuto, fora para Cuba, em 1977, prosseguir os seus estudos, o Firmino Salvador Mabasso, valeu-me uma grande aproximação formal à Associação dos Antigos Estudantes em Cuba. Grande mesmo, se bem que com muitos deles já desenvolvera uma grande relação de amizade e de cordialidade. Agradeço o acolhimento, consideração e tratamento. Espero, porém, o deferimento do meu pedido de ser membro honorário da Associação!

 

De tal sorte que acabei sendo um dos convidados ao colóquio havido em Maputo, no dia 12 de Outubro, que serviu para assinalar o 45º aniversário do envio dos primeiros 1200 estudantes para aquele país da América Latina ‘ uma vez mais, o meu profundo agradecimento. Sobre esse evento, há poucas semanas passei aqui o resumo.

 

Desde então, ando sem muito sono. E o que me inquieta é que de lá fiquei a saber, de entre muitas outras coisas importantes, que, ao longo de todo o processo, 17 mil compatriotas foram parar na terra do Grande Fidel Castro, em prossecução de estudos em várias áreas. Estes tantos moçambicanos para lá foram, estudaram e quase todos, senão todos eles mesmo, voltaram ao país e deram o seu contributo. Uns, nas ‘diversas’ áreas em que foram formados… outros, nem tanto. Pelo que se disse, estes quadros estão espalhados por todas as áreas e por todos os distritos do nosso país. Até aqui, tudo muito bem. O que já me atravessa a garganta é a sensação que tenho de que o país não fez (e não está a fazer) o devido aproveitamento dos tantos quadros que mandou para Cuba… e não só!

 

Vezes sem conta, foi-nos dado a conhecer que a quantidades consideráveis de compatriotas foram atribuídas bolsas de estudo para diferentes países do globo. Para todo o Mundo. Cuba foi um deles. Mas lembro-me de ter ouvido também sobre a ida de estudantes para RDA - não aqueles que para lá foram trabalhar, como mão de obra -, mas os que foram prosseguir estudos, formar-se em diversas áreas também! Creio que existem/existiram às centenas! Para a URSS (para os macacos velhos); para a China, a República Popular; para a Bulgária, Jugoslávia, Checoslováquia, Hungria, Polônia e Romênia - alguma desta nomenclatura só os macacos velhos e que vão entender!… para todos estes sítios mandamos estudantes para se irem formar. Às centenas e centenas. Para Índia, Europa, África, Ásia… para todo o lado, mandamos a nossa juventude estudar. Até aqui, maravilha! Tudo muito bem! Para desenvolvermos o nosso país, precisamos de gente bem formada, com conhecimento, com saber, com ciência e este (o saber/a ciência) não conhece país de proveniência!

 

As questões que me avacalham a cabeça são: temos dados estatísticos destes envios todos nalgum lugar? Temos alguma base de dados que nos diga quantos jovens mandamos para que país ou países? Estudar o quê? Todos regressaram? Que aproveitamento o país fez/faz desses compatriotas? Há memória institucional sobre todos estes processos? Se temos, está depositada onde? No caso de existir, pesquisadores e ou o público em geral podem ter acesso?

 

Lembro-me de ter ouvido que em Cuba, na União Soviética e na RDA mandamos formar os melhores agentes dos serviços secretos que um país pode ter. Mas também mandamos formar militares de grandes qualidades e capacidades. Fizemos o devido aproveitamento? Podemos ter feito, no devido momento e a idade não para… mas, continuamos a fazer - há coisas que independentemente da idade as pessoas podem continuar a fazer? Já não têm proveito nenhum? Não têm? Parte daqueles 17 mil estudantes já não tem proveito? É isso mesmo? Como é que não têm se o país foi apanhado de surpresa numa guerra fratricida de terrorismo? Ninguem, mas ninguem mesmo, foi capaz de alertar o pais que vinha ai o terrorismo que hoje nos mata a alma, mas… temos gente formada e desmobilizamos!

 

É certo que os mandamos para casa a comprar a paz com a Renamo, mas nada obsta que esses quadros fossem recolocados nas especialidades que o país muito continua a precisar.

 

Continuamos com imensos desafios de desenvolvimento, na educação, na agricultura, nas indústrias e… nos hidrocarbonetos! E dizemos que não temos pessoas formadas! Há uns anos, ouvi que estávamos a mandar estudantes para Angola, para irem estudar petróleos… onde estão? Voltaram? Foram colocados onde? Nunca mais ouvimos nada…Não que o Estado deva empregar todos os quadros a quem dá bolsa de estudo, mas que fizesse o devido aproveitamento… para além do necessário registo!

 

Sem base de dados, sem registo estatístico sério, científico,  sem cadastro profissional, não faremos muita coisa neste nosso desiderato de desenvolvimento do nosso Moçambique!

 

ME Mabunda

terça-feira, 15 novembro 2022 08:50

Frelimo e as viaturas para seus quadros!

Adelino Buqueeeee min“Não é andando descalço ou oferecendo os meus sapatos, para eu andar descalço, que sou solidário com o pobre, mas criando condições para que este deixe de andar descalço por meios próprios”. Por outro lado, quando Marcelo Mosse escreve: “Ao mesmo tempo que pede paciência aos professores, o Presidente Nyusi rega com Moët & Chandon um reluzente Toyota Prado VX oferecido a um Primeiro Secretário acusado judicialmente de corrupção, no caso concreto, o cacique de Tete. Custo: 9.300.000 Mts” parece ignorar o princípio Constitucional sobre a PRESUNCÃO DE INOCÊNCIA ou é pura conveniência!

 

AB

 

“Nyusi pede paciência aos professores e volta e meia oferece viaturas milionárias a 11 camaradas

 

A Frelimo mostra que está nadando em fartura e que se lixem os médicos, os professores e toda a turma de assalariados do Estado. Caso contrário, o partido seria comedido, fingindo solidariedade com os professores. Mas já não tem vergonha na cara. E o presidente lá foi chancelar a faustosa oferenda, um sumptuoso banquete de exibicionismo e novo-riquismo torpe”

 

In Marcelo Mosse, na Carta de Moçambique, edição nº 996, de 14 de Novembro.

 

A demostração de solidariedade, com alguém que sofre, não deve ser necessariamente passar pela mesma circunstância em que aquele se encontra. Muitas vezes, a pessoa que resolve os problemas de quem sofre nunca passou por uma circunstância idêntica, por isso, discordo em absoluto da opinião do Director da “Carta de Moçambique” Marcelo Mosse, no seu artigo publicado na edição nº 996 de 14 de Novembro de 2022.

 

O partido Frelimo, como qualquer outro partido em Moçambique, é uma organização de carácter privado e não beneficia de nenhum Orçamento do Estado. Os recursos de que é proprietário resultam de quotização, doação e ou donativos e, nesse sentido, pode e deve dar o destino que melhor entender e que seja do interesse da organização. E mais, são vários os benefícios que os partidos políticos têm e de que gozam em Moçambique, a começar pela isenção de direitos na importação de meios para o uso do partido.

 

Os outros partidos políticos devidamente estabelecidos em Moçambique gozam do mesmo direito, mas, pode ser que não estejam a usar esses direitos para os fins devidamente estabelecidos por Lei. Criticar o partido que usa e usou esse direito para fins de mobilidade dos seus membros não me parece de bom-tom, não faz muito sentido. Mais do que isso, quando diz “o partido seria comedido, fingindo solidariedade com os professores” o sublinhado é meu, não me parece um conselho razoável para uma organização da dimensão da Frelimo, (fingir) porquê.

 

Querendo ou não, Marcelo Mosse acaba aconselhando a Frelimo a tornar-se pouco séria, quando fala em “fingir”. Na verdade, sabe o Marcelo Mosse, um Jornalista experiente e de investigação, que seria pior para a Frelimo esse “fingimento”. Os Primeiros Secretários sempre iriam aparecer publicamente nessas viaturas e aí daria lugar a várias especulações sobre a sua origem. Por isso, na minha modesta opinião, ao apresentar de forma pública esses meios, julgo ter agido dentro de transparência que se aconselha a todos os partidos políticos.

 

Sabe Marcelo Mosse, porque possui meios para o efeito, que as viaturas de que fala, considerando que os partidos políticos podem solicitar isenções na importação, não terão custado, na certa, os 155.1 milhões que dá título ao artigo de fundo na edição de segunda-feira. Pode ter custado metade, se considerar que essas viaturas devem pagar acima de 75% dos impostos, mas eu não tenho autoridade para falar disso e tão pouco me dei ao trabalho de consulta sobre esses direitos, simplesmente, sei que existem!

 

Quando se refere ao “cacique de Tete” nos termos que o faz e passo a citar “Ao mesmo tempo que pede paciência aos professores, o Presidente Nyusi rega com Moët & Chandon um reluzente Toyota Prado VX oferecido a um Primeiro Secretário acusado judicialmente de corrupção, no caso concreto, o cacique de Tete. Custo: 9.300.000 Mts” quer me parecer que a este não se deve aplicar o princípio de presunção de inocência plasmado na Constituição da República, o que não fica bem a um Jornalista de gabarito de Marcelo Mosse, que deixe os políticos da oposição fazer esse papel.

 

Adelino Buque

MMNOVA22

Quando os professores exigem melhor enquadramento salarial e ameaçam com greve, a Frelimo responde exibindo carros de luxo adquiridos para os seus primeiros secretários provinciais. 

 

Os funcionários públicos choramigam, a Frelimo exibe fartura: um Nissan Patrol de última linha oferecido a um cacique provincial. Custo: 8.800.000 Mts.

 

Ao mesmo tempo que pede paciência aos professores, o Presidente Nyusi rega com Moët & Chandon um reluzente Toyota Prado VX oferecido a um Primeiro Secretário acusado judicialmente de corrupção, no caso concreto, o cacique de Tete. Custo: 9.300.000 Mts.

 

A Frelimo mostra que está nadando em fartura e que se lixem os médicos, os professores e toda a turma de assalariados do Estado. Caso contrário, o partido seria comedido, fingindo solidariedade com os professores. Mas já não tem vergonha na cara. E o presidente lá foi chancelar a faustosa oferenda, um sumptuoso banquete de exibicionismo e novo-riquismo torpe.

 

Mas é estranho que, em véspera de eleições, os conselheiros e assessores da Frelimo não tenham enxergado eventuais danos políticos desta exposição, que acentua a percepção de desigualdade extrema entre a classe política dirigente e o eleitorado.

segunda-feira, 14 novembro 2022 09:06

Inhambane como dói!

AlexandreChauqueNova

Havemos de lutar até ao fim com as armas que temos, mesmo sabendo que eles recusam-se a ouvir-nos. A nossa cidade continua a ser arrastada para o caos, por gente que não se importa com as consequências. A história, na óptica deles, não conta para nada, nem os desastres que hão-de vir, provavelmente, como resultado do desordesordenamento urbano que está sendo criado nas zonas de expansão, onde cada um constrói onde quer.

 

No bairro Muelé “3”, há um imenso espaço propenso a indundações, onde o Concelho Municipal foi parcelar terras para habitação, apesar de ter a consciência de que amanhã, se vierem chuvas fortes, os ocupantes desses lugares terão que ser deslocados. O pior é que não há preocupação com um sistema de drenagem, o que nos leva a prever um grande sofrimento no futuro para os que lá estão e outros que ainda demanadam esses terrenos sem que ninguém os alerte sobre o que pode vir a acontecer.

 

No bairro Nhapossa, mais concrectamente na zona da “Salvação”, havia um mercado informal onde as populações buscavam a sua sobrevivência, foi desmantelado em nome da estética da cidade, embora os motivos possam ser outros. Mas o que nos dói é que esses vendedores foram movidos e colocados numa zona de risco, para além  de o suposto novo mercado estar fora do circuito do negócio, o Município marimbou-se para eles.

 

O Município de Inhambane tem espaço para construção de uma cidade de futuro, que incluiria infraestruturas vocacionadas ao lazer, como campos de futebol e jardins, mas eles preferem destruir a história da urbe, demolindo edifícios icónicos. E para acompanhar esta saga, colocaram cimento, - no lugar da relva - nos separadores da Av. “Eduardo Mondlane”, entre a Direcção Provincial da Agricultura e o Instituto Industrial e Comercial “Eduardo Mondlane”

 

Ainda sobre este estabelecimento de ensino, é importante lembrar a bela obra arquitetónica que é. Era um regalo contemplar esta construção  que marcava profundamente toda a zona onde está implantado, pela sua beleza e imponência. Mas apareceu alguém a ofuscá-la com um empreendimento - Escola de Hotelaria e Tiurismo - que podia ser erguido em alguma zona de expansão, e assim,  todo este sítio ficou sufocado. Irreconhecível. Apagou-se um valioso património da nossa ora bela cidade. Que a própria TVM não poupou, e vai daí construír um estúdio que se tornou monstruoso, por nos tirar a leveza de uma área que nos dava oxigénio, por nos deixar apreciar livremente apreciar a  histórica obra de arte que é a Casa Provincial  da Cultura.

 

Mas não é só isto. Já falamos sobre várias outras áreas que estão a ser tomadas sem a observância e respeito pela história e cultura da nossa cidade. Sobre o desnecessário e importuno muro que cerca o palácio do Governador. O Hotel “Capitão”. A pérgola. A vedação asfixiante da pista “Sete de Setembro”. A zona de protecção marítima, ao lado do Desportivo, na eminência de ser ocupada. Etodavia, o nosso grito está a produzir em nós, o efeito de boomerang.

 

Como dói!

sexta-feira, 11 novembro 2022 07:23

A prancha amordaçada (Ao Governador Chapo)

No aniversário de Maputo, lembro-me da paisagem urbana que testemunhei na minha infância de citadino maputense. Havia o Pigalle, o Txova Xita Duma, onde se concentrava a nata amante música ao vivo, e jazz, as sextas-feiras.

 

A Casa Velha era um expoente de cultura e teatro. A galeria da Associação Moçambicana de Fotografia acolhia vernissages das melhores artes plásticas. O Berlengas eram um bar na Malanga, a Tendinha também.

 

O Carlos Cardoso andava a pé. Na Politécnica, em frente ao Self, jogava-se futebol a valer. A Pastelaria Versalhes era icônica no Alto Mae. Ao lado do Hotel Cardoso havia uma escadaria para a Baixa.

 

O Caracol funcionava e havia um Parque de Campismo. A cidade vibrava com seus bares. Muitos não resistiam. O Tirol. A Flor das Avenidas.

 

O tempo apagou me da memória nomes doutros tantos. Ainda fui a tempo de ver algum cinema em sessão de cineclube. O jornal Domingo era o tal, com a magnífica coluna Randzarte, do Júlio Navarro.

 

Mas a cidade! Mudou tanto. As referências de outrora estão fugidias. A cidade cresceu. A requalificação da marginal foi genial mas a Baixa continua desaproveitada. Maputo ainda não inventou uma rua sem carros. A cidade continua gira, apesar do assassinato das acácias e da privatização de passeios e outras coisas. Mas o pior da cidade mesmo é a tamanha desproteção social e vergonha da polícia camarária na sua constante empreitada de expropriação de meios de subsistência dos nossos pobres urbanos de Maputo. A pobreza pinta a cidade de negro, apesar do seu charme xilunguine.

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