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sexta-feira, 11 novembro 2022 07:23

A prancha amordaçada (Ao Governador Chapo)

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A proibição da prancha lembra a censura pidesca, o fascismo em plena democracia. A prancha é um elemento biográfico dos manhambanas. Nesta manhã, acordei pensando na prancha, nos meus amigos da adolescência. Um deles era o Z. Em dada altura, ele cresceu mesmo defronte à prancha, atravessando a rua. 
 
Com maré vazia, o Z caçava peixinhos nas águas residuais e carangueijinhos também. E percorrendo a areia esvaziada, cutucava os macodjodjos escondidos no chão e recolhia pequenas conchas de moluscos já mortos. Com a maré cheia,  o Z era um tubarão na prancha, com seus saltos e mergulhos de classe.
 
Com maré cheia, a água roçava a prancha pequena e só nabos como eu fingiam que ali tinha graça. Mas nessa altura, a corrente começava a esvaziar a baía, puxada por ventos em direção ao longíquo oceano. Tinhas de ter genica. Os melhores como o Z arriscavam o que eu nunca tentei. Nadar mais para o interior do mar, para perto do Canal, ao encalço dos barcos à vela e txopelar neles, desfrutando como numa chata em cruzeiro ao sabor do vento. Depois, calculavam a altura de dar o salto dos barcos à vela, que rumavam para Linga Linga e outras paragens na imensa baía.
 
Aos nados, rapazes como o Z retornavam à prancha e subiam novamente suas escadas de metal e madeira para os derradeiros mergulhos. Nessa altura, lá no fundo por sob as palmeiras na linha do horizonte na Maxixe ou Lindela, o sol se punha lentamente e em Balane a noite acordava. A lua focava seus lastros de luz sobre a limpidez do mar, brilhando, maviosa. Cada um ía para casa. Estafados mas pensando na prancha do dia seguinte, rogando que a maré enchesse de tarde. Na cama, nosso sonho era a prancha. Hoje, ela está proibida, Arriiiiii!

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