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quarta-feira, 24 fevereiro 2021 07:10

Morre Juma Aiuba, um escriba de fina estirpe, com os "tomates" no lugar

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Quando fundamos a Carta era preciso encontrar  cronistas que complemetassem nosso noticiário. De preferência uma voz nova, desamarrada das agruras da política, independente e armada de bom verbo e do poder voraz do sarcasmo. Juma AIUBA já escrevia no Facebook e tinha uma ninhada considerável de seguidores. Foi escolhido a dedo. De Quelimane, ele escrevia para o país, pintando de humor os actos da política quotidiana, descascando as mentiras, denunciando incongruências e esmiuçando a avareza. Ao aceitar escrever na Carta, não era o jornal que lhe estava a dar a boleia da exposição mediática.

 

 

Foi a Carta quem se pendurou na bagageira de um jovem cronista com dotes firmados, cuja produção literária ja ganhara seu estatuto de relevo no anedotário nacional. Juma AIUBA teve sua quota parte de responsabilidade pela visibilidade que Carta ganhou nestes dois anos de existência. Ele era um cronista exímio, digno de Areosa Pena, salve devidas distinções de estilo. Aliás, Juma armou seu estilo próprio, recriando a língua, brincando com as palavras, sempre com recurso ao linguajar popular. Era de leitura agradável, mesmo quando escrevesse sobre temas cansativos como o das "dívidas ocultas". Um homem de grande imaginação. Um cronista de fina estirpe. Escrevia com prazer, como todo bom jornalista. Nosso compromisso era informal. Dissemos-lhe: escreva. Uma vez por semana. Ele era capaz de enviar-nos 4 textos, todos de qualidade superior.

 

Sua característica suprema era a coragem e os tomates de que gostava de falar. Tinha-os bem no lugar! Destemido. Incómodo. Sua morte é demasiado prematura. As circunstâncias estranhas. Moçambique perde uma das suas vozes mais brilhantes. E Carta uma das suas luzes. Vá com Deus, Juma. Co'licença

(Marcelo Mosse)

 

Ps: Juma, vamos tratar de publicar tuas crónicas em livro, como já vinhamos falando.

 

Adenda: Até sempre, Juma Aiuba!

 

Cronista e activista social Juma Aiuba morreu em Nampula. Tinha 40 anos. Nasceu em Bajone, província da Zambézia, distrito da Maganja da Costa.

 

Conforme explicou Mamudo Aiuba, irmão do finado, o escriba estava doente  três semanas, com um inchaço na perna direita, mas estranhamente com dores constantes na perna esquerda. A situação deteriorou-se depois que o escriba teve uma queimadura que lhe causou uma infecção. Aiuba era licenciado em Jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes (ECA), da Universidade Eduardo Mondlane, Coordenador regional da ARA, uma organização que trabalha para o desenvolvimento das comunidades rurais e, nas últimas eleições gerais, foi porta-voz da Sala da Paz (monitoria das eleições) em Nampula.

 

Juma Aiuba, conhecido também por "Maitololo", vivia e trabalhava na cidade de Nampula, no bairro Muhala, na zona do Jardim, onde perdeu a vida. Aiuba deixa viúva e cinco filhos, todos menores, com idades compreendidas entre 1 e 15 anos. (Omardine Omar)

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