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sexta-feira, 17 maio 2019 06:10

Celebrar Kalungano e deixá-lo morrer na miséria

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É mesmo isto que vai acontecer. Com o aproximar dos 90 anos do nosso Lilinho Micaia, o poeta de “Mãe negra...embala seu filho”, ou seja, para os não conhecem sua versão literária, os 90 anos de Marcelino dos Santos, figura que se confunde com a génese da Frelimo e do Estado-nação que hoje somos, combatente nacionalista de primeira hora, na véspera do seu nonagenário, a Frelimo e o Estado vão sai à rua para exultá-lo, reerguê-lo ao pedestal mais alto do heroísmo nacional. Vai sair toda uma nata de ”frelimos” exaltando Marcelino. Contando suas façanhas e sua abnegação à luta. É normal que assim seja. Mas, mas não devia ser!

 

 

Não devia porque esses “frelimos” e o Estado que dirigem abandonaram o homem. Marcelino vive uma velhice penosa. Indigna para quem lutou toda uma vida para sermos o Moçambique que somos. Podemos cantá-lo hoje com todos os decibéis de nossas cordas vocais, mas isso não vai esconder uma tamanha vergonha deste Estado: o abandono a que votou o velho combatente.

 

Para quem está perto dele, é penoso ver como Marcelino vive hoje: sem uma cadeira de rodas condigna, sem fisioterapeuta ou psicólogo para lhe ir aparando as dores físicas e mentais. Mas agora que celebra 90 anos, vai aparecer todo o mundo falando dele.

 

Ora Marcelino não precisa desse falatório. Vão obrigá-lo a sair para cerimónia pública, expondo sua penosa velhice. Ora, Marcelino não precisa de corte de bolo. Precisa que lhe dêem conforto. Precisa que lhe deixem morrer com dignidade. E não na miséria a que está votado. Hoje, a Frelimo e o Estado vão celebrar Kalungano mas, ao mesmo tempo, deixá-lo morrer na miséria. Uma vergonha da nossa memória colectiva. Uma vergonha nacional!

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