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quarta-feira, 26 agosto 2020 06:10

Uma continência aos tomates do Matias

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Neste triste e enfadonho seriado de perseguições e tentativas de silenciamento do jornal 'Canal de Moçambique', entre processos judiciais, tentativa de rapto e, nesta última temporada, fogo posto, eu me rendo aos tomates do Matias Guente e sua equipa. É tanto tomate, gente! Tiro o chapéu! 

 

Na segunda-feira, quando vi as fotos do que (não)sobrou do incêndio da redação do 'Canal', fiz um texto cheio de pedras e azagaias. Aquilo era um festival de raiva. Um 'cocktail molotov' de adjectivos vis que eu queria lançar. Mas, quando soube que o Matias e sua equipa estavam a trabalhar numa tenda improvisada no quintal do prédio, rendi. Perdi forças. Aquilo foi pura e simplesmente uma verdadeira catequese de resiliência... com salpicos de rebeldia. É muita persistência, é muita coragem.

 

Mesmo que arrecadássemos todos os dólares do mundo na campanha de solidariedade, mesmo que oferecéssemos os melhores computadores do mundo, mesmo que comprássemos todos os jornais dos ardinas, mas sem os berlindes do Matias, nada feito. Não é resiliência, é teimosia... é ser confuso também.

 

Sem querer desmerecer a honrosa campanha de solidariedade nem as diversas formas de conforto ao 'Canal', a perseverança do Matias e sua equipa merecem o nosso maior respeito. É uma firmeza que nos representa. O tomateiro do Matias é tudo o que o 'Canal de Moçambique' precisa neste momento. Aliás, é o que Moçambique precisa. Todos nós precisamos da semente dos tomates do Matias. Urge uma produção massiva. O ministro Celso devia ver os tomates do Matias... o SUSTENTA vai precisar.

 

'Tomatada à Matias' devia ser o prato do dia: uma xícara de solidariedade geral e uma colher de sopa de cidadania activa com polpa de tomates maduros do Matias (que baste). É isso! Até o nosso hino nacional devia ser 'tomateiro amado': Moçambique nosso tomateiro glorioso / tomate a tomate construindo o novo dia / milhões de tomates / uma só fruta / ó tomateiro amado / não vamos vender. É isso! Com tomates desses nenhum tirano nos irá escravizar mesmo. 

 

Não basta ter tomates, é preciso tê-los no lugar como o Matias os tem. Conheço jovens académicos, historiadores, advogados, sociólogos que abandonaram a luta mesmo sem terem sido seviciados. Outros são cotas professores, cientistas, físicos, astrólogos, químicos, matemáticos. Hoje fazem parte de um conjunto de espécimes especializados em insultar e fazer georeferenciamento dos alvos a abater tudo a troco de vinho e 'per diem'. Viraram insectos e ácaros de tomateiros alheios. Por isso, dizia, não basta ter tomates, é preciso que o tomateiro esteja muito bem localizado. 

 

Produzir um jornal no meio das chamas não é para qualquer respirante. Escrever sobre um incêndio no próprio incêndio é para cabra-macho. Bombeiro pedir para afastarem o computador para ele passar com a sua mangueira para debelar as chamas na redação, nem nos filmes. Já tinha visto emissão televisiva e radiofónica em directo, mas emissão de jornal ao vivo, foi a primeira vez. Aquilo era entrevistar a testemunha, escrever a matéria, tirar a foto, imprimir o jornal e vender ali mesmo... ao vivo. O verdadeiro conceito de 'jornal fresquinho' como pão na padaria. Um jornal saía com cheiro a jornal queimado. É preciso ter muito tomate, irmãos... e no lugar, acima de tudo! Foco, foco, foco. Não se deixar atrapalhar.

 

Ao 'Canal de Moçambique', em especial à sua ávida equipa de profissionais, vai o meu abraço de solidariedade. Disponho-me de bandeja. Eis o meu sangue vermelho para o vosso tinteiro. Aqui trava-se um combate, é duro, mas temos de vencer - como diria o pai de Samito, esse outro jovem cultor de bons tomates. O importante é não desistir. 

 

Ao Matias Guente, simplesmente, uma continência com trombetas e honras de Estado aos seus tomates. Respect!

 

- Co'licença!

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