Tenho dito incansavelmente que a coisa que mais me preocupa nesta nossa juventude é a falta de foco. Não sei se isso é incompetência ou preguiça ou medo ou negligência ou efeito de álcool e narcóticos ou falta de tempo ou sei lá.
Temos consciência dos inúmeros problemas que nos assolam e também temos consciência que somos nós próprios que temos de resolvê-los. A ideia que está nas nossas cabeças é participar dos fóruns de tomada de decisão para mudar o rumo das coisas. Ou seja, lutar para alcançar o poder para poder discutir os assuntos com uma visão mais contextualizada e realística. Do tipo ser como Eduardo Mondlane: ter consciência dos problemas do país, conhecer o inimigo, desenhar estratégias de combate e eliminá-lo. Mas, infelizmente, não é isso que acontece connosco.
Estou muito preocupado connosco. Quando alcançamos o poder a primeira coisa que fazemos é não reconhecermos os problemas que tínhamos assumido antes de ali chegarmos e pelos quais fomos confiados o lugar. Segundo, criamos problemas fantasmas que nos desviam dos problemas reais. Inventamos assuntos para distraírmos os menos atentos. Terceiro, assumimos que somos os mais sábios e inteligentes do que todos os restantes jovens que estão na periferia do poder. Quarto, queremos comer o poder. Ou seja, sermos os primeiros beneficiários do poder. Dinheiro e mordomia. Quinto, prepararmos a nossa própria reintegração. Achamos que já servimos o país o suficiente que já não podemos fazer mais nada. Damo-nos o direito à reforma precoce.
Falta de foco. O Janfar diz que a nossa Ele-A-Eme, a aviação de bandeira, está muito bem, que está a fazer muito dinheiro e que está a concorrer para "miss universo" de aviões. O Gilberto é esse que já arranjou fantasma dele: o problema do nosso futebol é o nome da seleção. Se for Rinoceronte, iremos ao Mundial. Petersburgo é aquele que consegue criar 400 empregos por dia, em plena pandemia de Covid-19, com aquele seu teorema que acordou Einstein e Pitágoras. A mana Eldevina é essa da cultura e turismo, a qual se gratifica com um disco de Eme-Ci-Rodja e um pacote turístico ao Bazaruto a quem conseguir achá-la mais gorda ou magra. Os jovens que estão no parlamento são aqueles que só estão a contar os dias para se auto-reintegrarem.
Estou a imaginar, se estivéssemos na década de 1960, em Tanganhika, imbuídos do sonho nacionalista de libertar o pais. O que seria de nós? Estaríamos a dizer que o país está muito bem, a desenvolver e o povo a gozar de muita liberdade e paz. Estaríamos a dizer que a escravatura e o xibalo é uma forma mais criativa e avançada de ginástica acrobática para o bem da saúde física e mental. Estaríamos a dizer que o problema do país é o nome Moçambique... porque dizer "Môôô" é uma forma tradicional de assustar crianças. Estaríamos a dizer que o nome Moçambique é muito ingénuo porque começa com "MOÇA" e moça é adolescente... só se for RAPAZmbique. Estaríamos a procurar um nome em extinção, protegido e que vende. Os que venceram na frente de Tete já estariam a se reintegrar e não aceitariam passar à frente de Niassa.
Foco é tudo. Não teríamos malta Josina, Marina, e companhia, porque muitas guerrilheiras estariam a fazer selfies na casa de banho do quartel ou, então, a procurarem xixi de macaco. Não teríamos Samoras, Manyangas, Mondlanes, Guebuza (não, este teríamos) porque muitos guerrilheiros teriam se perdido no mato a procura de gonazololo. Sem contar com aqueles historiadores, físicos nucleares, advogados, e quejandos que se teriam especializado em escovar as botas de Eduardo Mondlane. Nada de sacrifícios, só mordomias. Na hora de atravessar o rio Rovuma, íamos querer sentar na classe executiva da canoa.
Estamos sem foco e os nossos reais problemas desapareceram. Somos uma geração sem problemas.
- Co'licença!