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quinta-feira, 27 junho 2019 07:59

Governar por estupro: políticos sem borogodó

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Quando eu era moleque havia um hábito que os jovens faziam. Quando fossem as farras, levavam consigo uns comprimidos tóxicos (na banda chamava-se "roipe") no bolso para intoxicarem as miúdas que bebiam. Esmagavam o veneno com os dedos para o copo da menina, muito rápido e sem que ela se apercebe-se, e depois dela ficar em papas a carregavam para uma esquina onde era estuprada pela gangue. Na zona chamavam de "kukumbi" ou bicha. As moças iam às festas atentas, mas, as vezes, voltavam traumatizadas. 

 

Estava na moda entre os jovens que não tinham papo para engatar uma boa "mwana". O problema era mesmo falta de papo desses jovens. Falta de "patuale". Falta de "borogodó". Falta de atrativo. Faziam tudo à força e de forma disfarçada. Eram cobardes esses jovens.

 

Hoje, esses jovens cresceram e viraram políticos. E fazem o mesmo: você faz a tua décima-segunda-mais-um, concorre à uma vaga de professor, é apurado e colocado na escola primária de Teacane-Natikiri em Nampula, e está feliz da vida (como quem diz!). Numa quarta-feira de Junho, você chega ao job e o director vem lhe dizer que amanhã não haverá aulas porque o Presidente da República vai chegar à cidade, e por isso, você deve estar no aeroporto, às sete-e-meia da manhã, para o receber com os seus alunos na primeira fila. E mais: você deve vestir aquela camisola do Benfica (que você comprou no nigeriano dos Poetas para celebrar o troféu) para parecer membro da FRELIMO. 

 

Quer dizer, hoje em dia, ser funcionário público é um autêntico "kukumbi": enfiam-te um salário magro, pela direita, enfiam-te uma dívida oculta, pela esquerda, enfiam-te de ser membro do partido deles, por baixo, e etecetera. E você tem de parecer que está tudo bem. Sempre com aquele sorriso administrativo. Embriagam-te com chantagens e estupram-te com trabalhos fora dos teus termos de referência. Até as crianças, que pecaram apenas por serem alunas, são violadas. 

 

Como é que um governante se sente, quando sabe que aquela moldura humana que o recebeu foi forçada para estar ali? Que prazer dá ser acarinhado por pessoas chantageadas com o seu emprego? Que tesão dá saber que aquela onda vermelha, na verdade, não é vermelha? 

 

Hoje não há aulas na cidade de Nampula. Não quero imaginar em Lalaua, Moma e Nacala! Será que Filipe Nyusi precisa mesmo disso para se sentir Presidente da República de Moçambique?! Isto é mesmo falta de borogodó político. 

 

- Co'licença!

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