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Este breve artigo reflecte sobre o papel da cultura nas relações internacionais e seu recente protagonismo nas relações diplomáticas entre China e África. A inclusão da componente cultural nas diferentes agendas estatais tem influenciado de forma substancial nas relações exteriores e diplomáticas entre Estados. A diplomacia cultural representa a principal subárea da diplomacia pública e é tida como um instrumento importante na aproximação de povos, contribuindo para o estabelecimento de vínculos culturais entre Estados. Ela joga um papel fundamental na construção imaginária local sobre outro Estado.

 

Antes, importa contextualizar em termos históricos as relações diplomáticas sino- áfrica. Historicamente, segundo aponta Michel & Beuret (2009. P. 31-32), o relacionamento sino-africano é originário dos anos 1950 e 1960, quando a Conferência de Bandung, em 1955, lançou as bases do movimento dos não-alinhados e a esperança de um desenvolvimento Sul-Sul e quando a China apoiou os movimentos de libertação dos vários países africanos em relação às potências colonizadoras europeias. Após vários entraves internacionais que dificultavam uma melhor relação entre as partes, nos finais dos anos 90, a China consegue estabelecer a sua primeira política africana que “visava o reforço dos laços políticos com os líderes africanos, e a penetração dos interesses comerciais chineses em África” (Cunha, 2012, p. 340).

 

Enquanto actor internacional, a China procurou ser um parceiro estável, de confiança e que não precisava de ser temida. Estabeleceu uma amizade que em primeira instância tomou a Cultura como arma principal, apelando os aspectos históricos comuns de subjugação ao colonialismo e imperialismo do Ocidente e pelos Princípios da Coexistência Pacífica que estabelecem uma estratégica marcada pela lógica de win –win e pela inexistência de condicionalidades político – ideológicas.

 

De modo a complementar a aproximação específica a África, China adere ao multilateralismo, redesenha os seus mecanismos de intervenção externa e aplica aquilo que Kurlantzick (2007) chama de “tools of culture, que reflectem que a “cultural promotion is part of a broader effort at public diplomacy”. A liderança política chinesa encara desde ai, a cultura enquanto componente central das actividades de diplomacia pública. Em 2004, cria Institutos Culturais com objectivo de promover a língua e a cultura chinesas e, indirectamente, contribuir para a construção de uma imagem positiva e compreensão da China no plano internacional. Hoje, existe mais 38 IC’S em África, cursos de língua e culturas chinesas lecionados em diversas Universidades Africanas (o exemplo da Universidade Eduardo Mondlane) e cerca de 50 milhões pessoas aprendendo mandarim fora da China.

 

O país conseguiu implementar com sucesso o “tool of culture” na sua diplomacia pública, colocando a cultura como componente principal no estabelecimento de relações douradoras com o continente africano. Soube explorar as semelhanças históricas – culturais “de povos antes oprimidos pelo ocidente” para acercar-se ao continente e vender a ideia de ser um “parceiro confiável, estável e que não deve ser temido”.

 

Estas estratégias incomodam até um certo ponto ao velho continente, que antes assumia um poder diplomático cultural em vários países africanos, influenciado pela relação histórica- colonial, semelhança de idioma e de certos traços culturais herdados. É, talvez por isso, que o presidente Francês, Emmanuel Macron, propôs recentemente a restituição plena e incondicional de todos os bens que foram retirados do continente africano “sem o seu consentimento”. Para os críticos, trata-se de uma estratégia que deverá enquadrar as relações de Paris com África, num contexto em que a Europa começa a perder espaço no continente, ou, como dizem os mais críticos, de um golpe de teatro no palco da diplomacia cultural? Por que razão fala-se apenas em restituições a África quando França teve uma presença importante noutras geografias? Questiona-se…

 

O certo, é que as potências mundiais ganharam consciência da importância da cultura nas relações diplomática e dados indicam que o século XXI será efectivamente a idade de ouro do impacto dos factores culturais nas relações internacionais. Por isso, o objetivo da diplomacia cultural tem sido de influenciar positivamente na opinião pública e nas elites de opinião dos Estados.    

 

Tal como a China entendeu que para melhorar a sua imagem no panorama externo era necessário usar mecanismos de diplomacia pública assentes em factores culturais, Moçambique pode muito bem fazer o uso estratégico da sua localização geográfica (corredor de acesso a vários países Africanos e aglutinador de culturas) e da sua rica diversidade cultural para estabelecer relações diplomáticas com um teor multidimensional. De que forma? (Assunto a abordar no próximo artigo).

 

Belarmino A. Lovane

"O ministro do Mar, Águas Interiores e Pescas revelou que parte dos trinta barcos da controversa Empresa Moçambicana de Atum [EMATUM] já estão a operar. (...) Entretanto, Agostinho Mondlane declinou avançar o número dos barcos que supostamente já pescam atum nas águas moçambicanas." (O País, 26/12/2019).

 

Isto é procurar ser falado a todo custo. Quando você descobre que o mandato está no fim e você nada fez, mas precisa de aparecer para ser convocado de novo. Quando você descobre que andou apagado durante todo o mandato e precisa de falar uma m*rda qualquer para ser recordado. Quando você descobre que fez um autogolo e precisa de, pelo menos, provocar um pênalti no minuto noventa a ver se vai ao prolongamento.

 

Desespero total. Quer ser conversa da hora-de-ponta. Quando você descobre que, em apenas uma semana, "Jerusalema" foi mais falado do que você em cinco anos. Quando você descobre que o Presidente da República conhece mais o puto Dércio-dos-casamentos do que você que dirige um pelouro nevrálgico do Estado.

 

A melhor maneira de reagir a este tipo de pronunciamentos do senhor ministro é contratar aquele eclesiástico fanfarrão para lhe mandar um grande "futseka" com megafone. Mas como estamos na semana natalina, só podemos desejar que o senhor ministro se empanturre com o primeiro lote desta pescaria.

 

Tenha muita fartura de atum, hoje e sempre! Coma atum ao mata-bicho, ao almoço, ao jantar, à sobremesa, ao lanche. Tenha atum na merenda, no piquenique, no petisco, no aperitivo. Que o seu guardanapo seja de pele de atum seco. Palitar, que seja com espinhos de atum frito. Escove os dentes com guelras de atum cru. Não se esqueça de enviar uma marmita cheia desta iguaria ao "Chopstick" para levar na viagem.

 

Agora, faxavor, deixe-nos em paz! Brincadeira tem limite, principalmente quando é de péssimo gosto.

 

- Co'licença!

quinta-feira, 26 dezembro 2019 06:40

"Jerusalema"

Eu não concordo com essas afirmações que andam por aqui segundo as quais a música "Jerusalema" está a bater em Moçambique pura e simplesmente porque o moçambicano não gosta do que é seu, só valoriza o que vem de fora. Outros há que dizem que moçambicano está a dançar Jerusalema nesta quadra festiva só para deixar Mista-Bau para baixo por inveja.  Hummmmm... Vamos ser sérios.

 

Eu acho que nem o próprio Mista-Bau pensou até aí. Aliás, um bom artista de verdade não pensaria tal mediocridade. Quem pensa assim é um artista medonho que só faz arte para aparecer. Aquele que pensa que há arte superior e inferior, cultura superior e inferior. Aquele que pensa que a arte tem limites geográficos, patrióticos, raciais, religiosos, sexuais, étnicos, e por aí fora.

 

Um músico é um artista. E um bom artista não procura culpados pelo seu insucesso. Não procura bodes-expiatórios. Um bom artista trabalha cada vez mais. Tenta melhorar a cada trabalho. Tenta se superar a cada exposição. Não espera sucesso sempre. Um bom artista deve saber cair e levantar-se.

 

Mista-Bau já lançou "hits" que bateram até explodir colunas de som. Eu que trabalho nas zonas recônditas do centro e norte de Moçambique, já vi pessoas a dançarem músicas de Bawito em lugares que nunca imaginei (pela localização e pela língua). Não é por acaso que ele próprio se auto-proclamou "King". Talvez seja por causa disso que ele é o músico (senão o artista) mais rico de Moçambique. Mista-Bau já venceu Ngomas.

 

Então, ele é tudo isso por causa dos moçambicanos. Foram os moçambicanos que fizeram do Mista-Bau o que ele é hoje. A fama dele não caiu do céu. Ele trabalhou e o povo reconheceu o seu trabalho. Não nos criem intrigas, seus fofoqueiros. Ninguém tem inveja de Mista-Bau. Mista-Bau é nosso artista e não vai deixar de ser por causa deste pequeno momento de "Jerusalema". Não é a primeira vez que um "hit" sul-africano bate por aqui. "Khona" de Mafikizolo bateu e passou. Até pernas de Zodwa Wabanthu assistimos, mas passaram também e voltamos para as da nossa rainha Matilde Conjo. Deixem de ser quadrados, bradas. Não coloquem na cabeça e no coração de Mista-Bau o que ele não está a pensar e nem está a sentir. Parem com isso!

 

Já dançamos Eme-Ci. Já dançamos Liloca. Já dançamos Deni-Ó-Dji. Já dançamos Ziqo. Já dançamos Lizha. Já dançamos Marlene. Já dançamos Tabazily. Já dançamos TODOS. Da África do Sul já dançamos Mafikizolo. Já dançamos Mandoza. Já dançamos Brenda. Já dançamos Zahara. Também já dançamos TODOS. Até pernas da Zodwa Wabanthu pagamos para ver. Então, dançar músicas da África do Sul não é coisa de hoje. Ouvir Hugh Massekela não significa não gostar de Wazimbo. Que hábito é esse, meus compatriotas?

 

Se, de facto, Mista-Bau é o tal "King" da música moçambicana irá fazer uma profunda introspecção. Mista-Bau não precisa de meninos-de-recado ou de sentinelas no "feici". Mista-Bau deve ser artista do estúdio e do palco, e não do "feici". Deixem o povo festejar o seu suado Natal em paz! Deixem o povo dançar o que quiser e como quiser! Não é o fim de Mista-Bau. "Jerusalema" é mais um "song" do momento como um outro qualquer que passou por aqui.

 

Ainda bem que Mista-Bau tem o que fazer. Mista-Bau e Liloca estão a fazer trabalhos de caridade bem no espírito natalício. Fizeram show na penitenciária e deram almoço e piscina aos meninos de rua. Um trabalho de louvar. Mista-Bau não está nessa vossa competição intriguista. Não está nessa vossa peleja de fofoqueiros. Ele sabe que é o "King" do povo e sabe respeitar a vontade do seu povo. Ele sabe que o povo o adora. Ele sabe que não será "Jerusalema" que o vai matar.

 

Parem com isso e entrem no espírito natalício! Perdoem e perdoem-se! Sejam felizes! Feliz Natal a todos!

 

- Co'licença!

terça-feira, 24 dezembro 2019 05:54

O cinismo yankee

Os americanos são exímios na "real politik". Ontem no rescaldo das eleições, a embaixada local dos EUA emitiu um comunicado prometendo trabalhar com Nyusi. Vêm aí cinco anos de uma etapa "transformational" para Moçambique, dizem. É claro que o gás entra aqui na equação, embora os redactores do comunicado evitassem falar do que estará por detrás dessa transformação. Mas todo o mundo sabe: o gás do Rovuma. O que não se sabe, mas suspeita-se, é que quem vai tirar maior benefício do gás é o capital estrangeiro, e a Exxon não escapa.

 

No dia da confirmação de Nyusi, numa cerimónia apagada, os yankees disseram que os delitos eleitorais foram graves, numa pretensa solidariedade com a sociedade civil, a oposição e alguma observação eleitoral. E agora? Agora esperam que o Governo melhore a gestão das eleições, imprimindo transparência. Nada mais! A política, na sua versão mais cínica, segue dentro de momentos.

 

A América abandonou os condicionalismos do passado. Agora dorme abraçada à Ponta Vermelha. Esse casamento estratégico para Washington e de conveniência para Filipe Nyusi já estava anunciado. Há poucas semanas, os americanos acenaram com o MCC (Millennium Challenge Account), dinheiro a fundo perdido de apoio ao desenvolvimento, que foi cortado a Moçambique por comprovada corrupção. 

 

Ninguém foi responsabilizado. Mas seus critérios assentam na transparência. E justamente quando ela (a transparência) é uma miragem na gestão dos dinheiros públicos, incluindo processos eleitorais (o pior de todos foi a recente eleição), a América premeia Maputo com esse fundo. 

 

 

É óbvio que isso decorre de seus interesses estratégicos e não dos interesses do povo de Moçambique. Daí o episódio bizarro da revelação em Brooklyn, pelo FBI, de um New Man sem rosto, num golpe de misericórdia que remete para a geopolítica: o Canal de Moçambique, fundamental na presente guerra imperialista.

 

Nunca no passado Moçambique esteve tão vulnerável aos apetites do capital ocidental (a saga das “dívidas ocultas” foi instrumental para a erosão de nossa capacidade negocial no plano na cooperação internacional) e nunca os americanos ofereceram almoços tão grátis, despidos das habituais condições de democratização e anti-corrupção. Pior, nunca se viu tamanha complacência americana para com a corrupção e a má-governação eleitoral em Moçambique.

 

Seus interesses jogam mais alto. 

 

De modo que a expressão "transformational" deve ser bem analisada. Há que ficarmos atentos para discernimos até onde vai a pura essência de um casamento consumado com noiva vestida em saia justíssima, e qual será o verdadeiro "quid pro quo" de Washington e seus potentados empresariais em Moçambique. 

Uma das maiores dificuldades (e quotidiana) dos moçambicanos prende-se com a localização de um determinado endereço físico. Acredito que o leitor já esteve inúmeras vezes na situação de explicar a alguém ou a de ser explicado (sobretudo ao telefone) onde se localiza determinado sítio. Imagino a dificuldade enfrentada por ambos sobre algo que a partida parecia óbvio. Nesta situação é normal que se desista ou se recorra a outra (s) pessoa (s) tanto do lado de quem explica como do aquém é explicado. E mesmo assim: da mata densa não sai nenhum coelho.
 
Assim ocorre com o processo de desenvolvimento do país. O exemplo mais flagrante é o da Ajuda ao Desenvolvimento capitaneada pelos países mais ricos do Ocidente em apoio aos países pobres, na sua maioria africanos. O Ocidente se esforça às estopinhas para explicar aos países receptores da sua ajuda, incluindo Moçambique, como se chega ao desenvolvimento. E para tal, fora a explicação (técnica), aloca avultados recursos financeiros e equipamento para tornar o caminho menos penoso e célere. 
 
Há mais de seis décadas que se anda nisto e os países receptores da ajuda ainda não localizaram o desenvolvimento. Onde está o problema? No explicador  ou no  explicado? 
 
No primeiro e corriqueiro exemplo fiz referência a desistência e a mudança de uma das partes ou ainda de ambos como uma das saídas do imbróglio. Neste sentido e face as dificuldades na localização do desenvolvimento as mesmas hipóteses deviam ser equacionadas como uma das saídas para o caso da localização do endereço do desenvolvimento.
 
Atendendo que o arrolado é um assunto de extrema urgência é caso para que se diga que os dois factos requerem – pelo menos entre portas nacionais - a necessidade urgente de uma profunda reflexão relativamente às dificuldades experimentadas pelos moçambicanos na forma de chegar a um determinado endereço físico e na de localizar o desenvolvimento.  
 
Até lá fica a deixa: não se pode localizar o endereço do desenvolvimento sem que se domine previamente a localização de um simples endereço físico. Todavia, havendo uma ténue possibilidade e necessidade, fica um apelo para o ano de 2020: quem ajuda aos interessados a localizar o endereço do desenvolvimento de Moçambique ?
segunda-feira, 23 dezembro 2019 07:01

O asno e a moça

Imobilizou-se repentinamente na berma do passeio, perscrutou o ambiente que residia na via depois de olhar para esquerda e para a direita, carros, bicicletas e pessoas moviam-se rapidamente de um lado para o outro, numa azáfama que caracterizava a cidade de Quelimane no fim do dia laboral.

 

Ela ensaiava pousar o pé direito na estrada, mas o medo demovia-lhe de tal aventura.

 

Um carro passou rente ao passeio ela deu um pulo para trás, franziu a teste e a sua jovialidade ficou subtraída naquele acto.

 

O seu cabelo oleoso com brilhantina reluzia quando as folhas da acácia deixavam escapar tiras de sol, o seu rosto completamente maquiado era evidenciado pelo batom vermelho pronunciando os lábios e para rematar os seios erectos agregavam os seus dotes femininos. Usava uma saia de caqui castanha que combinava com a sua tez escura e uma blusa branca sem mangas. Calçava umas sandálias pretas que deixavam visíveis as unhas pintadas.

 

Um homenzinho acantonado na esplanada gesticulava ininterruptamente procurando captar a atenção do atarefado servente, ignorado por este o senhor levantou-se e toda a extensão da sua altura mediana ficou exposta. Gesticulou mais umas vezes até ser descoberto.

 

Quando estava para sossegar no seu acento e esperar pelo atendimento eis que descobre a moça na sua tentativa de atravessar a rua. Arregalado não perdia de vista o pequeno espectáculo.

 

- Sim faz favor – abordou o servente, distraindo-o

 

- Um café – disse sem tirar os olhos da moça

 

Quando o café prontamente chegou, absorveu num trago pediu a conta e retirou-se energizado ao encontro da moça.

 

Quando a alcançou abordou-a:

 

- O que se passa moça? perguntou solícito.

 

- Tenho medo.

 

- Vamos – convidou ele.

 

Um pico da sua pulsação cardíaca sacudiu o seu peito quando ela segurou a sua mão esquerda, caminharam calados pelo passeio até ao semáforo, ele esperou que o vermelho brilhasse e então iniciaram a travessia pela passadeira. Este conctato físico fez com que ele libertasse gotículas de suor que sulcaram pela testa apesar da frescura vespertina.

 

Quando finalmente alcançaram a outra margem da via, ele quis se libertar da mão dela apesar de estar a gostar do calor que ela transmitia, mas a rapariga continuou segurando firme.

 

- Tenho medo de atravessar as estradas ajuda-me a chegar a paragem de chapa? – solicitou timidamente.

 

O homenzinho demorou a responder, apreciando a beleza que ela emanava.

 

- Sim, sim – disse sem pensar completamente enfeitiçado pela sua beldade.

 

Taxistas de bicicletas pedalavam em fila indiana conversando animados com os seus respectivos passageiros.

 

Continuaram caminhando de mãos dadas como um casal de namorados atravessando as vias a caminho da paragem.

 

Quando alcançaram a terminal de transportes semi-colectivos o último chapa acabava de partir superlotado, bufando pela via em direcção a Nicoadala.

 

Eles entreolharam-se calados, já passavam das 18h aquela hora era improvável que conseguisse um carro que a levasse para o seu destino.

 

- Como te chamas? – perguntou-lhe repentinamente o senhor preocupado.

 

- Zainabe – respondeu - não sei como faço vivo em Nicoadala, não sei onde vou passar a noite – desabafou ela entristecida.

 

Arrojado no espírito solidário o senhor avançou com uma proposta:

 

- Podes passar a noite no hotel onde estou hospedado e de manhã segues para o teu destino.

 

Ela anichada na oferta que acabava de receber, ficou divagando digerindo a boa nova.

 

- Obrigado senhor – titubeou ela.

 

- Trata-me por Juventino – afirmou ele afável. 

 

Uma dupla timidez conferia a caminhada um ambiente tenso, até que ele recebeu um zéfiro no coruto descabelado e então lembrou de perguntar.

 

- O que fazes?

 

- Perdi a matrícula escolar e agora faço pequenos negócios.

 

Um bando de marriés partiu num voo rasante e foi ganhando altitude gradualmente em busca dos seus ninhos.

 

Os candeeiros das vias já brilhavam para minimizar a escuridão que chegava com a noite, eles caminhavam lado a lado sem pressa de chegar.

 

- O que fazes cá? – perguntou ela envolta na sua timidez suburbana

 

- Estou de passagem venho de Maputo e amanhã parto para Mocuba em missão de serviço – replicou à vontade.

 

Antes de se embrenharem no hotel pararam num restaurante e tomaram uma leve refeição.

 

Encontraram a recepcionista embrenhada no seu telemóvel, Juventino pigarrou para não a assustar.

 

- Chave 14

 

Sentaram-se no sofá da recepção, ela ofereceu-lhe um olhar benevolente pelo acolhimento oferecido. Ele replicou o gesto com um sorriso terno antes de lhe falar.

 

- Podemos dormir no mesmo quarto pois, possui duas camas – alertou para evitar qualquer mal-entendido.

 

Ela ponderou demoradamente antes de proferir qualquer resposta, como se buscasse na sua mente a afirmação mais acertada.

 

- Sim podemos – sussurrou ela meio acanhada.

 

Seguiram pelo corredor em direcção ao quarto sob o olhar inspectivo da recepcionista.

 

Cavaquearam durante horas enquanto o sono não chegava, falavam disto e daquilo, como velhos amigos. Primeiro foi ela que bocejou e logo Juventino ficou contaminado.

 

- Boa noite! – sussurrou ensonado.

 

Um elemento calorifico conferiu um aumento substancial da temperatura corporal, ele despertou não demorou muito para encontrar Zainabe ali na sua cama completamente nua.

 

O impulso animal catapultou-o para cima dela, não demorou muito para o gemido unilateral expelido por ela catapultasse mais a sua apetência carnal.

 

Evoluíam no coito libertando duplo gemido sonoro que confiscava o silêncio da noite, copulavam selvaticamente como verdadeiros animais indistintos de qualquer norma ética que aprisiona os humanos. Ela animada pelo vigor do seu parceiro derrubou e trepou-o, assumindo agora a liderança movia-se devagarinho sentindo cada centímetro da penetração nos seus múltiplos nervos genitais. Gozava e gozava mais ainda quando via Juventino rendido a sua grandeza de governante do prazer.

 

Suavam e esse odor tornava-se num perfume afrodisíaco que excitava mais o ritual sexual.  

 

O domínio dela demorou o tempo suficiente dele se revigorar, saiu debaixo e posicionou-se por trás reiniciou a penetração com uma das mãos segurava um dos seios e com outro a omoplata, movia-se rapidamente fazendo com que ela deixasse escapar pequenos grunhidos. O acto demorou pouco mais de vinte minutos até que a sua euforia masculina encheu o balão que lhe revestia o órgão genital, ela sentiu aquela volúpia sensacional deixando os músculos afrouxarem completamente relaxados. Ele libertou um suspiro e capturou todo o oxigénio que pode para refrescar o seu ser agora também mais descontraído.

 

Deixaram-se cair na cama, respirando fundo, descobrindo o teto escuro, cada um pensou em nada ainda apreendidos pelo prazer que haviam sentido. Encontraram espaço na pequena cama e adormeceram.

 

A manhã encontrou-os ainda dormitando estafados pelo exercício nocturno, o pio dos pássaros, o som dos motores, misturada com a vozearia popular compunham um alarme madrugador.

 

Descobriram-se mutuamente com a luminosidade fosca que entrava pelas cortinas.

 

Ela desembarcou da cama que lhe acolhera completamente despida, caminhou pelo soalho em direcção ao quarto de banho, deixando bem evidente cada parte do seu formoso corpo na passada lenta que executava, não era a mesma menina que temia atravessar a estrada, era outra, toda poderosa, ele todo babado limpou os olhos remelados com as mãos para capturar cada quadro daquele movimento soberbo.

 

Mil projecções eróticas chegaram a sua mente quando a perdeu de vista, não sabia o que fazer estava agora vigiado pela luz diurna.

 

Quando ela reapareceu a tela voltou a ganhar vida Juventino pulou da cama completamente nu o seu membro viril erecto desafiava a força de gravidade e pulsava ao ritmo cardíaco. Arrebatou-lhe de encontro a parede levantou-lhe a perna direita descobriu o manto de pelos púbicos com o seu falo e entrou, o movimento de vaivém foi ganhando cadência, as suas matunas iam serpenteando seu membro viril, ela soltou um vagido e logo ele beijou-a. A sua boca ora a beijava ora sugava os seios, ela o abraçava e arranhava nesse momento de êxtase sublime. Quando finalmente derramou o fluido seminal libertou um suspiro e a largou. Ela caminhou para se preparar e ele dirigiu-se ao quarto de banho.

 

Juventino encontrou-a se maquiando e foi-se preparando para deixarem o hotel.

 

– São dez mil meticais – disse ela estreando as palavras nessa manhã de quinta-feira

 

Ele percebeu que ela emitira um som, mas não foi capaz de descodificar.

 

– Não ouviste eu disse que são dez mil! – voltou a proferir alto e serena.

 

– Dez mil de quê? – perguntou ele estupefacto.

 

– Pelos serviços da noite passada e desta manhã – conferiu ela e toda a meiguice de moça inocente ficaram dissipadas.

 

– Menina você não esta boa, quem te mandou vir para minha cama nua? – disse ele com a voz tremula deixando transparecer algum nervosismo.

 

– Senhor eu não sei quero meu dinheiro. – gritava ela.

 

– Você é puta? – questionou visivelmente fora de si. 

 

– O que eu sou não interessa, quero o meu dinheiro senhor.

 

Ele não quis divagar em busca de qualquer interpretação ainda sentia nas suas entranhas o gozo do sexo que tivera.

 

– Vamos embora, preciso de viajar - disse ele.

 

Já na rua uma baforada de ar fresco renovou-lhe o ânimo caminhava meio apressado e ela logo ali no seu encalço. Eram nove horas, não tinha tomado o pequeno almoço, estava sem apetite, precisava mesmo de apanhar o carro para Mocuba. Ela interrompeu a sua caminhada prostrando-se a sua frente.

 

Uma passageira montada na garupa de um táxi bicicleta pede o condutor para parar quer presenciar o pequeno espetáculo onde um grupo de jovens uniformizados que estavam a caminho da escola já fazem parte dos espectadores.

 

– Estou a pedir pagar-me senhor! - diz muita convicta.

 

Ele fuzila-lhe com um olhar vítreo afasta-lhe de seu caminho e continua o seu percurso apressando o passo. Ela alcança-o logo de seguida e pega-lhe pelo cinto. 

 

O pequeno público liberta murmúrios animados ainda lhes seguem até perderem interesse.

 

Quando Juventino percebeu que ela não desarmava das suas intenções convidou-lhe a irem a um posto policial.

 

– Não vou a lado nenhum até você dar o meu dinheiro – agora ela gritou.

 

Já tinha alcançado a terminal de autocarros para os distritos da província. 

 

Um a um ia chegando curiosos desocupados para se entreter com o pequeno espectáculo que ela investia.

 

Juventino começava a sentir-se acossado com a determinação da moça segurou-lhe pela mão e mudaram de posição para fugir os mirones.

 

– Não tenho esse dinheiro.

 

– Paga-me.

 

O homem desesperado puxou da carteira tirou o dinheiro que tinha e antes de conferir ela confiscou-o.

 

Ele olhou pasmada para ela sem sabe o que fazer e dizer.

 

Eram sete mil e quinhentos meticais, ela ainda tirou quinhentos e ofereceu-lhe para que ela apanhasse o chapa para Mocuba. Depois largou um sorriso trocista.

 

– Estás arrependido nem!