A este ritmo, vamos ser apelidados de país de comissões de inquérito, não falta muito. Para tudo e para nada, comissão de inquérito! Mesmo para aquilo que já sabemos!
Aquando da descoberta, ano passado, dos escandalosos erros nos livros escolares, criámos uma comissão de inquérito cujos resultados não disseram muita coisa à sociedade. Continuamos com erros e mais erros nos livros escolares! Ante a descoberta da venda do sexo das reclusas em Ndlavela, respondemos com uma comissão de inquérito! Recuando um pouco mais, anos idos, aquando da descoberta das dívidas ilegais e ocultas, respondemos com uma comissão de inquérito!
A procissão é enorme. Muito recentemente, quando alguém disse, em plenária na Assembleia da República, que havia um deputado envolvido no tráfico de drogas, lá se criou uma comissão de inquérito, que, ao que se vaticinou já, não vai trazer informação esclarecedora nenhuma. Mas ela ali está, a torrar tudo do erário público: fundos, o tempo dos moçambicanos, o tempo dos próprios membros da comissão e, sobretudo, das autoridades competentes; custava o que citar a PGR para se ocupar da matéria de sua jurisdição por excelência?
Quando tivemos um aparatoso acidente por aí na Manhiça, criámos, em Julho de 2021, uma comissão de inquérito para, em trinta dias, nos dizer quais são as causas dos acidentes rodoviários no país, algo que a Área Metropolitana da Província também já tinha feito. E não é que não sabíamos mesmo quais são as causas dos acidentes de viação entre nós. Não sabíamos de verdade. E como não sabíamos, até hoje, Fevereiro de 2023, continuamos sem saber, apesar das comissões de inquérito que criámos.
Quando circulou a notícia de cobranças ilícitas em matrículas da oitava e nona classes na Escola Secundária Geral de Namacata, na Zambézia, criamos uma comissão de inquérito…
Comissão de inquérito para isto, para aquilo e para mais alguma coisa.
Agora que a Federação Moçambicana de Futebol não quis/quer premiar os “Mambas” que participaram no CHAN da Argélia, este Janeiro, vemos, qual sessão de teatro no Cine Gilberto Mendes, duas instituições em correria frenética, a acotovelarem-se a torto e a direito, na criação de comissões de inquérito, cada uma mais bem recheada que a outra, mas ambas atropelando toda a ética, racionalidade e lógica. A SED e a FMF precisam, do ponto de vista lógico, de criar comissões de inquérito? O que é que essas duas comissões vão dizer que as duas instituições não sabem? Se, elas próprias, tinham lá representantes? Que estavam lá a fazer tais representantes?
Vão dizer-nos que a FMF não se sentou nunca com a Selecção Nacional e estabelecerem os prêmios; vai dizer-nos que, ante esta inação e omissão da FMF, os jogadores começaram a exigir a definição do valor do prêmio; vai dizer-nos que os responsáveis da FMF, cada um a seu tempo, foi prometendo aos jogadores valores ridículos e insultuosos e sumindo de seguida; vão dizer-nos que perante a inconsequência, inconsistência e sumiço dos responsáveis da FMF, os jogadores amotinaram-se a exigir um determinado valor, motim que teve o ponto mais alto a recusa dos jogadores de deixar o hotel para o avião de regresso; vão dizer-nos que foi preciso assinar-se um acordo com os representantes da Federação, com a mediação do embaixador, para os jogadores dirigirem-se ao aeroporto…
É mais ou menos isto que as duas comissões de inquérito criadas pela SED e FMF nos vão dizer, se pautarem por honestidade. Simplesmente porque é o que aconteceu. É isto que não sabemos? É isto que a SED e a FMF não sabem? O Castro Jorge fez um grande favor ao mundo ao dar conta de tudo isto. A propósito, onde estiveram/estão os outros jornalistas que acompanharam a Selecção? Não vi(e)mos uma única crônica sonante sobre os acontecimentos de Argélia… estavam a beber com os dirigentes, conforme escrito num documento supostamente dos jogadores não capitães; estão tipo avestruz...
O que é que a Federação Moçambicana de Futebol não sabe que tenha acontecido na Argélia, se tinha lá o vice-presidente das Selecções e o de Administração e Finanças? Estes membros da direcção da FMF estavam a fazer o quê lá? Onde é que está o seu relatório. Nunca ouvimos falar desse importantíssimo documento em instituições que se prezem.
O que é que Gilberto Mendes e a sua Secretária de Estado não sabem do que aconteceu na Argélia se estava lá o Inspector Geral (que melhor figura poderia estar lá mais do que esta?) e a directora-geral do Fundo de Promoção Desportiva a ele (Mendes) subordinados? Onde é que está o relatório que produziram? Nunca ouvimos falar desse documento capital para uma instituição desta jaez. Estiveram lá a fazer o quê?
Triste, triste é que sejam quais forem as recomendações da comissão da SED muito seguramente serão inúteis, uma vez que o Governo, à luz dos regulamentos da FIFA, não pode interferir na Federação!… então, uma vez mais, estamos no teatro!
Facto é este, que todos sabemos: a FMF não quer dar prêmios aos jogadores. Tudo o resto, é coisa de Gungu!