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Actualizado de Segunda a Sexta

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O fascínio exercido pela Ilha de Moçambique, sem par em Moçambique e na linha dos grandes tesouros patrimoniais da Humanidade, explica o muito que se tem escrito sobre ela, em termos de História, Arquitectura, Religião, Cultura, Poesia. A Ilha, Muipiti, tem sido um tema irresistível para os poetas. N“Os Lusíadas”, Camões dedicou-lhe uma estrofe, embora não das mais notáveis do épico. Seguiram-se outros grandes poetas: Alberto de Lacerda, Virgílio de Lemos, Glória de Sant’Anna, Luís Carlos Patraquim, Nelson Saúte, outros, e o meu preferido, Rui Knopfli, com o seu extraordinário livro de poesia e fotografia, “A Ilha de Próspero”, ponte entre a Ilha e o Bardo.

segunda-feira, 03 dezembro 2018 03:00

A penosa missão do Elias

Para muitos, Elias Dhlakama é apenas irmão de Afonso, também Dhlakama, o falecido líder da RENAMO. É uma irmandade despoletada em forma de propaganda política da FRELIMO e de Filipe Nyusi quando, só em 2015, Elias foi promovido a dois cargos de relevo nas Efe-A-Dê-Eme: em Fevereiro, promovido a comandante do comando de reservistas e, em Setembro, promovido da patente de coronel para brigadeiro. De resto, foram duas cerimónias pomposas e mediáticas vistas por alguns analistas como arranjo de cavalheiros. Golpe político.

Fora isso, Elias não passa de um profeta bíblico que significa "Jeová é meu Deus" que tenta a todo custo infiltrar-se e benzer a RENAMO. Elias não passa de uma menina mimada que não ajuda a escolher o feijão, nem a acender e a soprar o fogão, mas que aparece, fazendo aquele sorriso administrativo, na hora de comer.

sexta-feira, 30 novembro 2018 04:56

Os Partidos nunca erram

Pensamos que acontece apenas com os nossos partidos em Moçambique: mas é uma doença generalizada. Transversal, como se diz no idioma dos que escrevem. Em todo o lado a regra é a mesma: os partidos nunca erram. Podem cometer falhas. Pequenas, sempre. Insuficiências, como dizíamos nos tempos. Mas errar nunca. E porque nunca erram não se sentem nunca obrigados a pedir desculpa. Acreditam os partidos que pedir desculpa os colocaria numa posição de enorme fragilidade. 

sexta-feira, 30 novembro 2018 03:18

A negação da insurgência

Não se sabe com que intenções, o Governo decidiu fazer ouvidos de mercador quando os moçambicanos levantam sua voz contra a insurgência em Cabo Delgado. Na segunda feira, o Ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, ignorou o assunto. No seu discurso na abertura do Conselho Coordenador do Ministério da Defesa ele foi evasivo. Na quarta feira, o porta-voz da PRM, Inácio Dina, perguntado sobre os recentes ataques em Cabo Delgado, não confirmou nem desmentiu. Ele murmurou um ”nim” barulhento. Nem sim, nem não!

sexta-feira, 30 novembro 2018 03:00

A mesma jogada em câmara lenta

A FRELIMO venceu a repetição da eleição decorrida na vila municipal de Marromeu com uma diferença de menos de meia centena de votos em relação à RENAMO. Algumas pessoas andam muito nervosas com isso, e com razão.

Mas eu confesso que não estou nervoso. Posso estar indignado, mas, sinceramente, não estou nervoso. Na verdade, não estou surpreso. É que eu conheço essa jogada. É uma jogada antiga. É a mesma jogada.

quinta-feira, 29 novembro 2018 03:06

Beatriz

Um fogão de três pernas. Um lençol encardido  no quarto. Uma capulana no assento de uma cadeira plástica. Um prato com sobras de arroz e um cabeça de carapau 17. Duas revistas pornográficas. Quatro vibradores. Uma candeeiro de petróleo e duas velas. Um espelho com a marca de um beijo roxo. Uma fotografia da filha querida que ficou na província. Cartas da mãe de Teresa que ficou a cuidar da criança de Beatriz em Anchilo. O solo negro de restos de cinza. A porta aberta para que os clientes não tenham de bater. O corpo inerte de Beatriz. Os vestígios do que sobrou da menina que veio para cidade grande para ser "gente" e acabou se prostituindo para ter o que comer. Uma entre milhares de estudantes que se entregam à vida nocturna da baixa de Maputo.

Beatriz* era uma jovem vulnerável de 21 anos. Vivia só numa casa de caniço à beira da portagem que separa Maputo da Matola. Foi assassinada de madrugada sem a mínima possibilidade de se defender. Beatriz não era conhecida pelos vizinhos: de dia entregava-se aos livros e de noite à profissão mais antiga do mundo. Era uma vizinha anónima. Invisível. Quase um fantasma.

Morreu por uma paragem cardíaca. Assim revelam os resultados da autópsia, que se conheceram 15 dias depois que foi encontrada sem vida. A autópsia conclui que a rapariga sofreu uma paragem por conta da perfuração de um objecto pontiagudo no ventrículo esquerdo. "Com toda probabilidades, sofreu tonturas por falta de oxigénio", lê-se no documento que foi entregue, na impossibilidade da mãe fazer-se presente, aos colegas da faculdade.

A vida da jovem era feita literalmente entre quatro paredes. Golpeada pela precariedade, vivia alheia ao dinamismo das ruas normais de Maputo, a maior cidade do país.

A polícia afasta qualquer hipótese de investigar a situação. Em voz baixa dizem que Beatriz teve o que mereceu e que a sua condição de prostituta retira-lhe o direito de ser cidadã.

Viveu anónima e morreu anónima. Numa vala comum e sem cumprir a promessa de dar o que não teve a pequena Júlia. A filha que teve com Manuel.