Anichado no mesmo tom evasivo de Mtumuke. Na quinta-feira, o PR Filipe Nyusi foi encerrar a reunião da elite castrense nacional e enveredou no mesmo diapasão de mutismo sobre um problema objetivo. Os ataques em Cabo Delgado, nas regiões recônditas de Nangade e Macomia, nas proximidades de Palma, não são uma hipótese teórica. São eventos objetivos, manifestações empíricas de uma realidade de violência colocando na incerteza a vida de milhares de famílias rurais do Norte.
Mas o Governo parece ter decidido fazer censura sobre o que se passa em Cabo Delgado, tapando o sol com a peneira. As ocorrências assassinas lá não podem ser escondidas. Não vão ser escondidas. Apesar de as regiões afetadas serem remotas, elas não estão longe dos circuitos da telefonia móvel. Lá na ruralidade profunda de Cabo Delgado há professores e comerciantes em constante ligação com os vilarejos distritais, já de certa forma pejados de agentes do Estado com formação superior. São estes cidadãos que hoje, inconformados, se tornaram nas principais fontes da denúncia dos ataques. O Governo tenta escamotear mas não vai conseguir. O Governo tenta escamotear mas, cada dia que passa, recebemos relatos de mortes e incêndios de palhotas. Alguns desses relatos chegam-nos do estrangeiro.
Cremos que a opção pelo silêncio é errada. Sobretudo quando as Forças Armadas parecem incapazes de controlar os alegados insurgentes. O problema deve ser enfrentado de frente, e com apoio da opinião pública. O Governo deve reconhecer que existe um problema e mostrar que está empenhado em resolvê-lo de forma intransigente. Fechar-se em copas com mortes em espiral é contra a solução do problema. A negação da atual insurgência é uma tática errada. E suspeita. Designadamente, a suspeita de que o Estado está sendo incapaz de conter a insurgência, depois de promessas firmes nesse sentido. Incapaz de evitar mais mortes, tenta-se mostrar o contrário, nomeadamente investindo no silêncio para se fazer se crer que o problema não existe. Negando a insurgência, quando ela segue ceifando vidas.