Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
segunda-feira, 17 fevereiro 2025 08:51

Quem protege a economia? Chapo precisa de ser mais assertivo…

Escrito por

ChapoPrecisaSerMaisAssertivo

 

Na quinta-feira da semana passada, a autoestrada N4, que liga Moçambique a África do Sul e escoa mercadoria vital para o consumo do país e matéra-prima de exportação sul-africana, foi barricada pela enésima vez. O motivo alegado pelos rebeldes populares foi o mesmo: a Polícia tinha levado consigo um membro da comunidade, alegadamente apoiante do partido Podemos. Nesse dia, trocas comerciais foram afectadas. O Porto de Maputo ficou interrompido, com perdas drásticas nas suas operações.  Na quinta-feira da semana, a autoestrada N4, que liga Moçambique a África do

Sul e escoa mercadoria vital para o consumo do país e matéra-prima de exportação sul-africana, foi barricada pela enésima vez. O motivo alegado pelos rebeldes populares foi o mesmo: a Polícia tinha levado consigo um membro da comunidade, alegadamente apoiante do partido Podemos.

Nesse dia, trocas comerciais foram afectadas. O Porto de Maputo ficou interrompido, com perdas drásticas nas suas operações.  

No caso do Porto, foi a segunda vez em menos de dez dias. Na semana passada, uma pequena barricada na Matola - a barricada é derradeiro subproduto do Venancismo mais abominável - atrasou as entregas de mais de 800 camiões. 

Nesta quarta-feira, o vilarejo de Cumbana, em Inhambane, foi palco de uma violência sem paralelo. Os rebeldes populares bloquearam a EN1. A mesma tragédia repetiu-se em Inharrime, também em Inhambane. O relato quase cinematográfico de um camionista dava conta de um cenário dantesco, medonho, uma quase que divina…tragédia. Era violência avulsa na pilhagem de bens privados. O alvo era arroz e cimento de construção, produtos que VM7 alega que são vendidos no retalho com margens de lucro astronómicas.   

Na ressaca dos tumultos do pós-eleições, impera este modus vivendi criminoso um pouco por todo o país. Nas ruas de Maputo vigora o saque a viaturas. Nesta semana, em Homoíne, um grupo introduziu-se num estabelecimento comercial e mandou a proprietária vender o saco de arroz a um preço abaixo que do que praticava! 

Eis a nóvel Comissão de Nacional de Preços, surgida do Venancismo, cujo mentor veio esta semana acusar a Moçambique Dugongo Cimentos (consórcio entre a Western International Holdings Limited, uma joint venture com a holding SPI, do partido Frelimo) de estar vender na África do Sul o saco de cimento mais barato que em Moçambique. Ele apresentou suas contas. 

Seja como for, o país vive numa anarquia e o turismo, um dos poucos “assets” que dá emprego e receitas, está definhando. 

Perante esta instabilidade, com os terríveis padrões de insegurança em que vivemos, quem defende a sociedade e a economia? Eis a questão.

A resposta a esta pergunta remete para uma avaliação da narrativa do novo incumbente da Ponta Vermelha, Daniel Chapo. 

O novo Presidente ainda não deu garantias de ruptura com o anterior quadro discursivo da Frelimo. Não, não ele não propôs essa ruptura. Mas uma leitura da realidade sugere que o caminho seria esse.  

Chapo ainda não apresentou uma perspectiva clara de como vai lidar com a juventude da rebeldia popular. Pior, ele não consegue ver no perfil dos manifestantes jovens com demandas genuínas e honestas. Apenas vê manifestantes desordeiros. De modo que, tal como ele deixou claro na investidura, semana passada, de Àquilasse Manda, Vice-Comandante Geral da Polícia, Chapo insiste na solução coerciva. Ele exige a Polícia controle as manifestações. O problema é que esta Polícia não sabe controlar… só sabe reprimir e matar. E é isso que está acontecendo um pouco por todo país, provocando esse efeito perverso da barricada de estradas e vias de acesso. 

É óbvia que a Polícia não deve ficar de braços cruzados perante a arruaça em curso. Cenas de pura ladroagem, de agressão e de chantagem contra bens privados deve ser severamente repremida. Mas os olhos do Presidente deviam enxergar mais longe, para lá de uma gangue de desordeiros.

O presente bloqueio da economia decorre de dois factores: i) a perseguição e eliminação de opositores do regime; ii) o incitamento de VM7 para preços justos e acessíveis. 

Daniel Chapo está perante estes dois desafios. Para contorná-los, ele deve engendrar a ruptura. Ontem, no seu discurso como Presidente da Frelimo ele disse que era preciso “mudar” mas não foi devidamente assertivo sobre o alcance dessa mudança. 

Para a crise em que vivemos, mudar significaria mandar impedir a perseguição de opositores por parte da Polícia; e estender uma ponte de diálogo com VM7. 

Chapo não consegue fazer isso, amarrado ao dogma da inação (depois veremos) do partido que continua a exibir a bandeira da independência como sua principal arma de arremesso, 50 anos depois. No contexto actual em que os novos grupos demográficos olham para a independência como um facto consumado e têm outras demandas.


Chapo fala em diálogo mas nunca faz o esperado “walk the walk”. Esperemo para ver. Para já o “chapismo” ainda parece um “Nyussismo” encapotado, com a repressão como seu mais notável indicador!

 

 

Sir Motors

Ler 1496 vezes