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terça-feira, 14 julho 2020 06:50

Retorno às aulas: uma decisão bastante reveladora

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O retorno às aulas revela, quanto a mim, que, afinal de contas, essa cena de "crianças são flores que nunca murcham" era coisa de papá Samora só. Para esses titios de hoje em dia, enquanto estiver em jogo uma bolada, as crianças são crianças que murcham - sim! Aliás, para eles, nem são crianças. Também nunca foram flores, nem como figura de estilo, talvez como uma figura apenas sem estilo algum. 

 

Romantismos à parte, a retoma do ano lectivo também revela uma falta de objectivos, metas e indicadores na educação. É que normalmente, a educação e a saúde são os pilares do Estado, mas o sector de educação é aquele que não deve ser exageradamente abalado por adversidades naturais ou humanas porque é um sector que deve ser edificado com objectivos, metas e indicadores muito bem definidos e claros. Esta nossa educação, hoje mais do que nunca, está a revelar-se um autêntico negócio da China. Uma 'granda' pirataria. Não tem rumo. Não sabe onde vai. Só está a andar... para atrás. Não creio que em 3 - 4 meses iremos atingir os objectivos que tinham sido traçados para 10 meses. Não creio que iremos atingir as metas definidas em apenas 3 - 4 meses. Não estou a ver uma criança da 1ª classe a assimilar a matéria do ano todo em apenas 3 meses.

 

Isso é também viver de aparência. Mandar as crianças à escola mecanicamente para todas passarem de classe automaticamente para mostrarmos que também estamos a forjar o homem novo aparentemente. Se em 4 meses já é impossível assimilar a matéria, imagina, então, os do curso nocturno que irão estudar somente aos fins-de-semana durante 3 meses, ou seja, 12 semanas! Se em 10 meses de aulas escrevem "exkenci", "massaroca", imagina em 3! Se sem corona os professores não entram na sala, imagina com corona. 

 

O Ministério da Educação diz que as aulas serão interrompidas caso se registe um caso positivo de Covid-19 numa determinada escola e todos os alunos e professores dessa escola ficarão em quarentena. O mesmo vai acontecer àquelas escolas que se encontrarem numa comunidade/bairro/povoação onde se registarem casos positivos. Sério! Me belisque! Estou a sonhar! Fez-me rir quando vi comunicado da Direcção Provincial de Educação convocando os professores de Mocimboa da Praia, Muidumbe, Macomia, Nangade, para uma reunião para esta semana com agenda única - retorno às aulas. Até parece uma armadilha. Parece um comunicado dos próprios insurgentes.

 

Está provado que este 2020 é ponte. É feriado. É fim-de-semana longo. Então, minha opinião seria "eskencermos" o ano lectivo para nos organizarmos melhor para o próximo ano. Mas, também quando penso nisso, fico com um pé atrás: se não nos organizamos em 540 meses de independência, vamo-nos organizar em 3!

 

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