O antigo Presidente moçambicano Armando Guebuza trocou mensagens telefónicas em 2016 com o negociador da Privinvest que está em julgamento nos Estados Unidos, Jean Boustani, disse na quarta-feira uma agente do FBI. Armando Guebuza recebeu várias mensagens de Boustani onde era apelidado de “papá”, com comentários sobre as empresas envolvidas no escândalo das dívidas ocultas e sobre trabalhos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A agente especial do Departamento Federal de Investigações (FBI) dos EUA Fatima Haque disse na quarta-feira, num tribunal de Nova Iorque, que Jean Boustani, cidadão libanês e negociador da empresa Privinvest, escrevia a um número guardado sob o nome “AG” e que os investigadores norte-americanos identificaram como Armando Guebuza, Presidente de Moçambique entre 2005 e 2015.
Um trabalhador da Privinvest, fornecedora de embarcações e materiais para empresas envolvidas no escândalo das dívidas ocultas de Moçambique, justificou os contratos com a necessidade do país em combater "grave problema de pirataria".
O alemão Peter Martin Kuhn disse quarta-feira num tribunal de Nova Iorque que trabalhou para a empresa Privinvest como gestor de projetos para a implementação de sistemas de monitorização da zona costeira de Moçambique.
O presidente da Renamo, Ossufo Momade, considerou hoje que Moçambique se arrisca a voltar a um novo conflito caso o Conselho Constitucional valide os resultados eleitorais de 15 de outubro. "Se quiserem salvar Moçambique, estas eleições devem ser anuladas. O Conselho Constitucional deve, através do nosso recurso, respeitar a vontade do povo moçambicano", disse Ossufo Momade, falando durante um comício na cidade Pemba, na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Durante a intervenção, o líder do principal partido da oposição em Moçambique afirmou que o seu partido não está interessado na guerra, advertindo, no entanto, que a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) não tem medo da guerra". "Não vamos aceitar que um punhado de pessoas altere aquilo que é a vontade dos moçambicanos", frisou Ossufo Momade.
A última testemunha de acusação no julgamento em Nova Iorque sobre as “dívidas ocultas” de Moçambique apresentou ontem documentos que mostram que uma pessoa com alcunhas “Nuy”, “Nys”, “New Guy” e “New Man” recebeu um milhão de dólares em 2014. Foram vários ‘e-mails’ com instruções para pagamentos que ajudaram a agente especial do FBI, Fatima Haque, a identificar pagamentos de empresas relacionadas com a Privinvest que deram um milhão de dólares a uma pessoa com aquelas alcunhas.
Fatima Haque disse que a Justiça norte-americana “não foi capaz de identificar de forma definitiva” a pessoa. Manuel Chang, antigo ministro das Finanças de Moçambique e que se encontra detido na África do Sul, recebeu pagamentos de cinco milhões de dólares, provados com vários documentos utilizados pela agente, onde as alcunhas para Chang eram “Chopstick” e “Pantero”.
Ricardo Velloso, chefe de uma equipa do FMI que visitou Moçambique durante uma semana no início deste mês, disse em entrevista coletiva em Maputo, nesta quarta-feira: “Estamos dispostos a trabalhar com Moçambique o mais rápido e conveniente possível. Se o governo estiver interessado em falar sobre um possível programa de apoio financeiro, estamos abertos a esse pedido”.
Enquanto o governo não fizer esse pedido, acrescentou, o FMI continuará apoiando o país da maneira que julgar mais conveniente. O último programa do FMI terminou abruptamente em Abril de 2016, quando se tornou conhecida a verdadeira extensão das "dívidas ocultas" de Moçambique. O governo então admitiu que o anterior executivo, sob a liderança do presidente Armando Guebuza, em 2013 e 2014, garantiu empréstimos de mais de 2 bilhões de USD, os obtidos por três empresas fraudulentas relacionadas à segurança, Ematum, Proindicus e MAM (Mozambique Asset Management), dos bancos Credit Suisse e VTB da Rússia.
A Igreja Católica de Moçambique acaba de fazer uma breve avaliação do recente processo eleitoral, através da sua Conferência Episcopal, que emitiu um “comunicado às Comunidades Católicas de Moçambique e às Pessoas de boa Vontade”. O documento começa por referir que “as eleições suscitaram uma grande expectativa no povo”, pois eram “as primeiras depois de um período de diálogo e de reforma da legislação eleitoral que introduziu mudanças significativas”.
Mas, lê-se no documento, num momento em que “se espera a validação dos resultados pelo Conselho Constitucional, verificamos que há um grande descontentamento por parte dos cidadãos”. E faz o seguinte diagnóstico: “O censo eleitoral realizado com deficiências, a violência durante a campanha eleitoral e no próprio dia da votação, causando mortes, o enchimento de urnas e o processo de contagem com métodos impróprios, dão legitimidade aos actores políticos que não aceitam os resultados”. A Igreja Católica alerta que “tudo isto pode pôr em causa o processo iniciado na busca de paz efectiva e reconciliação entre todos os moçambicanos. (Carta)