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quinta-feira, 28 maio 2020 05:49

Intruso Voador

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A debilidade luminosa era por conta do crepúsculo vespertino por isso muitos aldeãos regressavam de seus afazeres quando repentinamente, dos céus, um zumbido alterou a constância sonora habitual e um piscar intermitente de cor vermelha capturava toda a atenção dos autóctones da aldeia do posto administrativo de Muene, província da Zambézia.

 

Despoletou-se um tumulto na aldeia com os habitantes seguindo o voo do objecto voador não identificado.

 

Múltiplos juízos eram emanados da boca dos populares ante o estranho voador que ocupava o céu da sua terra.

 

O maioral da aldeia foi comunicado da presença do intruso aéreo que sobrevoava a cabeça dos seus súbditos criando pânico entre estes. Expediu a devida ordem e o monitoramento foi seguido pelos seus ajudantes de campo.

 

Não demoraram para convocar o maior atirador para seguir o trajecto do estranho objecto, este embarcou na perseguição armado de seu instrumento de caça.

 

O sonido da diminuta aeronave fazia-se sentir com maior intensidade e a luz descontínua riscava o céu azul do território.

 

Um dos ajudantes do campo apresentou-se ante o régulo e reportou o que testemunhavam no terreno.

 

- Derrubem imediatamente esse engenho voador!  - asseverou convicto Carlos Mabassa, o líder.  O assessor, dali emitiu um assovio comunicando os que seguiam na vanguarda das ordens dadas pelo régulo.

 

Descodificado a ordem pelo segundo ajudante de campo que seguia na dianteira da  perseguição, este passou a autorização para o fisgador.

 

Processada a ordem, o caçador interrompeu a correria e parou, fincou o pé esquerdo descalço no solo e o direito ligeiramente um pouco atrás, empunhou a sua arma de arremesso já com a bala no receptáculo, aldeãos ladearam-no, o atirador esticou o seu instrumento de caça até perder toda a elasticidade, mirou o obejcto a ser abatido e disparou, a bala percorreu em movimento rectilíneo uniforme a uma velocidade de vinte cinco metros por segundo atingindo uma das hélices da pequena aeronave, esta perdeu momentaneamente a estabilidade aerodinâmica, o piloto tentou equilibra-la ao mesmo tempo que o segundo tiro alcançava a segunda hélice, toda a estabilidade foi pelos ares e o obejcto voador iniciou o seu processo de despenhamento.

 

Um hurra colectivo enalteceu a pontaria do caçador de Muene e a celebração atingiu o auge quando os populares alcançaram o local com os destroços do objecto abatido.

 

O ajudante mor recolheu os destroços com ajuda de seus conterrâneos e todos foram ao encontro do régulo.

 

O operador do veiculo voador perdeu o controlo remoto quando este desapareceu da tela, eram precisamente 16h45, registou as coordenadas do último contacto estabelecido com a pequena aeronave e de seguida reportou ao seu superior. O chefe prontamente autorizou as buscas que se efectuaram juntamente com as autoridades administrativas da região.

 

O operador de voo e seu colega juntaram-se ao chefe do posto e mostraram para este no mapa o local onde o aparelho tinha desaparecido.

 

Logo que o chefe do posto reconheceu o local da queda embarcaram em duas motas todo terreno e dirigiram-se a aldeia de Muene.   

 

Batuques mesclados com a vozearia popular davam ritmo as averiguações feitas pelo régulo e seus conselheiros. Os destroços da aeronave eram circundados pelos aldeãos que não arredavam pé.

 

Um homem ligeiramente mais baixo no segundo círculo, espreitou por cima do ombro do outro e então pode ver distintamente o estranho obejcto.

 

- É isso que chupa nosso sangue! – gritou convicto o homem e não demorou para ganhar um coro concordante.

 

- Chupa sangue, chupa sangue. – gritavam eufóricos os aldeãos.

 

Ficou activado uma vontade popular de vingança contra todos os militantes daquela actividade maligna.

 

O som das motorizadas foi entibiado pelo brado dos aldeãos e não demoraram para alcançar o cerne das contestações.

 

O chefe do posto de Muene abordou o régulo e apresentou os seus acompanhantes.

 

- Estes são do INGC – introduziu-os ao régulo.

 

- Este é o nosso drone. -  reconheceu prontamente Anselmo o operador.

 

- Então são estes que nos chupam sangue. – vociferou um dos aldeãos.

 

Despoletou-se instantaneamente um tumulto com os aldeãos segurando Anselmo pelos colarinhos enquanto outros efectuavam o devido julgamento, a autoridade do régulo e do seu conselho não se fazia sentir.

 

O colega de Anselmo quando se apercebeu do pandemónio saltou para a garupa da sua motorizada e partiu de rompante do local deixando o seu colega entregue a sua própria sorte. 

 

O chefe do posto intercedia junto do régulo para libertar o funcionário do INGC que afinal apuravam os melhores locais para o reassentamento dos aldeãos de Muene que muitas vezes eram vítimas das cheias.

 

Mas estas alegações não serviram para conseguir libertar o homem que era severamente punido pelos aldeãos que ora esbofeteavam, ora esmurravam-no.

 

Quando o chefe do posto percebeu que as suas autoridades não salvariam o funcionário do INGC, decidiu chamar pelo comandante da polícia de Muene.

 

Tiros foram disparados para dispersar a população e libertar Anselmo do severo castigo que sofria.

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