Uma conta no Facebook em nome de Shakira Júnior Lectícia, criada 20 dias depois do primeiro ataque à Vila de Mocímboa da Praia (Cabo Delgado), em Outubro de 2017, foi usada até esta segunda-feira (10 de Dezembro) para aliciar jovens, difundir informações e exibir “troféus” dos ataques protagonizados pelo grupo que há 14 meses vem criando pânico e terror em 7 distritos do norte de Moçambique.
Shakira Júnior Lectícia identificou-se, no seu perfil, como residente em Pemba, vivendo no bairro de Expansão. Na segunda-feira começaram a circular nas redes sociais “screenshots” com fotos e textos que Shakira publicava, exaltando a ação dos insurgentes, mobilizando jovens para o extremismo. Na noite desse dia, a conta foi descontinuada. “Carta” já havia, no entanto, copiado o essencial das imagens e textos que ele andou a difundir ao longo de 13 meses.
Seguimos alguns rastos com a ajuda do nosso correspondente em Cabo Delgado e localizamos parte dos jovens cujas fotos foram publicadas por Shakira num quadro de manipulação e uso recorrente de identidade falsa. Durante meses, a rede social de Mark Zuckerberg foi usada em Moçambique para objetivos vis, eventualmente fazendo alastrar a insurgência. Shakira, certamente um nome fictício, partilhava informações sobre os ataques que iam sucedendo, celebrando o sangue e a morte de civis. Vilipendiava o Presidente da República, Filipe Nyusi, insultava militares e população, e exibia a carnificina vigente nas aldeias remotas de Cabo Delgado.
O Facebook de Shakira Júnior Lectícia começa a chamar atenção quando, em Maio deste ano, ele acusou o Procurador Distrital de Macomia de estar envolvido numa burla a cidadãos e de alegadamente ter manipulado a Juíza do Tribunal Judicial local. A magistrada viria a ser expulsa devido a várias irregularidades. Mas, a partir desse momento, a conta de Shakira ganha visibilidade e atinge o limite máximo de 5000 amigos. Em finais de Maio, Shakira Júnior Lectícia passa a escrever sobre outros assuntos, criticando os atos da governação do distrito de Macomia, chamando de incompetentes o executivo local e as Forças Defesa e Segurança.
Desde lá até segunda-feira desta semana, Shakira esteve ativo escrevendo sobre aspetos do conflito em Cabo Delgado. Postava fotos de jovens alegadamente recebendo dinheiro por sua participação em ataques. Era um chamariz para a adesão doutros jovens da região na matança. Mas nem todas as fotos e personagens por ele usadas eram genuínas. O que parece ser verossímil, isso sim, é a sua ligação aos insurgentes.
Uma análise da "Carta" mostra que Shakira tinha acesso à informação privilegiada sobre os ataques ocorridos. “Carta” fez uma comparação entre datas de ataques e os “posts” de Shakira sobre os mesmos. Ele estava melhor informado que qualquer meio de comunicação, suspeitando-se que tinha ligação direta com alguns operacionais do terror. Eis alguns exemplos:
No passado dia 28 de Novembro teve lugar um ataque que só foi reportado pelos órgãos de comunicação nacionais e internacionais nos dias 30 e 1 de Dezembro. Shakira publicou no mesmo dia 28 um comentário sobre esse ataque: “O rescaldo que tivemos ontem em Nacutuco, hoje Manica, até Napala, avisem aos militares para um confronto de balas”.
No dia 22 de Novembro, pelas 9h45, aconteceu um ataque em Nangade, onde morreram 11 pessoas. O facto foi imediatamente apresentado na sua página de Facebook, onde exibia a foto de um jovem confirmando, com um maço de notas de 1000 Meticais, de que tinha recebido uma recompensa pelo ataque. “Confirmada a transação”. Este ataque só foi noticiado pelos órgãos de comunicação social na noite desse dia. Para quem era amigo virtual de Shakira, o noticiário era como que uma confirmação da publicação por si feita naquela manhã.
No dia 24 de Novembro ocorreu um ataque em Nangade, onde foram mortas nove pessoas. Shakira publicou as fotos das vítimas sem censura, mas o Facebook esteve alerta e baniu-as, considerando-as como imagens chocantes.
No passado dia 6 de Novembro, o suposto insurgente exibiu-se nas redes sociais dizendo o seguinte: “Do Rovuma ao Maputo querem conhecer-me e estou sendo procurado em todo canto (…) mas não será fácil, eu sou um hacker formado. Nem PIC, SISE e Policia secreta vão me pegar”.
Numa outra publicação feita no mesmo dia, escreveu: “Cruzei com esses macacos (mostra uma foto com militares num carro) fazendo patrulha na estrada. Porquê não entram na mata para lutar com meus homens. Militares de merda! Só estão a acabar comida e não fazem nada”.
Quando a localidade de Pangane foi alvo de um ataque em Outubro, Shakira exultou, horas depois: “Sabem de onde vem o barco a motor que foi encontrado sem ninguém? Os donos estão por perto; fiquem de olho se não haverá massacre por aí”. O ataque a Pangane deu-se no dia 8 de Outubro mas só seria reportado na imprensa nos dias subsequentes.
O mês de Junho de 2018 foi o que mais ataques teve desde que a insurgência começou em Outubro de 2017. Nos dias 2,4,5, 7 e 13 foram sangrentos, com aldeias queimadas e dezenas de pessoas deslocadas. Shakira estava em cima dos acontecimentos. “Jovens do distrito de Palma se juntam aos militares para uma caçada humana. Olha o que resultou: 8 abatidos”. Os “media” haveriam de reportar a morte de 7 pessoas e 74 casas incendiadas. Já no dia 5 de Junho, ele escreveu: “Distrito de Macomia, na aldeia de Naunde, foi muito triste o que aconteceu na madrugada de hoje. Mais de 50 casas, carros e há confirmação de 2 óbitos”. As agências noticiosas só reportariam sobre este ataque no dia 13 de Junho.
“Carta” procurou por pistas de Shakira Júnior Lecticia. Descobrimos que é um homem natural de Nampula e residente em Cabo Delgado. No seu perfil, Shakira dizia que trabalhava para uma empresa de nome Mobílias Yuran, em Nampula. Mas isso era mentira. “Carta” localizou uma loja com esse nome mas noutra cidade do Norte. O registo legal da empresa, levou-nos ao seu dono. O empresário disse à “Carta” que não sabia nada do assunto.
Na segunda-feira, como dissemos, a página do Facebook deixou de estar disponível online. Mas quem são os jovens que aparecem nas fotos que ele andou a publicar? Como ele obteve tais fotos? Onde estes jovens estão e o que fazem? Na edição de amanhã, “Carta” traz algumas das respostas a estas questões e detalhes inéditos sobre a perversa atividade de Shakira Lectícia, um homem que usou o Facebook para passar uma mensagem de exaltação diante das mortes em Cabo Delgado, fazendo propaganda da ira contra o Estado e apelando sempre e sempre a mais matança. (Omardine Omar, com Saíde Abibo)
Ja são quase todos os dias que nos chegam relatos de ataques dos insurgentes em Cabo Delgado. Ontem à noite escalaram a aldeia Cogolo, no Posto Administrativo de Mucojo, distrito de Macomia, causando danos humanos e materiais. Queimaram 6 casas, mataram 1 civil e saquearam uma barraca. Passavam poucos minutos das 20 horas. Os malfeitores entraram para a aldeia e disparam dois tiros para o ar, para amedrontar. De acordo com o relato que “Carta” recebeu, o ataque foi rápido. Em cincos minutos conseguiram matar a tiro um jovem, incendiar as casas e saquear a barraca, retirando-se logo de seguida.
Em Cogolo havia um acampamento das Forças de Defesa e Segurança mas a posição foi movimentada há três dias para uma zona que dista três quilómetros da aldeia. Aproveitando-se disso, os malfeitores entraram e fizeram o estrago rapidamente, fugindo à pronta reação das forças militares.
O estrago podia ter sido maior não fosse o facto de os habitantes da aldeia se terem refugiado no mato logo que se aperceberam da chegada dos homens. “Aqui já não se dorme”, disse uma fonte. Cogolo fica a três quilómetros da sede da localidade de Ilala, em Quiterajo, que foi atacada no dia 23 de Agosto, com um trágico saldo de duas pessoas mortas e 20 casas incendiadas. Foi em Cogolo que alguns jovens integrantes da insurgência construíram uma palhota, a qual chamava de Mesquita. Essa palhota foi destruída pela população pouco tempo depois, alegadamente porque através dela eram propagadas mensagens de teor violento e ligadas ao fundamentalismo islâmico.(Carta)
Syrah Resources deverá alcançar até ao final do ano a meta prevista de 101 mil – 106 mil kgs de concentrado de grafite, informou a empresa australiana em comunicado ao mercado. No comunicado, em que anuncia melhorias significativas no projecto de extracção de grafite em Balama, norte de Moçambique, a empresa salienta ter obtido em Novembro um nível médio de 74% na recuperação de grafite, que compara com 53% no terceiro trimestre e de 54% em Setembro. A Syrah Resources adiantou estar a analisar a cadeia de fornecimento a fim de reduzir inventário, particularmente no porto de Nacala.
Foi durante a VIII reunião Nacional das Áreas de Conservação, realizada na semana finda em Maputo, que o Moza Banco e a Administração Nacional de Áreas de Conservação (ANAC) rubricaram um memorando de entendimento que consiste na divulgação de mensagens visando combater o abate indiscriminado de espécies animais existentes nas Áreas de Conservação, fenómeno que se tem verificado um pouco por todo o País.
O Moza Banco vai, por via das suas diferentes plataformas de comunicação, difundir informações que apelam à proteção e defesa da biodiversidade, demonstrando a sua importância. Aventa-se, ainda, a possibilidade de se usar autocarros de transporte público de passageiros na disseminação das mesmas mensagens.
Na ocasião, o Diretor Nacional de Áreas de Conservação, Mateus Muthemba, afirmou que esta parceria é a materialização da premissa segundo a qual a preservação da flora e da fauna é uma causa comum.
“É fundamental contarmos com esta parceria, considerando a pertinência dos objetivos que já foram traçados no combate à caça furtiva. O nosso desejo é que venham mais iniciativas de género”, expressou Mateus Muthemba.
Por seu turno, o Administrador Executivo do Moza Banco, Manuel Guimarães, manifestou prontidão para apoiar todas áreas de atuação da ANAC.
“Procuraremos divulgar junto das comunidades, dos nossos clientes e parceiros, os resultados do trabalho das reservas, com o objetivo de defender as espécies, pois tal faz parte da nossa política de sustentabilidade” sublinhou.
Segundo Manuel Guimarães, o património do mundo animal não pode ser visto como sendo somente material, mas sim como património emocional. “O património do reino animal é um património emocional, é de Moçambique e do Mundo inteiro, e urge a consciencialização das pessoas para a proteção desta riqueza, que corre o risco de se perder”, disse.
Por outro lado, o Moza rubricou o Protocolo com a Administração da Reserva Nacional do Niassa. Este ato garante que a Reserva do Niassa seja a primeira a beneficiar das ações do Banco, sendo que o objetivo é intervir gradualmente noutras reservas do País.
A cerimónia de assinatura dos Memorandos de Entendimento decorreu à margem da VII Reunião Nacional das Áreas de Conservação, que se realizou sob o lema “O Futuro da Vida Selvagem Depende de Mim”. (Carta)
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) ordenou, recentemente, que sua bancada na AR requeresse a perda de mandato de dois deputados, por se terem filiado na Renamo. Trata-se de Geraldo Carvalho, antigo chefe Nacional de Mobilização do partido, e Ricardo Tomás, que nas últimas eleições de 10 de Outubro, ingressaram na Renamo. Inconformada com a situação, Daviz Simango mandou seu irmão, que também é Chefe da Bancada, a solicitar ao parlamento a perda do mandato dos mesmos, à semelhança do que sucedera com o antigo deputado Venâncio Mondlane.
Na última segunda-feira, a Comissão de Ética da AR esteve a entrevistar Geraldo Carvalho, numa audiência de contraditório. Ricardo Tomás ainda não foi ouvido. Em entrevista telefónica à "Carta de Moçambique", o porta-voz do MDM, Sande Carmona, confirmou-nos a intenção e acrescentou: "eles já não fazem parte do MDM, por isso solicitamos a Assembleia da República a perda dos seus mandatos". Carmona recordou que os dois membros já se identificaram com a RENAMO daí que "queremos que eles desenvolvam a sua atividade política livremente no partido onde se sentem melhor. Veja só quando estamos em sessão, eles nem sequer apoiam a nossa bancada", explicou.
Na bancada do MDM, o rancor subiu à flor da pele. Aos deputados “párias” são proibidas assinaturas de presença no livro de ponto. Por regras, cada bancada tem um assistente que circula o livro de presenças da AR mas Lutero Simango decidiu impedir que os dois visados assinem. Carvalho e Tomás assinam agora suas presenças na secretaria da AR. (Sitoi Lutxeque)
Na segunda-feira a noite, no jantar de angariação de fundos da Frelimo no Hotel Glória em Maputo (entre leilōes e venda de lugares, o partido arrecadou 26,4 milhões de Meticais), novos actores entraram em cena. Na mesa central, ao lado do Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, não estavam os filhos de Mohamed Bachir Suleman (MBS), nomeadamente Kayum e Vali, que no início da presente legislatura se destacaram nos jantares de angariação de fundos do partido. Desde a transição democrática nos anos 90, o clã Bachir foi useiro e vezeiro desse palco desregulado de financiamento partidário. Joaquim Chissano e Armando Guebuza, os anteriores presidentes da Frelimo, atrairam uma camada empresarial ligada ao comércio internacional aos jantares onde eram promovidos leilōes que terminavam com arremataçōes milionárias.
Quando o calar das armas esbarra na cacofonia das vozes dissonantes na Frelimo, há um homem que ergue alto seu estandarte de violência. Agora que Nyusi e a Renamo abriram fendas numa ferida cuja cura observava os derradeiros procedimentos clínicos, lá veio ele colocar nessa ferida não o dedo da panaceia mas o veneno da odisseia.
A odisseia da dor. Fernando Faustino, o líder dos veteranos de guerra da Frelimo, acusou ontem a Alta Comissária do Reino Unido, Joanna Kuenssberg, já em fim de missão, e o representante da União Europeia Sven Kuhn Von Burgdsdorff, como sendo as principais forças por detrás da recusa da Renamo em desmilitazar antes do processo eleitoral autárquico. “Eles usam e abusam da Renamo para obstruir a Governação em Moçambique, encorajando este partido para se manter armado”.
No meio da crise, o Banco Mundial dá uma nota positiva ao ambiente de negócios local. Três reformas contribuíram para isso, nomeadamente nas áreas de Obtenção de Electricidade, Comércio Além-Fronteiras e Pagamento de Impostos. Este ano, Moçambique encontra-se em 135º lugar tendo alcançado uma pequena melhoria, de cerca de 1.53%, na métrica que compara as várias economias relativamente às melhores práticas a nível global, a ‘distância até à fronteira’. Estes dados constam da 16º edição do “Doing Business”, o relatório anual do Grupo Banco Mundial, que analisa a facilidade de fazer negócios para as pequenas e médias empresas a nível global. O documento foi divulgado há poucas horas em Washington.