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Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quarta-feira, 12 setembro 2018 16:49

As novas estrelas do financiamento à Frelimo

Na segunda-feira a noite, no jantar de angariação de fundos da Frelimo no Hotel Glória em Maputo (entre leilōes e venda de lugares, o partido arrecadou 26,4 milhões de Meticais), novos actores entraram em cena. Na mesa central, ao lado do Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, não estavam os filhos de Mohamed Bachir Suleman (MBS), nomeadamente Kayum e Vali, que no início da presente legislatura se destacaram nos jantares de angariação de fundos do partido. Desde a transição democrática nos anos 90, o clã Bachir foi useiro e vezeiro desse palco desregulado de financiamento partidário. Joaquim Chissano e Armando Guebuza, os anteriores presidentes da Frelimo, atrairam uma camada empresarial ligada ao comércio internacional aos jantares onde eram promovidos leilōes que terminavam com arremataçōes milionárias.


Chissano chegou a leiloar uma caneta Parker. Guebuza um dos seus cachimbos. Os irmãos Satar (Nini e Ayob) também eram regulares presenças nesses eventos. Regra geral, quem ganhasse um leilão devolvia posteriormente o objecto arrematado. Kayum Bachir devolveu um cachimbo que comprara a Guebuza em 2005. No início, financiar o partido contemplava ganhos de preferência nalguns negócios....era como comprar a vista grossa do fisco. Um alimento da concorrência desleal.


Nos últimos anos, como contrapartida do financiamento, a Frelimo (outros partidos também) oferecia sua quota de isenções fiscais na importação de bens. Por regra, os partidos políticos podem importar bens para suas campanhas eleitorais e afins. Essas isençōes escondem, no entanto, uma apetência para a fuga ao fisco por empresários de rapina. Em qualquer parte do mundo, a nata empresarial gosta de estar de boas relaçōes com a elite política (financiar o poder político e deixar isso bem claro entre os pares dos negócios). Em Moçambique, a competição para mostrar um estatuto de proximidade com o poder tem sido alta e atrai um perfil multifacetado de empresários: do mais execrável colarinho branco ao lobbista de gabinete reluzente como fachada do inpune tráfico de influências, mas também gente que gastou rios de suor para chegar onde chegou no meio de dificuldades tremendas, inclusa nossa guerra fraticida de triste memória. Este último é o caso de Junaid Lalgy (Transportes Lalgy), uma estrela em ascensão, que esteve em destaque na noite de segunda-feira.

Mas comecemos lá do topo do Titânio 1. Sim, Titânio 1 é a mesa onde estava sentado o Presidente Nyusi no Glória. Quem esteve à sua volta? O diligente Agostinho Vuma, do lobby empresarial arregimentado na CTA, o empresário macua Munir Sacoor (da Tes Top, e que se identifica como um natural de Nametil que sentiu nas entranhas as argruras da guerra), o discreto senhor Luís Frade (dono da Super Steel, uma gigante transportadora que tambem é proprietária da Leader Tread) e um jovem empresário oriundo da Beira, também ligado aos transportes mas cujo nome e empresa não conseguimos apurar.


Para se sentarem à mesa presidencial, cada um teve de pagar 100 mil Meticais. Peanuts para muitos! A concorrência para aquele lugar de honra foi tremenda. Mas não havia espaco para muitos. O filho do dono do Mica, um empresário de origem libanesa, descrito como um desse novos “filantropos” agora bem encostadinho à classe política local, e o incontornável Silvestre Bila estiveram sentados à mesa com o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário. Bila é uma figura tradicional nestas andanças desde os tempos de Joaquim Chissano. Houve alturas em que ele preferia estar mesmo ao lado de Nyusi. Desta vez, deve ter escolhido sair do palco central de um evento que teve nos leilōes o seu apogeu. Houve quatro leilões.


O empresário Bruno Morgado, que já está a encaixar dividendos com o gás de Temane, através da MGC (Matola Gás Company) pagou por uma t’shirt 700 mil Meticais. Houve lances interessantes quando foram leiloados 3 quadros, um com a foto de Filipe Nyusi. Este quadro acabou sendo vendido por 10 milhões de Meticais. E quem pagou: sob a batuta de Junaid Lalgy, algumas sumidades se uniram para perfazer a soma. Cada um (todos os das mesas Titânio 1 e Titânio 2 mais alguns outros voluntários) deverão juntar 650 mil Meticais para perfazer os 10 milhōes. Por cima dessa soma, foram acrescentados 1.3 milhões de Meticais doutro quadro arrematado por Junaid Lalgy. O empresário de Chibuto destacou-se por isso. Por ter esticado os lances do quadro com a foto de Nyusi até este chegar aos 10 milhões, isso depois de ele arrematar aqueloutro por 1.3 milhões.


O jantar de segunda-feira (jantar de gala presidencial como lhe chamaram), uma prática de fundraising inspirada de democracias modernas, esteve bem recheado. Havia bilhetes para todas as bolsas. O Titânio 1 era o mais caro. Mas também foram vendidos bilhetes de 10 mil Meticais. Jantares organizados pela Frelimo serão sempre bem concorridos. O Partido, controlando o Estado, controla os negócios do Estado. E atrai todos os que os capitalizam na interface com o Estado. Na manipulação do procurement público em rent seeking, para alguns. Ou na provisāo de serviços de qualidade com suor que baste, como Junaid Lalgy (os Lalgy começaram em 1989 com 2 camiōes apenas e hoje são um monstro do transporte em Moçambique).

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